sábado, 26 de julho de 2008

SOU CONTRA A POLÍTICA DE COTAS... NO PARAÍSO

Outro dia, enquanto estava andando pelo zoológico de Detroit, refleti sobre como os argumentos de algumas pessoas contra cotas pra negros nas universidades públicas são parecidos com os das pessoas contra zoológicos. Assim: animais nasceram pra ficar livres no seu habitat natural, seu espaço precisa ser preservado, ninguém deveria caçá-los. Nisso eu concordo totalmente, não há discussão. Mas, voltando ao Planeta Terra, a realidade é que os habitats das espécies foram destruídos em todo o globo, montes de animais foram extintos ou estão ameaçados de extinção, e ainda existem homens que adoram matar animais selvagens, seja por um prazer sádico que eles chamam de esporte (essa gente não pode ser minha amiga), ou porque dá dinheiro. Logo, se um rinoceronte tiver que escolher entre desaparecer completamente do mundo ou viver protegido num zoológico, pra que os filhos do bicho homem talvez aprendam como os outros bichos são lindos e queridos, o que ele iria querer? Difícil dizer.
Minha comparação entre ser a favor de zôos e de cotas parece espúria, eu sei. Mas só queria lembrar que adoro animais, e que não considero humanos de qualquer raça, cor e nacionalidade superiores a eles. A única desvantagem que vejo nos animais é que eles não aprendem a jogar pôquer, e mesmo que aprendessem, não teriam o polegar opositor pra segurar as cartas.
Mas falando sério. Ao contrário do rinoceronte, que não pode comunicar claramente ao mundo sua preferência entre estar extinto ou viver trancafiado -- e observado -- num zôo, na questão das cotas, felizmente, os negros têm voz, e a maior parte é a favor delas. Então eu também sou. Pra mim já é um bom motivo pra ser a favor que a parte discriminada seja a favor, ué. Num mundo ideal, lógico, as cotas não seriam necessárias. Os negros teriam condições iguais de ingressar numa universidade pública, já que as escolas públicas seriam tão boas quanto as particulares (que eu não considero nenhum supra-sumo), haveria mais vagas nas universidades, e, pensando bem, os vestibulares seriam abolidos. Entraria numa universidade pública quem quisesse, desde que mostrasse um mínimo de competência. Perfeito. Seria lindo mesmo. Mas enquanto isso não acontece, eu, que fiz mestrado e agora faço doutorado na UFSC, não tenho colegas negros. Dei aulas na graduação de Letras (curso “de pobre”, dizem) como parte de estágio-docência e não tive um só aluno negro. Ah, mas Santa Catarina tem poucos negros. É verdade. É o estado brasileiro com menos negros, apenas 13% da população. Esse número soa familiar... Opa, 13% é a mesma quantidade de negros que os EUA têm! E no entanto, apesar de todo o racismo e segregação que há nos EUA, a gente vê muito mais negros nas universidades, na mídia, nas telas do cinema... O Brasil tem 45% de negros e mulatos. É o país fora da África com a maior quantidade de negros. Mas as nossas universidades públicas são de dar inveja ao Estado Ariano que Hitler queria. Não só na ausência de alunos negros, mas de professores negros. Sabe quantos negros a USP tem em seu corpo docente? 0,2%. É coincidência, ou será que os negros não querem ser professores?
Na discussão das cotas, há a questão de como, num país belamente miscigenado como o nosso, poderíamos determinar quem é e quem não é negro. Não é como nos EUA onde, se você tem um pinguinho de sangue negro, você é negro. Acho que as universidades deveriam ter autonomia pra decidir essa questão. Algumas trabalham com fotos dos candidatos, outras com auto-declaração. Ah, mas aí todo branco vai se declarar negro pra entrar na universidade! Sim, claro! Em que mundo uma pessoa que diz isso vive? Naquele em que os animais vivem livres no seu habitat natural? Ou num em que mulheres negras que não alisam o cabelo são ofendidas na rua, por ousarem mostrar seu “cabelo ruim”? Inclusive, quando a gente viver num mundo em que não exista mais essa expressão de “cabelo ruim”, me avise. Enquanto vivermos num mundo em que há cremes de beleza chamados “White Beauty” pra clarear a pele, acho que muito pouco branco vai mentir que é negro. Claro, vai haver aqueles (poucos) que mentem. Mas essas pessoas são corruptas. A gente não é contra corrupção no governo? Então a gente tampouco deveria achar “esperta” a pessoa que mente pra burlar a lei e levar vantagem em tudo, certo?
Tem gente que é contra as cotas por achar que no Brasil não existe racismo. Desconfio que essa gente não seja negra. Não é negando a existência do racismo que vai se acabar com ele. Pelo contrário, pra combater o racismo ou qualquer outro problema é necessário admitir que esse problema existe. O Brasil foi o último país a abolir a escravatura, e isso aconteceu há apenas 120 anos. Pra comemorar a data escolhemos uma branca, a Princesa Izabel, ao invés de um herói negro da resistência, como o Zumbi. Essas escolhas não são por acaso.
