quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CLÁSSICOS: TUBARÃO / Tubarão ensina xerife a ser homem

Em Tubarão, o pânico é mais pelos homens estarem perdendo poder.

A partir desta semana, vou passar a comentar com vocês alguns clássicos do cinema americano sob a ótica de um livro que ando lendo e relendo: Camera Politica: The Politics and Ideology of Contemporay Hollywood Film, de Michael Ryan e Douglas Kellner. O livro já tem vinte anos mas, pra mim, não está datado e ainda é uma aula de história. Foi uma ótima professora minha lá da UFSC que perguntou se eu não queria dar uma olhada. Na hora, eu tinha que folheá-lo rapidamente pra decidir se iria ficar com o livro por um tempinho ou não (é que tem tanta coisa urgente pra ler num doutorado...). Fui direto numa das várias fotos com legendas, e a que me ganhou definitivamente foi uma sobre Tubarão que diz: A sedução distrai o patriarca de seus deveres... ...e uma criança vira papa de tubarão.
(Quer dizer, isso na minha tradução mais do que livre. No original é “Seduction distracts the patriarch from his duties, and a child is eaten”). Eu nunca tinha pensado em Jaws (1975) desta forma. Okay, claro que eu havia me dado conta que é uma fantasia absolutamente masculina sobre male bonding (a amizade entre os homens, que neste sociedade é considerada a amizade realmente verdadeira, já que aquela entre mulheres - reza a cartilha machista - sempre esbarra na competição). Mas no livro há várias análises que eu não tinha nem chegado perto de considerar. E não apenas sobre Tubarão, mas sobre vários clássicos americanos dos anos 70 e 80. Claro que é uma visão marxista e feminista do negócio. Os conservadores vão ver o mesmo filme sob um ângulo totalmente diferente. Por exemplo, pra muita gente de direita, Apocalypse Now é um inferno - um delírio de um cineasta de esquerda sobre o fracasso americano no Vietnã. Pra Camera Politica, ele é um filme conservador sobre a guerra, na mesma linha de O Franco Atirador, e representante do conservadorismo que tomara os EUA no final dos anos 70 (e que em seguida levaria Reagan ao poder por oito longos anos). Mas outro dia falo de Apocalypse. Agora quero falar de Jaws.
Mas não imediatamente. Antes, outra coisa: acho que nas minhas críticas (que prefiro chamar de crônicas) de cinema eu sou bastante política, e minha visão é sempre feminista e de esquerda. Mas Camera Política faz isso num outro nível, muito mais sério e acadêmico. Às vezes é até chato de ler, porque a linguagem se enrola, se bem que quase sempre é fascinante. Ah sim, só porque somos apresentados a uma nova visão não quer dizer que o filme seja ruim, ou que não devemos mais gostar dele. Não é uma maravilha ver um filme que já vimos tantas vezes, e que pensamos já conhecer de cor e salteado, e descobrir algo novo? É assim que me sinto lendo Camera.
Em Jaws, o tubarão é fálico - isso já dá pra ver pela capa - mas, de acordo com Ryan e Kellner, ele simboliza menos o pênis e mais “um sinal do que dá errado quando os homens não cumprem seu dever de liderança patriarcal”. O xerife Brody (interpretado por Roy Scheider) é fraco. A comunidade da cidade, movida pela ganância, manda nele. E sua mulher também. Ela quer domá-lo, tornar o seu homem menos macho e mais doméstico. As mulheres, aliás, são tão péssima influência em Tubarão que o terror já começa com uma moça seduzindo um rapaz. Por sua sexualidade independente, ela imediatamente será punida, indo parar, nua, no estômago de um bicho enorme e feroz.Olhem só o que Camera percebe. A mocinha corre em direção ao mar, jogando suas roupas pelo caminho. O livro aponta que as estacas da cerca vão ficando cada vez mais esparsas, à medida que a mulher avança.Isso significa que ela está deixando pra trás o poder patriarcal, que restringe e controla sua sexualidade (eu acho essa análise o máximo, e me pergunto: por que não pensei nisso antes?). Porém, numa das primeiras sequências em que vemos a família de Brody, as estacas estão todas no lugar, bonitinhas, onde devem estar. Mulher e filho estão do lado de dentro da cerca, protegidos, enquanto o xerife, que representa o patriarcado, está fora. Além do mais, o foco está justamente na palavra "polícia, bem no carro do chefão.Brody tenta prestar atenção na praia que os manda-chuvas da cidade insistem em manter aberta, mesmo com um tubarão à solta. É bem quando sua mulher desvia sua atenção que uma criança é atacada. Isso não pode continuar assim. O fraco e “afeminado” Brody terá que partir para um lugar com dois machos, longe de qualquer influência feminina, para aprender a ser homem. Isso se dará através de rituais, inclusive rituais de violência. Numa das cenas, quando os dois machos já embebedados comparam tatuagens, Brody olha pra dentro de sua calça e não encontra nada. Mais adiante, Brody tenta usar o rádio para, em mais um momento de fraqueza, se comunicar com sua casa. O que faz o alpha male (o super macho, interpretado por Robert Shaw)? Ele pega um bastão de beisebol e destrói o rádio, literalmente rompendo o cordão umbilical que ainda une Brody com a domesticidade que sua mulher deseja pra ele.Agora o xerife está pronto para resolver a crise - não apenas a do tubarão que aterroriza os banhistas, mas também a do poder patriarcal. Esse poder passava por uma enorme crise nos anos 70 por causa das malditas feministas, que exigiam direitos iguais para as mulheres, desestabilizando a família e, assim, todo o status quo. Se Spielberg tinha qualquer um desses conceitos em mente quando fez Jaws? É bem provável que não, mas isso importa? Hoje em dia recepção (como uma obra é recebida e interpretada pelo público) é muito mais relevante que intenção. Ou seja, Tubarão não é mais do Spielberg. Agora é nosso.

