quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O RELATO DA TAIA

Na segunda-feira, já de madrugada, encontrei nos comentários do meu post sobre as reações machistas ao estupro em Joaçaba este relato da Taia. Eu o deletei e perguntei pra ela se podia colocá-lo como um guest post. Achei uma incrível coincidência, porque naquele dia eu mesma havia decidido contar a minha mais terrível história de horror (que publiquei no dia seguinte). Na terça, muitas de vocês compartilharam suas histórias. Acho isso muito importante porque, assim, mostramos que essas atrocidades fazem parte da vida de quase toda mulher. Não é lenda urbana. Não aconteceu apenas com a menina de Joaçaba porque ela bebeu demais. Acontece direto com mulher que não bebe, mulher que é virgem, mulher que tem vida sexual ativa, mulher que usa minissaia, mulher que se cobre dos pés à cabeça... É muita mulher pra pôr a culpa, hein? Esses relatos deixam claro que não, a culpa não é nossa. Nem é dos muitos homens que aparecem neste blog e que não apenas tratam as mulheres com dignidade, mas nos defenderiam, se pudessem, tenho certeza. Ao mesmo tempo, não creio que estejamos nos “fazendo de vítimas” ao contar nossas histórias. Fomos vítimas. Isso é inegável. Mas não somos mulheres vitimizadas. Superamos, ou estamos tentando superar, o sofrimento que nos foi infligido. Só o fato de contar uma história dessas já prova que somos fortes. Então vamos ao relato da Taia:

E aí coragem, cadê você? Eu ainda estou em dúvida se devia ou não contar uma "historinha", mas vou começar tentando...
Há quase 9 anos eu
estava esperando pelo início de uma reunião na casa de um amigo padre lá no RS. Cheguei antes das outras pessoas e por sei lá qual motivo a gente quis ver um material num computador. O computador estava no quarto do padre (bem pertinho da secretaria da paróquia onde estavam duas secretárias trabalhando) e a gente foi até lá. Só que eu não consegui entrar naquele quarto. Fiquei paralizada na entrada, angustiada, gelada, tagarelando sobre bobagens. Por sorte, naquele momento chegou mais gente para a reunião e a idéia de ver o material do computador foi deixada de lado. Mas ao voltar para casa ainda me incomodava a angústia que senti naquela situação. O padre era um celibatário convicto, meu amigo há anos e eu o amava, mas eu tive medo dele... e isso foi muito chocante. Naquele dia eu chorei (o que é raro pra mim) e passei horas me questionando do porquê da minha atitude e dos meus sentimentos. Só ali percebi o tamanho do trauma/medo acumulado por vários anos após ser violentada por um "amigo" em que eu confiava... Apesar do meu medo do padre ser ridículo (não estou falando de todos os padres, mas daquele específico), ele serviu para me fazer refletir. Mais de dez anos já haviam se passado e eu continuava com dificuldade de confiar nas pessoas/homens. E isso por causa de uma violência passada há muito tempo e por idiotice/ingenuidade minha. Mas o que tinha acontecido? Numa noite muito fria de junho no RS, um "amigo" estava indo comigo até o prédio onde eu morava, mas sob a alegação de estar com frio, ele me pediu um casaco emprestado. Não vi problema nisso. Ele subiu até o terceiro andar comigo e entrou no apartamento para pegar um casaco, mas as intenções dele para "se esquentar" eram outras. Ele me violentou, à força, e eu nem consegui entender o que estava acontecendo realmente. Até a última hora eu acreditava que podia fazer o cara parar, cair em si. Só depois d'ele ir embora é que consegui reagir, trancar a porta do apê e passar horas no chuveiro tentando lavar a alma. Não contei o que aconteceu para ninguém, pois eu sabia que eu é que seria considerada culpada... Pedir ajuda só iria aumentar a minha desilusão. O medo de uma gravidez também foi como viver um filme de terror. E o cara? O idiota/babaca não se conformou fácil com o fato de eu não querer mais amizade com ele nunca mais e chegou a sugerir ca-sa-men-to. Ou seja, se colocou como "o bonzinho da história". Acho que nunca entendeu que me violentou e que me fez entender o que queria dizer a palavra NOJO. Ainda por cima era advogado e eu estudante.
Aparentemente continuei com a minha vida apenas sendo mais cuidadosa ao escolher as amizades, mas na realidade estava destruída, sem confiar nem mais em mim mesma. E só anos depois, com aquele episódio na casa do padre, é que realmente percebi o quanto de pânico eu sentia... Só daí é que consegui começar a "curar" essa dor.
Hoje consigo ver a situação de forma mais clara, menos emocional e com
menos culpa, mas sei por experiência própria que ser violentada não é algo que pode ser remediado facilmente. Sei também que a sociedade não perdoa a mulher e vitimiza o homem. E, com a realidade de hoje, parece que eu devia estar feliz por ao menos não ter sido assasinada, por ter sobrevivido.
Não sei se contribuí com o diálogo deste blog, mas não quero mais me calar diante de tantas opiniões machistas. Mas, mesmo que pareça contraditório, continuo otimista com a humanidade. Os homens que me dão nojo hoje são bemmmm menos do que os que me dão a certeza de que vale a pena viver e conviver.

(Esta última imagem diz: "Acabe com o Estupro. Conte a alguém. 1 em cada 3 mulheres e 1 em cada 6 homens será violentado antes do seu aniversário de 18 anos". Aqui no Brasil, para qualquer situação de violência contra a mulher, disque 180. Este site lista todas as Delegacias da Mulher presentes em cada Estado. Denuncie sempre).

64 comentários:

Giovanni Gouveia disse...

Meio off topic, meio on topic...

Capa de um jornal de Pernambuco:

"Mãe e filho caem do terceiro andar de um prédio em Guarulhos, suspeito é o ex-marido"

http://www.folhape.com.br/imagens_extras/20112008g.jpg

A violência contra as mulheres está ficando, a cada dia mais, insuportável, Lola, algo tem que ser feito para além das campanhas, que, apesar de positivas, não estão dando resultado necessário.

Tem que haver a certeza da pena (seja ela qual for), não adianta encrudescer a pena se não houver certeza de que esses fascínoras irão pro xilindró. A certeza da ipunidade está matando nossos jovens, nossas mulheres, nossas crianças... Bandidos de todas as classes sociais, civis, militares. Um judiciário putrefado, prestes a soltar qualquer um mediante brechas das leis, uma polícia que, quando não está no lado obscuro da força, é mal preparada e mal aparelhada. E, pairando sobre tudo isso, uma desvalorização permanente da vida humana. O novo Leviatã não garante a vida, como preconizava Hobbes, pelo contrário, é o leviatã dos assassinos, dos malfeitores, dos crimes sexuais, da insegurança, da incerteza de voltar vivo para casa... O medo ronda nossas cabeças.
Embora desesperado, não quero correr. Quero enfrentar, quero mudar essa sociedade, quero um novo Brasil pro(s) meu(s) filho(s). Algo tem que ser feito.

Desculpa o desabafo

Anônimo disse...

Esse relato, apesar de horrivel, eh o tipo da coisa que pode acontecer com qualquer uma. Parece que o cara esta soh "forcando um pouco a barra" (e eh nisso que a gente acaba acreditando) quando na verdade esta estuprando mesmo. E aih a mulher as vezes fica achando que cedeu... E fica com vergonha, sei la.

Hoje mesmo li uma noticia no jornal sobre uma mulher que foi estuprada por tres funcionarios de um restaurante, aqui em Londres. Era de madrugada, ela e a amiga estavam bebadas e entraram no restaurante para esperar o taxi. A amiga apagou numa mesa enquanto ela desceu para ir ao banheiro. Nessa o funcionario do restaurante puxou ela pelo braco e os tres transaram com a mulher.

Os tres caras se defendem dizendo que nao foi estupro, que foi consensual. Logico, super consensual!

Pelo menos aqui na Inglaterra a mulher foi fazer exame para comprovar o estupro, a noticia saiu no jornal, o nome dos caras foi divulgado, eles estao sendo julgados... E eh bem provavel que eles sejam condenados, o que pode ser um bom exemplo para outros homens com ideias parecidas.