E tem quem é contra as cotas por ser desinformado, pura e simplesmente; por achar que as cotas significam que só os negros ocuparão as cadeiras universitárias. Na maior parte das universidades, o sistema das cotas me parece totalmente justo: 50% das vagas são reservadas pra alunos vindos de escolas públicas. Isso é muito, se considerarmos que menos de 20% da população brasileira estuda em escolas particulares. Logo, a gente vê que existe uma distorção enorme: se apenas uma minoria da população vem de escolas particulares, por que a maioria dos estudantes em universidades públicas é oriundo de escolas particulares? Porque no Brasil se instituiu que 1) universidades públicas são melhores que as privadas (e são mesmo, sem dúvida. Há mais pesquisa e professores melhor preparados, porque as universidades públicas não visam o lucro, como suas colegas particulares), e 2) pessoas de classe média e alta merecem sempre o melhor. Se as escolas particulares são melhores, vamos colocar os filhos lá. Se as universidades particulares são melhores, é pra lá que eles vão. E não há nada de errado em querer o melhor pros filhos. O que é errado é pensar que vivemos num mundo com oportunidades iguais, que nós e nossos filhos cursamos as melhores escolas e universidades por mérito, porque nós trabalhamos mais e somos mais inteligentes que os pobres, então nada mais justo que nossos filhos perpetuem o sistema. Nessa lógica, fica implícito que, se os pobres -– muitos deles negros -– se esforçassem mais, eles estariam exatamente no mesmo patamar que nós. A gente nem se considera privilegiada! A gente se faz de coitadinha, vive dizendo como sofre, como o governo é malvado com a gente, como paga impostos tão altos. Deve ser legal viver nessa ilusão de que a gente não só sofre, mas tá numa posição muito melhor que a maior parte dos brasileiros (e da população mundial) porque a gente batalhou pra isso, mereceu!
O sistema de cotas reconhece que sim, existem desigualdades (que nós fingirmos não ver). E dedica 50% das vagas pra gente que vem de escolas públicas. Desses 50% (e não do total), separa-se X pra alunos negros (também vindos de escolas públicas). X porque essa porcentagem depende do número de negros em cada estado. Aqui em SC, seria 13% (e 13% dentro desses 50% dá o quê, 6%? Não vai mudar a sua vida, você ainda vai conseguir entrar na universidade, sossega!). Na Bahia, seria 80%. Inclusive, a Bahia é um ótimo exemplo de como a discriminação racial é enorme no Brasil. Não sei a porcentagem de alunos negros nas universidades públicas baianas, mas, numa população em que 80% é negra, a gente gostaria de supor que fosse o quê, pelo menos 50%?
Outro argumento contra as cotas: ah, aceitando alunos de escolas públicas, o nível da universidade vai cair. Bom, primeiro que, se você falar com alguns professores universitários, eles vão dizer que o nível já não é lá grande coisa. Não é só porque nós da classe média somos batalhadores e merecedores e por termos estudado em escolas particulares que o nosso nível seja essa maravilha, né? Eu lembro do Show do Milhão e do “Pergunte aos universitários”. Segundo que já há pesquisas mostrando o desempenho desses novos alunos beneficiados por cotas, e as notas deles costumam ser tão boas ou melhores que a dos outros alunos.
O sistema de cotas aceita que existe uma discriminação histórica que precisa ser combatida. Eu acho bem chato chegar pra um aluno negro de segundo grau de escola pública em idade pra ingressar na universidade, que não tem como pagar um cursinho pré-vestibular e nem teria como pagar uma faculdade particular, e falar pra ele: “Espere que a educação no Brasil melhore como um todo, que as escolas públicas sejam boas, que haja mais vagas nas universidades públicas. Seja paciente porque, quando esse dia chegar, você vai garantir a sua vaga”. Do alto do nosso privilégio nós, da classe média branca, falamos pra alguém sem privilégio algum esperar pacientemente. E essa é a parte liberal da classe média, que reconhece que o racismo existe e gostaria que ele deixasse de existir, desde que isso não implique um milímetro quadrado de sacrifício nosso. A parte conservadora da classe média ora diz que o racismo não existe, ora diz que, se existe, é por falta de esforço dos negros, que são muito preguiçosos, sabe? E que o mundo é assim, sempre foi assim, e não dá pra mudar. Bom, olha a novidade: dá pra mudar. Mas tem que ser por decreto. Por cotas.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

RESULTADO DA ENQUETE SOBRE A PIOR ADAPTAÇÃO DE SUPER

Nova lei do blog: nenhum filme com gato pode ser votado o pior.

