segunda-feira, 3 de novembro de 2008

PRÊMIO EMPREENDEDORES DO ANO

Tenho uma aluna particular e vou até a casa dela, de ônibus, duas vezes por semana. Na volta, quando tenho preguiça de preparar alguma coisa pra comer em casa, compro um ou dois x-burgers, daqueles de um real cada. Tem uma barraquinha na esquina de casa, e quem cuida dela são os filhos de uns vizinhos crentes e boa gente. Antes de ir pros States, ajudei o primogênito com algumas questões de inglês. Hoje o menino tá com 14 anos e eu nem o reconheci ao voltar, porque essas crianças crescem muito rápido. E ele trabalha nessa tendinha vendendo hambúrguer todo dia, menos domingo, das 17 às 23. É um bom rapaz, prepara o hambúrguer com cuidado, sem nunca tocar na comida e tal. Então lá estava eu, esperando que ele fizesse os meus burgers, quando um homem que tava lá puxa conversa comigo. Primeiro, sobre uma dentista que mora perto e que disse pra ele, “Tô de olho em você!”. E o cara, pelo jeito, entendeu literalmente. E pergunta pra mim: “Como assim, tá de olho? Eu sou pobre, ela é rica. Você acha que isso pode dar certo?”.
Veja bem, eu nunca vi esse sujeito na vida. Não que eu lembre. Eu acho que disse “Boa noite” quando cheguei lá na tendinha, e só. Eu nem ia responder, pensei que talvez pudesse ser uma pergunta retórica, mas o cara insistiu, já que eu devo ter a maior cara de conselheira romântica do universo. Portanto, eu disse: “Depende. Talvez você não seja tão pobre, nem ela tão rica. E às vezes dá certo mesmo assim”. Ele continuou dizendo alguma coisa totalmente desinteressante, mas eu interrompi pra pedir pro menino fazer o meu hambúrguer mal passado, porque, por incrível que pareça, eu parei na tendinha pra comprar hambúrguer, não pra conversar com um estranho que acha que a dentista tá dando mole pra ele.
Então o homem veio com essa: “Você sabe que x-burger engorda?”. Tá, essa é uma pergunta tabu, ainda mais pra uma mulher gorda. Eu tentei levar na esportiva: “É, acho que engorda sim”. Ele: “Não! Não! Você tem que responder 'não'". Eu: "Hã, não?" Ele: "O que engorda é a gente, o x-burger continua o mesmo! Ha ha ha!”. Eu: “Hilário. Ó, não esquece: quero o meu mal-passado, por favor”. Aí o sujeito desanda a falar sobre os índices de obesidade. E o menino fazendo os x-burgers junta-se a ele, empolgado: “Lá nos Estados Unidos todo mundo é gordo. Também, eles comem hambúrguer pro café da manhã”. O outro: “É o país com a maior obesidade do mundo”. Eu: “Ahn, na verdade, atualmente é a Austrália”. Menino: “Austrália?! Eles comem hambúrguer lá também?” E eu pensando: o que estou fazendo aqui? Eles realmente acham que discutir índices de obesidade e culpar hambúrguers faz bem pro negócio deles? Eles não sabem que, com uma mulher, ainda mais uma gorda, o assunto “engordar” deve ser evitado? Ainda mais se tá relacionado à comida? E, detalhe: os dois certamente comem hambúrguer todo santo dia. E são magros.
Só sei que fui pra casa pensando que o espírito empreendedor do meu bairro deixa muito a desejar.
Isso aconteceu um mês e meio atrás. É, faz um mês e meio que parei de comprar hambúrguer.

27 comentários:

Anônimo disse...

Oi Lola

Posso rir da situação ou preciso me "fingir de séria"? Eu te entendo bemmmm... pois o meu estoque de bacon é bastante generoso (muito bem distribuído por todo o meu corpinho... de onde eu tirei esse diminutivo?). As pessoas muitas vezes nem se tocam sobre como são contraditórias, comem "bobagens" ao mesmo tempo que as criticam. Nunca sei se isso é sentimento de culpa, masoquismo, uma forma maldosa de insinuar que a outra pessoa está gorda ou "todas as alternativas são válidas".

