O Aranhudo é um ícone da cultura pop, e com justiça. Peter Parker é um personagem fascinante, atormentado, bem tipicamente teen. O filme é fiel às histórias em quadrinhos e tá cheio de cenas memoráveis. Merece ser visto até mais que uma vez. O processo da transformação do rapaz em aranha me fez lembrar de "A Mosca", sem os desagradáveis efeitos colaterais, como a queda do pênis, por exemplo. "Homem-Aranha" poderia ter ainda mais anedotas sobre a metamorfose. A seqüência da cantina e de toda sua descoberta da teia (inclusive com Peter gritando "Shazam!") é hilária. A confecção de seu uniforme, a trama da luta livre, idem. E o beijo de cabeça pra baixo é forte candidato ao MTV Awards. Todo o clima da produção é pra cima, e o ritmo não é prejudicado nem nos momentos românticos. Além disso, o Homem-Aranha caiu como uma luva no Tobey Maguire. Assim como Christopher Reeve foi um magnífico Super-Homem, não consigo pensar em outro ator pra encarnar o aracnídeo. Viva o Tobey!
Tá, agora que já pus o ego da aranha lá em cima, vou adotar minha porção Duende Verde (que, pelo jeito, sofre de dupla personalidade) e apontar uns defeitinhos. Nada que prejudique muito, pois o balanço geral é ótimo. Primeiro, o vilão é bem ruinzinho. Não tenho nada contra a interpretação do Willem Dafoe, mas um bandidão com máscara fixa não permite grandes nuances. Um disfarce à la "O Mascára" seria mais adequado, concorda? E sua óbvia morte no final é padronizada e cruel, embora o público a tenha aplaudido. O Duende morre espetado nas partes pudendas, vamos dizer assim. Seu último suspiro é pedir pro Aranhudo não contar pro Harry, filho do Verde. Não entendi contar o quê. Contar que ele perdeu sua genitália? Isso que é honra.
Outro que pareceu ter perdido alguma coisa valiosa foi o próprio herói do título. Pelo menos foi o que uma porção da platéia achou quando ele recusa o amor de Mary Jane (Kirsten Dunst) e oferece sua amizade em troca. Na realidade, o ponto mais divertido da aventura foi ouvir o público teen entoar o coro: "Viado! Viado!". Mas foi com carinho, deu pra sentir – eles se identificam com o mascarado. Mesmo que, na saída, alguns não se conformavam: "O Homem-Aranha é gay!".
Chega um instante do filme em que o Duende Verde força o herói a escolher entre salvar a Mary Jane ou as criancinhas. Nessa hora, não é só a MJ que despenca da ponte. Fica tudo meio ridículo. A gurizada caindo do bondinho faz cara de "Mãe, eu tô numa superprodução de Hollywood!". Juro, confira as caretas. Depois a MJ revela que, enquanto estava segurando um cabo a não sei quantos metros de altura, hostilizada por um homem-abacate, agarrada a uma teia de aranha, berrando sem parar, não conseguia parar de pensar no Peter. Certo, me engana que eu gosto. A gente já nem tinha provas irrefutáveis que a MJ pensava em qualquer coisa antes...
Ainda na cena da ponte, de repente surge um monte de nova-iorquino revoltado jogando objetos no rio. Que poluição, pessoal! Um deles acerta o Duende com o que parece ser um chaveiro. O super bicho verde é forte pra caramba, indestrutível, mas basta ser acertado por uma latinha de cerveja pra que ele bata em retirada. Não é lá muito verossímil.
Os críticos estão dizendo que o filme tá recheado de referências ao atentado no World Trade Center. Só eu que não vi nenhuma? Ué, até parece que o patriotismo americano nasceu em 11/09/01. Odeio lembrar de "Independence Day", mas sabe, ele é anterior, de 96. Duvido que "Homem-Aranha" seria diferente se tivesse sido feito um ano atrás. O que talvez o Bush possa aproveitar é o tema de Peter Parker: com o poder, vem a responsabilidade. Taí uma boa lição pros EUA.
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