terça-feira, 14 de outubro de 2008

A NOVA LOLINHA

Meu aprendizado foi num ônibus de Floripa pra Joinville, há uns dois anos, quando um velho sentou do meu lado, pegou a minha mão, pegou na minha perna, deu em cima de mim na cara dura, e tudo que eu fiz foi pensar “Como que eu faço pra mudar de assento sem ofendê-lo?”. Fiquei revoltada com a minha passividade, e pensei: “Assim tá muito fácil pra eles”. E desde aquele dia decidi que não ficaria mais tão quietinha. Narrei isso tudo aqui.
E hoje aconteceu. Foi num ônibus, indo pra casa da minha aluna. Um velho sentou do meu lado. Ele era gordinho, eu também, então era inevitável que a gente encostasse um no outro. O problema é que ele tava bêbado. Até com cheiro de bêbado. E imediatamente se pôs a conversar comigo. Alguma coisa sobre emagrecer. Falou da filha, que era gorda, referindo-se também a minha forma física. O meu cérebro duelava entre dizer algo e me fingir de morta, mas aí lembrei da minha decisão no passado e disse:
- Não é lindo como, por eu ser mulher, e mulher ser propriedade pública nesta sociedade, até um completo estranho como o senhor pode comentar o que quiser sobre o meu corpo?
- Hã? Como assim?
Eu repeti. Todo mundo no ônibus lotado olhando, até porque não falo baixinho. O velho disse que não queria ofender, e agora meteu a neta na jogada. Ela também era gorda, fazer o quê? Não captei tudo que ele dizia, porque bêbado come muita sílaba e se atropela. Mas perguntei:
- Por que o peso das mulheres é tão importante pro senhor?
Ele explicou que era porque, no fundo, ele gostava de mulheres mais encorpadas. E eu:
- Ah, então mulher é tudo símbolo sexual pro senhor?
Ele se enrolou pra responder, falou qualquer coisa, e, desesperado pra que eu concordasse com ele, ainda jogava um “Tô certo?” no fim das frases. Um bêbado patriarcal! Até que me esgotei com aquele monólogo e respondi:
- Tá certo. Homens têm sempre razão.
- Ai! Por que você tá falando assim?
- Porque eu canso. Não é nada pessoal, o senhor não é diferente da maioria. Mas eu sou feminista desde criancinha, e não quero mais aguentar tudo calada.
Ele pediu desculpas, insistiu pra que eu apertasse a sua mão, elogiou a minha segurança, e disse algo como “Acho que pisei no calo errado hoje”. Quer dizer, tô resumindo.
E foi só, porque chegou minha hora de descer (a viagem é curtinha). Mas eu me lembrei do Peter Finch no ótimo Rede de Intrigas (1976), em que ele, como âncora de noticiário, mandava os espectadores abrirem a janela e gritarem “I'm mad as hell and I'm not gonna take this anymore!” (algo como “Estou zangado/a pra caramba e não vou mais aturar isso!” - veja o clipe aqui). É assim que eu tô me sentindo. A nova Lolinha não vai mais levar desaforo pra casa.
Claro que, assim que relatei tudo isso pro maridão, ele disse: “Você vai de ônibus. Eu vou a pé”.

51 comentários:

Anônimo disse...

Adorei a historia, mas nao posso deixar de comentar sobre o marido. Quando eu vejo alguma coisa errada no mundo e reclamo, o marido morre de vergonha e as vezes briga comigo (de leve, mas briga, dizendo que eu nao devia ter agido assim, que nao reclamei do jeito certo, bla bla bla).

Por que maridos sao assim? Por que maridos assim casam com gente como nos? Deve ter alguma razao, mas nao sei qual eh :)

Anônimo disse...

Ah Lola! Que jeito bom de começar meu dia virtual!
Senti-me ali, junto com você,dando o troco pro bebum, embora eu prefira ficar bem quieta diante de bêbados.
Na verdade temo perder logo a paciência. Todo o espírito cristão que eu imaginava ter até aquele momento, se esvai. Voce esteve CERTÍSSIMA! Vamos todas pôr "a boca no mundo"! Meu marido quando ouve algo assim vai logo dizendo:"se acontecer outra vez avise o motorista, esses caras tem que ser colocados para fora do ônibus!" Pois é Lola, te dou parabéns pela iniciativa. Garanto que aquele sujeito vai pensar duas vezes antes de abordar outra mulher.
Abraçõa da Fatima.

Anônimo disse...

Oi, Lola, faz um tempinho que leio seu blog, mas não sou muito de comentar...

Olha, acho que bebum a gente tem que ignorar. É foda, eles são sempre incovenientes (e parece que a cachaça libera todo o machismo fixado no inconsciente)... Melhor falar com alguém que esteja com controle sobre si mesmo.

Outro dia, no onibus lotado, às 10:30 da noite, um bêbado (que não estava segurando em nada, imagina a cena!) se desequilibrou quando o ônibus deu uma freada. Ele tentou se segurar e acabou esbarrando o braço no meu rosto. Os meus óculos voaram longe.

Fui pegá-los (ai-ai, os óculos que tinha acabado de comprar e se duvidar ainda estou pagando...) e, quando voltei ao meu lugar, ele começou a falar enrolado, acho que tentando pedir desculpas. Eu disse a ele: ok, mas ele deveria segurar na barra o tempo todo, para não se desequilibrar.

Aí ele vira e diz: "tá nervosa? Pode deixar que da próxima vez eu não tento segurar e caio em cima de você, porque pelo jeito está precisando homem".