Valmendel disse...

Acho que o que aconteceu à essta moça é muito mais comum do que se imagina. Me preocupa o rumo que nossa sociedade está tomando, porque só tende a piorar. O caos está por toda a parte. E me apavora ter uma filha menina que terá que enfrentar estas agruras. bjs

Iza disse...

Parabéns pelo relato, essa moça é uma pessoa muito especial, corajosa que foi fundo e buscou a cura da sua dor.
Nossa sociedade está doente e quanto mais mulheres "conscientes" há esperança.

Anônimo disse...

Vim aqui cedo só de curiosa, e de curiosa acabei lendo "O relato da Taia". Chego a pensar que muitos homens tem A CONVICÇÂO de que ELES PRECISAM prestar este SERVIÇO de INICIAR sexualmente as mulheres. E inclusive devem pensar que isto PRECISA, ser feito à revelia da vontade delas.
Comento aqui com meu marido que os pais estão deixando muito a desejar
na educação dos meninos. Há rapazes
que são deixados sem diálogo nas suas dúvidas da puberdade. Entretanto há mães, e conheço amigas,e parentes, que esperam seus filhos voltarem das festas e examinam bem dentro de seus olhos, perguntam o que beberam, cheiram suas bocas. Perguntam sobre as companhias com quem tiveram, e vão no assunto do sexo. E garanto que isto muda muito, o rumo das coisas.Os meninos precisam desta conversa direta, da mãe, ou do pai.Estamos mal preparados para conversar com nossos filhos, precisamos ABRIR O JOGO. Lola, Taia, demais leitores nós precisamos ajudar nossos meninos a serem gente. O grau de infelicidade dos homens é muito grande porque estão sendo acometidos por esta sociedade "DO APARECER e DO PARECER o mais poderoso. O apelo da mídia do consumo é forte e nossas relações de humanidade, de vida íntima e diálogo com eles fica cada vez mais longe do sonho. È lógico que conheço muitas famílias de cabeça boa, conforme afirmei, mas, as estatísticas estão mostrando que faz-se necessário um
repensar. Não está mais dando para
aguentar tanta violência.
O Relato da Taia foi muito importante pois acredito que, a exemplo dela, muitas moças guardaram em silêncio todo o sofrimento que lhes foi causado, justo para não serem ainda APEDREJADAS. Lola e Taia pode parecer absurdo, mas a PEDAGOGIA do APEDREJAMENTO é institucionalizada, e, precisamos mudar a direção deste barco!
Não podemos ser coniventes com a mentalidade que impera. Obrigada, Taia, por trazer à discussão o relato do que a constrageu tanto e fez sofrer. Certamente outras mulheres serão encorajadas a superar. Fatos assim geram entraves para uma vida compartida com um companheiro amoroso.Fatima.

Masegui disse...

Eu sempre fui considerado pelos meus amigos/parentes como muito exigente, radical, ignorante no quesito educar os filhos. O motivo é que eu sempre os punia, não importa o tamanho do erro. Errou, pagou, esse sempre foi o meu lema.
Hoje todos elogiam o comportamento dos meus meninos e se esquecem que me criticaram no passado.

Eu tenho alguns casos em minha vida que provam por A + B que o esquema bateu/levou é o melhor remédio.

Por que estou dizendo isto? para bater na mesma tecla: não aceito essa passividade, fico revoltado com esse "deixa pra lá, esquece".
Não é uma questão de vingança, é uma questão de justiça.

O caso de Taia ficou por isso mesmo, né? Será que o imbecil parou por aí ou sentiu-se encorajado a repetir o feito?

Desculpe a falta de jeito.

Anônimo disse...

Nunca comentei aqui, mas este relato me fez pensar em como isto é muito mais comum do que se imagina. Moro no
Norte, em uma cidade do interior, universitária, tenho 3 meninas de 11, 14 e 15 anos que nunca saem de casa, porque aqui é só festa e bebida, e elas não gostam, então o lazer delas é basicamente filmes, livros, jogos on line, net. Há pouco tempo saí com a de 14 prá fazer caminhada, em um horário mais tarde do que costumo. Na volta, com sede, resolvemos passar em uma loja de conveniência, que a moçadinha costuma frequentar, prá beber alguma coisa. A rua já estava completamente lotada, e logo na entrada um rapaz tentou agarrá-la.
Ela se assustou um pouco, se esquivou e entramos. Quando fui ao caixa pagar o que pegamos, outro cara, de uns 30 anos mais ou menos, tenta agarrá-la e dar um beijo a força. Nunca vou esquecer o susto, a caixa gritou, o dono da loja apareceu, os seguranças o expulsaram. Depois o dono do estabelecimento me pediu desculpas e disse que isso era muito comum, e que os rapazes só fizeram isto porque não sabiam que ela era menina "de família". Posso imaginar o que eles pensam de meninas que saem prá balada. Sinceramente, me senti no tempo das cavernas. Daí para o estupro é apenas um passo.

L. Archilla disse...

numa balada aqui perto de casa q eu frequentava bastante, eu tinha fama de estúpida. o motivo? empurrava ou dava uma super cotovelada em quem resolvesse se aproximar me pegando pela cintura. quer falar comigo, pedir licença, ou o q quer q seja? meu ombro e meus braços estão à disposição.

Anônimo disse...

Taia, que bom que vc continua a ter esperança na humanidade. Parabéns por sua força.
Lola, esses posts mexem comigo e reacendem feridas mal cicatrizadas.
O que posso dizer é que há coisas do meu relacionamento com o ex de 34 anos que ainda não estou preparada p/ contar.
Considero seu blog um porto seguro p/ nós mulheres, aqui sei que não vão me julgar, mas mesmo seria uma exposição que acho que ainda não estou preparada p/ fazer.
Parabéns Lola pelo seu blog e pela luta contra a misoginia.
Desculpe o desabafo.

Unknown disse...

Olha, eu sempre soube que esse tipo de violência acontece com todas as mulheres. Mas ver aqui escrito por tantas dá uma dimensão muito maior. Fico muito entristecida. Mesmo.

Anônimo disse...

Parabéns Masegui! Tenho um amigo que criou os meninos do mesmo jeito que voce e hoje, os filhos agradecem a atitude, a presença marcante e enérgica do pai, na condução deles. Tá faltando PAI!
Com certeza tá FALTANDO PAI que ame
os filhos varões, que gerou.
Vê-se muito é pai omisso. Pai que fica bebendo cerveja justo para não ir pra casa orientar os adolescentes. São uns covardes, sem autoridade, pais de bosta. São uns canalhas, não são pais de fato, apenas de direito. Fatima.

Raiza disse...

Nem sei o que dizer...
Força Taia,torço pra que você supere,e parabéns pela coragem de dividir isso com a gente,se fosse eu não sei se teria tanta coragem.

Anônimo disse...

Oi pessoal! Oi Lola!

Desse a segunda-feira quando eu escrevi o relato até hoje deu tempo de repensar várias coisas e tb avaliar o "tamanho" da diferença da Taia daquele tempo e a de hoje. São quase 20 anos, tempo bastante longo para renovar esperanças e espectativas... Me sentir mais forte hoje parece fácil, mas para chegar até aqui foi preciso uma longa caminhada.
Me parece óbvio que hoje todo o meu comportamento seria menos passivo, e que eu nunca ia deixar por isso mesmo. As escolhas daquela época, calar e assumir eu mesma a culpa, não seriam nem cotadas como opção hoje. E é aí tb que reside boa parte do meu otimismo: sempre dá pra aprender a reagir, mesmo quando as situações são doídas.
Mas quero ressaltar mais uma vez: foi só quando eu "me toquei" do quanto aquele estupro tinha realmente me afetado que eu começei a me recuperar. Enquanto eu "tapei o sol com a peneira" eu estava apenas engolindo a dor e vivendo uma tranquilidade só aparente. Só quando eu percebi o quanto tinha medo é que eu vi que se eu não reajisse estaria dando ainda mais poder a um homem que já tinha me violentado fisica e emocionalmente. Se eu não enfrentasse esse trauma eu daria ao estuprador o poder de me violentar emocionalmente sempre de novo.