Bônus: veja aqui uma paródia em desenho animado de Tubarão em 30 segundos. Muito boa.

42 comentários:

Suzana Elvas disse...

Oi, Lola;

Não sei se você vai se chatear ou não com o meu comentário, mas toda vez em que eu vejo análises desse tipo (não a sua, mas a do livro) me lembro que pediram ao Carlos Drummond de Andrade analisar um poema seu - única questão da prova discursiva de um vestibular da década de 80. Ele, obviamente, levou bomba: fez menos de 15 pontos em 100. Nunca mais me esqueço da cara de espanto dele vendo sua nota, numa foto enorme na primeira página do então caderno de educação do Globo.
Bjs

Tina Lopes disse...

Mas eu duvide-o-dó que o Spielberg tenha pensado nisso tudo quando filmou. Ora, assim como os homens não se acham machistas quando depois do almoço de domingo vão pro quarto tirar uma soneca em vez de lavar a louça. Adorei a análise e acho Tubarão um grande filme, mesmo com toda a previsibilidade da amizade masculina etc. Gostaria de saber o que vc pensa dos filmes sobre amizades femininas - tipo Tomates Verdes Fritos. Pensando bem, tem algum além desse? rsrsrs (e eu não gosto de Tomates Verdes Fritos, aliás).

Ju Ribeiro disse...

menina, nunca tinha visto Tubarão dessa maneira!!

de qualquer forma, o que me fez sentir mal de verdade no filme foi a morte do pobre cachorrinho.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Babs disse...

Nossa, esse livro parece muito interessante, mas eu fico me perguntando se:

O filme pode não ter sido feito com essas intenções direcionadas, mas será obra do inconsciente?

Ou o que fazer com essa interpretação? Porque veja bem, isso é algo que me incomoda um pouco nas ciências humanas, de que talvez não haja uma verdade absoluta, mas sim pontos de vista. Talvez eu possa interpretar "Tubarão" de mil maneiras, todas válidas já que nenhuma é completamente refutável...
Sempre se acha o que se procura, assim como se pode ver o diabo onde quiser, será mesmo que posso ver o machismo até numa cabeça de tubarão fálica? Não parece fazer muito sentido, apesar de que é possível realçar aquilo que quiser com a intenção que mais interessar...
Fico com a impressão de que análises diferentes são interessantes demais sim, mas no fim tudo não passa de um grande jogo mental... Nada contra jogos mentais, adoro.

Bjos!

Babs disse...

Bem, de qualquer modo não há dúvidas de que é um filme machista, esqueci de dizer isso. Só tenho minhas dúvidas se é bem machista ou extremamente machista...


Bjs

Giovanni Gouveia disse...

Ao comentário de Suzana Elvas somo duas lembranças:
A poeta (poetisa ou poeta, às vezes eu não sei qual o correto, para além da norma lexical) capixaba Elisa Lucinda teve um poema seu na prova do vestibular do ES, e ela não sabia o que signifacava, nas opções fornecidas pela prova.

Tem uma cena impagável de Woody Allien (salvo engano de Noivo neurótico noiva nervosa) em que ele está na fila do cinema e um crítico de cinema fica falando o "sentido que o autor queria dar ao filme", Woody refuta, o crítico se diz Crítico (pensei que a chave "você sabe com quem está falando?" só se aplicava no Brasil, segundo Roberto da Mata), aí Allen pega o cineasta do lado pra refutar tudo o que o crítico tinha falado dele, e ainda humilha:"Não sei como alguém que se diz crítico fala tanta bobagem..."