Quando alguém me fala algo do tipo "vc não sabe que isso engorda?" eu geralmente respondo "mas é claro que eu sei, é por isso que estou comendo. Ou vc acha que é fácil manter um corpinho como o meu?" A minha resposta é tão inesperada (pode chamar de babaca) que a pessoa normalmente desiste de me torrar a paciência.

Bjsss
Taia

Giovanni Gouveia disse...

Se não engordasse seria veneno, pois, como diz o ditado:
"O que não mata engora..." :D

S. disse...

O pior e' que, que eu saiba, hamburguer nao e' tao mal assim... especialmente se for grelhado.

S. disse...

Mau, mau mau mau. Favor ignorar o l :)

Anônimo disse...

Lola,
Sei beeem como se passou a cena, pois já fui protagonista dela, em outras versões, muitas vezes. Quando eu pesava 132Kg e tinha (ainda tenho) 1,67m, não podia entrar no restaurante que todos queriam ver o que e quanto eu ia comer e sempre tinha alguém que achava que além de ficar olhando fixamente todos os meus movimentos, ainda podia fazer sugestões de comidas mais "saudáveis". Daí que eu sempre pedia coca ligth, por que eu gosto mais mesmo do que da normal e o garção ou qualquer pessoa do lado fazia uma cara, tipos: "fofa, comendo deste jeito não adianta pedir bebida diet". Bom, diante desse olhar, eu emendava, logo depois do pedido, é pra não engordar, que eu tô de regime. kkkkkkkkkkkk Bom, perdi 70 quilos, dos 132, em pouco mais de um ano, com uma cirurgia de redução do estômago, em 2002. De lá pra cá, recuperei 2 kilos e peso, normalmente 64, mas posso chegar a 67, dependendo do período de ataque específico à guloseimas diversas. Daí que, escrevendo pra você, lembrei do meu primo, que saia caminhar e quando voltava sempre tomava uma cerveja, daí meu tio, pai dele, dizia: que adiante você fazer caminhada se recupera tudo depois tomando cerveja. Ao que ele respondia: podia ser pior, eu podia tomar só a cerveja e não fazer caminhada nenhuma, uai! Pimba! Copiei.
Sobre o guest post da Previdência, vai rolar. Eu disse que meu amigo é maluco, mas não prometo pra muito já, porque o trabalho me atropela, mas acho que lá pro fim do mês já dá.
Abração!

Giovanni Gouveia disse...

Lembrei que há uns 20 kilos, digo 20 anos, eu trabalhava de garçon (universidade em tempo integral era a única opção plausível) e tinha uma amiga que todo dia dizia que se impresisonava como eu comia de tudo e não engordava... A Miserávi tava era de olho gordo no meu corpitcho...

Babs disse...

Pois é Lola, que coisa heim? A vontade de dar palpite é maior que o desconfiômetro...
Fiquei com pena do menino, o futuro pra ele não é dos mais promissores...
Já aconteceu parecido comigo, mas era uma atendente de lanchonete. Eu estava grávida do meu terceiro bebê, além de grávida, gordinha, louuuuucaaa por um quimdim, aí a atendente me perguntou se eu não sabia que quimdim engordava. Não voltei lá...
Se você acha que controlam muito o que uma mulher come, experimente engravidar... Você vira uma chocadeira de dominío público...

JAM disse...

a propaganda e a alma do negocio *R*R*

triste mesmo...

Como mulher, gorda (na verdade com indice de obesidade moderada)...concordo que o assunto nao foi nada interessante...mas a sua forma de escrever...e divertidissima.

bjos e bom dia para vc!!