Muitoooo obrigada pelos comentários de todas as pessoas aqui, ajuda muito compartilhar e saber que não estamos sós na busca de um mundo menos machista e violento para todas as mulheres e meninas.
Bjss
Taia

Anônimo disse...

Hoje vi uma matéria no jornal, nesse ano 40 mulheres já morreram em Portugal Vítimas de violência doméstica, 13 delas em Lisboa e foram 108 casos de tentativas de homicidios por parte de parceiros.
Ainda bem que conseguiu enfrentar esta situação e seguir adiante...muitas destas mulheres não vão poder fazer isso.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

pra eles, que cometem o ato, eh uma aventura qualquer que dura menos de meia hora. pra quem sofre sao anos (quando nao uma vida) de uma dor na alma.
hj eu postei um post no qual e desabafo um pouco...
porque a violencia (no caso do meu post, nao soh contra as mulheres) esta demais pra minha cabeça.

posso te perguntar uma coisa?
vc faz/fez parte de algum movimento feminista?

ah, e quanto ao seu post de ontem, eu nao posso comentar muito porque nunca assisti.
mas vou ver se pego na locadora dia desses e depois venho aqui dizer o que eu achei!

faz pouco tempo que te leio, mas com certeza seu blog ja eh um dos meus favoritissimos!
beijao, lola!

Anônimo disse...

Oi Lola! Sempre apareço por aqui, mas esta é a primeira vez que comento.
Sou estudante universitária e eu e meus amigos sempre tivemos o costume de fazer trabalhos da faculdade uns nas casas dos outros. Acho que o fato de nunca imaginar que levar um colega para casa pudesse ser uma situação de risco para mim, fez com que o relato da Taia me deixasse bastante chocada.
Pensando um pouco mais sobre isso, lembrei-me que algumas amigas que moram em prédios tem que aguentar as fofocas dos vizinhos, dizendo que elas "aparecem com um cara diferente por dia" referindo-se aos colegas de curso(a maldade está na cabeça das pessoas, não é mesmo?). É triste constatar que se um dia elas sofressem algum tipo de violência como a que Taia foi submetida, o caráter delas seria colocado em dúvida.

Giovanni Gouveia disse...

Há ser feita uma campanha semelhante àquela feita na Austrália, sobre os caras que corriam nas vias públicas:
"Homem que comete violência contra mulher é ..." (complete da forma que quiser)

Anônimo disse...

Eu sinceramente não sei o que se passa na cabeça de um homem ao cometer esse tipo de ato. Acho que pra entendermos ou temos que ser psicólogos ou um deles. E Deus me livre, ser um deles está fora de cogitação.

Podemos até ser psicólogos e entender, mas de forma alguma aceitar. Eu, as vezes, me sinto triste e mal, muito mal, por sermos nós, homens, os capazes disso. De uma forma ou de outra compartilho o mesmo Y que esses nojentos. As vezes gostaria de retirar esse Y e poder permanecer com o X de vocês, que sabem e entendem o quanto isso é deplorável. Claro que nem todas as mulheres são iguais, assim como nem todos os homens tb são. Mas é apenas algo que me perturba por estar incluso na comunidade masculina.

Fica aqui meu desabafo quanto ao assunto e ao relato. E tb, mesmo que com 0,01% apenas de chance de realização, minha sincera vontade de que essa e todas as outras formas de violência acabem um dia.

Giovanni Gouveia disse...

Concordo, e comungo, plenamente desse sentimento, Guxta.

Masegui disse...

Fátima, obrigado!

Quer saber? dia desses, durante o almoço, estávamos (eu e os meninos) rindo de um caso antigo, um castigo imposto a um deles. De repente meu caçula soltou essa: é pai, será que vamos ter competência pra criar nossos filhos como você nos criou?
Fiquei tão emocionado que engasguei-me com a comida (e os palhaços ficaram zoando a minha cara).
Sabe, Fátima, esse "investimento a longo prazo" vale a pena...

Babs disse...

Ei Lola!

Esses relatos são tão comuns né?
Como eu disse no outro post, tenho uma amiga que me contou, e quando ela me contou nós tínhamos 16 anos, que dois "amigos" se aproveitaram que ela estava bebada e a estupraram.

Olhando agora para o meu passado não lembro de nada tão marcante quanto os relatos daqui, uma ou outra ameça apenas.Porque homens pressionando para querer sexo tem muitos por aí, mas apenas alguns mais perturbados chegam as vias de fato do estupro. A própria expressão estupro é elástica não é mesmo? Estupro não precisa ser apenas aquela violência feita sob a mira de uma arma.
Penso que muita gente nem se dá conta do estupro, por causa da culpa que a educação coloca na cabeça desde pequena. A mulher já é "imunda por natureza" para alguns, e isso transparece nas pequenas coisas e diferenças da educação.
BJs

lola aronovich disse...

Gio, mais uma notícia horrível! Não sei o que mais pode ser feito fora essas campanhas de conscientização e aplicar o rigor da lei. Quer dizer, como no Brasil as novelas têm muita influência, seria ótimo se o tema da violência contra a mulher aparecesse mais. Acho que o jeito é mesmo falar muito sobre isso. Acho que a Cythia falou bem num comentário de outro post que o problema não é a lei ser branda (porque ela não é), é só sua aplicação. Eu acho ótimo que vc esteja enfrentando a situação aqui junto da gente.


Barbara, pois é, o próprio termo “forçando a barra” já é suspeito. Bom, tudo isso que foi feito na Inglaterra (comprovar o estupro, a notícia sair no jornal etc) cedo ou tarde acabou sendo feito no caso do estupro de Joaçaba. Acho que os rapazes serão condenados, sim. Espero.
Ontem, procurando imagens pra ilustrar este post, vi que estuprar mulheres desacordadas é muito comum, tanto nos EUA quanto na Inglaterra. Parece que às vezes fazem campanhas pras mulheres não beberem ao sair, e também pra não aceitarem bebidas dos outros. Um cartaz que vi dizia: “Alcohol. The original date rape drug” (álcool, a droga original do estupro, ou algo assim). Ou seja, tem que tomar muito cuidado mesmo.

Serge Renine disse...

Com sua licença Aronivich:

Masegui:

Tomo como meu, o seu comentário. Tenho três filhas. Passei pelo mesmo que você. Eu era muito duro, muito isso, muito aquilo. Hoje minhas filhas são elogiadas pelo bom proceder. Minha filosofia de pai? PAI NÃO É SEU AMIGO, É MUITO MAIS; É SEU PAI.

Ou seja: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Mais um vez, parabéns Masegui!

PS. Quando todos seus amigos te abandonarem, seu pai, que não é seu amigo, mas seu pai; esse estará lá ao seu lado.

lola aronovich disse...

Val, será que só tende a piorar? Espero que não! Espero que algo faça efeito e mude essa situação!


Fabi, acho que a vítima sente-se culpada porque a gente é ensinada, desde cedo, que tem algo de errado com a gente, com a nossa sexualidade. Só pode!

lola aronovich disse...

Iza, também acho.


Fátima, interessante isso que vc diz de alguns homens terem a convicção que precisam iniciar sexualmente as mulheres. Aqui acontece uma dicotomia hipócrita, e bem antiga, que parece continuar nos dias de hoje: essa separação ridícula de “mulheres honestas” e “p*tas”, de “mulher pra casar” e “mulher pra transar”. Tenho certeza que muitos desses homens que estupram odiariam se alguém estuprasse suas mães e irmãs, mas é que elas são “mulheres direitas”. As outras mulheres é que não prestam, então pode-se fazer o que quiser com elas.
Também acho que precisamos abrir o jogo com a juventude. Temos que falar mais de sexo, inclusive. Se não tudo que os meninos ficam sabendo sobre o assunto é através da pornografia, que é um sexo misógino, sem nenhum envolvimento emocional, que trata as pessoas como corpos descartáveis. É preciso conversar com os jovens sobre o papel da mulher na sociedade. Saber quais os preconceitos que eles carregam, pra que possamos combatê-los. A comunicação é fundamental.

