quinta-feira, 29 de novembro de 2007

DIA DE COMPRAR TUDO

Não é que essa aberração tem nome? Turducken!

Toda quarta quinta-feira de novembro tem um dos feriados mais tradicionais dos EUA, o Thanksgiving, Dia de Ação de Graças. Parece que o dia anterior é o pior dia pra se viajar por aqui, já que todo mundo vai passar a festa com a família. 
Milhões de pobres perus são devorados, e um americano me contou uma história de horror: às vezes o pessoal coloca, dentro do peru, um pato inteiro, e dentro desse pato, um frango. Os detalhes grotescos de como eles fazem isso eu não quis saber, mas deve ser um espetáculo degradante. Bom, o Thanksgiving passou em brancas nuvens pra mim e pro maridão, porque fomos ao cinema e perdemos os desfiles. O que chamou nossa atenção foi o dia seguinte, apelidado de Black Friday.
Essa é uma das datas mais movimentadas do comércio ianque. As lojas abrem às 5 da manhã, e as filas dão voltas no quarteirão. Tem gente que chega às 9 da noite anterior e enfrenta um gelo de 3 graus negativos só pra ser o primeirão da fila e poder aproveitar as grandes ofertas. As lojas são sacanas. Elas anunciam um laptop que normalmente custa mil dólares por meros 400, mas não divulgam quantos desses há disponíveis (menos de quinze, pelo que me contaram). Quando as portas abrem, as pessoas correm, se atropelam, se acotovelam, derrubam prateleiras, essas coisas. 
Uns amigos nos levaram pra conhecer essa febre consumista. Chegamos às cinco da matina, ou seja, sem chance de abocanhar um laptop por 400 dólares. Ainda assim a fila era imensa – pense numa fila do INSS e multiplique por cinco, pra ter uma ideia. E o frio tava de matar. Como seguranças na porta controlavam quantos indivíduos podiam entrar de cada vez, não houve tumulto. Compramos um estojinho com 50 dvds virgens por 4 dólares, um pente de memória de 1 GB pro computador por 15, e uma mini-câmera de vídeo, dessas pra colocar em cima do monitor, por 10. Mas esses dois últimos itens foram bem suspeitos. Na realidade, tivemos que pagar 30 pela memória e 60 pela câmera e, pra conseguir a diferença de volta, precisamos mandar um formulário com o código de barras pelo correio. Em até dez semanas eles enviam um cheque de volta no valor de 65 dólares, no que chamam de “rebate”. Assim espero. Soa arriscado.
Depois da loja de eletrodomésticos, nossa amiga quis ir ao Victoria's Secret. Eu pensava que essa marca só vendia calcinhas e sutiãs, mas tem também perfumes e maquiagem. Assim que entramos, o namorado dessa amiga disse, “Bem-vindos ao meu inferno particular”. A visita valeu a pena pela cara dos rapazes acompanhando as mulheres. Imagina a expressão de um sujeito que madrugou, passou horas congelando numa fila, e agora encontra-se num lugar totalmente cor de rosa, espremido entre prateleiras pra tentar ficar fora do caminho das moças. Ah, você pode argumentar, mas a loja tá cheia de fotos de top-models em trajes íntimos. 
Veja bem, a essa altura do campeonato, a Giselle podia aparecer em pele e osso, que o olhar de peixe-morto em estado de coma permanente do carinha não mudaria. Sem falar que as fotos todas não são feitas pensando no público masculino, e sim no feminino, que se ilude pensando que é só adquirir um sutiã com lantejoulas e a palavra “sexy” embutida pra ficar idêntica a Giselle. 
Eu tentei me espremer ao lado dos marmanjos e, enquanto esperava, meus pensamentos iam de como apenas uma das minhas pernas pesa mais que uma top-model inteira à imagem da graciosa hipopótama dançando balé no “Fantasia” do Walt Disney. Devia ser o sono.
Agora já recuperada do meu pesadelo cor de rosa, fui descobrir que essa data de celebração ao capitalismo selvagem coincide com o “Buy Nothing Day”, dia criado há quinze anos pra que ninguém compre nada (no mundo cai em 24 de novembro). Aqui nos EUA algum gozador decidiu fazer com que a data do anti-consumo coincida com o auge do consumismo. Adivinha que lado ganhou.
Maridão (como esse homem é lindo, mon dieu) dialogando com painel do Diego Rivera na inauguração do DIA


Uma Tarde no Museu
Enfrentamos mais uma fila gigantesca no dia 23, mas essa por uma causa nobre. Após uma reforma iniciada em 1999, o Detroit Institute of Arts, vulgo DIA, reabriu suas portas. De presente, deu admissão grátis a todos. O museu é divino. Já na entrada há um mural do Diego Rivera (marido da Frida Kahlo) e muitos Van Goghs. Quero voltar lá mais vezes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Morei com uma família americana nos EUA e eles fizeram turducken pro Natal, fizeram no estilo americano de cozinhar, compraram pronto e assaram em casa. Não comi porque sou vegetariana, mas acho que nem se não fosse, não comeria. Quanto a Black Friday, morei dois anos nos EUA e nunca participei de nenhuma, sempre estava viajando e achava perca de tempo ficar horas numa fila só pra comprar.