Jà acontenceu com textos meus terem interpretações completamente díspares de minha intenções, bem como minhas interpretações serem completamente diversas de outrem. quando eu estava no "primeiro grau" (também não sei mais como se diz isso, no meu tempo era primário ginásio e científico, depois 1º e segundo grau, e agora?) o terror nas provas de português era saber qual a interpretação que a professora queria que eu desse na prova...
Penso que textos (apresentados em qualquer formato), e obras de arte de uma forma geral, têm, assim como na sociedade, duas dimensões, a dimensão manifesta, que é o que o autor pensa estar produzindo, e a dimensão latente, que vai além das vontades, que desenrolam-se, quase, como que tendo vida própria.
Nâo a toa que as livrarias estão repletas de livros, de uma nova filosofia, que juntam à velha Ciência da Totalidade elementos comuns da vida cotidiana, como bandas de rock, seriados de tv, filmes, etc.
Eu também me pergunto, sempre, Lola: "por que não pensei nisso antes?"

Anônimo disse...

Amei o post, e vou dar um jeito de ler o livro. Parece muuuito interessante.

Umberto Eco fala que o autor teria de morrer depois de terminar a obra, pra não atrapalhar as interpretações... faz muito sentido. Quem compõe, escreve, cria, não está afastado da obra o suficiente para interpretá-la, e apegado demais para aceitar outras interpretações.

Duvido que o spielberg tenha pensado conscientemente em todos esses detalhes. Mas o que fica claro é como a sociedade é patriarcal e isso se reflete inclusive nos detalhes de filmes. Depois vem alguém dizer que não é pra levar filmes a sério, que é só entretenimento, tsc, tsc.

Chaves disse...

Sobre amizade feminina tem Thelma & Louise, com final mais do que apropriado para a nossa sociedade. Mulheres livres só têm um destino possível.
Lola você já escreceu sobre esse filme?

Vou assistir Tubarão pela primeira vez, com os óculos da Lola. Tomara que eu não me decepcione.

Pablito disse...

Lola
Cada dia que passa, seu blog torna-se ainda mais um dos meus favoritos. Adoro dua forma de escrever, concordo o que voce pensa e escreve e sempre enctro algo aqui que me acrescenta. Sou seu fan ainda mais depois dessa "crônica" sobre jaws. ADOOOOOOOORO esse tipo de interpretação.. por favor, co,oque mais coisas legais que vc encontrar nesse livro.

Anônimo disse...

Oi Lola! Concordo totalmente, é incrível o potencial que o filme que eu já vi várias vezes e inclusive li o livro que estava de bobeira lá em casa ainda tinha. Realmente é complicado dizer que o cineasta em questão tinha esses significados em mentes, mas ouso sugerir a possibilidade de que em um nível inconsciente essa seria sua intenção pelo menos em parte... Gosto de pensar que sim, até por que segundo Freud não existem coincidências (se bem que ele tb disse que um charuto as vezes é só um charuto). Me fez lembrar de quando ainda criança, na época eu era bem tímida, a professora de português perguntou o que achavamos da música. Eu fiquei tão maravilhada que respirei fundo e tomei coragem para levantar o dedo e dar minha opinião. A professora diz que minha interpretação estava errada e pergunta para o resto da turma se alguem concordava, claro que ninguém ia concordar depois que a professora falou que estava errada... Fiquei o resto do ano calada.
Quanto a amizade feminina sempre foi um tema intrigante, no mínimo para mim... Pois apesar de ter tentado várias vezes, meus amigos mais proximos, em que eu confio mais são homens. Gostaria que voce esplicasse melhor como essa dinâmica da nossa sociedade machista funciona para que este estereótipo prevaleça, mesmo que as mulheres nem sintam e vejam como algo natural. Por que apesar de reconhecer sua existência, não entendo como funciona.
Sem querer abusar, stop teasing us! rsrsrsrs! ás vezes, vc comenta sobre determinado assunto dizendo que daria um ótimo post mas não volta à ele... Fiquei muito curiosa sobre um que voce mencionou alguns dias atrás sobre mulheres que acham que não podem comer, que certas comidas são para homens. Conheço mulheres que não comem em frente ao namorado, vão ao restaurante com ele e saem famintas propositalmente, ou escondem comida para comer sozinhas... É um assunto, que até onde eu sei não é comentado. Sugiro um comercial que eu assisti nos EUA do burguer king, que inclusive se utiliza de um dos mottos feministas (procure no you tube I am a man, hear me roar), dos homens cansados de "chick food", destruindo uma mini van que seria um símbolo feminino no suburbio americano...
Desculpe pelo post gigante, vale ressaltar mais uma vez o quão genial seus posts são.
abraços

Giovanni Gouveia disse...