Serge Renine disse...

Aronovich:

A Hillary Clinton vai compor o gabinete do Obama. Agora ficou perfeito.

Não lembra West Wing?

Anônimo disse...

É... o que para alguns homens dura 10 minutos, pode traumatizar outra pessoa por 10 anos ou para sempre. E se a violência em si já é um horror, o sentimento de que foi a gente mesma que se colocou de alguma forma naquela situação, pra mim ao menos, foi ainda mais traumatizante.

Seja por ingenuidade, inesperiência, 'patetisse"... não importa ... quando é alguém conhecido que nos ataca perdemos a confiança na nossa capacidade de julgamento de amizade e risco. Ficamos procurando indícios de risco que deveriam ter sido percebidos mas que não foram. E o medo passa a ser uma consequência "natural", pois se o perigo não foi percebido em uma situação, pq seria percebido em outra que ainda pode acontecer?

Tb a solidão para lidar com o que aconteceu é terrível, não foi só o medo de ser "apedrejada" no meu caso que me paralizava, mas principalmente a certeza de que meus pais não saberiam lidar com uma situação dessas. Eles não tinham estrutura para se ver envolvidos num sofrimento desses. E contar para eles só aumentaria o meu problema, pois veria eles sofrendo por algo que eu só queria esquecer. Se fosse hoje? Eu denunciaria o cara, mas ainda não contaria para os meus pais...

E assim se foram 10 anos sentindo medo ao mesmo tempo que tentava negar a gravidade do que realmente aconteceu. E 10 anos é até pouco diante de outros casos que conheço. E depois deste 10 anos já são mais 9 anos de "recomeço"... recomeço da confiança em mim mesma, mas tb confiança nas outras pessoas. Hoje o assunto já deixou de ser tão emocional e o encaro mais racionalmente, e isso me impulsiona pra luta. Tenho amigos e amigas em quem realmente confio muito, a quem posso amar como pessoas e com quem posso contar na busca de uma vida menos violenta.

Bjsss
Taia

Anônimo disse...

Parabéns à Taia pelo relato, você por ter tido a idéia de transformá-lo num post e dar mais visibilidade e... O que mais dizer? É um mundo doentio e complicado. Infelizmente o medo que sentimos dos loucos acaba aleijando a nossa liberdade e nos punindo. Se fosse possível lobotomizar uma espécie homem que vê estupro como um "ato apaixonado e desesperado" (aham) e acredita que a violência e a humilhação possam ser remediadas com "casamento" (como se alguma mulher consciente fosse considerar a hipótese de dividir a vida com alguém que não a respeita em graus tão básicos) seria bom. Mas não dá. Resta às mamães e papais de hoje darem muito duro pra educar seus filhos e filhos, conversar desde sempre sobre situações assim e tentar mostrar o que é certo e errado. Pelo menos o que é assim tão grosseiramente errado. Não deve ser fácil, por isso eu nem me atrevo a procriar.

Ju Ribeiro disse...

Sobre a mulher se sentir culpada, um responsável por tudo o que passamos é a bíblia!
Sim, desde o início, tudo o que acontece de errado na vida é "culpa da mulher". Ou só eu pensa assim?

lola aronovich disse...

Mario Sergio, fico feliz que vc soube educar seus filhos. Mas existem várias formas de educar corretamente, não apenas através da punição. Eu e meus irmãos nunca fomos punidos, ao menos não fisicamente.
Agora, quanto ao “deixa pra lá, esquece”, que tá mais pra “é melhor eu não falar nada e guardar pra mim a minha dor”, é muito difícil esquecer uma educação repressora. Vc viu que quase todas as leitoras que narraram aqui suas histórias se arrependem de não ter agido diferente, de não ter colocado a boca no trombone. A gente amadurece.



Lili, obrigada pelo primeiro comentário. Espero que seja o primeiro de muitos. Isso que vc conta é estarrecedor. Incrível como alguns homens saem por aí literalmente agarrando meninas, como se fossem caçadores e nós, a caça. No caso do estupro de Joaçaba vi o argumento da bebida ser usado como atenuante: ah, os rapazes mal sabiam o que estavam fazendo, estavam bêbados, por isso transaram (esse pessoal não usa o termo estupro, porque não acredita nisso) com a menina. Pra mim, nesse caso, o álcool é um agravante. Se faz homens se comportarem como bichos, não bebam, ué. Se não “conseguem se controlar” e saem por aí agarrando meninas, ou não bebam, ou não saiam de casa. É o fim que quem tenha que se prender em casa sejamos nós, mulheres, as vítimas. Não os agressores.

lola aronovich disse...

Lauren, acho que é bom ser um pouco estúpida às vezes com quem é estúpido com a gente.


Lila, respeite o seu ritmo. Acho importante vc falar sobre essas cicatrizes com alguém. Com uma psicóloga(o), com o quase-marido, com uma amiga(o)...
Mas ontem eu estava pensando nessas histórias todas contadas aqui e me dei conta de uma coisa. O incrível é que aqui não é um blog/site/ONG especial pra vítimas de violência. Não é esta a proposta deste blog, e as leitoras que chegam aqui não vieram por causa disso, nem se consideram vítimas. E, no entanto, foi só falar de histórias de horror que quase todas tinham uma pra contar. Isso realmente indica como a violência contra a mulher é comum em nossa sociedade. E sabe, não é só aqui. Começa uma conversa assim num blog americano, europeu, oriental... Tenho certeza que seria muito parecido.

lola aronovich disse...

Não é, Elyana? Leia o que eu escrevi pra Lila no comentário acima. É chocante essa frequência da violência.


Fátima, o mínimo que um bom pai deve fazer é servir de exemplo pros filhos. Ou seja, tem que tratar a mulher (mãe dos filhos) super bem, com carinho. Tem que tratar as filhas com igualdade. Tem que tratar bem todas as mulheres, ponto. Acho que o exemplo em si já é fundamental. Mas não é tudo. Precisa ter muito diálogo com os filhos.

lola aronovich disse...

Princesa, concordo: muito corajosa, a Taia.


Taia, não resta dúvida que o seu comportamento seria diferente hoje. Acho que o de todas nós, em maior ou menor escala, seria diferente. Não porque tivemos qualquer culpa com o que nos aconteceu, porque nisso acho que todas concordamos: não tivemos culpa. Mas nossa reação seria diferente. E sim, é preciso nos conscientizarmos que fomos vítimas, e que não tivemos culpa, para que possamos nos recuperar. Só tentar tocar a vida, sem analisar o que aconteceu, não funciona bem. Porque o que nos machuca fica apenas reprimido, mas pode vir à tona a qualquer momento.
Mas isso que eu senti ano passado - quando um velho começou a me cantar num ônibus de Floripa pra Joinville, e pôs a mão na minha perna, e disse coisas de duplo sentido, e tudo que que eu fiz foi bolar uma desculpa educada pra me sentar em outro lugar - me fez ficar revoltada com a minha passividade. Pô, então isso é o pior que pode acontecer com um homem? Uma mocinha educadamente trocar de lugar? Então decidi que eu não seria mais assim. Que a vida desses caras não iria ser assim tão fácil, se dependesse de mim. E penso, sinceramente, que outras mulheres deveriam ser mais duronas mesmo.

Babs disse...

Ei Ju, vou fazer um comentário sobre o seu comentário. :)
Você diz que a culpa da "culpa" feminina está na bíblia. Isso me lembra tanto a história do ovo e da galinha, não é engraçado?

