Mostrando postagens com marcador eua. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador eua. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de maio de 2022

SUPREMA CORTE QUER DERRUBAR ABORTO SEGURO NOS EUA, QUE EXISTE HÁ 49 ANOS

"Como uma garota, espero um dia ter tantos direitos quanto uma arma", diz manifestante

Anteontem aconteceu o que pareceu com um terremoto nos EUA. Vazou o rascunho de uma provável decisão da Suprema Corte dos EUA que reverteria o Roe vs Wade, uma jurisprudência que existe desde 1973 e que permite o aborto.

Se isso realmente acontecer, será um pesadelo para as mulheres americanas, que há quase 50 anos têm acesso ao aborto seguro na maior parte do país. Legisladores estaduais poderão até proibir a interrupção da gravidez em todos os casos (inclusive em gravidez que resulta de estupro e naquelas em que a gestante corre risco de morrer se prosseguir). 

Ninguém imaginava que, nos EUA depois de Trump, as mulheres perderiam um direito conquistado a duras penas há quase meio século. Pensavam que o pior já havia passado. Mas o misógino conseguiu deixar raízes e formou um Supremo conservador, que nem Bolso tenta fazer aqui. Na contramão de países como Colômbia, Argentina, México e Chile, os EUA planejam um retrocesso gigantesco nos direitos reprodutivos

É verdade que, nos últimos anos, os conservadores conseguiram restringir cada vez mais o direito ao aborto em vários estados, principalmente aqueles do Sul. Por enquanto o Texas é o pior deles, mas aguarda-se uma decisão do Oklahoma que pode banir o aborto em todos os casos (exceto em risco da gestante) naquele lugar. E por que as mulheres (e também homens trans) abortam?

No Texas, que tem aprovado os maiores retrocessos em relação ao aborto, uma pesquisa revelou que as texanas abortam por esses motivos: 40% porque não têm recursos financeiros, 31% porque têm um companheiro abusivo ou que não as apoia, 29% já têm filhos, 20% acham que ter um filho iria interferir com seus planos educacionais ou de trabalho, 19% citam motivos emocionais ou mentais, 12% citam motivos de saúde física, e 12% gostariam de oferecer uma vida melhor ao bebê do que elas podem providenciar.

Pesquisas mostram que a maior parte dos americanos é a favor da legislação como ela está agora. Apenas 10 a 15% creem que aborto deveria ser proibido em todos os casos. Numa pesquisa da rede CNN de janeiro, 69% dos entrevistados foram contra derrubar a jurisprudência do famoso caso Roe vs. Wade. 30% eram a favor. Não preciso nem dizer que Roe não marca quando as mulheres começaram a abortar. Roe marca quando as mulheres pararam de morrer ao abortar.

Legalizar o aborto é uma questão de saúde pública. A criminalização mata as pessoas mais vulneráveis, como mulheres pobres e negras. Todos os anos,  o Brasil registra 20 mil nascidos vivos em crianças com menos de 14 anos, o que chamamos de estupro de vulnerável. Nesses casos, as meninas que engravidam poderiam abortar (o aborto ainda é legal em caso de estupro), mas a rede de assistência é tão minúscula que elas nem sabem onde procurar. E, quando encontram ajuda, têm que enfrentar turbas de religiosos que bloqueiam entradas de hospital e chamam uma garota de 10 anos que foi estuprada e engravidou de "assassina". Tudo com o aval da ministra de Direitos Humanos, que divulga o endereço da garota e do hospital.

Se a jurisprudência for revogada pela Suprema Corte, cada Estado fica livre para proibir ou liberar o aborto (como era antes de 1973). Mais da metade dos estados são conservadores e estão loucos pra proibir o aborto completamente.

O FDA (Food and Drugs Administration, tipo a Anvisa de lá) permitia que quem quisesse abortar nos EUA recebesse em casa um bloqueador de hormônios chamado mifepristone (quase metade dos abortos não são mais cirúrgicos, e sim através de medicamentos, o que é mais barato e menos arriscado).  Infelizmente, em 19 dos 50 estados americanos o aborto medicinal já está proibido. Mas as mulheres ainda podiam apelar a, por exemplo, ONGs sem fins lucrativos como a Women on Waves e Women on Web, que enviam comprimidos de mifepristone e misoprostol (o mais popular no Brasil). O problema é que tudo isso deixa rastros no seu celular, no seu computador. E óbvio que tem miliciano querendo perseguir mulheres que abortam. Imagina, pra quem passou os últimos 50 anos bombardeando clínicas de aborto e sequestrando e matando médicos, stalkear e atacar mulheres é um passeio no parque.

E já há jurisprudência pra condenar mulher que aborta nos EUA. Em 2017, Latice Fischer, uma mulher negra, foi a um hospital no Mississippi depois de sofrer um aborto em casa. Como antes disso ela tinha tido atendimento médico, que confirmou a gravidez, mas ela não voltou ao hospital para o ultrassom, os médicos entregaram a documentação (vai contra a ética, viola o sigilo entre paciente e médico!) à polícia, que iniciou uma investigação contra Latice. E eles encontraram buscas no celular dela para misoprostol. Isso foi usado como evidência de que ela "matou" seu feto, e ela foi acusada de homicídio em segundo grau. Pensou que essas barbaridades só acontecessem em El Salvador? Errou!