Voz no Deserto disse...

seria cômico, se não fosse trágico.

falta de bom senso não?
acho que sei porque o cara não da certo com a dentita.

HAHA

abraços!

Anônimo disse...

tava discutindo isso hoje na aula . era sobre goffman e ele tem um trabalho fascinante sobre o estigma. e tem uma hora que ele fala que a sociedade tem duas tendências: ou fingir que o indivíduo estigmatizado não existe ou tentar intervir diretamente no comportamento dele.quando eu era mais nova eu tinha muita acne, e não raro as pessoas sentiam-se no direito de me medicar, de indicar a solução, no ponto de ônibus, no supermercado.é um desejo de "corrigir" as coisas.. acho isso meio triste.

Anônimo disse...

Realmente, que péssimos empreendedores! Se tem uma coisa que detesto é falta de respeito com o consumidor, incluindo comentários e conselhos idiotas, não-pedidos, enxeridos, etc.
Eu tbém faria um boicote ao hamburguer da esquina!
bjos

Anônimo disse...

Lolinha, cadê você, meu bem?
Sumiu, não respondeu, nos deixou ao léu, estamos órfãos?
Ou a aranha voltou pra se vingar da sua conduta ostensivamente beligerante e fez casinha no lépitópi?
Dá sinar de vida, fia. Como nóis diz aqui no interiorrr: Cê num proseia nem mostra feição. Quiédi Lola?
Abs,
Paula.

Anônimo disse...

Aff. Eu me identifico muito com esse post, porque sou meio anti-social. Na verdade não tenho nenhuma paciência pra esse povo que chega puxando papo. Helooo? Te conheço? Engraçado que mesmo qdo estava bem gordinha, não me lembro do povo controlando minha comida. Quem fazia isso era minha família, não estranhos.
Agora que emagreci 12 kg, ainda como uma quantidade até grande. O povo só olha assim, com aquela cara: tem certeza que vai comer isso tudo? Mas não falam nada.
A melhor solução pra mim é pedir pra embrulhar pra viagem. Aí vc pode pedir muito, e fica parecendo que é pra dividir com alguém q ficou em casa. ;)

Babs disse...

Lola, olha que ótimo:
http://palinaspresident.us/
Clica bastante, tem muuuuita coisa!
Bjs

lola aronovich disse...

Taia, pode rir da situação à vontade. Boa a sua resposta. Por que as pessoas se metem tanto nas nossas vidas? Acho que suas hipóteses estão corretíssimas...


Giovanni, ah, nem sei quão calóricos são esses hambúrgueres de um real, mas é o pão, um pedacinho minúsculo de queijo, outro de apresuntado, e um pedacinho de carne. Eu consigo imaginar coisas bem mais engordativas...

lola aronovich disse...

Cereja, pois é, é como eu respondi no comentário acima. Consigo pensar em coisas piores.


Paula, sério? Vc fez a cirurgia de estômago? Ah, mas agora vc fica me devendo DOIS guest posts, o da Previdência e mais este. Então, eu queria saber mais detalhes sobre a cirurgia. Conheço bastante gente que fez, mas é estranho: geralmente, o pessoal não quer falar sobre isso.
Pô, mulher gorda comer em público é um sufoco. O pessoal faz cara de “Tá vendo por que ela é gorda? Ela come!”. Maior tédio.

lola aronovich disse...

Gio, isso que é metabolismo atrasado... Demorou 20 anos pro seu corpo responder às provocações?!


Babs, ah, eu sei. Se mulher normalmente já é propriedade pública, mulher grávida, então, nem se fala! O pessoal até põe a mão na barriga direto, né? Todo mundo dá palpite e tal. Mas eu tb já ouvi que, em geral, o pessoal é simpático com gestantes. Olhando o lado bom, é quando a mulher mais se sente parte de uma comunidade, imagino (já que o bebê parece ser de todo mundo)...

lola aronovich disse...

Jamine, que bom que vc achou divertido. Eu achei essa minha crônica meio mal-humorada. Queria ter sido mais engraçada.


