segunda-feira, 4 de agosto de 2008

“QUE BOM QUE SEU PAI NÃO VIVEU PRA VER ISSO”

Quando uma das minhas tias morreu, três ou cinco anos atrás, não lembro, mal tive tempo de lamentar a sua morte. No mesmo dia minha irma, que nos últimos tempos tinha mais contato com ela, me mandou um email que ela havia lhe mandado. Nesta mensagem, minha tia falava mal da minha mãe e de mim. De mim, ela dizia algo como “Lola está medonha de tão gorda. Ainda bem que seu pai morreu antes de vê-la assim”. Achei cruel da parte da minha irmã me enviar este email, e bem naquela hora. Afinal, ela poupou a minha mãe de saber o que minha tia “realmente pensava dela”. E também porque há todo um contexto: meus irmãos são bastante obcecados com o meu peso. Como muita gente, eles, pra não parecerem gordofóbicos, alegam que a preocupação é com a minha saúde, não com a minha aparência. O que é estranho, pois minha saúde sempre foi ótima. Eles não se conformam que minha saúde seja boa apesar da minha aparência. Acho que minha irmã tem se tocado que alguns comentários não ajudam, e parou de começar um papo ao telefone comigo com uma conversa do tipo:

- Você tá bem? Tem ido ao médico?

- Ahn, sim. Fui há um ano e meio fazer um papanicolau.

- Mas você fez todos os exames?

- Bom, os exames normais pra uma mulher de 35 anos. [minha idade na época]

- E aí? O que esses exames disseram?

- Que eu tô bem.

- Ah. Você precisa se cuidar, Lola.

Na realidade eu não conheço uma só gorda que não ouça observações constantes da família sobre a sua “saúde” ou, pros menos hipócritas, sobre sua aparência. Mulher gorda parece que é propriedade pública, e todo mundo se sente no direito de lhe dar dicas de dietas, recomendar cirurgia de redução de estômago, falar de exercícios, do método infalível que deu certo com a filha da prima da melhor amiga... Já vi casos até de mulheres que apalpam barriga, braços e bochechas de gordas. Propriedade pública mesmo! (bom, mulher de modo geral é tratada como propriedade pública, vide as grávidas. Mas entre mulheres gordas é pior).

Voltando a minha tia, pra ela meu amado pai só enxergaria a minha aparência, e se envergonharia de mim. O “assim” que minha tia ficou feliz por meu pai não ter visto não incluía eu estar feliz, trabalhando, estudando, ao lado de um homem que eu amo e que me ama. Só eu estar gorda. Duvido que minha tia escrevesse ou assinasse um manifesto anti-gordos como aquele que citei aqui. Mas, no fundo, ela pensava igual.

E pode ser, sim, que meu pai se envergonhasse da minha aparência. Minha família da parte de pai sempre teve um lado terrível nisso que se refere a quem não se enquadra num certo padrão físico/estético. Uma vez, quando eu tinha uns oito anos, fomos jantar num restaurante, e lá entrou o que parecia ser uma criança no colo da mãe. Mas sua cabeça, maior que o resto do corpo, era de adulto. Pronto. Foi o suficiente pro meu pai perder o apetite e querer sair dali. Essa foi a primeira vez que me dei conta dessa fobia dele, mas depois pude observar como ele se comportava perto de gente em cadeiras de rodas, sem um braço etc. Tanto que, quando essa minha tia começou a definhar devido à esclerose múltipla, meu pai parou de vê-la, porque ele sofria demais. Só se falavam por telefone.

Uma outra irmã do meu pai, uma tia com quem eu tinha mais contato, me tratava muito bem – enquanto eu era magra. Todas as vezes que nos víamos ela falava da minha aparência. Como ela tinha sido bailarina quando jovem, esse assunto era fundamental pra ela. Quando engordei, ela cortou relações comigo, provavelmente por uma série de fatores além da minha aparência. Ela não estava bem de saúde, e viria a falecer pouco depois. Mas ela era outra que não conseguia discutir (e muito menos ver) a condição da minha tia com esclerose múltipla. Tenho certeza que ela não quis mais me ver depois que meu peso voltou.

