Tenho quase certeza absoluta que houve uma primeira parte de “Quarteto Fantástico”, porque me recordo de ter escrito algumas linhas. Mas não sei, porque não lembro do cara do “Nip/Tuck” como vilão no anterior. Quer dizer, não lembro do “Quarteto” anterior, ponto. Pode ser um mecanismo de defesa empregado pela memória pra apagar acontecimentos traumáticos. Mas reli o meu texto de dois anos atrás e vi que o primeiro Quarteto era bastante intragável, com efeitos especiais de segunda, e fios brancos no cabelo do Sr. Fantástico aparecendo e desaparecendo sem nenhum critério. Sinal de que, nesta seqüência, os efeitos melhoraram, porque nem reparei nos fios brancos. Enfim, aqueles quatro lá estão de volta: o Fantástico doutor, que é um pitéu (interpretado por um tal de Ioan Gruffudd, que, com esse nome, não irá muito longe), prestes a se casar com a Mulher-Invisível (Jessica Alba, fraquinha que só ela) que, por sua vez, tem como irmão o Tocha Humana, que conta com um melhor amigo em forma de pedra, o Coisa (que pra mim continua parecendo o Hulk Fanta Laranja). Em total harmonia familiar, o quarteto é um dos poucos heróis que não precisam de identidade secreta. Isso deveria render boas idéias de como aplicar superpoderes no dia a dia, mas a meia dúzia de roteiristas não consegue bolar nada mais criativo além do Fantástico Homem-Elástico esticar o braço pra colocar a bagagem num compartimento do avião. Há também uma cena de dança constrangedora em que ele empresta seus braços quilométricos a duas moças. O John Travolta fazia melhor com um braço só.
Minha fala preferida do Fantástico é quando ele, modestamente, proclama ser uma das mentes mais brilhantes do século. Só que, como a mensagem é pros nerds, ser um crânio não basta. Tem que casar com a garota mais quente do planeta. E, claro, a Jessica pode até ser a garota mais quente do planeta, versão tochuda do irmão, mas achei a prancha do Surfista mais expressiva que ela. Além do mais, a Mulher-Invisível é meio insuportável, porque acha que os preparativos pro seu casamento são mais importantes que salvar o mundo. Por que pegar no pé do doutor, se ele é capaz de ajudar nos preparativos matrimoniais, celebrar a sua despedida de solteiro, e construir uma ultra mega baita máquina, tudo ao mesmo tempo? Deixa o sujeito salvar o mundo sem tanta pressão!
Por falar em pressão, o maridão justifica a total ausência de referências sexuais no “Quarteto” porque só existe uma mulher no filme, e ela é invisível. Mas não é verdade. O Tocha passa metade da aventura convidando uma militar pra jantar, sem sucesso. Só quando ele diz que ela precisa confiar nele se quiserem salvar o planeta é que ela concorda sem pestanejar. Anotem a cantada certeira, rapazes. Ah, uma dúvida: nos quadrinhos, o Quarteto Fantástico dizia “Vamos nós!”? Porque se dizia, eu tenho uma conexão sentimental. Já fiz parte de um grupo de música chamado “Os Pedregulhos Impossíveis”, e nosso lema era justamente esse.
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