Voz no deserto, ainda tenho a esperança que eles falam assim com todo mundo que compra seus x-burgers, não só comigo...

lola aronovich disse...

Figueiroa, é verdade isso. Mulher gorda, por exemplo, tem duas escolhas: ser discriminada, ofendida, ou ser totalmente ignorada, virar a mulher invisível. É realmente um desejo de “corrigir” as coisas, de querer padronizar tudo. Quantas vezes eu já não disse pra pessoas que não queria ter filhos e o pessoal respondia: Mas vc já fez tratamento pra engravidar? Ah, mas vc ainda vai conseguir. Pode adotar. Etc. E eu repetia: eu não disse que não POSSO ter filhos, disse que não QUERO. Mas isso era uma abstração pra elas. O pessoal não acredita.


Cris, bom, não sei se estou realizando exatamente um boicote, mas fiquei meio sem graça de voltar lá. Quer dizer, eu sou gorda, eles vendem hambúrguer, eles estão crentes que hambúrguer engorda... Eu faço a equação e não me dá muita vontade de comprar lá.

lola aronovich disse...

Paula, ah, nem fala: estive terminando mais um capítulo (atrasado) da tese. Preciso entregar um por mês, até o final do ano (mês que vem). Como o prazo é sempre no final do mês, e como eu costumo deixar tudo pra última hora (mas vou mudar!), fica tudo acumulado. The horror, the horror.


Lila, às vezes eu sou muito sociável, outras menos. Eu já bati papo com o menino que vende hambúrguer, e com outras pessoas que estavam lá, mas era mais impessoal, sabe? Tipo, falando da violência no bairro, essas coisas. Aí o cara me vem pedir conselhos amorosos sobre as chances dele com a dentista? Fica estranho. Ah sim, família é hors concours em controlar nossa forma física.


Babs, não entendi muito bem qualé...

Babs disse...

Lola, o site todo é uma grande piada com a Palin. Você tem que ir clicando para ver um monte de referências. Ah...Agora vi que mudaram o site, tava cheio de piadas ótimas! Mas colocaram o Obama, e perdeu a piada. Tava engraçado...

Olha o que tinha lá:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u463586.shtml

Babs disse...

PS. Perdeu a piada por um excelente motivo...

Vitor Ferreira disse...

Eu não vou mentir que eu ri da piada estúpida dele ahahhahahhaha!!!!

Anônimo disse...

Lola, deve ser por isso que sou meio anti-social. As pessoas já chegam falando de suas vidas íntimas. Eu, que sou tímida e discreta, acho isso muito esquisito, e sinceramente não sei o que falar p/ essas pessoas que já puxam papo pedindo conselhos ou falndo de familiares. Fora aqueles chegam falando de suas doenças e das de seus familiares, isso sim é o fim.
Enfim, fico por aqui, pq senão o coment vai virar um desabafo.

Anônimo disse...

Caracas, sem comentários...
Na boa, eu não consigo entender o que acontece com esse povo sem noção!

Adorei a resposta da Taia, super espirituosa, mas acho que eu ficaria com cara de bund@, e deixaria tudo para lá...

Enfim, que situação mais doida...

Beijos

lola aronovich disse...

Babs, obrigada, vou tentar dar uma segunda chance pro site que vc indicou...


Vitor, vc riu AGORA! Quero ver se alguém te pergunta “Vc sabe que hamburger engorda?” na hora que vc tá comprando hamburger! Ainda mais se vc for gordo.

lola aronovich disse...

Lila, pra mim depende muito do meu humor. E tb da pessoa, claro. Tem vezes que vc mal conhece a pessoa e ela começa a falar as coisas mais íntimas. Fica esquisito. Mas tem vezes tb que vc sente uma empatia até imediata pela pessoa. Depende. Eu tenho falado bastante com mulheres no ponto de ônibus.


Chris, pois é, total falta de simancol!