A bíblia, esse livrim escrito por homens misóginos, é muito infeliz quanto trata da mulher. Dá uma boa tese de antropologia(?) a maneira com a qual a mulher é retratada e tratada...
Acho que a "culpa" da mulher está, dentre diversas coisas, num fato da natureza: mulher é fisicamente mais fraca. Porque quando se é mais fraco fisicamente fica mais fácil se intimidar (por motivos óbvios). E depois veio a intimidação econômica, o homem trás a "caça", o dinheiro (como tem sido na história), portanto de acha dono daquilo e só pode participar do seu espólio quem obedecer. Afinal além de forte ele é o dono, e todos estão sob seu comando: mulheres e crianças. As crianças crescem, e os pequenos homens percebem que podem se tornar aquele ser que os intimidava. Apenas pouco homens se dão conta de que ser "o dominador" não é necessariamente a regra e nem sempre bom. Enquanto as outras crianças crescem, as meninas se tornam mulheres que raramente se dão conta de que , mais uma vez, não precisam ser necessariamente aquele modelo subjugado.

E assim a vida passa, e a caravana toca. E os homens e mulheres que saem desse imenso ciclo são vistos como aberrações cheios de rótulos. Homens como "menos homens", e mulheres são "perdidas" pelo caminho.

Olha, não é fácil sair do normal. Nunca foi. Que se exploda a normalidade. Refletindo sobre esse vício da sociedade, o machismo, fica parecendo que o que não é normal é ser feliz. Enfim...

Bj

lola aronovich disse...

Impressionante esses números, Cavaca. E isso que Portugal é um país pouco populoso. Eu queria saber as estatísticas na Escandinávia. Será que lá também é assim?


June, fiquei horrorizada sobre o que li no seu blog sobre o bebê inglês torturado e morto por três adultos (mãe e dois homens).
Não faço parte de nenhum movimento feminista, não. Sou feminista desde criancinha, mas por conta própria. E vc, faz?
Fico muito feliz que vc esteja gostando (e participando) do blog!

lola aronovich disse...

Vivis, bom, nossa esperança é que apenas uma minoria dos homens é perigosa. A maior parte pode vir em casa sem problema nenhum, seja pra conversar ou fazer trabalho de faculdade. Todas nós temos amigos de confiança que certamente nunca seriam agressivos conosco. Agora, essa maldade das vizinhas... Eu acho o fim. E se as suas amigas tivessem mesmo “um cara diferente por dia”, no sentido de parceiro sexual? Que mal faria? Os homens podem, e as mulheres não? Incrível como esse tratamento diferenciado persiste. Comente sempre, Vivis!


Gio, parece uma boa campanha, mas perigosa. Ia ter montes de homem que, brincando ou não, completaria com termos elogiosos. É só ver as camisetas pró-Dado Dolabella circulando por aí.

lola aronovich disse...

GuXta, obrigada, querido. É bom ver sua indignação. Infelizmente, amanhã vou publicar um post que mostra que mesmo nós mulheres estamos longe de achar a violência contra a mulher algo deplorável. Acho que é a minoria dos homens que comete violência. Mas, mesmo que sejam 30%, é muuuuuita gente. Sei que estou indo contra a mentalidade “Clube da Luta”, mas sinto que os homens têm que passar a serem educados pra conviver em sociedade. Se o que fazem com a gente, mulheres, é reprimir (e isso funciona, porque convivemos melhor em sociedade), então tá na hora de reprimir os homens tb. Não sei se é insitintivo esse gene humano pra violência, não sei se tem mais disso no Y que no X, não sei se nascemos bichos e somos educados pra virar pessoas (como se os bichos cometessem um décimo das atrocidades que o ser humano...), mas certamente a agressividade e a competitividade exacerbada ainda são incentivas muito mais nos homens que nas mulheres. E outras características tb: o próprio “homem não chora” é uma abominação. Homem é ensinado pra não ouvir. Pra decidir tudo no tapa. Ser másculo é não levar desaforo. Etc etc etc. São todas características muito ruins, a meu ver. É péssimo pras mulheres, que têm que conviver com companheiros violentos, agressivos, que não ouvem, e pros homens, que têm que seguir um roteiro pré-estabelecido e ser mais desumanos.


Gio, hoje minha mãe te fez um grande elogio. Ela disse pra mim que, se vc morasse na mesma cidade, ela gostaria de ser sua amiga.

lola aronovich disse...

Mario Sergio, que bom que vc se dá tão bem com a sua família. Eu ia adorar te ver engasgado! (não resisti, sorry).


Babs, exatamente! Quando li os comentários de jovens desorientados falando do estupro em Joaçaba, havia vários que diziam “Não foi estupro nem nada! Eles não usaram a força! Cadê os hematomas?”. Pra muita gente estupro está associado à espancamento, morte, violência física (lembrando que o estupro em si já é uma violência física). Mas imagino que esses tipos de estupro sejam a minoria. A maior parte é como o que aconteceu com a Lila: parte de amigo, conhecido, alguém da família. Apenas 20% são cometidos por homens estranhos à vítima. Muitas vezes, esses estupros de conhecidos são repetidos, porque a vítima se cala, e como não há marcas aparentes que denunciam o estupro, ninguém nota. Não dá pra dizer que esses estupros são menos traumáticos que os que incluem espancamento. Talvez sejam até mais, porque a vítima pode se sentir mais culpada ainda. E porque, com hematomas aparentes, as pessoas podem ver que a vítima realmente foi vítima. Nesse caso de Joaçaba, tá cheio de jovem dizendo: “Ela bateu a cabeça na pia?! Quero VER esse hematoma!”. Talvez, se vissem, acreditariam que foi estupro? Ou simplesmente inventariam outra desculpa? (tipo: ela que caiu e bateu a cabeça, estava bêbada, ou ainda pior: ela que fez isso, de propósito, pra poder culpar os coitadinhos!).

lola aronovich disse...

Serge, bom, eu certamente prefiro uma educação muito mais liberal. Mas se o resultado dá certo, não sou eu que vou criticar o método.
Ah, West Wing! A Suzana, que é fã da série, vai me matar, mas ainda não vi nem um minuto da série. Mas fico feliz que a Hillary fará parte do governo.


Opa, Taia, respondi o comentário da Taia antes de ler o seu. Eu digo lá o que penso (e o que vc consegue descrever melhor do que eu). Mas vc aponta um outro lado que eu nem tinha pensado: a reação dos pais. Mesmo hoje, 19 anos depois, vc denunciaria o cara mas não contaria nada aos seus pais, porque eles não saberiam lidar com o problema e isso só os faria sofrer. Pois é, em todos os meus casos de quase-violência, eu sempre contei ao meu pai. E a maneira dele querer resolver era como a de tantos homens: vou dar porrada. Ele ia atrás do quase-agressor e, felizmente, não o encontrava. Mas eu precisava contar pra alguém IMEDIATAMENTE, e eu sabia que ele era o que iria me amar incondicionalmente. Num momento inicial, de raiva, ele iria ficar bravo comigo também - como que vc pegou carona?! -, mas iria refletir e ver que a culpa não foi minha.
É um longo recomeço pra se recuperar de algo tão traumático, né, Taia? Acho que todas nós, se tivéssemos passado por algo tão horrível, precisaríamos de muito tempo. Mas fico muito orgulhosa da sua atitude, de ir à luta, e inclusive de não desistir da humanidade.

lola aronovich disse...

Lolla, pra variar vc levanta uma outra questão interessante: que esse homem sentiu que a violência e a humilhação pudessem ser remediadas com casamento (já que, afinal, casar é o sonho de toda moça, não é mesmo?), e o que aconteceria se a Taia tivesse topado uma loucura dessas? Não seria a primeira, pode ter certeza. Faz parte da Síndrome de Estocolmo a vítima estabelecer laços com seu algoz. Mas seria um casamento com violência diária. E ainda assim, insisto, não poderíamos culpar a vítima.
E é muito triste o que toda essa violência faz conosco - mesmo com mulheres que nunca sofreram violência. Ela realmente limita a nossa liberdade.


Ju R, acho que não só o cristianismo, mas várias religiões jogam a culpa na mulher. No cristianismo, a culpa por termos sido expulsos do paraíso foi da Eva. Ela que provocou Adão. Sim, sem dúvida, isso está por trás de muito do sofrimento que passamos, porque é uma mentalidade que culpa sempre a mulher. Somos todas pecadoras e merecemos ser punidas, queimadas em fogueiras...

lola aronovich disse...