Falar em feminismo, Lola, viu essa enquete do Estadão?
http://www.estadao.com.br/pages/enquetes/default.htm?id_enquete=320

Não sei se a intenção foi ser sacana ou sarcástico, mas o resultado é, mais uma vez, o atestado de cafajestismo e imbecilidade da imprensa brasileira.

The Crow disse...

Sei que não tem nada a ver com o tópico, mas...

Lola, tenho que admitir que vc tem razão quando diz que nada justifica matar outra pessoa, na pior das hipóteses.

Tô aprendendo isso na prática: acabei de saber que fui traído pela minha amada namorada, uma pessoa que eu tanto confiava, que tanto me dedicava, que tanto eu cuidava... Nunca fui um namorado ruim, nunca a maltratei, nem ofendi, nem encostei o menor dedo nela... Não seria capaz disso. E nem ela merece.

Mas agora ela me surpreende: acabou me traindo com o ex-marido, um sujeito que a magoou demais, e que até nela já bateu... Vai entender, né?

O amor e seus mistérios...

Apesar de estar sofrendo e chorando feito criança, nem de longe penso em vingança, em limpar a honra nem nada disso. Apenas quero ficar sozinho com minha dor e acreditar menos nas pessoas. Mas que dói, ah, isso não dá pra disfarçar...

Mesmo assim, matar uma pessoa, como foi o triste caso da Eloá, realmente é uma tragédia: o amor machuca, mas ele sempre privilegia a vida, e não a morte.

Portanto, para todos os traídos, como eu, Lindemberg e companhia, aí vai uma importante lição: sofra, mas deixe viver.

E acredite, o tempo resolve tudo. É o que eu espero.

Abraços e parabéns pelo blog, querida Lola.

Você é uma daquelas pessoas que ainda fazem a diferença.

Desculpe por esse escrito, mas eu precisava desesperadamente desabafar de alguma forma.

E fique de olho no seu marido, hein? rsrs Tô brincando...

Tchau!

Anônimo disse...

Ai, que emoção!
Estou em prantos, atribua a isso os meus erros homéricos de português (até que enfim achei uma desculpa!). Meu nome está no Top 10da Lola! E não é em último, senhoras e senhores, mas sim em nono lugar! Yeah! Yeah!
Lolinha, querida, como sou sua PM. Calma leitores desavisados, eu sou "pau-mandado" da Lola e~não milica dela. Bom, como eu sou PM, já anotei o nome do livro e sairei na captura de tal. Também ando no mesmo dilema seu, masi não em tão altas paragens. Explico, estou confeccionando um TCC de pós da PUC, com outra pós da Unisal em andamento, com previsão de TCC no meio do ano que vem, com idéias imbecís, bem ao meu feitio, de engatar uma terceira pós, logo em seguida, sem contar numa associação para defender os direitos dos segurados INSS (que todo mundo pensa que tá em déficit, mas na ral, tem superhávit, ou seria superávit, enfim, tá dando lucro!) e até dos não segurados normais, que nem sabem que tem direito a uma pensão, mas não era sobre isso que eu estava falando) sem contar num artigo sobre os descontos previdenciários no salário do pobre trabalhador brasileiro, que um calega muito generoso, porque mesmo me conhecendo desde a faculdade e as pós, me convidou pra escreve com ele e publicarmos. Mas do que que eu tava falando, mesmo? Deixa eu ir lá em cima ler e já volto... Ah!, pois é, já estou na captura do livro que você mandou. Sabes que eu tenho uma teoria a respeito de homens e seus carros e ultrapassagens por mulheres que lembra bem às questões que o livro levanta a respeito do machismo e cois a tal e tal e coisa. Mas, enfim... Já leste "Mulheres que Correm com os Lobos?", da Clarissa Pinkola Estés? Inspirador e interessante no sentido de resgartamos o poder feminino e matriarcal sem culpas e sem os preconceitos que sofremos nos dias de hoje. Se quiser, tenho compactado. Me avisa que te mando.
Abraços mil,
Paula Reis.

Anônimo disse...

Lola, AMEI!

Beijos

Anônimo disse...

Lola, AMEIIIII

Anônimo disse...

Esse tipo de leitura feminista que vê falo em tudo me parece roteiro para uma boa comédia. :)

Anônimo disse...