Nem respondi, porque não vale a pena, mas fiquei com muita, muita raiva do comentário ultrajante e machista, desejando que o bêbado nojento fosse atropelado por um carro ao descer do ônibus.

Depois fiquei pensando nisso, no quanto essas expressões são enraizadas. Até mulher você vê dizendo essas coisas: "ah, fulana é mal comida". Como se a felicidade da mulher dependesse de um homem.

Enfim, seu post me lembrou dessa situação, aí quis dividir.

bjo!

Giovanni Gouveia disse...

Lembrei de uma vez, que eu estava no ônibus e sentou-se, ao meu lado, uma amiga de longas datas, do tipo "amiga de fé, irmã, camarada...", que não reparou que tinha se sentado ao meu lado, aí eu toquei na pantorrilha dela, então ela olhou pra mim desesperada, pensando que eu fosse o tarado, e depois desabou numa gargalhada...
Outra historinha legal aconteceu no dia da eleição, família unida, entramos num micro ônibus, e eu,apesar de fumante invetarado, sempre politicamente correto, senti logo o cheiro de cigarro, e meu filho ainda estava convalescente de uma gripe, e dei umas resmungadas, aí Cris perguntou: "o que foi?", eu disse que era cigarro e ela deu um grito: "OLHA ESSE CIGARRO AÍ!", num minuto o cheiro se dissipou, fosse eu que gritasse talvez houvesse briga física...

Anônimo disse...

Lola você é minha ídola!
Eu sempre ensaio parar de ser passiva nessas situações mas nunca consigo. Lavou minha alma, mesmo com um bêbado que vai esquecer tudo no dia seguinte.

Anônimo disse...

Lola, adorei!!!
Eu ando meio cansada de reclamar, de me queixar, de questionar... sei que isto é feio, até porque tenho a Ciça que segue religiosamente tudo o que fazemos e dizemos e não quero que ela seja mais uma que fica calada. Se bem que, com o temperamento dela, acho que isto será quase impossível rssss

Adorei o texto e, mais ainda, sua atitude.

Sobre marido... bem, é marido, né? ;)

Beijos

Babi disse...

è assim mesmo que se faz Lola!!! Parabens pela atitude! Eu nunca tive paciencia com esses velhos baboes, como diz a minha mae... mas ela é que tinha atitude, quando ia de onibus para a escola, levava sempre um alfinete na mao, se alguem chegasse muito perto, levava uma alfinetada!!! hehehhehehe

Rosangela Oliveira disse...

Lola, só me ferro andando de ônibus em São Paulo, tenho até trauma, mas a máxima foi ano passado quando voltava da aula, lá pelas 23:30hs, minhas colegas sentaram juntas e eu sentei logo no banco atrás do delas, claro que sentou um bêbado do meu lado. Senti que ele estava olhando demais pra mim, qdo fui encarar ele, vi que ele estava se masturbando olhando pra minha cara, tiha colocado a mochila no colo e eu estava sendo o motivo da punheta dele, que nojo. Levantei imediatamente e dei um sinal pras minhas colegas, uma dela começou a gritar e o punheteiro teve que descer do ônibus.
Essa foi a pior de todas, mas tem muitas.
Tem que gritar mesmo esses babacas tem que parar de fazer isso.

Anônimo disse...

Lola, ainda bem que nunca me importunaram dentro de ônibus. Também faço questão de estar quase sempre cpm fone de ouvido e as pessoas não puxam papo. Uma vez, estava viajando de ônibus e ouvi uma moça contar uma história: ela foi para Salcador, ônibus lotado, com cadeira marcada, teve que se senta ao lado de um velho. Lá pelo meio da noite, o velho passou a mão na perna dela. Ela deu um tapa nele, gritou para que o motorista ligasse a luz e exigiu trocar de lugar. Não sei se teria essa coragem.

lola aronovich disse...

Baxt, pois é... O maridão sem dúvida é bem mais discreto do que eu. Mas, como ele é homem, ele não passa pelas coisas que nós passamos. Só sei que eu não vou mais aceitar as coisas calada, caladinha. Vou me aproveitar da minha idade - todos vão apenas achar que sou uma velhinha excêntrica!


Fátima, não sei se era pra tanto, pra colocar pra fora do ônibus... Mas que tem cara chato no mundo, e que tende a ficar mais desenvolto (ou seja, piorar) quando bebe, isso tem. Eu só sei que o mundo é muito fácil pra esses homens. Ainda mais se a gente aceita tudo calada, sem reclamar. Sério: o velho (do outro ônibus) pega na minha perna e tudo o que eu faço é querer trocar de lugar sem ofendê-lo, tadinho?! E isso que eu sou feminista?! Agora não, violão!

lola aronovich disse...

Marjorie, comente sempre. É, difícil argumentar com bebum, concordo. Eu sou uma pessoa que nunca perdeu o controle na vida. Nunca fiquei bêbada (na realidade, parece que eu fiquei, quando tinha 4 anos - eu bebi o restinho de cada copo num jantar que meus pais deram pruns amigos). Nunca usei droga nenhuma. E nunca entrei em pânico. Então, sou menos tolerante com pessoas que tendem a perder o controle perto de mim.
Que raiva que deu isso que vc conta! UI! Isso de “precisar de homem” é o fim! Sei que é até perigoso a gente revidar, mas acho necessário. Bem alto, pra todo mundo ouvir. Claro que um cara que diz algo assim é idiota em tempo integral, não só quando tá bêbado... Mas acho que a gente precisa aprender a responder! No fundo, a maior parte é covarde. Eles só falam as besteiras que falam porque sabem que a gente não reage. Se reagirmos, 99% vai pedir desculpas. Eu acho. 1% vai nos agredir, inclusive fisicamente. Mas eu tô cansada. Vou reagir sempre.

lola aronovich disse...