Babs, a conexão entre religião e misoginia dá montes de posts. E já deve ter dado montes de livros (que eu não conheço, mas só porque não conheço não quer dizer que não existam). Eu sou meio suspeita pra falar, porque sou atéia. Pessoalmente, sempre achei religiosidade incompatível com o meu feminismo. Eu fui muito católica aos 13 anos, tão católica de querer ser freira. Estudava em colégio católico. Mas eu sempre questionava as freiras: é pra gente acreditar MESMO nessa história de Adão e Eva, ou é só figurativamente? (não que figurativamente seja muito melhor, porque essa historinha toda é sobre como a mulher deve se submeter ao marido e ao pai). Deus é homem, pai, senhor, Ele? Não pode ser ELA? Deus tem barba branca? (porque, pelamor, é uma imagem tão patriarcal, essa). Como que só padre pode rezar missa? Se eu quero ser freira, eu posso ter ambições e querer virar Papa! E as respostas a essas minhas dúvidas me frustravam tanto que eu senti que teria que decidir entre ser religiosa e ser feminista. E o feminismo ganhou fácil. Claro que existem feministas que lidam muito bem com suas religiões. Eu, sinceramente, não sei como conseguem. Porque todas as religiões são tão patriarcais e hierárquicas, tão baseadas num sistema de dominação... Ver a bíblia como um livro ditado diretamente por Deus já revela o tipo de homem que deus seria: violento, vingativo, sem diálogo... Se esse modelo já não funcionava há 2 mil anos, não é agora que vai funcionar.

Anônimo disse...

Lola, por questões meramente jurídicas não considero o que acontecia com meu ex como estupro, mas era abuso sexual sem dúvida. Quem sabe um dia eu possa contar os detalhes, agora não.
Sobre religiões concordo contigo, elas são muito patriarcais, e uma coisa que me incomoda são os dogmas, são as orientações que não podem ser questionadas, as provocações ou brigas com outras religiões.
Eu já fui espírita. Hoje me considero espiritualista, porque espírita no Brasil são seguidores de Allan Kardec. E eu não tenho um mestre ou uma religião específica.
Acredito em reencarnação e vida após a morte, leio sobre espiritismo, umbanda, bruxaria, budismo, induísmo, meditação, taoísmo, tudo que me interessar. Deixei de ser espírita quando eles se posicionaram contra a eutanásia e a descriminalização do aborto.
Sobre o fato de Deus ser homem, bom, o Deus que acredito não tem sexo. Sabe que as bruxas chamam este ser de A Deusa Mãe? Acho isso muito legal. Mas não me considero pagã.

Anônimo disse...

Isso me lembra um pedaço de um programa da Oprah que vi estes dias (eu nunca assisto, nem tenho opinião formada sobre ela e tal), mas falava de um caso assim, de estupro, abuso, e que não foi denunciado, nem punido obviamente, e ela começou a falar, com uma voz imitando quase uma criança (o que me fez prestar atenção), que enfim, isso acontece muitas vezes porque nós, mulheres, quase sempre somos educacadas para sermos boazinhas, comportadinhas, e que oh meu deus, onde já se viu, estarmos numa situação dessas, sozinhas com um homem e foi falando. Me fez pensar muito, ela estava coberta de razão, e alertava todos, principalmente pais e também as mulheres, para que se defendessem sempre, e denunciassem sempre também. Me fez pensar muito, e se aplica a tantos casos.

Ju Ribeiro disse...

"Como que só padre pode rezar missa? Se eu quero ser freira, eu posso ter ambições e querer virar Papa!"

lola, achei engraçado vc dizer isso. aprendi na escola que o feminino de "papa" é "papisa". mas como? ;)

eu tb sou atéia. minha mãe é católica e o sonho dela é que eu um dia "seja tocada por deus". ela acredita piamente que a minha conversão vai acontecer. só digo a ela que difilmente isso acontecerá pelo seguinte: incompatibilidade de idéias e opiniões.

Anônimo disse...

Esclarecendo que quando falo em proteção, não quero dizer que em qualquer destes casos por aí as meninas tenham tido alguma culpa, falo de proteção no sentido de botar a boca no trombone, não se sentir culpada, e denunciar, sempre.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Escrevi o comentário acima, pra não ficar totalmente anonimo, já que estou relaxando mesmo, então assino "erva-doce".

Srta.T disse...

Putz, que paulada o depoimento da Taia. Mas é bem o que eu disse em um comentário que fiz anteriormente: no final das contas, a mulher é culpada. Olha que belezinha, ele a pediu em casamento... até pouco tempo atrás, o nosso Código Penal previa a exclusão de ilicitude no caso do estuprador se casar com a vítima. Em outras palavras: o crime deixava de existir. Pode uma coisa dessas?

Graças, nunca aconteceu nada tão grave comigo. Já me agarraram na rua, passaram a mão, coisas de moleques (sim, eram moleques). Já fui refém de um assalto durante uma festa, e depois de trancarem todos os meninos em um cômodo, um dos bandidos ameaçou nos violentar. Por sorte, o "líder" do bando cortou logo o barato do infeliz e disse que ninguém tocaria em um fio de cabelos nossos.

Uma dessas vezes que fui agarrada na rua que me fez ficar com essa sanha de me defender. Eu já tinha praticado boxe um tempinho, e tava indo a pé pra academia, quando um maluco em uma bicicleta tentou me agarrar. Primeiro meteu a mão na minha bunda (ele veio por trás de mim), depois quis tentar me derrubar no chão. Comecei a gritar e a esmurrá-lo, e ele fugiu. Depois desse incidente, meu pai me deu um spray de pimenta, e não saio de casa sem ele (não tenho carro e ainda não sei dirigir... então, só ando a pé).

Há pouco tempo atrás fiz algumas aulas de hapkido, que é uma técnica bem eficiente pra defesa pessoal. Meu professor mesmo me ensinava alguns golpes "sujos", daqueles que não se usa em uma competição, só em uma situação de perigo. Ele me contou a história de uma das poucas mulheres faixa-preta dessa arte aqui no Brasil: foi pega por um cara armado, que a levou pro meio de um matagal. Ela implorava pra ele não matá-la, que ela tinha filha, etc etc. O cara dizia que se ela "se comportasse", não iria machucá-la. Mandou a moça tirar a roupa, ela obedeceu. Então ele veio pra cima dela, só que desarmado. Resultado: ela o matou, nua, com as mãos limpas. Foi absolvida, pois o cara já era procurado pela polícia, e ela tinha agido em legítima defesa. Mas teve que parar de dar aulas e perdeu seu certificado de mestre, pois um homicídio cometido por alguém que é faixa-preta em alguma arte é equivalente a matar alguém utilizando arma branca.

Pode não ser lá muito politicamente correto, mas é o tipo de história que me faz acreditar que sim, aqui se faz e aqui se paga.

Jessica disse...

OOOOi!
O blog tá lindo e adorei seus posts!
entao, me inspirei vendo o seu blog e acabei criando um, queria que vc desse uma olhada e me desse uma ajudinha naa divulgação!
Beijao

Anônimo disse...

Olá Lola!
Depois de ler este post e os anteriores refleti e cheguei na conclusão também que muitas, MUITAS mulheres já passaram alguma vez na vida por situações de horror, impotência e ameaçada por homens. Que trise. Estava conversando com o meu namorado sobre isso e só de tentar lembrar (tanto ele como eu) amigas que conhecemos que já relatou casos de horror, o número é surpreendente. Mais da metade das amigas que conhecemos já relataram tais situações pelo que recordamos. Não estupro em si, mas situações de perigo etc..Isto porque são as que nos contaram, imagina as que ficam caladas.....
Eu mesma, quando tinha 12 anos (no Japão! sim morei muitos anos lá!), indo para a escola de manhã, sozinha, quando olho p um cara que me chama dentro do carro encostado, ví que ele estava com o pinto duro para fora me mostrando. Depois comecei a correr, ele veio de carro atrás, saiu do carro de novo, mas como tinha algum movimento na rua e eu continuei correndo e chorando, ele acabou indo embora.
Depois de 14 anos, hoje tenho sindrome do pânico. Não sei se tem a ver, já que começou a sindrome o ano passado quando fui assaltada a noite também, aqui no Brasil..
Depois já na adolecência andei muito sozinha voltando p casa, por sorte nunca aconteceu nada.
Hoje em dia, de um ano para cá,tenho muito muito medo de lugares, pessoas, depois do assalto por dois homens.E digo sempre para o meu namorado, que nós mulheres temos mais medos de um suposto assalto, porque em última instância pensamos no perigo do estupro, MUITO mais do que o assalto em si.
Embora esteja melhorando isto ainda atrapalha minha vida.