O Kellner é fantástico mesmo! Nem parece crítica literária, de tão bom que é de ler. Li a análise de Tubarão em outro livro dele, publicado no Brasil: "A Cultura da Mídia". Fantásticos os substratos dos filmes.

Babs disse...

Pernambucobebendoparaomundo colocou o link para a enquete do Estadão, mas eu acho que tiraram...
Li sobre a tal enquete aqui ó:

http://www.rodrigovianna.com.br/

Nojento demais...

Ju Ribeiro disse...

the crow,
:(


é horrível, eu sei disso. chore bastante! é libertador!

e não se preocupe, já já você estará aberto a novas experiências. palavra de quem já traiu e foi traída.

beijo.

Anônimo disse...

Puxa, acho que o Spielberg não quis dizer essas coisas, não.
Mas é como já comentaram aí em cima, com qualquer filme famoso dá para fazer uma análise focando uma ideologia, vendo símbolos.
Talvez o próprio diretor , roteirista nem tenha percebido, mas vai saber...
É interessante de qq jeito.
Eu nunca pensei em nada do que vc falou.
beijinhos

lola aronovich disse...

Su, não me chateio não, imagino. Interpretações são interpretações, ué. Não é preciso concordar com elas. Tadinho do Drummond...


Tina, também não acho que o Spielberg tenha pensado em tudo isso. Até porque filme é uma arte pra lá de coletiva. Aquilo das estacas, das cercas, eu tenho certeza que ninguém pensou! Sem falar que dizem que quem “salvou” o filme de ser um fracasso foi a editora, a Thelma. Mas vc tem razão, em geral os homens nem notam quando estão sendo machistas (e nem as mulheres).
Ah, eu gosto de Tomates Verdes Fritos. Mas naquele filme era pra ser obviamente mais que uma amizade feminina. Era pra ser uma paixão entre as duas moças mesmo. Hollywood cortou...

lola aronovich disse...

Ju R, legal, né? A gente nem vê o cachorro morrer. Mas o menino a gente vê. E a mulher do começo, tadinha?


Babs, então, como eu respondi pra Tina aí em cima: um filme é feito por muita gente. Certamente a história toda de “male bonding” e exclusão das mulheres tá no livro (que eu nunca li).
Eu acho ótimo que não haja verdade absoluta, apenas versões. Eu não acredito em verdade absoluta. Mas não é que todas as interpretações sejam completamente irrefutáveis. Vou te dar um exemplo. Fui pro congresso em La Plata, Argentina, no começo do mês. E vimos uma montagem (totalmente profissional) de Macbeth, em espanhol. Macbeth é justamente o objeto da minha tese de doutorado, então eu diria que conheço bastante. Bom, a montagem era realmente ruim e não agradou ninguém. E tinha muitas falhas conceptuais, de indefinição e inclusive de interpretação errada. Ué, como assim, “errada”? É que dois dias depois, no congresso mesmo, o diretor e a produtora da montagem deram uma palestra. E aí eu pude contestar várias coisas. Ih, isso é muito longo, dá um post (prometo que faço um mais pra frente), mas em linhas gerais, o carinha entendeu errado muita coisa da peça do Shakespeare (e dos filmes do Polanski e do Kurosawa, nos quais ele disse se inspirar). Então interpretação errada é quando não pode ser sustentada. Quando fica frouxa.
Ah, nem sei ao certo se Tubarão é um filme machista. Mas é um filme com uma ótica puramente masculina, sem dúvida.

lola aronovich disse...

Gio, então, eu, como crítica, sei muito bem que crítico fala um monte de bobagem (e erra demais! Fica mais evidente ainda quando o leitor conhece bem do que eles estão falando). Mas ainda assim é melhor qu e opinião de leigo, que em geral não passa do “Ah, gostei”. Quer dizer, já li crítica de quem não consegue ir aquém disso...
Mas é interessante isso da interpretação, porque mostra que, realmente, o que a gente produz deixa de ser nosso e vira algo de quem o recebe.
Na escola, as professoras tinham que engolir as minhas interpretações, isso eu posso te dizer... Em geral elas gostavam muito. Acho que eu conseguia sustentar a minha versão.
Obrigada pelo comentário cheio de coisas interessantes, Gio!


Cynthia, pois é, é exatamente isso que o Eco diz. Não adianta muito um autor lutar contra as interpetrações. Claro que eu me frustro quando recebo email de leitor/a que não entendeu minha ironia e leu o contrário do que eu quis dizer. Mas se muitos leitores interpretam dessa forma, o texto tem problemas, né? É justamente essa gama de interpretações que tornam um filme/livro/obra em geral interessante. E Tubarão só continua a ser analisado até hoje, 33 anos depois, por ser um ótimo filme.

lola aronovich disse...