Gio, Gio, Gio... Tá vendo como vc é homem?! Vc não consegue se colocar na posição da sua amiga. Não sabe que, pra gente, existem sim tarados que vão logo tocando na gente. Imagino que nunca te passaram a mão, né? Bom, não conheço muitas mulheres que possam dizer a mesma coisa. Faz parte da nossa rotina. O nosso corpo é avaliado o tempo todo, às vezes fisicamente. A gente se assusta, sim, quando um cara pega na gente. Até porque nunca é a primeira vez...
E sobre cigarro: pode fumar dentro de um veículo público? Não? Então o sujeito deve cumprir a lei na hora, ou ser posto pra fora. Simples. (agora, cá entre nós, cheiro de fumante também é insuportável. Vcs cheiram a cinzeiro!).


Débora, vai ensaiando pra deixar de ser passiva. Tá muito fácil pra eles.

lola aronovich disse...

Chris, tomara que a Ciça cresça pra ser uma contestadora. Eu nunca fui de ficar calada. Sempre dizia o que queria na escola. Mas com o tempo a gente vai se “domando” pra não ser inconveniente, e passa a aturar mais coisas. Acontece que quem é inconveniente não é a gente! São eles! E, a bem da justiça, não só os homens. No mesmo dia disso do ônibus (foi na quinta), logo depois eu passei por um supermercado. E uma mulher, na minha frente, passando por um corredor estreito, decidiu que iria pegar algo na prateleira e deixar o carrinho no meio do corredor. Não dava pra passar pelo outro lado porque havia um funcionário numa escada, arrumando um produto. Então tem mulher de um lado, carrinho no meio, funcionário do outro, e Lolinha atrás. Ah, eu nem pensei duas vezes: fui levando o carrinho da mulher que tava no meio. As pessoas que aprendam a conviver em sociedade, pô!


Bárbara, alfinetada é bom! Ah, tem uns caras que fazem por merecer... Nos EUA, pelo menos, ninguém encosta em ninguém. Se um carinha sem querer sequer esbarrar em vc, ele vai pedir muitas desculpas. Pelo menos pra isso o “politicamente correto” serviu. (bom, os ônibus lá não são lotados, já que todo mundo tem carro).

lola aronovich disse...

Rô, que asco! Não, pô, um cara se masturbar dentro do ônibus, e “se inspirando” com a gente! Tem que colocar pra fora sim. É impressionante: tem homem que age como se a população feminina fosse um grande buffet à disposição.


Lila, puxa, então isso de carinha passar a mão enquanto a passageira ao lado dele dorme é mais comum que eu pensava. Minha aluna me contou essa história semana passada! Uma amiga dela tava voltando de Floripa pra Joinville e havia um carinha sentado do lado dela. Ela dormiu, e acordou porque teve a nítida impressão que alguém tava passando a mão nela. O carinha tirou a mão na hora, e ela decidiu trocar de lugar. Nessas horas é complicado, porque lógico que o taradão vai negar. Mas pqp, né? Pô, um cara não consegue se controlar?! Se a mulher tiver certeza, acho que tapão na cara é uma boa. Ou pelo menos um barracão.

Giovanni Gouveia disse...

"Gio, Gio, Gio... Tá vendo como vc é homem?! Vc não consegue se colocar na posição da sua amiga."

Na hora foi completamente inocente, depois fiquei desesperado (gelado de medo), e depois que ela gargalhou eu relaxei... mas meu gesto não foi nada que pudesse ser comparado a um assédio, eu só toquei onde estava mais perto, e era, coo eu disse, uma amigona de vários carnavais...


"E sobre cigarro: pode fumar dentro de um veículo público? Não? Então o sujeito deve cumprir a lei na hora, ou ser posto pra fora. Simples. (agora, cá entre nós, cheiro de fumante também é insuportável. Vcs cheiram a cinzeiro!)."

Só tem um probleminha, quem tava fumando era o motorista...
Sobre o cheiro, há quem goste...:)

lola aronovich disse...

Não, Gio, não quis dizer que vc fez algo de mais em tocar na panturrilha da sua amiga. Quis dizer que faltou empatia da sua parte pra notar que pras muitas mulheres esse tipo de assédio (não vindo de amigos, mas de estranhos) é muito comum, assusta e incomoda. E que são coisas tão distantes da realidade de vcs, homens, que vcs nem param pra pensar como uma situação dessas faz parte da nossa rotina.
Putz, o motorista é quem tava fumando?! É, aí não dá pra colocar pra fora do ônibus mesmo... Mas tem que mandar parar de fumar.
E sério que tem quem goste de cheiro de cinzeiro?! Ah, vai, daqui a pouco vc vai me dizer que fazem uma lista de 500 melhores filmes da História e incluem Rambo!..

Kaká disse...

Tem que reclamar mesmo. :)

Em ônibus eu nunca tive a experiência, mas no cinema...