O que me espanta é que as pessoas em geral vêem a gordura como doença, mas não notam que fobia à gordura (ou a qualquer outra coisa) pode ser muito, muito ruim. É aquele negócio: eu não teria problema nenhum em ter um filho negro ou gay (que evidentemente não são doenças, defeitos, ou nada do gênero), mas detestaria ter um filho racista ou homofóbico.

Devo ser justa com a minha mãe. Há uns dois ou três anos, tivemos uma conversa franca sobre gordura, e eu disse pra ela que achava que ser gorda era meu peso normal, parte do meu biotipo desde a puberdade, e que eu estava cansada de tentar emagrecer e nunca me aceitar como sou. E ela, que sempre teve obsessão pelo seu peso e o dos outros, falou que iria também me aceitar como eu era, sem mais me pressionar a perder peso. Achei um sinal de amadurecimento, tanto dela quanto meu. Pena que esse amadurecimento leve quarenta anos pra chegar. E, pra algumas pessoas, não chegue nunca.

domingo, 3 de agosto de 2008

RESULTADO DA ENQUETE PRA MELHOR ADAPTAÇÃO DE SUPER

- Não precisa consertar muito não, que se melhorar estraga.

Houve uma reviravolta espetacular no último dia da pesquisa, ou eu que estava viajando e não acompanhei? Na sexta, dia de fechar a enquete, havia uns 112 votos, pelo que eu notei. Aí, nas últimas horas, este número subiu para 140. Um recorde absoluto nas minhas enquetezinhas, e fico muito feliz por isso, mas acontece que Cavaleiro das Trevas, que liderou a pesquisa inteira, desde o pontapé inicial, terminou empatado em primeiro lugar com Hellboy (2004), cada um com 25 votos, ou 17%. Então fiquei com duas dúvidas: 1) será que os hackers invadiram meu bloguinho e manipularam os resultados?, e 2) por que diabos os hackers seriam fãs de Hellboy? Mas taí, gente, e podem espernear – como que um já clássico como Cavaleiro é alcançado por um filme que eu nem vi, e com um herói vermelho bastante desconhecido?- O gosto dos hackers não é dos melhores, é?

Cavaleiro era o meu preferido na enquete, confesso, mas não só ele. Adoro Superman 1 (de 1978), o tataravô de todas as adaptações dos quadrinhos pras telas, e inclusive Superman 2 (1980), aquele um em que o homem de aço abdica dos seus superpoderes bem no momento em que três hiper vilões chegam pra dominar o mundo. Mas muitos dos meus leitores provavelmente nem haviam nascido na época. Fica a dica: vejam esses dois Superman, que são ótimos.Naquela época super-herói já voava?

Em segundo lugar na enquete ficou Homem Aranha 2, com 12%. Eu gosto muito desse filme, mas acho que prefiro o primeiro (apesar de não aceitar bem o vilão com a máscara que não se mexe). Se bem que até hoje só vi essa segunda parte uma vez, no cinema. Eu poderia me encantar mais se a visse de novo.

Em terceiro outro que só vi uma vez: V de Vingança. Esse filme me causou uma excelente impressão, e não entendo por que o pessoal parou de falar nele rapidinho. Eu também nem sabia se o incluía ou não na pesquisa, já que os protagonistas não são exatamente super-heróis (pensando bem, são terroristas!). Mas tudo bem, 7% votaram em V. Por que os hackers não fizeram V ficar em primeiro? Não teria mais a ver com eles que Hellboy? Sinistro.Homem cabeludo de máscara e mulher careca em terceiro.

Em quarto lugar, com 6%, o meu Superman, empatado com a opção “Nenhum: Eu não sei distinguir esses de Mulher-Gato”. Ah, pessoas da velha guarda, vocês bem que podiam ter escolhido o super mais antigo de todos, né? Na quinta colocação, três empates, cada um com 5%: X-Men, X-Men 2, e “Outro”. Eu não sou grande fã dos X-Men (pra ser delicada). Esse excesso de super-heróis sempre me faz perder o foco na história e ficar pensando: quem ganharia de quem? Se as facas Ginzu, que cortam qualquer coisa, tivessem que serrar as meias Vivarina, que resistem a tudo - até às garras da Mulher-Gato -, quem venceria? Essas elocubrações fazem com que eu nem preste atenção nas costeletas do Wolverine.- As meias Vivarina não podem com minhas garras de Freddy Krueger.

