terça-feira, 29 de abril de 2008

MORTE AOS HOMENS

Agora vi Ms. 45, um filme B de 1981 conhecido no Brasil como Anjo da Vingança. Se minha mãe souber que estou vendo produções de segunda ao invés de todos os clássicos franceses e italianos à disposição (estou vendo alguns desses também), ela me deserda. Mas eu entendo da seguinte forma: quando veria Ms. 45 se não fosse agora, aqui nos EUA? Eu peguei o DVD principalmente porque antes vi I Spit on Your Grave (Eu Cuspo na sua Cova), típico exemplo do sexploitation movie, sobre o qual ainda vou escrever. E, como alguns críticos mencionam Ms. 45 e Spit na mesma frase, pensei que fossem parecidos, e achei que um filme do Abel Ferrara seria uma forma mais nobre de encerrar minha experiência com esse tipo de cinema (dois sexploitation movies! Já deu pra tosse, né?). Bom, ou eu vi uma versão muito, muito cortada de Ms, ou o filme tem quase tanto a ver com Spit como o remake de Funny Games tem a ver com Albergue e Jogos Mortais o que os críticos americanos andam dizendo – o que eles fumam antes de escrever?). Ms é sobre uma jovem muda numa Nova York repleta de predadores, como mostra o trailer. Todos os homens parecem ser tarados que falam sacanagens pras mulheres que passam. A personagem-título é estuprada duas vezes no mesmo dia, uma por um psicopata na rua, outra por um criminoso que invade seu apê (ser violentadas duas vezes no mesmo dia é extremamente pouco realista, ainda mais se considerarmos que mais de 80% das vítimas de estupro conhecem o estuprador, que ora é alguém da família, ora “amigo” da família ou da vítima). No caso do estuprador no seu apê, ela consegue matá-lo com um ferro de passar roupa. Fica com a arma dele, uma pistola 45. E pouco a pouco vai gostando cada vez mais de matar homens. E não precisa ser apenas estupradores. Qualquer homem que beije uma mulher em público entra pra sua listinha. Nisso Ms tem muitas semelhanças com Repulsa ao Sexo, clássico de 66 do Polanski (se você não viu, veja. É um terror psicológico de primeira. Mas saiba que tem seu ritmo próprio, muito mais europeu que americano). Aliás, em ambos os filmes as protagonistas trabalham com armas em potencial – em Ms, Zoe Lund passa roupa com um ferro pesado e quente; em Repulsa, Catherine Deneuve faz uma manicure. Enquanto em Repulsa o sinal mais explícito da deterioração da moça seja uma carne de coelho deixada fora da geladeira, em Ms a preocupação maior é o que fazer com seu único cadáver (os homens mortos na rua ela pode deixar onde estão). Ela o corta em pedaços e despeja um pacote por dia em diversos pontos da cidade. Pra mim fica claro que trata-se de uma fantasia feminina/feminista quando Ferrara mostra como é fácil cortar o braço de alguém com uma faquinha de cozinha (mas nem as facas Ginzu!). Enfim, esse tipo de exploitation geralmente tem duas partes, igualmente importantes. Na primeira a vítima sofre o diabo, é estuprada e espancada, tudo diante da câmera. Na segunda a vítima se vinga de seus algozes, usando o máximo de crueldade (e originalidade). A primeira parte deve ser bem executada pra que a gente vibre com as mortes na segunda (como fazemos em Desejo de Matar e, mais recentemente, Valente, com a Jodie, se bem que Valente tem algumas discussões éticas no meio, o que o desqualifica como exploitation). Em Ms, os dois estupros são rápidos, sem sensacionalismo, e a vingança também. Ok, eu mentalmente pensei “Mata! Mata!” no instante em que a vítima segura um ferro de passar em cima da cabeça do estuprador (que deve ser uma homenagem ao modo que a filha-zumbi mata a mãe em A Noite dos Mortos-Vivos). Mas as mortes que vêm depois são todas limpinhas (com revólver!), e envolvem homens que não são necessariamente monstros (na festa de Halloween, em que ela atira em todos os machos que vê pela frente, sabemos que um deles é um sacana – não quer mais fazer a vasectomia que prometeu à esposa. Mas, ainda assim, pena de morte é uma sentença meio forte prum crime desses). E nossa heroína nunca mais encontra seu primeiro estuprador; logo, não pode vingar-se dele. Um exploitation movie sem tanta exploração. Eu gostei. É um cult.

Zoe Lund dá uma de psicopata de Taxi Driver em Ms. 45. Aqui ela está vestida de freira porque 1) é Halloween no filme, e 2) Abel Ferrara é tarado por freiras, o que a gente sabe por causa de Vício Frenético.

5 comentários:

Lolla disse...

esse lance de sair matando homens depois de ter sido estuprada me lembrou horrores o livro "the summer of katya", do trevanian.

putz. acabo de estragar TOTALMENTE o clímax livro pra quem ainda não leu. haha. SPOILER LITERÁRIO.

Masegui disse...

Lolinha, por sua causa dei uma olhadinha no blog da sua xará. A moça é boa de serviço (eu queria dizer escreve pracarái, mas seria deselegante). Isto é prerrogativa das Lol(l)as?
Abraços no "mauridão"!

lola aronovich disse...

Lolla, não conheço esse livro. É bom? Mas agora que vc já deu o spoiler literário...
Mario Sergio, viu só como a moça acima escreve bem? Mas não é prerrogativa das Lolas. Pensei que podia ser, até que ela me contou que seu nome verdadeiro não é Lolla.

Igor Garcia disse...

Sexplotation de 81 com uma mulher se tornando Serial Killer só de homens? Onde encontro isso aqui no Brasil? Ou pior, como vou encontrar o do Polansky de 66? Pode parecer piada, mas sabia que ´so encontrei Psicopata Americano em VHS? Comprei-o assim mesmo para converte-lo em DVD! Derepente em alguma videolocadora Cult eu consigo alugá-lo. Existe na Zona sul do Rio, Copacabana e Botafogo, locadoras onde grande parte do acervo é listado pelo nome de diretores. Consegui encontrar Táxi Driver, Laranja Mecanica (antes dos relançamentos comemorativos), Pássaros e Carrier nessas locadoras. Dá trabalho, é longe, mais caro, mas só tem lá. As vezes odeio amar cinema! ;-)

Bjs n'alma!

lola aronovich disse...

É, Igor, melhor nem tentar encontrar Ms. 45 no Brasil que não deve ter mesmo! O Repulsion do Polanski eu acho que tem. Não tenho certeza, mas eu vi o filme duas vezes no Brasil, e se não me engano a última foi em DVD. E Psicopata Americano tem em DVD, porque eu tenho o filme! A capa é horrível. Olha, eu comprei a maior parte dos meus filmes em DVD nas Lojas Americanas. Taxi Driver, Laranja Mecânica, Os Pássaros... Tudo em promoção por menos de 20 reais cada (Carrie eu não tenho). Eu e o maridão passávamos na loja no shopping antes de ir ao cinema, e víamos se tinha algum filme que nos interessava. Encontramos muito filme bom. Aliás, já comecei, e tô pra divulgar em posts minhas lista completa de DVDs. Porque essa lista mais ou menos corresponde à minha lista de melhores filmes de todos os tempos. O primeiro gênero será o de musicais. Talvez no domingo...
Mas procure DVDs pra comprar nas Americanas. Se tem em Joinville, deve ter no Rio, né?