Já foram umas 5 vezes, e todas com filmes blockbuster, e cinema grande. Numa delas eu nem estava sozinha. O velho sentou do meu lado e lá pela metade do filme eu senti as cotoveladas ritmadas e avisei a minha amiga, ela na mesma hora falou bem alto "tio, dá para você bater essa pu****a em outro lugar!". Ele levantou rapidinho e o cinema todo riu. Numa outra, eu era adolescente, o velho issistia em sentar do meu lado(e olha que troquei de lugar 2 vezes), quando ele abriu o zíper eu dei um tapão no braço dele só assim ele levantou e foi embora.
E eu tenho até uma internacional para contar. Na Itália as sessões tem intervalo no meio do filme, no tal intevalo o coroa sentado na frente olhou para trás e perguntou "sozinha?", aí ele levantou e disse "vou sentar do seu lado, você precisa de uma companhia". Esse eu fingi que não entendi, saí e esperei o intervalo acabar para sentar em outro lugar. O meu italiano não é suficiente para uma boa briga.

Anônimo disse...

Lola, minha heroína!
Faz tempo ensaio nao ficar mais calada qdo me sinto ofendida, e geralmente nao fico calada, mas sabe o que é difícil? Qdo o comentário nao é de uma pessoa estranha, mas de uma pessoa com quem vc é obrigada a conviver. Exemplo: família do namorado. O marido da prima do meu namorado é super sexista, e às vezes na casa da avó dele ele solta uns comentários de matar. Vc nao tem idéia de como eu me controlo pra nao armar barraco na casa da avó... fosse minha casa, teria ouvido muito e se insistisse diria que nao é bem-vindo... mas na casa da avó deles... nao sei como reagir qdo ele ofende as mulheres (no sentido de nao incomodar a dona da casa e o resto família). Alguma idéia do que fazer nestes casos?
Outra coisa relevante: mesmo qdo replico os comentários de estranhos, nao descobri a forma de nao passar raiva (e dor de estômago) com isso...

Anônimo disse...

Eu tb sou que nem vc, fico tentando achar uma maneira educada de sair pela tangente. Mas uma vez indo de onibus de Sao Carlos pra SAp Paulo (ou o contrario) na época que fazia meu doutorado, o onibus estava completamente vazio e eu ja estava contando com o assento vago do lado do meu pra dormir as 3.5 horas de viagem. Devia ter eu e mais 2 gatos pingados dentro e eu sentei na minha poltrona, na janela e to lendo alguma coisa enquanto o motorista espera o horário pontual pra sair e to sentindo que tem alguém me olhando do lado de fora as cortinas estavam escancaradas). Tava lá, um coroa fumando(ele nao era muito velho mas pra quem tem seus 20 e poucos, um cara de 40, pançudo e feio é velho né? Ainda se fosse um coroa à lá George Clooney ainda va la...)e me secando. Fechei a cortina.

Bom, dos 46 lugares do onibus, tinham pelo menos 40 pra ele sentar e adivinha onde o cara senta: do meu ladinho!!!! Ah não, minha raiva foi tanta que nem dei tempo pra ele processar, levantei e disse, me da licensa que vou sentar em outro lugar pq quero dormir. O que ele queria que eu acreditasse, que a poltrona dele tava marcada exatamente do meu lado??? Minah raiva era tanta que enm consegui dormir. Tinha vontade de levantar e ir lá falar uns desaforos pra ela. Sentei bem longe pq não querioa correr o risco dele puxar papo comigo de jeito nenhum.

Tina Lopes disse...

Esse negócio de aguentar desaforo porque se está na casa dos outros é complicado. Penso assim, Thais: se é na minha casa, o fulano é convidado então eu não poderia confrontá-lo para não deixá-lo em posição inferior; se eu estou na casa dos outros, então tenho que respeitar o ambiente alheio. Na verdade, se for pensar na etiqueta, não dá pra revidar nunca! Por isso é que eu sempre meto a boca.

lola aronovich disse...

Kaká, cinema é uma droga mesmo... É até difícil de acreditar que isso aconteça (os homens, por exemplo, não acreditam, e estranham quando ouvem mulher dizendo que odeia ir ao cinema sozinha - por que será que a gente odeia?). É impressionante que um cara não possa ver uma mulher sozinha sem achar que ela tá disponível. Claro que uma mulher não vai sozinha ao cinema pra ver filme! Ela vai é pra pegar homem, o que mais? Ai, ai.... Aí eles sentam do nosso lado e ou começam a se masturbar ou tentam puxar assunto (em ambos os casos atrapalhando muito o filme). Ou pegam na mão, sei lá. Porque essa combinação “mulher + lugar escuro” é sedutora demais pra eles. Sério: o que passa na cabeça dessa gente?! Sua amiga fez muito bem com o “tio, dá pra vc bater essa pu****ta em outro lugar”. E um cara abrir o zíper pra uma adolescente... isso dá cadeia! Impressionante eles acharem que a gente “precisa” de companhia... Pra quê? Pra nos proteger de tipinhos como eles?

lola aronovich disse...