Camomila, nunca escrevi sobre Thelma e Louise. Acho que deveria escrever, né? Vou tentar, quando arranjar um tempinho. Ah, ver Tubarão pela primeira vez depois de ler o post? Assim não vale! É como tentar ver Matrix de novo depois de ler um texto (hilário) explicando por que o filme é o “mais gay que existe”.


Pablito, obrigada pelo carinho. Fico feliz que vc goste do blog e deste post. Acho esse livro que eu citei incrível! Vou escrever mais sobre ele, sim.

lola aronovich disse...

Danda, puxa, que droga isso que vc conta da professora de português. É totalmente o contrário de como uma professora deveria agir! Isso sempre me lembra uma cena de Truman Show, que eu amo. É a de um flashback pro Truman (Jim Carrey) quando ele é criança, na sala de aula. E ele diz que quer ser um grande explorador, viajando pelos mares. A professora diz no ato: “Mas tudo já foi descoberto, Truman”. Corta o barato dele na hora. A sua professora também me lembra uma outra, de inglês, que pude observar num estágio. Depois de explicar uma lição sobre horas em inglês, ela pergunta pra classe, entediada; “Tem alguém aqui que não entendeu e vai fazer que eu explique tudo de novo?”. Óbvio que ninguém levantou a mão!
Ai, Danda, parece mesmo que eu tô “teasing you”. Mas não é de propósito! É que eu ou esqueço de postar sobre o assunto que falei ou não tenho tempo mesmo. Vc não faz idéia do monte de post atrasado que eu ainda preciso escrever. Tenho tudo anotadinho, é só sentar e escrever. Falta tempo! Mas, por favor, tanto vc quanto os outros leitores/as podem sugerir sempre.

lola aronovich disse...

Putz, Gio, obrigada por essa “enquete” ridícula. Certamente merece um post. Mas só semana que vem...


Ah, Crow, fiquei triste em ler seu comentário. Pobrezinho! Imagino que dói muito ser traído. Vc tem toda a minha solidariedade. A Ju R respondeu bem melhor do que eu poderia. Mas lembre-se que, no caso do Lindemberg, a Eloá não o estava traindo! Eles já tinham terminado. Agora, claro, mesmo que estivesse, nada justifica a violência.
Agora, isso de ter recaídas com ex-marido e ex-mulher é tão clichê, né?
Ânimo, e não perca totalmente a fé na humanidade!

lola aronovich disse...

Paulinha, até que enfim vc é uma das Top 10! Demorou, hein? Ha ha. Olha, o livro é muito bom, mas não precisa fazer tudo que eu mando . Aliás, minhas ordens mais importantes (algo a ver com enviar chocolate aqui pra casa) ainda não foram cumpridas.
Mas vc tá fazendo três pós? Uau, que legal, mas isso compensa? Eu meio que me arrependi da primeira pós que eu fiz (especialização). Achei que valeria mais a pena ter ido direto pro mestrado.
Sério que o INSS tá com superávit?! Não pode ser! A gente só lê que tem deficit! Topas escrever um guest post a respeito? INSS é importante pra mim. Faz dez anos que eu pago carnê de autônoma...
Carros e ultrapassagens de carros? Explica melhor. Uma vez eu li uma coisa que nunca mais esqueci, e nem sei se é verdade: que, na Espanha, se um motorista homem for ultrapassado por uma motorista mulher, ele não vai deixar barato. Vai ir atrás, xingando, mostrando sua masculinidade.
Não li Mulheres que correm com os Lobos. No momento estou sem tempo pra ler qualquer coisa, mas manda sim.


Chris, que bom que vc gostou!

lola aronovich disse...

Guta, tá, mas o tubarão na capa é fálico, né? Vai, o bocão dele tá bem próximo à barriga da moça nadando... Mas aqueles dentes todos de tubarão estão mais pra “vagina dentada” que pra pênis.


Ro, puxa, eu sou uma ignorante mesmo. Nem sabia que o Kellner já tinha sido publicado no Brasil. Vale muito a pena sim ler tudo dele!

lola aronovich disse...

Babs, obrigada, preciso escrever um post sobre essa enquete. Meu, revoltante!


Ju R, que fofa, obrigada por responder ao Crow.


Pois é, Cris, é muito difícil saber (ou confiar) nas intenções do autor. A recepção atualmente é vista como muito mais importante. Mas sabe, eu realmente adoro ler análises de coisas conhecidas que nunca tinham passado pela minha cabecinha.

Rachel disse...