Sei lá. Acho que é um problema de nossa estrutrura social, que não se baseia na humanidade, e sim no mercado.Assim sendo, como poderíam se preocupar de verdade nos perigos que as mulheres sofrem, como um assunto para a pauta do dia..é difícil.há coisas mais importantes.
..por outro lado também um traço cultural, neste caso que só vem a agravar com o tipo de sociedade que vivemos. De castidade religiosa viramos mercadoria..

De qualquer maneira, parabéns pelo post. Não estou resignada ainda, por sorte..
Acredito que aida a história da humanidade pode ser diferente.
Ainda há muito o que fazer,no entanto, tem horas que a única coisa que podemos fazer é nos proteger..

Abraços

Anônimo disse...

Oi Lola..sempre acompanho seu blog, porém nunca comentei! Vamos lá.

Achei absurda a quantidade de relatos de violência contra a mulher que foram postadas neste blog. Particularmente nunca aconteceu nada do tipo comigo, porém morro de medo de andar sozinha de noite ou mesmo pelo dia se o local for meio calmo.
Sou universitária e frequentemente trago amigos em minha casa para trabalhos ou mesmo reuniões. E fico chocada com o pensamento de muitas pessoas, que acham que isso é não se dar ao respeito. Nada a ver, mas o que é pior é que se algo acontece vc tem meio que "um motivo", quer dizer, a culpa sempre cai na mulher.

É absolutamente ridículo saírmos à rua com medo! Fala sério. Me pergunto se isso um dia vai ser diferente..

Bjus, Lola,seu blog é ótimo!

Anônimo disse...

Este foi parte do comentário da Anônima/Erva Doce:

Nossa, quantos comentários.

Taia, eu juro que eu te entendo. Dizer não na hora certa é a coisa mais difícil do mundo. Quantas vezes fazemos o que não queremos, por medo de resistir e provocar uma situação pior?

Peço licença à Lola pra ficar anônima neste comentário, não dá pra me vincular aqui.
...

Desculpa, Lola, mas eu precisava verbalizar essa história, que é/era tabu pra mim.
Quanto aos quase estupros, esses eu tirei de letra. Aprendi cedo a não beber, depois que um cara me agarrou, e eu não tinha pra onde ir nem a quem pedir socorro. Ou da vez que me vi (aos 16 anos, santa inocência) num apartamento com quatro argentinos em Copacabana, que se não fossem gente finíssima, poderia ter dado em droga. A ficha caiu logo, por isso aprendi que devemos ser senhoras do próprio corpo, e que a vida é uma selva mesmo.
Mas os homens não estão preparados pra lidar com isso, infelizmente.

Erva-doce, eu comecei a responder, mas ficou tão longo que vou transformar num post, pode ser? Primeiro o seu comentário (que é excelente!), e depois a minha resposta. Com a sua permissão, claro. Por isso deletei o seu coment. original.

lola aronovich disse...

Ah, aproveitando, Lila e minhas outras advogadas, eu perguntei no outro post, mas ninguém respondeu: uma leitora comentou que quando tinha 11 anos dois homens de 40 disseram coisas indecentes pra ela, na rua. Como é a lei pra isso? Pode-se dizer coisas assim pra uma criança? Pode valer como ameaça, atentato ao pudor (mas não violento)?
Sobre religiões, acho muito ruim todos esses dogmas. E como praticamente todas as religiões se acham o povo escolhido. Eu realmente não acredito em nada. Vida após a morte, encarnação, nada. Mas se fosse possível, na próxima reencarnação eu queria nascer gato.


Simone, que bom que a Oprah disse isso. Acho que esses programas televisivos de grande audiência podem ter influência positiva, é só querer. O problema é que raramente querem. Uma pessoa como a Oprah exerce grande influência, então tudo que ela diz é importante.

lola aronovich disse...

Ju R, minha mãe se acha católica, mas não é. Eu não diria nem que ela é católica relaxada. Mas ela gosta de arquitetura de igrejas e de alguns rituais. Meu pai era ateu mesmo. Nos colocaram numa escola católica (e americana), o que às vezes criava alguns atritos com a nossa (minha e dos meus irmãos) total falta de religiosidade. Mas sobrevivemos e tenho a impressão que hoje tanto eu quanto meus irmãos somos ateus (engraçado, mas nunca falamos em religião. Não faz parte das nossas vidas). No ano em que eu era católica fervorosa e queria virar freira (quando eu tinha 13 anos), arrastava todos eles pra igreja. Mandona, eu?


Simone, nem precisa se esclarecer. Acho que todo mundo entendeu.

lola aronovich disse...

Erva-doce, tudo bem escrever como anônima. Sem problema mesmo. Posso usar o seu relato como um guest-post, e aí colocar a minha resposta no final? Eu comecei a responder aqui, mas ficou quilométrico.


Srta. T, é como eu te disse num outro post, depois de ler tantos relatos tão parecidos, e constatar como isso faz parte da nossa rotina, me veio à mente se TODA mulher não deveria aprender alguma arte marcial para se defender. Se eu tivesse filha, eu a colocaria pra lutar desde criancinha.
Minha irmã também sempre andava com spray de pimenta. E muitas amigas minhas. Em outros países isso é mais comum.
Puxa, isso que vc conta da mulher faixa-preta em hapkido que escapou do estupro... era só o que faltava ela ser condenada. Nesse caso de auto-defesa não tem o que dizer. Ela se salvou de um estupro, talvez da morte. Acho que pra muitas mulheres (e homens) ela é uma heroína. Acho injusto, inclusive, que ela tenha tido de parar com as aulas. É totalmente diferente um mestre em artes marciais usar sua técnica pra começar brigas entre boyzinhos de uma mestre usar sua técnica pra se defender de um estupro! Mas isso é por lei? Que algum faixa-preta matar alguém equivale a usar arma branca? Ou é um código de ética das artes marciais?

lola aronovich disse...

Jessva, eu visitaria seu blog, se vc deixasse seu endereço.


Má, fico feliz que esses meus posts tenham rendido uma ótima reflexão entre vc e seu namorado. Pode apostar que é muito mais que a metade das mulheres que têm uma história de horror pra contar. Muitas vezes começa assim: “Eu não tenho, nunca me aconteceu nada”, e aí a pessoa vai lembrando, vai lendo o que outras escreveram, e isso engatilha alguma lembrança bem guardada. Acho que é prova da nossa força que a gente consiga dizer “isso não foi nada” pra tantas histórias horríveis que acontecem com a gente. Se metade dessas narrativas traumáticas já tivessem acontecido com os homens, haveria uma aplicação bem maior das leis para que isso parasse. Como envolve apenas nós, mulheres, cidadãs de segunda classe, isso passa de geração pra geração...
E veja como é algo quase universal. Acontece nos países ricos e nos pobres, nos laicos e nos religiosos... Que pena que essas experiências tenham te rendido uma síndrome do pânico, que é algo que atrapalha muito a vida, né? Certamente assalto pra homem é totalmente diferente de assalto pra mulher. A nossa menor preocupação nessas horas é perder a bolsa...
Não há dúvida que essa estrutura rígida da sociedade faz com que sejamos presas fáceis, apenas por sermos mulheres. Espero que isso mude um dia.

lola aronovich disse...