Thais, é verdade, às vezes com gente conhecida é mais difícil reagir que com estranhos. E vc tá numa situação delicada, porque o seu status na família como “namorada” é bem menor que como “marido da prima do namorado” na casa da avó do namorado. Mas esse sujeito fala um monte de bobagem e as mulheres da casa (avó, prima etc) não se manifestam? Bom, comigo não tem disso não. Se alguém falar alguma bobagem de que eu discorde, seja lá aonde eu estiver, vai ouvir o que tenho a dizer. Às vezes fica uma situação desagradável, mas eu não dou a mínima pra convenções sociais. Acho que, de repente, responder algo com ironia pode ajudar. Mas não sei. Eu não tenho etiqueta nenhuma. Realmente não sou a pessoa adequada pra dar dicas de responder com educação. Quer dizer, eu acho que sou educada sempre, não xingo, não brigo, não levanto a voz, mas eu falo sim. Não tem alguma ocasião em que o machistóide não tá junto com a avó? E aí dá pra falar alguma coisa do tipo “Vem cá, vc REALMENTE acredita naquilo que vc falou ou vc tava de gozação?”.
E eu também não entendo nada de dor de estômago ao sentir raiva. Acho que nem chego a sentir raiva. Eu fico revoltada. Será que é diferente?


Tina, pois é, eu não tenho etiqueta. Alguém fala besteira perto de mim, vai ter que ouvir. E sinto muito se o carinha se sentir incomodado. Se alguém achar que a discussão foi longe demais e pedir algo como “Vamos mudar de assunto?”, aí talvez eu faça um grande esforço e me cale. Mas só depois de falar.

Tina Lopes disse...

Comecei a contar uma história aqui imensa, de quando eu tinha padaria. Mas no fim nem vem ao caso. Só lembrei que, se já é difícil ser mulher, imagina atrás de um balcão. Era um festival de assédio e sacanagens. Eu não tinha paciência e perdi muito freguês mandando procurar outro lugar.

lola aronovich disse...

Ana, ai, ai... Olha só a situação: o cara não se dá conta que é muito, muito mais velho que vc e que talvez, só talvez, vc não tenha interesse num cara que pode ser seu pai. Aí ele fica te encarando e vc fecha a cortina. Isso já é um aviso de “Ó, cai fora! Não estou interessada”. Mas o cara não pode acreditar que vc está desprezando um bom partido desses! E ainda mais: vc tá sozinha! PRECISA de um homem! Provavelmente só tá se fazendo de difícil. Então ele vai e senta bem do seu lado. Total simancol! Juro que gostaria de entrevistar um sujeito desses nessa hora pra perguntar o que ele tá pensando. Qual parte do “Não estou interessada” ele não registrou? Acho que vc fez bem em se mudar de lugar, e deixar mais claro ainda que queria dormir (sozinha!). Mas eu, na minha fase “Nova Lolinha”, perguntaria pro cara o que ele pensa da vida.

lola aronovich disse...

Ah não, Tina, nem vem: eu quero um guest post sobre isso! Topas? Vc já teve padaria? Que interessante! Então, quero saber: como era o assédio sexual (porque eu nunca tinha pensado nisso, juro! Pensando agora, vejo que as moças que lidam diretamente com o público em padarias, supermercados etc etc devem sofrer bastante. Mas as donas dos estabelecimentos também?!).

Anônimo disse...

Lola, a moça que contou a história disse que ela não dormiu. Justamente por ter do lado um "velho babão", ficou acordada de madrugada, numa viagem de mais de 12h, porque já esperava o assédio! É incrível que nós mulheres sempre temos que estar na defensiva, por a possibilidade de abussos é enorme. Eu, quando viajo em onibus lotado e tem homem do lado, tambem não durmo, sei lá o que o cara pode querer fazer.

Anônimo disse...

Ops, quis dizer porque a possibilidade de abusos é enorme. Digitar rápido, sempre causa esses erros.

Raiza disse...

É fod* isso,eu lembro da vez em que um tarado passou a mão em mim na rua,eu fiquei tão estupefata que não consegui reagir,graças a Deus não aconteceu mais,mas se acontecesse eu acho que não seria tão fina quanto você não Lola,ia partir pra ignorância mesmo.De qualquer forma parabéns!a gente não tem que ficar calada mesmo não.

Anônimo disse...

Lola, o cara éum babaca de marca maior... eu nunca fui muito com a cara dele pq desde o primeiro dia que o conheci percebi que ele meio que dá em cima da minha cunhada e da prima do meu namorado (ou seja, primas da esposa dele tb)e eu acho um desrespeito imenso. Mas nao corro nenhum risco, pq, primeiro que eu nao puxo conversa com ele e, segundo que ele faz isso com as mocinhas da família, com as namoradas dos primos e cunhados nao. Qdo comentei isso com meu namorado ele disse que tb já tinha percebido e acha patético o cara.
Mas vc tem toda razao, o status do cara na família é muito maior que o meu (ele largou uma noiva pra namorar com a prima do meu namorado, namoraram uns 10 anos e ele deixava claro pra todo mundo que nao casavam pq ELE nao queria. ficou gravemente doente, qdo melhorou resolveu casar e agora tiveram uma filhinha - eu namoro há mto tempo, mas convivemos há 3 anos e nao tenho planos de casa na igreja como queria a avó deles). A avó é ultra sexista. Adora o cara...mas claro que ela eu nao vou desrespeitar... seria comprar briga com o meu namorado e a família inteira... sem contar que ela é muito velhinha e, apesar das idéias retrógradas, é simpática comigo. Enfim, nao replico os comentários dela (nem qdo ela começa a fazer contas de qdo eu posso ter filhos hahaha, na verdade isso me dá um ataque de riso interior... mas nao respondo nada feio... só digo que filhos nao estao nos meus planos, talvez algum dia).
Enfim, a mulher do cara (prima do meu namorado) tb é uma chata de galochas e azar o dele se aceita tudo isso; e se lembro deles penso que cada um escolhe ficar com o que merece.
beijos e desculpas pelo comentário super grande... mas serviu de desabafo hehe

Anônimo disse...

azar o delA, quis dizer.

