quarta-feira, 15 de outubro de 2008

CRI-CRÍTICA DE TRAILER: SIM SENHOR


Eu acho que tô excessivamente
feminista esses dias. Claro, faz parte do meu ser, mas não quero que todos os meus posts sejam sobre isso. A frase que não sai da minha cabeça agora é "Meu feminismo está aparecendo". E tem vezes em que não quero que apareça tanto assim.

Então procurei um trailer pra cri-criticar já com as diretrizes: "Quero alguma coisa acéfala, que não faça o meu feminismo se pronunciar em nenhum momento". Aí escolhi Sim Senhor (Yes Man), uma comédia com o Jim Carrey que estréia nos EUA no Natal, e aqui em janeiro, aparentemente. Mas não deu muito certo. Num dos momentos do trailer ele diz "No means no" ("não quer dizer não"), que é um dos slogans anti-estupro nos EUA (na realidade, é mais contra date rape, que continua sendo muito comum por lá. A moça sai com o frat boy - universitário que adora fraternidades - e volta pra casa estuprada). Tentei relevar a comédia fazer piadinha com um slogan importante. Aí o Jim beija uma mulher que só veio pedir informação, ou algo assim. E minha temperatura feminística subindo...
Mas não é por isso que detestei o trailer. Antes de mais nada, preciso dizer que sou muito fã do Jim Carrey. Acho o cara um gênio do humor (principalmente humor físico), no mesmo nível de um Jerry Lewis. Ainda que seus últimos filmes (não vi Horton e o Mundo dos Quem, e Número 23 é francamente ruim) estejam além do seu talento, ele é ótimo. Amo Truman Show de paixão, e não tenho nada contra suas comédias bobonas, como O Mentiroso e Todo Poderoso (que só despencam ladeira abaixo quando, no final, abandonam o humor e tentam passar lição de moral. Ha! Acabei de descobrir que O Pentelho se chamou O Melga em Portugal!). Imaginei que Sim Senhor seria nessa mesma linha. Mas se o filme seguir a total falta de graça do trailer, ele tá em maus lençóis.
O começo, com as crianças dizendo "Não" e o narrador avisando que essa é a primeira palavra que a gente aprende (pensei que fosse "mãe", depois de "gu"), é engraçadinho. Lembra vídeo caseiro, mas tudo bem. Só que daí pra frente o troço não provoca nem um sorrinhinho. Se falta ritmo e timing cômico num trailer, imagina num longa. Veja como não funciona aquele momento em que um sujeito pede algo pro Jim, e o Jim diz "eu disse sim pro seu não". É preocupante. E o Jim muda de personalidade e passa a responder "sim" depois que o Terence Stamp bate em sua cabecinha (não falei que o Terence tava se tornando o Wilson Grey deles?)? Outro problema é que as "descobertas" do personagem do Jim são tão juvenis... Ele decide dizer sim pra tudo, e o "tudo" que aparece é andar de moto, ir pra bares e tomar Red Bull? Puxa, parece excitante fazer um filme sobre isso. E eles não conseguiram pensar em nada mais hilário que "eu quero aprender coreano"? Aliás, juro que teve uma hora em que fiquei em dúvida se isso era um trailer ou um comercial da Red Bull. O que parece é que o Jim passa a aproveitar a vida, tipo o que o Jack Nicholson e Morgan Freeman fazem após descobrirem que têm câncer terminal. Sim Senhor é um Antes de Partir sem o câncer? Que criativo! A pobre coreana coreana rindo constrangida no final do trailer ilustra bem o que nos aguarda.
Agora eu fiquei lembrando de uma das músicas de protesto que o meu Chico fez durante a ditadura: "Vence na Vida Quem Diz Sim" (ele tava sendo irônico). Vendo esse trailer medíocre, só pude pensar: nem sempre vence na vida quem diz sim, Jim. Nota 1 (em 5).

23 comentários:

Giovanni Gouveia disse...

Pela cri-crítica, parece-me o mesmo argumento de "O mentiroso", só muda de verdade para sim...


"que só despencam ladeira abaixo quando, no final, abandonam o humor e tentam passar lição de moral."

Isso é lugar comum nas comédias from USA...

Giovanni Gouveia disse...

Esqueci de dizer, congrats pelo dias d@s professor@s

Leo disse...

Lola, nada a ver com o post, mas você leu o manifesto do Pedro Cardoso contra o excessivo uso da nudes e da sensualidade na TV?
Se não leu:
http://todomundotemproblemassexuais.zip.net/
é bem interessante!

Anônimo disse...

Lolita, eu detesto o Jim Carey e, este filme vai passar batido..

Beijosss

Anônimo disse...

Ah Lola, deixá-la seu feminismo aparecer quando ele quiser. Os homens desse blog só podem aprender mais sobre as mulheres se elas começarem a se revelar contra essas coisas que muito homem acha "normal". E já agora que muita mulher acha normal também!