E eu não sei quais são os “outros” que o pessoal votou. Uma leitora me disse que foi o Sin City. Outra perguntou se Dick Tracy podia entrar na parada. Pois é, o problema é que nem os personagens de Sin, nem os de 300, embora fortões, são exatamente super-heróis. Quer dizer, este é o primeiro problema. O segundo é que esses filmecos entrariam na minha lista dos piores, não na dos melhores. Agora, Dick Tracy era muito legal, naqueles idos de 1990. Ou pelo menos muito colorido. Só que ele é um detetive. E, ainda que tenha sido interpretado pelo Casanova moderno do Warren Beatty, não é super. Mas é interessante: Dick certamente tem mais conexões com as adaptações arqueológicas, a la Superman, que com as de hoje.Chris Nolan, abra as asas sobre nós.

Em sexto lugar na enquete, com os mesmos 5% mas com um voto a menos, Batman Begins. Só não é tão bom quanto Cavaleiro porque não tem o Heath Ledger. Mas é impressionante como o Christopher Nolan conseguiu superar fácil, fácil os Batman do Tim Burton (dos outros é melhor nem falar).

Em sétimo lugar, três empates: Superman 2, Homem Aranha 1, e Homem de Ferro, todos com 3%. Ah, gente, pra mim é um insulto o Iron Man estar na mesma posição que esses dois outros. Eu até gostei e tal, mas vai comparar o ultra-bélico a serviço da paz com o Superman sem poderes?- Apesar do sovaco, sou mais o Homem de Aço que o Homem de Ferro.

Nas últimas colocações, três filmes que eu nem vi: O Corvo, com 1%, que pra mim só é famoso pelo filho do Bruce Lee ter morrido durante as filmagens, Blade (apenas 1 voto, ou 0%), que também é sobre inferno, então sabe-se lá porque os hackers preferem Hellboy, e Spawn. Este um leitor anônimo avisou que deveria estar na lista das piores adaptações. Mas eu não acreditei, porque realmente já ouvi muita gente (ahn... dois malucos) dizer que este sim é o bonzão. Tá, sabe quantos votos Spawn arrecadou na enquete? Nenhunzinho. Lanterna absoluta. Ninguém tem coração.- Tá, com esse layout ia ser duro mesmo conseguir um votinho.

Pelo que eu captei, foi mais fácil votar nessa pesquisa que na de pior adaptação de super. Porque naquela a concorrência era muito mais acirrada. Mas, olhando de perto, até que existem vários filmes decentes com super-heróis. Pena que nenhum desses bons supers seja negro (Blade teve um voto). Ou mulher.

Agora vamos à próxima enquete, já que aqui não tem folga: qual a melhor série dramática da TV americana dos últimos dez anos? Note que eu separei as concorrentes entre drama e comédia (a enquete pras cômicas fica pra depois). Mas como optar se algumas, como Desperate Housewives e Ally McBeal, apelidadas de comedy-drama ou dramedy, são dramáticas ou cômicas? Na dúvida, eu as pus nas cômicas. Não incluí as séries mais recentes porque, como elas ainda não devem ter saído em dvd nem estreado na TV a cabo brasileira, muita gente não viu (lá nos States eu vi e gostei bastante de Mad Men e Tell Me You Love Me, bem menos de Big Love, e vi uns pedaços de Dirty Sexy Money e Brothers and Sisters e The Entourage e não gostei nadinha). Ah, também deixei de fora os reality shows. Mas o principal na enquete é essa limitação de “últimos dez anos” porque não queria os idosos reclamando por não poderem votar em, sei lá, A Feiticeira, Terra de Gigantes, ou... Túnel do Tempo.

sábado, 2 de agosto de 2008

QUEM DISSE QUE EU NÃO ME DESLUMBRO?