Tina Lopes disse...

Oba, topo sim, eu sou uma matraca virtual; deixa eu disfarçar aqui no trampo que já já te mando (rsrs).

Anônimo disse...

Uma vez um bêbado descarado passou a mão em mim num barzinho perto da usp, que fica ao lado de uma zona de prostituição. Eu fique tão pé da vida que joguei o cara em cima dos engradados de cerveja, tiveram que me tirar de cima dele para expulsar o bêbado do bar.
Depois ainda tive que ouvir do garçom "quem manda querer passar a mão em menina direita". Dei uma encarada feia e perguntei porque? E se fosse prostituta podia?
Peguei minhas coisas e saí andando, nunca mais voltei.
Mas eu sei que só tive essa reação porque minha turma toda de faculdade estava por perto, se eu estivesse sozinha acho que não teria coragem...
Abs
Lúcia

Masegui disse...

Pérai, gente, não vamos generalizar, tem bebum e bebum.
Eu sou sempre gentil e extremamente respeitoso com as mulheres (sem ironia, please) e quando estou bebum, coisa rara (com ironia, please), eu me preocupo ainda mais com isso.
Não vamos misturar as coisas, se o babaca tem esse comportamento é porque ele é babaca e não porque está bebum.

Agora, não consigo entender porque as mulheres toleram isso. Não aceito definitivamente. Sem essa de ser educada, mete a mão na fuça do caboclo que ele merece!

Chaves disse...

Nossa, mulher sofre.
Eu era menina, uns nove anos, magrelinha que só. Indo pra escola, particular, de freiras. Na calçada tinha um carro estacionado, depois do carro, uns meninos. Eles estavam de uniforme, da escola pública ali perto. Antes de passar pelo corredor entre carro e parede, pensei que se eu desse a volta e fosse pela rua, estaria dando bandeira que estava com medo, e podeira ofender os meninos, que afinal, estavam de uniforme, e podiam/deviam ser bem-educados, apesar de serem nitidamente da favela ali perto. Ah, santa inocência!
Até o moleque que era menor do que eu meteu a mão. Engraçado é que eu era criança mesmo, acho que não tinha despertado pra sexualidae, então foi só uma coisa estranha, do tipo "o que esses meninos querem comigo?" "qual a graça de passar a mão?".
Nunca contei pros meus pais. Hoje eu tento protegê-los da culpa que poderiam sentir por me deixarem vulnerável - indo para a escola sozinha. Engraçado, não? Eu me sinto culpada por fazerem meus pais se sentirem culpados.
Depois de outras coisas que aconteceram comigo, minha avó me ensinou a andar na rua olhando pra frente, pisando firme, sem dar bandeira de que está perdida e sem olhar pros lados, isto é, indo sempre numa direção definida aparentando saber onde ir, mesmo que estivesse perdida. Isso foi ótimo, e depois que passei a cuidar com a atitude ao andar, nunca mais aconteceu nada comigo, nem assalto, nem assédio.
Ensinem para as suas filhas as atitudes defensivas, e as técnicas para escapar de assédio.
Inocência é um perigo. A gente nunca acha que o outro está mal-intencionado, e ainda se culpa por desconfiar. Ai, ai.

Anônimo disse...

"Tio, dá para você bater essa pu****a em outro lugar?"
A D O R E I !!! Parabéns pra amiga da Kaká! Ela resolveu com o que podemos chamar de "um santo remédio". Nada como denunciar esses
sujeitos publicamente.

Cuecas blindadas nos bobalhões! Eheheheheh
Abraço da Fatima.

Anônimo disse...

Lola, é isso mesmo, todo mundo se caha no direito d edar palpite no copro de qq mulher.
Engraçado, meu namo tbém faz a mesma coisa que seu marido, sempre que boto a boca no trombone ( emuitas vezes não como uma lady, mas estilo barraco mesmo) ele acha ruim, prefere deixra quieto, "para quê se aborrecer?".
A última vez que fiz isso foi numa loja, por causa d eum éssimo atendimento, uma vendedora muito , muito grossa. Daí o namo achou ruim eu ter reclamado, segundo ele "não adianta nada, vc só se estressa".
Mas eu concordo 100% com vc, que a gente não pode ficar quieta em certas situações.
Se todo mundo reclama, uma hora as coisas mudam.

Beijos

Anônimo disse...

poxa,eu sou igualzinha a voce antigamente,Lola. mas ainda nao consegui passar pela minha revolução pessoal e fazer valer minhas opiniões e posições.
chegará o dia,ah,chegará.

lola aronovich disse...

Lila, que horror! Não poder dormir numa viagem de mais de 12 horas porque um velho babão senta do nosso lado! Ah não! A gente pagou pela passagem tanto quanto ele. Tem todo o direito de descansar. Nesse caso de desconfiança eu pediria pra trocar de lugar com alguém. Puxa, eu durmo tão bem em ônibus! E volta e meia sento ao lado de um homem. Nunca tinha pensado que há homens que tocam em mulheres dormindo. Mas não acredito que sejam muitos. Deve ser uma minoria ínfima, não? Pelamordedeus...