Entrei aqui no seu blog de gaiata, e, sinceramente?! ADOREI!
Não li essa sua ultima postagem, mas fiquei comovida (não encontrei outra palavra) ao ler algumas de suas... cara sem palavras... suas detalhistas, verdadeiras, não sei, suas misericordiosas (?) postagens sobre abuso e, violência contra as mulheres...
Fiquei de certa forma feliz - eu sei, chega a ser ridículo eu dizer que fiquei feliz - ao ler suas palavras de desgosto, diante desses episódios.
Foi meio que, um alívio ver que alguém soube pôr as palavras certas, no lugar certo... coisas que muita gente, inclusive eu, não teria coragem...

bom... parabéns pelo seu blog... você escreve MUITO!

Serge Renine disse...

Aronovich:

Gostei da sua analogia, feminista e feminina do Tubarão, mas de vendo-o de uma forma mais ampla o filme Tubarão trata do nossa reação ao imponderável. Em uma perspetiva ele se torna machista dizendo " se nem esses homens fortes, viris e corajosos podem com esse animal, que poderá? As mulheres? Nem pensar! Porém a real mensagem é "diante do imponderável ate os mais arrogantes ficam de joelhos", todos: homens, mulheres, enfim, todos os seres racionais.
Quem já teve um filho doente sabe o que estou dizendo; até ateus convictos rezam e fazem promessas

The Crow disse...

Ju R e Lola, obrigado de coração pelas palavras e atenção que me deram. Em um momento como esse, tudo que a gente precisa é pôr pra fora todas as mágoas, e desabafar com quem a gente confia.

E é verdade, a situação do Lindemberg era diferente, porém, como você bem cita, Lola, nada justifica uma morte.

E, por mais que às vezes machuque, viva o amor! rsrs

Abraços sinceros a todos!

João Neto disse...

Lola:

Sem ofensa, mas, porque todos esses doutores que me atacaram, nos post anterior, têm um pensamento tão superficial? Como pode se viver com uma noção tão rasteira da vida? Eles não sabem que a moral, na definição mais pura da palavra, foi feita para doutrinar? Até você vem comparar os Estados Unidos com o Brasil Você estudou lá. Você acha que eles estão errados e nós certos? Não dá pra desconfiar que eles só têm direita? Sim, porque, Republicanos e Democratas, são direita, uma mais hard, outra mais soft. Porque será? Eu respondo: pra não criar gente improdutiva, vagabundos, sem vontade de vencer encostados no governo e vivendo do que outros produzem, como aqui no Brasil. Você que viu isso in loco não poderia ser mais coerente? E seus comentaristas? Não têm opinião. Só ficam lhe batendo palmas. Você não enjoa de tanta bajulação de quem não tem opinião própria? Se estivéssemos na Matrix, aquela do filme, seus comentaristas seriam as baterias geradoras de calor para sempre! Há uma ou duas exceções, mas no geral!

lola aronovich disse...

Rachel, que legal que vc chegou aqui de gaiata (foi através do Google?)! E que bom que vc gostou. E até ficou comovida. Fico muito feliz com isso, sério. Eu sou feminista, então todos esses assuntos sobre mulheres me interessam. Mas não é questão de coragem não. É só disposição, acho. Muito obrigada pelo elogio, e espero que, agora que vc achou o caminho, apareça sempre por aqui.


Serge, a analogia é ótima, mas não é minha. É dos autores do livro. Eu só dei uma adaptada. Mas interessante a sua análise. Só que tem que ir um passo além: tá, todo mundo fica de joelhos diante do imponderável, mas só os homens agem. As mulheres continuam de joelhos, esperando que os homens as salvem. Ainda assim é machista. Ah, vc é ateu convicto?

lola aronovich disse...

The Crow, eu acho tão boas essas amizades que a gente faz através da internet, dos blogs... Eu me sinto como parte de uma comunidade. Opa, taí mais um assunto pra eu escrever num post: a blogosfera vista como uma “comunidade imaginária”. Mas eu me sinto lisonjeada (opa, com j ou com g?) que vc, me conhecendo tão pouco, me inclua na lista de quem vc confia. Viva o amor, mesmo!