Há várias coisas dos States que sentirei falta, mas acho que o principal mesmo é o estilo de vida que levei, sem muitos horários ou prazos. Morar perto de onde se trabalha ou estuda representa uma melhora incrível na qualidade de vida, porque a gente não perde tempo ou dinheiro com transporte. É só andar até lá. Portanto, terei saudades da quitinete (que eles chamam de studio) que alugávamos por apenas 385 dólares mensais (barato pros padrões daqui). Além de bem-localizada, ela nos ensinou que dá pra viver bem num lugar pouco espaçoso e sem tantos móveis. Outras coisas que lembrarei com carinho:

- Ausência de insetos – o frio intenso que dura meio ano (do qual certamente não sentirei falta) tem a vantagem de eliminar insetos. Pelo menos essa foi a minha experiência: vi uma só barata (duas, se contar a de Wall-E) em um ano inteiro de Detroit. E era uma baratinha que eu consegui matar sozinha, sem gritar ou apelar pro maridão. De vez em quando apareciam aqueles mosquitinhos minúsculos. Mas, no apê, nada de moscas ou formigas. E, principalmente, nenhum pernilongo. Só numa ou duas ocasiões fui picada num parque, mas, comparado ao banquete que geralmente proporciono aos sanguessugas (eles me amam), isso não é nada.

- Máquinas de lavar e secar no porão – não posso dizer que tenho amplo conhecimento de causa, já que era o maridão que se encarregava de lavar a roupa. No nosso prédio havia algumas máquinas. Em poucas horas as roupas ficavam limpinhas e secas. Em Joinville penduramos nossos trapinhos num varal pra secarem ao sol, e claramente nossa máquina de lavar não é tão eficiente. Mas, mesmo que fosse e que tivéssemos secadora, é diferente ter todo um aparato à disposição, sem preocupação com consertos, conta de luz ou de água. Era só depositar quatro quarters (moedas de 25 centavos) em cada uma das máquinas e pronto. Com dois dólares lavávamos tudo.

- Esquilinhos – já falei como se identifica um brasileiro nos EUA, né? Se você vir uma pessoa observando esquilos nas árvores durante horas a fio, pode falar em português que deve ser brasileira. Ah, como não ficar boba vendo esses bichinhos tão fofos? Eu poderia acrescentar que é ótimo ter o campus da universidade, cheio de bancos pra sentar e verde, sempre aberto ao público, pois vira um parque a mais na cidade. Mas a verdade é que eu não visitaria os parques com tanta frequência se não fosse pelos esquilinhos.

- Cinemas – apesar de vários multiplexes serem longe e fora de limite pra gente, das salas que frequentávamos levarem duas horas de ônibus pra ir e voltar, e da programação raramente incluir produções independentes e estrangeiras, vimos muitos filmes durante este ano, aproximadamente dois por semana (no cinema). Pensando bem, os 7 dólares que pagávamos, em média, eram mais em conta que muita sala no Brasil. Também vimos vários filmes em sessões para a imprensa. Além disso, havia o cinema de arte, do museu, a três quarteirões de casa. Será que algum dia na minha vida voltarei a morar do lado de um cinema (e de muitos museus)?

- Netflix – vai ser difícil me acostumar novamente com o sistema das locadoras de vídeo. Durante o último semestre, nós simplesmente ignoramos a TV (que é muito, muito ruim – falem o que quiserem, mas mesmo a TV a cabo é péssima. Tem porcaria demais, e muito mais intervalo comercial que programas). Víamos um filme por noite no computador. Podíamos escolher entre mais de 75 mil títulos, e custava 25 dólares por mês. Mais barato que TV a cabo, e quem fazia a programação era eu. Sem comerciais. Com a TV, eu assistia passivamente o que chegava até mim. Com a Netflix, eu escolhia ativamente. Uma diferença gritante.

- Comida chinesa – você pode dizer que isso também tem no Brasil (e provavelmente em toda parte do mundo). Eu sei. Mas duvido que haja tanta opção. Em Detroit havia uns três restaurantes chineses próximos (e estava pra abrir um novo, este coreano/japonês, a um quarteirão de casa). Não dava pra pedir comida por telefone, porque eles só entregavam em casa encomendas acima de 30 dólares. Então a gente tinha que ir lá andando buscar. Um prato grande, pra duas pessoas, custava uns US$ 7,60 e era uma delícia. Mesmo que a gente converta pra reais (o que não se deve fazer, pois o que custa um real no Brasil normalmente custa um dólar nos EUA), não acho que iremos encontrar comida boa e farta a 12 reais em Joinville.