Não acredito! Vocês fizeram isso só pra me provocar! Das 113 pessoas que votaram na enquete pra escolher a pior adaptação de um super-herói dos quadrihos pras telas, 21 rebeldes, ou 18%, desprezaram totalmente a minha opinião de que Mulher-Gato até que é fofinho, por ser bastante feminista, e por ser uma celebração de um animal maravilhoso (gato), e escolheram o filme de 2004 com a Halle Berry como o pior de todos. Se eu coubesse numa roupa justíssima de couro, sairia às ruas à noite pra me vingar de vocês. Como eu tenho dificuldades em manter o equilíbrio num só pé, acho que vocês estãos seguros.

Em segundo lugar, vocês escolheram Batman e Robin (1995), com 13%. Esse é com a fantasia do Batman que tem mamilos? Aliás, se tiverem paciência, me expliquem a fixação com os mamilos. Por que todo mundo fala nisso? Eu provavelmente nem teria notado se não tivessem me falado (vejam a foto e me digam com sinceridade: a pior coisa dessa armadura de plástico são os mamilos?). Não lembro desse Batman, mas se é aquele com o Jim Carrey, eu não acho tão medonho.

Em terceiro lugar ficou o Hulk do Ang Lee, com 12%. Pra quarta colocação houve três empates: Demolidor, Motoqueiro-Fantasma, e a categoria “Odeio filme com super-herói”, cada um com 8%. Em quinto, Batman Eternamente e Elektra. Em sexto, Howard, o Pato, com 5%. Opa, só 5%?! Imagino que a maior parte de vocês não era nascida em 86, e por isso teve a sorte de escapar do que é comumente visto como o grande fracasso da carreira do George Lucas e uma das maiores bombas da história do cinema. Não só do cinema de ação, notem bem. E aí vocês vêm me dizer que Mulher-Gato é que paga o pato?!

Em sétimo veio A Liga Extraordinária, com 4%. Em oitavo, as duas tentativas de Quarteto Fantástico, e Superman Returns. Homem-Aranha 3 e “nenhum” receberam dois míseros votinhos cada, e uma alma solitária elegeu Superman 3. Blade Trinity, Constantine e Superman IV não tiveram nenhum voto – o que, no caso desta enquete, é um bom sinal.

Só pra constar, vou revelar o meu voto. Optar por apenas um nessa tabela de horrores é complicado. Se eu fizesse uma seleção preliminar com só três, entrariam Demolidor, Howard, o Pato, e Liga Extraordinária. Pra mim são os piores. Dentre eles, o vencedor seria... Demolidor. Pronto, eu falei. Não há filme com super tão ruim como Demolidor (e olha que eu gosto muito do personagem). Se o super-cego fosse mulher e gato talvez vocês concordassem comigo. Humpf!

É difícil organizar uma pesquisa dessas, pelas razões que apontei aqui. E eu ainda esqueci de incluir Fantasma e Van Helsing na lista. De fato, se Constantine entrou, como uma bomba do tipo Van Helsing não estaria? Mas o que adiantaria? Vocês ainda escolheriam Mulher-Gato...

Vamos começar uma nova enquete, e tratem de votar com mais consciência desta vez. Esta não é muito mais fácil: qual o melhor filme de super-herói adaptado dos quadrinhos? E, como esqueci de incluir Zorro na enquete anterior, não sei onde colocar os dois Zorros agora. Vão ficar no limbo mesmo, nem na lista dos piores, nem na dos melhores. Mas isso não quer dizer que eu não te ame, Antonio.

EU QUERO ACREDITAR QUE O NEVOEIRO VAI ESTREAR UM DIA

- Qual o contrário de recepção calorosa?