Princesa, cara que passa a mão na rua tem que ser no mínimo xingado. Não sei o que mais dá pra fazer. Isso é crime? Existe alguma lei contra isso? Atentado violento ao pudor, por exemplo? Ou mesmo ameaça de estupro? Alguém me contou, não lembro quem, que um cara passou a mão na filha dela, de 14 anos. Os seguranças pegaram o casa e o puseram pra fora. Pra mim é surreal viver num mundo em que a gente é tão propriedade pública que monte de gente acha que tem direito de pôr a mão!

lola aronovich disse...

Ah é, Thais, eu aqui, feminista ingênua, achando que as coisas que o babacão diz OFENDEM as outras mulheres (como a avó e a esposa)... É, vc não tem a menor chance de mudar uma avó ultra sexista, que já deve ter décadas de machismo acumuladas nas costas. E realmente, tem que avaliar se vale a pena comprar briga com a família inteira. Em família a gente já tem que engolir montes de sapos mesmo. E concordo, pra uma mulher ser casada com um cara patético desses, que dá em cima de outras mulheres e só fala besteira, é porque merece. Algum dia talvez ela se canse também... ou não. “Desabafe” aqui sempre que quiser, Thais.


Lúcia, sem dúvida, quando a gente está num grupo se sente muito mais perigosa. Aliás, não só a gente! Homens em grupo também tendem a agir pior que um homem sozinho. Esse raciocínio do garçom que vc conta é super comum. Realmente existe gente que acredita que existem dois tipos de mulheres no mundo: “mulher direita” e prostituta. E se as “mulheres direitas” deste mundo já são tratadas como lixo (com carinha passando a mão na gente em bar, ônibus, cinema, escola etc, e com a gente apanhando quando reage), dá pra imaginar como são tratadas as prostitutas. Este não é um mundo feito pra gente.

lola aronovich disse...

Mario Sergio, sinceramente, não acho bom que uma pessoa fique “bebum” com frequência. Geralmente quem tá bebum perde o controle. E se já existem pessoas insuportáveis sóbrias, bêbadas (ou drogadas) elas devem ficar piores. Defender consumo de álcool com moderação é uma coisa; defender que as pessoas fiquem bêbadas é outra. Isso não faz bem pra quem bebe nem pra sociedade.
Respondi no post mais recente porque é difícil pra gente reagir. Difícil e perigoso, inclusive!


É isso sim, Fátima. Também adorei a reação da amiga da Kaká. Muitos desses caras são grandes covardes. Eles só fazem essas coisas (e seguem repetindo o mesmo comportamento ao longo da vida) porque vêem que é fácil. A gente não faz nada! No máximo se muda de lugar. O que eles têm a perder? NADA! Então acho que a solução imediata é tornar a vida deles mais difícil.

lola aronovich disse...

Camomila, que horror isso. Horrível a gente já ser apalpada aos nove anos, e por meninos. Como que essa turma de meninos vai crescer pra virar homens que respeitam as mulheres, se já na infância aprendem que mulher é pra isso mesmo, e que um comportamento desses os faz mais homens, os conecta? Tenho certeza que se eu tivesse passado por isso eu teria contado pro meu pai (contava tudo pra ele), e no dia seguinte ele iria à escola comigo, e ia querer saber quem eram os garotos que tinham mexido comigo. A gente tem que falar. Podia ter acontecido de novo com vc. Podia ter sido ainda mais sério. Mas que legal que a sua avó te ensinou a andar. Não acho que isso resolva sempre, mas deve ajudar. Eu estou SEMPRE perdida mas não devo aparentar, já que o pessoal vive me pedindo informação. Uma vez um amigo me viu andando na rua e disse que eu parecia um tanque de exército. Mas, se isso é verdade, não impediu os 3 assaltos que já sofri...

lola aronovich disse...

Cris, incrível isso, né? Do marido/namorado achar que é melhor deixar quieto, não se aborrecer. Eles não passam pelo que passamos! Acho que precisamos nos impor nessa sociedade. Não levar mais desaforo pra casa. E o mínimo que podemos esperar do namorado/marido é total solidariedade!


Pam, o dia chegará sim. Vai treinando... Tente se auto-analisar enquanto a situação ocorre. Pergunte-se: por que estou aceitando isso? O que posso fazer/dizer? Como vou me sentir se ficar quieta? E se reagir? E, claro, avalie o perigo também. Porque o perigo existe.

Ale Picoli disse...

Ai Lola, eu passei por uma coisa parecida num ônibus uns anos atrás e também fiquei meio assim de ser grossa com o cara. Fiquei me sentindo bem idiota, pq era naquela época em que eu estava começando a entender que era feminista. Pensei, "como é que eu fiquei quieta?". Isso foi tão marcante que, depois, comecei a expôr publicamente os esfregadores, encoxadores, "namoradores" e "secadores". Normalmente é o que basta pra eles pararem.

Chaves disse...

Dizem que estupradores são sujeitos covardes, que precisam se afirmar, e só conseguem isso dominando e agredindo um ser mais fraco. Escolhem a vítima não por ser bonita e coisa e tal, mas por estar vulnerável ou aparentar vulnerabilidade. Por isso é que acredito que mulheres não podem se mostrar tão frágeis, temos mais é que pisar duro, falar alto, usar calça jeans e sapatos firmes, pro caso de ter que correr ou acertar o saco de alguém. Cotoveladas no ônibus são bem-vindas, aprendi isso com a defesa do basquete.
Proteja o seu espaço com o cotovelo, quando o cara vem por trás querendo se esfregar.
Andei muito nos ônibus lotados do Rio, e digo: se você não se defende ou não é assertiva, vão abusar de você.
É a vida na selva, a gente aprende a sobreviver.