- Luz do sol até as 9:30 da noite – houve alguns dias no longo e tenebroso inverno que durou meio ano (meio ano! E depois eles falam que gostam das estações americanas porque existe “variedade”) em que o sol se punha às 4:30 da tarde. Sério. Escuridão total no meio da tarde. Mas é mais comum ter luz até as 9 da noite, como agora. E isso alonga muito o dia.

- Internet rápida – não quero nem pensar como vamos sofrer com a internet no Brasil. Lá a conexão que temos (banda larga e tudo) é de 250 kbps . Aqui nos EUA, no primeiro semestre, foi de 10 mega. No segundo, de 5 mega. Não deu pra notar a diferença entre uma e outra. E olha que os EUA são considerados lesmas em comparação a alguns países asiáticos. Tô esperando pra ver quando vai ficar barato e ligeiro pra todo mundo, como andam prometendo há uns cinco anos, no mínimo. Tá demorando!

- Jornais e revistas de graça ou muito baratos – lamento dizer que nenhuma publicação que li foi a oitava maravilha, mas, pra gente que adora ler (inclusive nas refeições), era ótimo pegar vários jornais distribuídos gratuitamente. Além disso, recebia grátis a revista gay The Advocate, a Rolling Stone, uma feminina chamada Pink, e várias religiosas da direita cristã, pra contrabalançar e tentar me convencer que os gays vão queimar no inferno. Entre as pagas, a assinatura da Time, semanal, por um semestre, saía por uma parcela única de dez dólares. As outras, por vinte. Mas também dava pra trocá-las por pouquíssimos pontos do banco e recebê-las sem pagar um centavo.

Ou seja, foi um ano prazeroso, sem dúvida. Sei que o maridão e eu levamos uma vidinha simples e sem grandes ambições e que, inclusive por isso, somos felizes em qualquer lugar. Mas convenhamos: num lugar sem barata cascuda fica muito mais fácil.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

CRÍTICA: ARQUIVO X / Trilha sonora pro Bush: musiquinha do Arquivo X

- Será que o público também tá fazendo careta?

O bacana de escrever sobre Arquivo X: Eu Quero Acreditar é que não preciso resumir a trama. Afinal, os fãs da série vão conhecê-la muito melhor que eu, e os não-fãs não devem estar interessados. Basta dizer que aqueles dois agentes do FBI daquela série que terminou há seis anos são chamados pra resolver um mistério.
Pra mostrar que o filme tem senso de humor, a musiquinha (aqueles acordes famosos) é usada três vezes: nos créditos iniciais, nos créditos finais, e lá pelo meio, quando Mulder e Scully estão
num corredor do FBI e vêem uma foto do Bush. Toca a musiquinha. As quatro pessoas que estavam na sessão comigo riram. Do lado da foto do Bush há um quadro do J. Edgar Hoover, ex-chefão da agência (essa ninguém riu. Acho que não entenderam). Mas essa referência e mais as dezenas de linhas dos dois ex-agentes dizendo “eu não pertenço aqui”, “não vou voltar de jeito nenhum”, “eles é que têm que me pedir desculpas”, me deixaram com a impressão que o filme é totalmente contra o FBI (ao contrário de Silêncio dos Inocentes). Por falar em diálogos, eles deviam ser enxugados. Há palavras demais manifestando dúvidas. Quando alguém diz: “Você não precisa ficar aqui”, pensei que estivesse se referindo a minha estada no cinema.

Mas o problema maior é a Scully, feita pela Gillian Anderson. Ô mulherzinha chata! Ela não tem um pingo de humor e está sempre com a mesma cara meia cadavérica, dependendo do ângulo - boca entreaberta e pinta de quem vai se desmanchar em lágrimas. O Mulder (David Duchovny) ao menos faz alguma piadinha e se leva menos a sério. E o que um menininho doente tem a ver com qualquer coisa da trama? Esses momentos, que focam exclusivamente na insuportável da Scully, não estão minimamente relacionados com o resto. É só pra revelar como a agente é uma excelente médica e uma pessoa que se preocupa com os outros. Tá, juro que eu já sabia disso tudo. Próxima! Toda vez que essas cenas apareciam, eu ouvia o barulho do filme indo pra UTI. Sabe aquela maquininha que mede as funções vitais de um paciente? Eu ouvia o troço apitar Pi pi pi pi sempre que o garotinho olhava pra Scully. E pensava: cadê o Patch Adams pra animar aquele clima de velório? Nunca na minha vida imaginei que sentiria saudade do Patch Adams!