João, eu não vi “doutor” nenhum te atacando no post anterior. Vi gente comum - e inteligente! - respeitosamente expondo suas idéias. Vc tem as suas visões que, pelo jeito, beiram o fascismo. Extrema direita mesmo, e aí os outros é que têm uma noção rasteira da vida...
É até engraçado vc falar dos EUA como uma terra produtiva. Vc sabe que lá não se produz mais nada, certo? Que TODAS as fábricas migraram pra países de terceiro mundo onde a mão de obra é barata. Os EUA se transformaram as últimas décadas num país de consumidores, só. É como se fosse um shopping center gigante. E quem tá fora desse shopping não tem acesso à saúde, educação, moradia. Realmente, pra vcs de direita que adoram separar as pessoas em duas categorias, winners e losers, os EUA estão cheios de losers no momento. E o número só vai aumentar com a gigantesca crise econômica que seus ídolos, aqueles winners - banqueiros super produtivos - causaram.
Sobre meus comentaristas, eles são fantásticos. Eu não conheço muitos blogs com tanta gente inteligente que comenta.
E não, eu não enjôo da badulação. O blog me dá um trabalhão e não recebo nada de dinheiro com isso. O que me gratifica é que tanta gente apareça pra ler e comentar. E, quando gostam, elogiam. Eu gosto dos elogios. Mas o que gosto mesmo é dos comentários que acrescentam, e tá cheio deles por aqui. Eu leio outros blogs, e existem alguns que os comentaristas só dizem “Parabéns, adorei”, e mais nada. Não é o caso aqui. Os comentários são longos. Quer ver um blog cheio de bajulação sem nenhum conteúdo? Vai ver o seu colega de extrema direita Reinaldo Azevedo. Lá só tem dois tipos de comentários: um na linha do “Arrasou, meu Rei!” e outro que picha o PT. Só. E lá, óbvio, tem censura. Não existem comentários contrários ao que o “Rei” pensa. Aqui no meu blog as pessoas acrescentam. É totalmente diferente.
Eu sou de esquerda e muitos dos meus leitores/as também são, mas vários são de direita. Tem também os que estão bem no centro, sem tomar posição. Minha esperança é a seguinte: não que vc mude de opinião, mas que os outros leitores possam comparar. Eu, de esquerda, sou democrática, opino com educação, não censuro ninguém, e evito ataques. Gostaria que meus leitores no muro visitassem algum blog de direita pra perceberem o contraste. E aí escolhessem melhor qual o lado em que existe mais liberdade e diálogo.

The Crow disse...

Que nada, Lola, eu é que agradeço e fico honrado por você ter me "acolhido" através de uma postagem-desabafo que nada tinha a ver com o assunto do tópico.

Não precisamos ler muito o seu blog para ter certeza que você é uma pessoa do bem, especial, realmente uma raridade nos dias de hoje.

Continue assim!

Abraços!

Anônimo disse...

ah, não. essa eu tenho de me meter. Estados Unidos só tem direita? Pelo menos aparentemente, né? Depois da guerra fria, e de tanta manipulação ideológica contra qualquer coisa que tenha cheiro de socialista ou comunista, quem vai se identificar como esquerda por lá?

Cansei de ver professores estadunidenses defendendo idéias muito mais de esquerda que as nossas, mas negando veementemente qualquer relação com socialismo. Diziam que era humanismo, democracia, etc. Isso porque, ainda hoje, ter idéias visando o povo (e não o lucro de alguns) é considerado pejorativo por lá, por ser associado aos (hahaha) comunistas comedores de criancinhas.

Da mesma forma, muitas pessoas se sentem constrangidas e não se assumem feministas porque a imagem que a mídia associou às feministas é pejorativa. Quem quer se identificar com algo revolucionário, mas que a mídia rejeita porque é perigoso e pode fazer o sistema entrar em colapso? Mais fácil acreditar na ideologia única, com "poucas" nuances, né?

Anônimo disse...

Lola, fui folear o livro ontem e vi que não foi neste que li o artigo sobre Tubarão. Agora estou sem saber onde foi. Talvez numa xérox do seu livro mess.

Unknown disse...

Vi seu comentário sobre o tubarão do poster do filme parecer uma vagina dentada e me lembrei que uma vez vi uma interpretação pra esse filme em que o tubarão era visto como um símbolo feminino.

lola aronovich disse...

The Crow, ah, obrigada pelo carinho, mais uma vez. Vc sempre será bem acolhido aqui.


Cynthia, sem dúvida, “socialismo” é palavrão nos EUA. Pior que ser acusado de socialista, acho que só de terrorista. Ou do palavrão-mor dos EUA, “LOSER”. Como os EUA tem uma população gigantesca, mais de 300 milhões, tem de tudo por lá. Mas a esquerda é bem insignificante. E acho que os esquerdistas de lá merecem algumas medalhas por lutar contra todo um sistema...

lola aronovich disse...

Rô, não conheço o outro livro, então não posso falar nada.


Elyana, pô, mas com todos aqueles dentões, parece muito uma vagina dentada! Eu vejo o lado fálico também, lógico, mas o tubarão como vagina validaria ainda mais o argumento do livro...