Renata, obrigada pelo primeiro comentário! É absurdo mesmo como essas narrativas de violência fazem parte de tantas mulheres. Não é ridículo? Praticamente metade da população já foi no mínimo ameaçada e agarrada, quando não foi coisa pior. E a gente vive com medo. Dá pra não ter medo, diante de tantas evidências? Agora, o que é isso de vc “nao se dar ao respeito” por trazer amigos pra casa? Seria uma mão na roda se a sexualidade de uma mulher deixasse de ser julgada. Ah! Um dia um amigo meu foi na casinha que eu alugava em Floripa, durante o meu mestrado. Essa casa ficava nos fundos da casa de uma senhora, com que eu me dava bem. A gente sempre conversava sobre o meu marido, por exemplo. Mas durante a semana eu vivia sozinha em Floripa, e ia pra Joinville nos fins de semana. Enfim, uma vez um amigo foi lá em casa jogar xadrez. Vc não imagina o pânico da mulher! Ela ficava entrando e saindo, olhando no quintal, pra ver se não estávamos fazendo algo pecaminoso... Uma mulher e um homem não podem ser amigos, aparentemente. Mesmo que os dois sejam comprometidos e que não haja a mínima atração entre eles, é sempre um perigo porque um tem um pênis, e a outra tem uma vagina! E parece haver um ímã fortíssimo que una os dois órgãos... E, claro, quando esse íma é ativado, a culpa é da mulher.
Agora eu vou dormir, que já é quase 2 da manhã. Boa noite, meninas!

Anônimo disse...

vim muito cedo pro proximo post...

mas em tempo pra responder seu comentario:

entao... eu tb nao faço parte, nao. e nem nunca havia me ocorrido esta ideia, ja que, devido a minha natureza de franguinha-sensivel, eu sei que nao posso me envolver em movimento nenhum. (tentei bem de leve me envolver com politica e quase fiquei louca).
perguntei porque caso vc fizesse, ia pedir pra vc me mandar algum site pra que eu desse uma olhada e tal... pq estou ficando bem interessada no assunto!

desculpa se soar meio mala sem alça, mas... sera que vc poderia me dar uma dica de algum livro com tematica feminista?
se possivel, ja que pelo pude ver vc estudou nos eua, em ingles porque eh o que vou conseguir comprar aqui com mais facilidade...
:)
espero que nao tenha soado muito chatonilda!

outra coisa, deletei sem querer seu primeiro comentario de ontem.
nao sei que besteira que fiz na hora de moderar as coisas la...
desculpa viu!
:)

um beijao pra vc!

Giovanni Gouveia disse...

Lola, diga a tu mamacita que ella es ya mi amiga, y es un grande honor a mí
P.S.Já fiz grandes amizades e até me casei via internet

Ju R., Lucrécia Bórgia foi Papisa...

Giovanni Gouveia disse...

"Gio, parece uma boa campanha, mas perigosa. Ia ter montes de homem que, brincando ou não, completaria com termos elogiosos. É só ver as camisetas pró-Dado Dolabella circulando por aí."

Mas era pra você, Lola, completar...

lola aronovich disse...

June, não sei a diferença de fuso horário entre aqui e aí. Mas sempre vejo os horários mais estranhos quando entro no blog da Lolla Moon! “Franguinha-sensível” é legal! Gostei.
Bom, eu sou feminista muito mais na prática que na teoria. Li poucas feministas. Só ultimamente venho descobrindo blogs e sites feministas. Mas dê uma olhada aqui com a Cynthia e com a Carla. Quem sabe elas podem te indicar alguma coisa...
Eu li algumas autoras feministas dos anos 70, como a Germaine Greer. Adoro The Female Eunuch, por exemplo. Vc pode ler autoras da primeira e segunda onda do feminismo.
Este ano li um livro que amei de paixão e recomendo pra todo mundo: The Beauty Myth, da Naomi Wolf. Abre muito a nossa cabeça. Outro ótimo foi Unbearable Weight, da Susan Bordo. Ambos estão relacionados ao corpo e à ditadura da beleza, mas vão muito além.
Cada livro desses que a gente lê indica mais uns dez livros pra ler. Comece por esses, se conseguir encontrá-los.


Gio, parafraseando a personagem da Jamie Lee Curtis no ótimo Um Peixe Chamado Wanda: “Ó! E ele fala espanhol também!”.
Minha mãe é nova na internet, daí esse preconceito dela que não dá pra se fazer uma grande amizade via internet. Prove que ela está errada, Gio!
Ah, sobre a campanha, era pra eu completar... Entendi agora.

Winry-Senpai-Sensei-Sama disse...

Lendo esses relato e os comentários... hm... bom eu mesma já tive uma relação sexual não consensual..mas na real eu sabia que ia dar em sexo e não me importei, porque sei lá, era só tomar uma pílula do dia seguinte? O cara estava bebado eu estava bebada, e eu aceitei ficar com ele porque era um verdade e conseuqencia só de dois -__-, não que eu realmente quissesse, mas não ia fazer diferença, e depois se eu dissesse que não queria ia cortar o clima, e é aquilo, que diferença faz? EU to afim de ficar com alguém, e bem não tava pensando direito... nunca jamais pensei naquilo como estupro oO nem violento foi....mas foi sacanagem das mais bem boladas, porque eu jamais transaria coma aquele cara se não estivesse bebada e se não comessasse a ficar com ele....sei lá. Como disse, nem me improtei muito, porque pra mim o sexo não tem lá muito significado, e depois não fui agredida fisicamente, ou violentada sem a minha permissão, porque não tinha condições de pensar em nada, e o cara tb não...como chamamos isso 8D? Haha.

Adèle Valarini disse...

Uma vez saí com um cara, de 22 anos, com quem estava ficando. Eu tinha 17 anos e fomos beber com um casal de amigos dele. Depois ficamos a sós e rolou um clima. Já tínhamos feito sexo antes, mas nesse dia eu estava menstruada e não quis. Estava usando um absorvente interno, e falei isso para ele. Ele disse que tudo bem, que entendia, e continuamos bebendo e beijando até que eu entrei em um estado de quase coma alcoólico.
Estava semi-consciente, mas já não conseguia mais falar ou controlar meus movimentos. Me virei para o lado, e fechei os olhos para dormir quando senti que ele estava tirando minha calça. Ele fez sexo comigo com absorvente e tudo. No início, sentí uma súbita volta de consciência, tentei falar para ele parar, mas não sei se no estado em que estava consegui. Depois apaguei, o que hoje penso que pode ter sido algum tipo de mecanismo de defesa. Depois disso não voltei a falar com ele.
Não assimilei que tinha sido um estupro na hora, pensei que havia sido só uma babaquice da parte dele. Semanas depois fiquei com outro cara e, quando ficamos sozinhos, desabei a chorar convulsivamente, sem poder parar. E toca-lhe explicar pro cara qual é o problema, quando eu mesma nem tinha entendido ainda! Anos depois, depois de uma depressão profunda, fui fazer terapia e comecei a questionar os eventos da minha vida até ali. Só então me toquei do que tinha acontecido, e que não tinha sido um evento isolado. Sofri muitos "quase-estupros", "ufa-foi-por-poucos", e até o que eu chamo de "semi-estupros", que são essas agarradas, passadas de mão aleatórias e "estupros bucais" que alguns homens ainda acham tããão maneiro..afff!
Sou medrosa, não saio na rua sozinha de noite, geralmente prefiro sair com pelo menos 2 amigos homens de "seguranças" e falo isso para eles na boa. Todos eles me acham noiadinha demais, mas eu sou é ligada! Minhas amigas sabem do que estou falando!
Tive a terrível experiência (que me deixou mais ligada ainda!) de frequentar um grupo de babacas durante algumas semanas de loucura, alguns anos atrás. Eram vizinhos do bairro e nos encontrávamos bastante no bar da rua, até tomavamos umas cervejas juntos, até que um dia saí com eles para uma festa em que um deles se embebedou e começou a contar das menininhas novinhas que eles embebedavam, estupravam e filmavam, para poder "queimar o filme delas" depois. Fiquei de cabelo em pé e fugi dali rapidinho! Socorro!