Lamento dizer que esta não é uma semana de grandes estréias, nem no Brasil, nem nos EUA. Eu digo “lamento” porque, pros fãs da série Arquivo X, existe uma enorme expectativa cercando o lançamento do segundo longa, Arquivo X: Eu Quero Acreditar (cri-crítica de trailer aqui). Infelizmente, a expectativa é só deles. O grande público não parece estar prestando muita atenção. Espera-se que Arquivo X não provoque nem cócegas em Cavaleiro das Trevas, que já ultrapassou a marca dos 200 milhões de dólares nos EUA e certamente será o maior arrasa-quarteirão do ano, deixando no chinelo os dois outros filmes que fizeram mais de 300 mi na bilheteria americana, Homem de Ferro e Indiana Jones 4. É impressionante, mas Cavaleiro fez mais dinheiro em cinco dias que Batman Begins em cinco meses, em 2005. O sucesso é por causa do Heath Ledger. Cavaleiro é um ótimo filme, lógico, mas vem atraindo não apenas o espectador que adora blockbusters de ação, como também gente que quer ver a última atuação do Heath.

A outra grande estréia dos EUA é Step Brothers, com Will Ferrell e John C. Reilly. Trata-se de mais uma comédia da fábrica de produções Judd Apatow (Superbad, Ligeiramente Grávidos, o abominável Meu Nome é Drillbit Taylor). Não dá quase nenhuma vontade de assistir. Outro lançamento, bem mais limitado, é The Wackness, meio que comédia independente com o Ben Kingsley como um psicólogo que fuma maconha e faz amizade com um jovem traficante – tudo na Nova York de 1994, então é um filme de época, digamos. Eu pessoalmente não gostei nada de Wackness, que vi em sessão pra crítica, e se o filme algum dia estrear no Brasil ou sair em dvd, escreverei uma crônica. Pode apostar que o hype é todo em torno da Olivia Thirlby. Quem? Eu sei, eu sei. Ela é a melhor amiga da Juno naquela bobagem pró-vida que eu desprezei. Como em The Wackness ela aparece de biquini, os críticos (quase todos homens) prestaram atenção.

No Brasil chega às telas, além de Arquivo X, o romance nacional Era uma Vez, um caso de amor entre dois jovens de classes sociais distintas. A direção é do Breno Silveira, o mesmo de Dois Filhos de Francisco. Ah, e também Space Chimps: Micos no Espaço. (Bocejo) Este post tá dando sono em você também? Micos já estava passando aí em ritmo de pré-estréia, e tem lugar de destaque na minha lista de “nem que me paguem”. Uma estréia menor é Ao Entardecer (Evening), um drama com a Claire Danes (Romeu e Julieta) e Toni Collette (Pequena Miss Sunshine). É do ano passado, e ninguém deu bola. O Metacritic gostou mais ou menos, mais pra menos.

Ahá, mas eu tenho uma boa notícia pra animar o seu dia! O Nevoeiro tá com nova data de lançamento marcada no Brasil: desta vez, 29 de agosto. Será que agora vai? Já comentei que este é talvez o melhor filme de terror que eu vejo em, sei lá, dez anos? Oremos.

PIORES FILMES QUE VI EM DVD RECENTEMENTE

Na Netflix pedem pra você avaliar um filme depois de vê-lo. Baseando-se no seu gosto, a locadora virtual pode indicar mais DVDs. Estes foram os filmes recentes que vi que receberam apenas uma estrelinha, a cotação mínima:

- À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946) – é até heresia desprezar tanto um clássico noir, e do Howard Hawks, ainda por cima. Mas o roteiro (do William Faulkner!) é uma confusão só. Até as pessoas que amam o filme reconhecem que não dá pra entender nada. Há um número excessivo de personagens e tramas paralelas. O Humphrey Bogart faz o cara de 38 anos mais velho que já vi, o que não impede que todo o elenco feminino, inclusive a Lauren Bacall, se jogue em cima dele. Parece o 007! O Falcão Maltês é muito melhor.

- Fat Girls (2006) – comédia independente de um tal de Ash Christian, que fez questão de estrelar, produzir, escrever e dirigir o troço. O resultado é uma das obras mais amadoras que vi nos últimos tempos. É sobre um rapaz gay na escola (o próprio Ash, que aparenta ter uns 30 anos) e sua melhor amiga. Ambos são “garotas gordas”, ou seja, desprezados pela sociedade. Sim, e? Nem com muito boa vontade dá pra aturar algo tão mal-feito.

- Ils (Eles, 2007) – terror que até começa com um clima legal, depois desanda totalmente e não vai a lugar nenhum. Strangers, que foi lançado recentemente nos cinemas americanos, tem uma trama muito parecida. Aliás, parece até um remake. Mas juram que não é. De todo modo, não é muito superior ao francês.