Aliás, alguém me explica como médicos, padres e freiras trabalham juntos no mesmo hospital. Pra igreja tem que jogar tudo na mão de Deus, e cientistas não costumam ser muito religiosos. O filme tenta tocar nessas questões de fé, mas é bastante incompetente. Em compensação, entendi perfeitamente a parte em que algum agente entra onde os russos realizam cirurgias ilegais e gritam: “Alguém aqui fala em inglês?!”, e ninguém se manifesta. Foi assim comigo em Moscou. Igualzinho, só que eu tava desarmada na ocasião. E vocês que viram o filme com legendas, colaborem: eu ouvi errado ou tem uma hora em que o Mulder berra pra um sujeito “Costure o pescoço dela de volta!”? Porque se é isso mesmo que ele diz, bem, é um diálogo pra entrar na galeria dos clássicos.

A cena mais interessante é uma em que Mulder e Scully estão na mesma cama casal. Mas o filme não dá a menor pista de como eles chegaram lá, ou do que veio antes. Alguma nave espacial jogou os dois lá? Agora, não sei se este é um spoiler ou se fará você desistir de vez de ver o bagulho. Preciso contar: o Mulder aparece mais de 25 minutos com uma barba. Assim que a Scully lhe diz “Essa barba espeta!”, ele corre pro banheiro cortá-la (a barba, não a Scully). Isso prova que não houve absolutamente nada entre eles, certo?

No fundo, Eu Quero Acreditar parece apenas um episódio mais compridinho da série. Sem dúvida é superior ao trailer. Há até uma discussão se um órgão governamental deveria empregar um médium que, ainda por cima, é um padre pedófilo. Não é um mau filme, mas a prova viva de que ele não é memorável é que vi o troço há algumas horas e não me lembro de mais nada. Imagina do que me lembrarei dentro de alguns anos. Bom, tanto quanto me lembro do filme de 98. Era uma vez dois agentes do FBI que se sentiam atraídos um pelo outro mas nunca rolava sexo...

NÃO ME CONVIDE PRA VER UM CLUBE DA LUTA ENTRE MÚMIAS E KEVIN COSTNER

Vou esperar sentada até que a programação melhore.

Como nem sei onde estarei na sexta, este post foi escrito com antecedência. Espero que não haja mudança na programação. A principal estréia nos EUA (e no Brasil) é Múmia 3: A Tumba do Imperador Dragão (leia a cri-crítica do trailer aqui), que não tenho a menor vontade de assistir. Há também outros dois lançamentos nacionais em solo americano, Swing Vote, comédia com o Kevin Costner (ele vive!), e Midnight Meat Train (foto acima). Esse último é esquisito. Alguns meses atrás, eu não podia ir à qualquer sessão sem ver o trailer do terror. Porém, nos últimos tempos, o trailer simplesmente desapareceu. Será porque era ruim e estava trazendo mais prejuízos que benefícios? Decida você mesmo. Veja o trailer aqui.

No Brasil, pelo que estou lendo, as outras duas estréias além de Múmia 3 são o drama/comédia italiana Meu Irmão é Filho Único e Quebrando Regras (Never Back Down), que parece ser sobre um jovem numa espécie de “clube da luta” juvenil. Ou seja, eu definitivamente não sou o público-alvo desta produção, e foi por isso que perdi as entrevistas pra imprensa que o astro do filme (Sean Faris, já ouviu falar?) deu em Detroit. O Metacritic atribuiu uma nota baixérrima pro negócio (39), mas os espectadores gostaram bem mais (77). Portanto, se ver rapazes se batendo e chutando for o seu cup of tea, Quebrando Regras deve ser imbatível. Eu, pessoalmente, manterei distância dos cinemas neste fim de semana fraquinho, fraquinho.- Cadê a Lolinha, que anda falando mal do meu filme sem ver?!