Acho que nem vou ver esse filme, a não ser se tiver muita falta de opção mesmo. Quer ver na próxima semana queime depois de ler...é a única coisa aparentemente boa que tem por aqui. Você não escreveu sobre ele pois não? E nem sinal de Cegueira dar nas vista ainda! Isso na terra do Saramago!!
Beijos Lola.

Anônimo disse...

Nada av com o post, mas na hora que lia parte da nota, lembrei que faz tempo que vc nào posta a "seção do procurou, o google mandou pra cá". Cade? Sinto falta dela, me matava de rir.

bjo

Tina Lopes disse...

Eu amo amo amo o Jim Carrey, o que está acontecendo com a carreira dele? Troca de agente djá! Depois de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" achei que ele ia engrenar. Pff. Vi esta semana "A Vida dos Outros", você já? Não sei como achar tuas críticas aqui na memória do blog.

lola aronovich disse...

Gio, é, eu tb achei parecido com o argumento do Mentiroso. Mas pelo menos aquele trailer era engraçado, né?
Obrigada por lembrar: parabéns a todas as professoras! Digo professorAS porque a imensa maioria é mulher. Hoje em dia tá cheio de profissão que não dá pra falar no masculino: professoras, pedagogas, psicólogas, as nutricionistas etc. Acho que tem que usar OS ou AS de acordo com a maioria. Mas parabéns aos professorES também.


Obrigada, Leo. Eu tinha dado uma lida antes, bem por cima. Agora li com mais cuidado. É interessante sim. Se eu pensar em alguma coisa pra escrever sobre isso, eu escrevo. E vc, vai falar sobre o assunto no seu blog?

lola aronovich disse...

Chris, tudo bem, eu entendo, conheço muita gente que odeia o Jim Carrey.


Cavaca, pois é, tem tanta coisa misógina tolerada na nossa sociedade que a gente passa a ver tudo como normal, natural. Justamente por isso, fico feliz que tanta gente tenha se indignado com o texto da Trip sobre o estupro da empregada.
Incrível que Ensaio sobre a Cegueira ainda não tenha chegado a Portugal! Tem previsão pelo menos?
O Queime Depois de Ler vai levar um tempinho pra chegar aqui. Esqueci se tá marcado pra novembro ou dezembro... Quero muito ver.

lola aronovich disse...

Ana, vc gostava daquela coluna?! Bom saber! Vc não é a única a reclamar da ausência da coluna. Eu parei porque em parte cansei um pouco, mas também porque o Google ficou DOIS MESES sem mandar um só leitor pro meu blog. Não sei o que aconteceu. Não sei se o Google colocava o meu blog lá embaixo na lista (sabe, página 205 da busca, onde ninguém chega) ou o que aconteceu. Só sei que, através do Google, só chegava aqui gente procurando imagens e “escreva lola escreva”, mais nada. E por consequência o número de visitas caiu. Aí, de repente, no sábado, sem mais nem menos, os leitores do Google voltaram pra cá. Acho que isso representa quase 150 leitores a mais POR DIA. E mesmo que boa parte chegue procurando “sexo com pôneis”, “nome para cadelas”, e “seios flácidos” (digo o que tô lembrando de cabeça), eu fico feliz. Pode ser que, por causa disso, eu me anime a voltar com a sessão de bizarrices do Google.

lola aronovich disse...

Eu também amo o Jim, Tina. Não sei se a culpa é só do agente dele. Acho que ele, como vários astros de sucesso, não querem ser “typecast”, não querem ficar num gênero só, e querem provar ao mundo que podem fazer drama, terror, suspense, comédia... Enfim. Por mim, eu não ligaria se o Jim quisesse ser apenas um grande comediante.
Putz, é. Eu preciso descobrir um jeito de colocar no blog, pros leitores, algo pra encontrar as críticas de filmes. Mas é difícil, porque são mais de 600! Vou ver o que posso fazer. Não escrevi sobre A Vida dos Outros. Só uma notinha, aqui.
E aí, encontrou a foto da sua mãe na padaria? Abração!

Anônimo disse...

Oi Lola, achei seu blog através de um outro que frequento, adorei a crítica. Adoro o Jim Carrey, mas sinceramente acho que ele deixou de ser engraçado faz tempo.
Você é de onde, em SC?
abs

Anônimo disse...

eu tambem gosto muito do jim carey. gostei de mundo de andy e de truman show,e eternal sunshine é um dos meu filmes favoritos. mas ele realmente vem perdendo o tino para escolher as produções que encabeça. to esperando pra ver esse filme dele com o santoro,que promete. tomara que cumpra.

por falar em estupro de frat boys,Lola,o que voce acha da teoria da Camille Paglia. ela é uma figura tao controversa que sempre fico na duvida se gosto ou se nao gosto. assisti uma palestra dela no começo do ano,pra me decidir,mas ela se esquivou muito dos comentarios sobre feminismo. queria saber sua opiniao,que sabe mais do movimento e de ideologias,do que eu.

abraços.

L. Archilla disse...

já que tão falando de eternal sunshine, será q só eu achei aquele filme uma super glamurização da imaturidade afetiva?

Serge Renine disse...