Phaby disse...

Oi Lola

Cai aqui no teu blog atraves da excelente critica que fizeste ao absurdo da Revista TRIP.

Esse texto de hoje me fez lembrar algo que se passou comigo nas ferias. Eu to morando na França ha um ano e no verao fui pra Lisboa e de lah pra Barcelona, de onibus, sozinha, jah que os planos com meu querido nao deram certo pra essa viagem (meu namor tah ai). No dia da ida pra Barcelona, cheguei na Gare Oriente e tinha uma galera esperando onibus pra diferentes lugares da Espanha. Uma menina me perguntou em ingles se eu sabia onde era o local do onibus pra Barcelona, respondi que era ali mesmo. Ela me disse que nao tinha nada escrito no bilhete e tava preocupada, achando que tava no lugar errado. No fim ela começou a conversar comigo, eu tentando lembrar do ingles que ainda tem na minha cabeça... Comentei que depois que aprendi frances ficou dificil falar ingles, ai ela me disse que eu podia falar frances com ela, jah que ela era canadense, tinha sido alfabetizada nas duas linguas, ingles e frances. Ateh ficou engraçado porque eu falava em frances e ela em ingles. A gente ficou conversando e percebi que tinha 3 caras muito bagaceiros esperando onibus tambem, enchendo o c* de cerveja, mas daqueles bagaceeeeeeiros mesmo!!! Tinha um que era o pior deles, ficava olhando todas as mulheres que estavam lah dos pes a cabeça, muito asqueroso. Vi que ele ficava encarando eu e a menina, ouvindo o que a gente tava falando. Putz, comecei a me irritar e uma hora ele me fixou, eu nao aguentei, jah tava p*ta da cara, parei de falar com a menina e perguntei, encarando ele e super seca "algum problema?", ele se virou, ai perguntei de novo "algum problema?", ele disse "achei que tu fosse francesa" em portugues com um sotaque carregado que nao sei de que origem era, respondi ainda bem seca "nao, sou brasileira, por que?". Beleza, santo remedio, ele nao respondeu e nem me olhou mais. Ah que saco esses homens que nao podem ver mulher sozinha!!! P*rra, eu quando vejo um cara sozinho nao vou lah ficar puxando papo e enchendo o saco, entao por que os homens se acham no direito de fazer isso tambem? Aaaaah pensamento machista!!! Mulher sozinha eh sinonimo de mulher disponivel??? Varias vezes acabei me irritando porque eu ficava sentada em alguma praça soh observando o movimento, ai sempre vinha um cara puxar papo... Por favor!!!

Excelente blog!

Abraço

Lila disse...

Lola, eu também durmo muito bem em onibus. E até hoje tive a imensa sorte de não me sentar ao lado de homens em viagens longas. Quando viajo p/ a casa dos meus pais, q é 1h30 de duração e um homem senta do meu lado, prefiro evitar dormir. A viagem é curta mesmo.

E qto a sapos na família do namorado, ainda não tive que encarar machismo, mas racismo já, o marido da minha cunhada disse, a respeito da amiguinha da filha: Ela tem o cabelo tão duro que não tem chapinha que resolve(sic). E tem uma filha de 4 e um filho de 2, que já vão crescer ouvindo isso. É triste!

lola aronovich disse...

Ale, bom, o importante é a gente acabar aprendendo que deve reagir, né? Antes tarde do que nunca! Mas é incrível, porque o que é poder da educação! A gente é treinada pra ser educada sempre, polida, quietinha, passiva... E os homens são treinados pra serem o oposto! Aí eles atacam a gente e a gente fica lá, tentando sair pela tangente, sem querer ofender... Humpf! Acho que a exposição é um bom caminho.


Camomila, que coisa horrível! Não deveria ser assim, “a lei da selva”, um mundo em que um sexo é presa e o outro é caçador. Isso dos sapatos é interessante, mas lembre-se que em Ensaio sobre a Cegueira o salto alto da “rapariga de óculos escuros” lhe serve muito bem!
É, cotovelos ajudam num ônibus, mas quando o ônibus tá lotado fica difícil. Enfim...

lola aronovich disse...

Fabiii, pois é, não consigo entender esse comportamento masculino. Mulher sozinha é mulher acessível e, como tal, deve ser assediada. Parece que, se não for, os homens em volta não estão cumprindo seu papel de macho. Legal que vc reagiu até mesmo estando num lugar estranho, falando uma língua estranha. Imagina se mulher pode ficar sozinha observando praça ou vendo um filme! Não pode!
Apareça sempre, Fabiii! Bem-vinda...


Lila, respondi o seu comentário no outro post.

Giovanni Gouveia disse...

Lola, tá lá no código penal:

Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Vitor Ferreira disse...

Lola, concordo com tudo o que você falou, mas só acho que discutir com bêbado é que não tem futuro. Não que você não deveria ter feito isso, mas se ele tivesse sóbrio, com certeza ele teria alguma forma de pelo menos se lembrar do discurso e refletir.

Anônimo disse...

Oi Lola!

Li todos os posts que vc recomendou e mais alguns. As manifestações de gordofobia (adoooorei a palavra, é preciso dar nomes pras coisas) que vc encontra são assombrosas. E sua paciência em ler todas, traduzir e comentar tbm. Mas é por aí mesmo. Eu defendo sempre as formas de resistência. Se der pra ser sarcástico e ácido, melhor. Pra causa asia em quem começou com a palhaçada.

Um abraço