sábado, 8 de novembro de 2008

OBAMA E AS MULHERES

- Olha só que grande futuro aguarda vocês, mulheres!

Provavelmente um dos maiores erros no discurso da vitória que Barack Obama deu em Chicago foi não ter agradecido a Hillary Clinton. Hillary foi sua feroz adversária durante meses nas primárias do partido democrata, mas quando desistiu de sua candidatura, apoiou Obama intensamente. Foi a mais de 60 comícios dele. Como a diferença do voto popular entre Obama e McCain foi pequena (5%, se bem que isso é considerado alto num sistema tão bipartidário quanto o dos EUA), é bom supor que, se Hillary não tivesse conseguido fazer com que todos seus eleitores - e eleitoras, principalmente - passassem a votar no Obama, ele não teria vencido.
E as eleitoras foram brilhantes. Foram elas que elegeram Obama (elas e os negros, jovens e hispânicos. Quem mais votou no McCain, num “terceiro mandato” pro Bush, foram mesmo os homens brancos). Vocês devem lembrar de quando McCain escolheu Sarah Palin pra ser sua vice-presidente. Ele optou por uma governadora totalmente inexperiente apenas por ela ser mulher. Os republicanos pensaram que as eleitoras americanas seriam tão burras que não distinguiriam uma Sarah de uma Hillary. Bastaria ter uma vagina pra que todo o eleitorado feminino fosse atrás! E muitos liberais, inclusive, acharam que isso iria acontecer. Porque é aquele velho papo paternalista que diz que mulher não consegue pensar sozinha e que precisa ser controlada. Uma mulher poder abortar? Nunca! O bebê só está lá na barriga dela por acaso, mas quem manda nela somos nós, governantes e juízes (por coincidência, todos homens brancos). É a ladainha que “mulher honesta” deve passar do controle do pai pro controle do marido, sem intermediários. Ainda tem muita gente no mundo que pede a mão da moça em casamento pro pai. E ainda vivemos num universo em que a imensa maioria das mulheres adota o sobrenome do marido ao se casar, porque o que importa mesmo é a perpetuação do nome do pai (e aí incluímos Hillary, Sarah, Michelle Obama... só pra ficar na esfera americana).
Várias eleitoras se revoltaram quando viram que os EUA estariam prontos pra eleger um presidente negro, mas não uma presidente mulher. E que o racismo na campanha era combatido, enquanto a misoginia e o machismo eram aceitos como coisas naturais, parte da cultura. Essas mulheres, quando Hillary saiu da disputa, ameaçaram não votar em ninguém. Mas, pouco a pouco, todas embarcaram na campanha de Obama. Ainda acho que foi um erro feio os democratas não terem ficado com Hillary para vice. Joe Biden não acrescentou nada à campanha de Obama. E, se Hillary tivesse sido a vice, hoje estaríamos comemorando o primeiro presidente negro e a primeira vice mulher.
Ainda assim, mesmo que tantas mulheres estejam animadíssimas com a vitória do Obama, não dá pra dizer que sua eleição represente uma conquista para todas as minorias. Muitas mulheres ainda sentem um clima de decepção. É como disse a esposa do meu co-orientador, uma americana de quase 70 anos: “Eu esperava ver uma mulher na presidência durante a minha vida”. E não vai acontecer. Outro dia li num blog o comentário de um americano dizendo que, pela primeira vez, podia olhar nos olhos de seus filhos e falar pra eles: “Na América você pode ser tudo o que quiser”. Uma leitora retrucou: “Então seus filhos são todos meninos, é isso?”. Faz sentido.
Quem sabe a euforia em torno da vitória do Obama possa nos influenciar, no Brasil, pra eleger uma mulher em 2010. Se eu fosse o Serra procuraria desde já uma mulher pra ser minha vice e, assim, tentar anular a Dilma Rousseff. Espero que, se essa estratégia for adotada, ela funcione tão bem quanto funcionou pro McCain.

10 comentários:

Anônimo disse...

Lolinha, lembrei agora de outras vezes em que o cinema americano mostrou que uma mulher negra presidente é desejo de muitos americanos.E que isso logo irá acontecer. Pode não ser tão logo, como a gente gostaria, mas vai acontecer. Eu acredito!!!
Em Guerra nas Estrelas há uma cena que considero o máximo: em uma das reuniões dos rebeldes, a presidente das alianças é uma mulher negra.(eu não lembro agora em qual dos epísódios, mas é da segunda parte da trilogia, a que foi filmada primeiro, em 1977).
E em "Eu, Robô", depois que o robô consegue ser considerado humano, quem faz o anúncio disso é a presidente dos Eua, uma negra.
Talvez demore bastante, mas eu espero, sinceramente, que não tenha que viver tanto como o robô, mais de duzentos anos, para ver uma mulher na presidência, nos EUA e aqui no Brasil.
beijos

lola aronovich disse...

É verdade, Cris, agora lembrei da cena de Eu, Robô. Em Ensaio sobre a Cegueira a presidenta parece ser a Sandra Oh. Essa de Starwars eu não lembro. Mas sim, na ficção costumamos ter vários exemplos. Pra uma mulher negra ser eleita presidente deve demorar bem mais que pra uma mulher branca. A Condoleeza Rice ocupou um cargo importantíssimo nesse governo bushento, mas nunca foi considerada seriamente pra ser candidata a presidente. Bom, obviamente eu não votaria nela. Não basta ser mulher ou negro(a) ou gay ou whatever. Tem que defender coisas que eu acredito tb.
O pessoal acha que a Dilma não tem chances porque ela tá com 8% nas pesquisas. Mas falta muito, dois anos, e só numa campanha que alguns candidatos(as) realmente se tornam conhecidos. Acho que, com o apoio do Lula e de todo o PT (que é o partido com maior número de eleitores fiéis do Brasil, gente que vota no partido mesmo), ela consegue ir pro segundo turno contra o Serra. E aí segundo turno é uma nova eleição. Eu tenho fé.