Cara Aronovich:

Da sua lista eu já votei no Poderoso Chefão 1, porém eu percebo que muita gente fala mal do Clube da Luta e essas pessoas parece que não viram o filme ou não o entenderam direito. Eu já ouvi falar que é um filme violento de dois viadinhos que gostam de brigar. A partir daqui peço desculpas a quem não assistiu ainda, porque vou entregar o final, mas sem isso não posso explicar o que quero dizer.
O Clube da Luta é sem dúvida, violento, nazista, e outras coisas que dizem, mas não é sobre dois viadinhos, pois na verdade é sobre um homem só, que destruído pelo consumismo exacerbado da sociedade em que vive e de uma vida sem objetivos sofre de um gravíssimo caso de esquizofrenia, ou seja, não são dois viadinhos brigando, mas sim uma pessoa só vivendo duas vidas. O Clube da Luta usa uma linguagem muito comum nos dias de hoje no cinema, a violência, para tratar de um problema que aflige muitas pessoas, naturalmente de forma menos grave, mas o exagero é licença poética do cinema. Se o Norton só se sente vivo quando vive como se fosse o Brad Pitt, que é o seu ideal de homem, se trata de uma pessoa muito doente e aí a violência se torna uma conseqüência de uma mente perturbada e é plenamente justificada dentro da história. Em fim, não sei se é um dos dez mais, mas é um grande filme, sem dúvida!

lola aronovich disse...

Oi, Umarose! Que bom que vc chegou aqui. O que não falta aqui no blog é crítica de cinema. São mais de 600... Eu também fiquei com essa impressão do Jim, mas aí lembrei que Loucuras de Dick e Jane é bem fofinho e engraçado, e é de apenas três anos atrás.
Eu moro um pouco em Joinville e outro pouco em Floripa. Mas não nasci em SC. Só estou aqui faz quinze anos. E vc, é daonde? Abração, e apareça sempre.


Pam, O Mundo de Andy eu não gostei tanto assim. Eternal Sunshine eu gostei, mas tô longe de amar. Conheço tanta gente que é fãzona desse filme. Ele não me empolgou nem a metade.
Camille Paglia? Olha, não li muito dela. Mas o que sempre me pareceu é que ela gosta de ser do contra pra aparecer. Aparentemente o objetivo dela é ser pop acima de qualquer convicção ideológica. E vc, que viu até uma palestra com ela, acha o que?

lola aronovich disse...

Lauren, pois é, essa certamente é uma leitura possível do filme... Infelizmente eu só vi o filme uma vez, e em vídeo, o que não tem o mesmo impacto do cinema. Isso pode ter afetado a minha falta de deslumbramento com ele.


Serge, isso que vc conta é o que eu me lembro (muito vagamente, pois só vi Clube da Luta uma vez, e faz tempo) de ter interpretado do filme, mas acho que são possíveis outras interpretações, inclusive a de uma masculinidade dividida. Preciso ver o filme de novo. Interessante que vc diga que a violência é “um problema que aflige muitas pessoas”. Pelo jeito a violência aflige homens e mulheres de um jeito diferente. Os homens porque, como no caso de Clube da Luta, eles precisam lutar pra se sentirem vivos. Pras mulheres violência é mais que uma questão existencial. A violência aflige as mulhers porque somos nós as vítimas preferenciais dela. E nas mãos de quem? Dos homens tão aflitinhos! Eu ando muito feminista esses dias, já avisei...

Anônimo disse...

Lola, eu moro em Joinville também. Não sou daqui, mas vim pra cá ainda bebê. Você é a primeira blogueira joinvilense que eu conheço!
Muito legal.
Não vi as loucuras de Dick e Jane.
abs, Rose

Serge Renine disse...

Desculpe Aronovich, mas peço que observe uma correção:

Eu não disse, que a violência atinge muitos pessoas; no meu texto, "a violência" está entre vírgulas. Eu disse que a esquizofrenia atinge muitas pessoas.
De qualquer forma, agradeço sua resposta!

Anônimo disse...

Sou fã do Jim Carrey, mas tem vários filmes dele que são dispensáveis.
beijos

lola aronovich disse...

Rose, onde vc mora aqui em Joinville? Eu moro no Comasa. Ah, Joinville é uma cidade grande, deve haver muitos blogueiros por aqui... Eu quero rever As Loucuras de Dick e Jane. Só vi uma vez!


Serge, entendi errado. Sorry.


Cris, sem dúvida. Eu diria que MUITOS filmes dele são totalmente descartáveis.

Cecilia Barroso disse...

Realmente o trailer é uma coisinha insignificante. Até gosto de comédia, mas elas estão ficando cada vez mais parecidas, sempre seguindo a mesma receita de bolo.
Às vezes é bom para relaxar, outra é de encher o saco.

Anônimo disse...

Olha, o filme tem alguns defeitos que vc citou, mas é engraçado, sim. As oportunidades que o protagonista aceita por causa do sim são bizarras, mas funciona!

O que não pega é a subtrama com o par romântico (Zooey Deschanel), que termina no pior estilo comédia romântica.