- Behind the Mask: The Rise of Leslie Vernon (2007) – desculpa, Pedrinho que amou o filme. Eu achei hiper previsível. E toda a parte documental sobre como serial killer e vítimas se comportam num slasher movie a gente tá cansada de saber. Mesmo quem não decifrou aquilo por conta própria ou não leu teoria feminista sobre o assunto foi apresentado(a) aos clichês do gênero pela franquia Pânico.

- Valley of the Dolls (1967) – um clássico camp que não tem mais o menor atrativo pro público de hoje.

- O Orfanato (2007) – tá sendo vendido como o “Labirinto do Fauno do ano passado”, só porque foi produzido pelo Guillermo del Toro. Como terror, não me assustou nem um pouco. Como historinha de fantasmas melodramática, me deu o maior sono. O filme tá repleto de cenas que não funcionam. Quer um exemplo? Tá, tem a cena em que a mãe se deita na cama, e vemos alguma coisa entrar por baixo dos lençóis. Dá pra ver claramente que não é o marido. Mas ela pensa que é, e desata a falar sobre o filhinho. É uma péssima hora pra um discurso sentimentalóide de três horas. Quer assustar ou quer comover? Difícil fazer os dois ao mesmo tempo. Resultado: eu não escutei uma só palavra do que a muié disse. E nem fiquei com medo. Eu só pensava: “Mas será que a tansa não nota que não é bem o marido quem tá abraçando ela?”.

- This is Nowhere (2006) – documentário sobre americanos que vivem em trailers de luxo, viajando pelo país, e estacionam sempre num Wal-Mart. Deveria render uma observação social instigante, mas a preguiça e falta de criatividade o transformam no pior documentário recente que vi. Não dava pra variar um pouquinho o esquema “alguém falando/paisagem de estrada/musiquinha”? Tédio.

- The Manson Family (2004) – um pouco de documentário e bastante nojeira, beirando o sexploitation puro. Não se tenta fazer um filme de terror em cima de uma história real absolutamente abominável.

- Pink Flamingos (1972) – já destilei meu ódio pelo filme do John Waters aqui.

- Nashville (1975) – não consegui ver o clássico inteiro! Achei tão, mas tão chato que tive que parar. Prefiro filme com história, sabe? Portanto, aquilo de que sempre desconfiei agora é definitivo: Robert Altman é o diretor mais superestimado de todos os tempos. Sinto muito.

- Swimming with Sharks (1994) - nunca tinha ouvido falar nesse drama com o Kevin Spacey (às vezes há bom motivos pra que filmes permaneçam no anonimato). Só o loquei porque uma blogueira americana disse que esse era o filme mais feminista já feito. Perdão? No final, dois homens que passam a trama toda brigando matam uma mulher que era mezzo poderosa, mas tava disposta a largar a carreira pelo seu amor. Isso é feminista em que planeta, exatamente?

Puxa, foram só esses que receberam meu total desprezo. Dei duas estrelinhas prum monte. Talvez depois eu fale deles. E você deve estar morrendo de curiosidade pra saber quais filmes mereceram a cotação máxima. Aguarde...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

CHEGADA CHEIA DE DETALHES DIFÍCEIS

Agora que estou indo embora, não há hora melhor pra falar da minha chegada não muito triunfal aos EUA. Até hoje me lembro dos probleminhas que tivemos ao desembarcar no aeroporto de Atlanta, na Geórgia. Dificuldades mil: onde pegar guardanapos e talheres num tipo de praça de alimentação? Onde jogar o papel higiênico? E como ligar de Atlanta pra alguém em Detroit? Compramos um cartão telefônico que dá direito a 200 minutos, por uns 13 dólares. Ficamos meia hora na frente de um telefone público, tentando desvendar onde enfiar o cartão (sem sugestões deselegantes, please). Só muito depois descobrimos que não é pra enfiar. É pra ligar e dar o código. A essa altura deve haver um vídeo clandestino no YouTube mostrando dois estrangeiros batendo num telefone americano.

Mais tarde notei que esse cartão é a maior roubada. Toda vez que você quer ligar pra alguém de um telefone público, precisa antes ligar pra empresa e dar o número do cartão. Daí uma ligação informa que será debitado US$ 1,25 por essa ligação. Se eu não quiser pagar isso, devo procurar um telefone não-público. Hello? Se eu tivesse um telefone em casa, por que diabos precisaria da #%&^! de um cartão?!