Raiza disse...

Eu acho que a Dilma ganha em 2010,não só porque eu quero,mas pensando friamente mesmo,eu imagino que essas pesquisas tenham sido feitas nas capitais,onde a(pouca) rejeição ao governo é maior,mas não é só a cidade que vota,o interior vota também,e lá eu aposto que a aprovação do Lula é bem grande,enfim o que eu acho é que ela ganha sim,não vai ganhar de lavada é evidente,mas que ganha,ganha.

lola aronovich disse...

Por enquanto a Dilma é uma desconhecida, Princesa. Ela pode ser a ministra mais conhecida do governo Lula, mas ainda assim é só uma ministra. Por isso, é incrível que ela já tenha 8% nas pesquisas, e que cresça a cada rodada. De político conhecido no Brasil inteiro, só existe o Lula, o Serra e o Alckmin (por terem concorrido a eleições presidenciais). O Aécio só é conhecido em Minas. A Marta só é conhecida em SP. Talvez alguém ainda se lembre do FHC e do Sarney (não do Itamar). Então, faltando dois anos pras eleições, pesquisa mede popularidade. No segundo semestre de 2010 é que a Dilma tem que estar em segundo lugar, aí sim. Aí ela tem que ser conhecida, e todo mudo tem que saber que ela é do PT, apoiada pelo Lula. Ela indo pro segundo turno, mesmo atrás do Serra, o pessoal vai ter que decidir se quer continuar com um governo que dá certo (e, de quebra, eleger a primeira presidente mulher do Brasil), ou se quer voltar ao neo-liberalismo representado pelo PSDB/DEM. Não vai ser nada fácil, mas dá pra ganhar. A gente ainda nem sabe quais serão os outros candidatos. O PMDB vai lançar alguém próprio (quem? Não tem quadros)? Ou vai querer ser vice do PT ou do PSDB? E o DEM? Provavelmente vai querer ser vice do Serra. Mas aí pode ter briga com o DEM. A Heloísa vai concorrer novamente. Aliás, a gente pode esperar várias mulheres concorrendo, com o objetivo de anular a Dilma (funcionou em Porto Alegre). Quer dizer, o caso da Heloísa é diferente. Ela já concorreu da última vez e tem toda uma ideologia. Mas vai aparecer mais mulher, pode apostar.

Suzana Elvas disse...

Lola, não é em "Eu, Robô"; é em "O Homem Bicentenário" :o)

Não acredito que Hillary seria uma boa escolha. Ela não tem, como Obama, experiência em política internacional, e Joe Biden foi escolhido exatamente para acabar com essa brecha na chapa democrata.

Mas eu também senti falta do agradecimento de Obama no discurso de vitória. Hillary foi um fator decisivo para que os democratas desempatassem e ultrapassassem os republicanos - não somente na corrida pela presidência como no banho visto no Congresso.

Anônimo disse...

É verdade, Suzana, troquei o nome do filme com outro livro de Asimov. Ou será que o Homem Bicentenário é um dos contos de "eu, RobÔ"??.
Ah, me embananei agora, Lola.
beijos

Unknown disse...

toooootalmente off-topic..
http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&local=18&section=Geral&newsID=a2287103.xml

da pra algém explicar o que um cara acusado de estrupro - com "passagem" pela polícia) "hey hey, Mr Cop...aceito um café!" - estava fazendo solto na rua???

lola aronovich disse...

Opa, Su, então não me lembro mesmo. Só vi O Homem Bi uma vez, e não gostei. Pensando bem, só vi Eu Robô uma vez também, mas foi mais recente.
Acho que a Hillary teria mais experiência em política internacional que o Obama. Mas não se escolhe o vice exatamente porque ele é expert ou uma ou outra coisa. Essa é a justificativa oficial. Na realidade, o vice é escolhido pra ganhar um estado decisivo, como foi o caso do vice judeu dos democratas só pra garantir a Flórida (não deu certo, como sabemos). Em termos de angariar votos, não acho que o Joe Biden tenha conseguido grande coisa.
Foi indelicado o Obama não agradecer a Hillary. Ela foi fundamental.

lola aronovich disse...

Cris, que coisa... Como pode se embananar assim? Tsc tsc tsc. Há, e eu, que ainda disse “é mesmo, lembrei da cena”?! E era de outro filme...


Meire, que horror. Vou colocar um postzinho sobre isso amanhã. Obrigada por avisar.

Monix disse...

O curioso é que no domingo eu estava assistindo pelo You Tube o documentário "Blue Eyes", da socióloga americana Jane Elliot, que se não me engano foi lançado em 1996. O filme mostra um workshop sobre um experimento que trata da discriminação, com foco na questão racial, mas que tangencia as questões de gênero, homossexuais, deficientes. Em determinado momento, ela pergunta: "vocês acham que este país está preparado para ter um presidente negro? Ou uma vice-presidente mulher?" Vejam só, 12 anos depois a primeira resposta mudou, mas a segunda continua a mesma.