Pois isso está prestes a piorar muito nos EUA. E lógico que toda essa movimentação reacionária deixa ouriçados os fanáticos misóginos de todo o mundo. Como disse um pastor metodista dos EUA, "aqueles que não nasceram são um grupo conveniente de pessoas para se defender. Eles nunca exigem nada, não são moralmente complicados, ao contrário dos encarcerados, dos viciados, dos miseráveis; ao contrário das viúvas, eles não pedem que você combata o patriarcado; ao contrário dos órfãos, eles não precisam de dinheiro, educação ou creches; ao contrário dos imigrantes, eles não trazem toda aquela bagagem racial, cultural e religiosa que você não gosta; os não nascidos permitem que você se sinta bem, e quando eles nascerem, você pode se esquecer deles, porque eles não são mais não nascidos"

Além disso, muita gente vê essa possível decisão da Suprema Corte como apenas a primeira retirada de direitos de minorias. Ativistas LGBT alertam que os próximos alvos da Corte podem ser proibir casamentos entre pessoas do mesmo sexo, e até tornar a homossexualidade ilegal. "Não é questão de se, mas quando. Este é um diagnóstico de câncer no estágio 5 para direitos LGBT", avisa a ativista Brynn Tannehill.

As faixas de "Faça O Conto da Aia virar ficção novamente" vão aumentar um monte. Tomara que as americanas consigam barrar esse retrocesso monumental.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

LÁ E CÁ, SUPREMACISTAS CONTINUAM PONDO A DEMOCRACIA EM RISCO

Quarta-feira que vem é o último dia de Trump no poder. É quando acontecerá a posse de Joe Biden. Mas os riscos até lá (e depois também) são grandes. Por isso, e pelas chances de uma tentativa de golpe ocorrer aqui também em 2022, é importante falar novamente da invasão do Capitólio em 6 de janeiro. Foi um dia histórico e infame, já que a última vez que o Congresso dos EUA havia sido invadido foi em 1814 -- por um inimigo externo, os britânicos.

Para o professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, "As imagens da invasão ao Capitólio com vidros quebrados, deputados sendo escoltados para locais secretos e seguranças sacando suas armas dentro do plenário da Câmara dos Deputados entrarão para a história como o momento de maior crise da democracia americana desde a Guerra Civil do século XIX".

Já no dia seguinte à invasão (safra 2021), um editorial do New York Times culpava Trump pelo ataque ao Capitólio e exigia procedimentos de impeachment ou penais. Também cobrava a responsabilização dos apoiadores e uma investigação sobre o fracasso da polícia. Ontem, Trump foi impeachado pelo Congresso pela segunda vez, um recorde. Falta o Senado aprovar o impeachment para o laranjão fascista perder seus direitos políticos. Ainda assim, uma pesquisa do YouGov mostra que 45% dos republicanos foram a favor da invasão do Capitólio. 

Vi um podcast do documentarista Michael Moore. Ele conta que extremistas de direita estão marcando a invasão armada de vários prédios públicos (não só em Washington DC mas nas capitais de cada um dos 50 estados) para a posse do dia 20. Moore revela que ele, como documentarista, já tentou várias vezes entrar no Capitólio sem permissão. É dificílimo. Além disso, lá dentro é um labirinto. Como os supremacistas sabiam aonde ir? Certamente não agiram sozinhos. Quem os ajudou?

Como diz o jornalista Allan Nairn, o Capitólio não estava só invadido por fora, mas por dentro: "Havia cerca de um terço do Congresso que estava brincando com a ideia de abolir as eleições presidenciais". Um exemplo é a deputada republicana Lauren Boebert, que faz parte do QAnon, que, ao vivo no Twitter, deu a localização de Nancy Pelosi durante o ataque ao Capitólio. Em outro tuíte, a reaça comemorou: "Hoje é 1776", referindo-se à independência dos EUA.

Os supremacistas invasores não estão sendo acusados de terrorismo doméstico. Como pergunta Moore, e se fossem milhares de muçulmanos invadindo o Capitólio, não seriam acusados de terrorismo? Por que estão respondendo só por "entrada forçada" e "destruição de propriedade"? Se fossem manifestantes negros, estariam mortos.

Um dos rostos mais fotografados do golpe frustrado foi o de Jake Angeli, também conhecido por lunáticos como QAnon Shaman, um ator frustrado de 32 anos que mora com a mãe (nunca falha! Quando eu digo que mascus são sustentados pela mãe, o pessoal acha que estou exagerando). Uma de suas tatuagens é símbolo de Wotanismo, crença de que os judeus controlam o governo e o holocausto não aconteceu. Em novembro, ele postou uma foto na sua página no Facebook apertando as mãos de Rudy Giuliani, advogado de Trump. 

Outro supremacista, Richard "Bigo" Barnett, 60 anos, invadiu o escritório de Nancy Pelosi. Ele se orgulha de ter deixado pra ela um bilhete ofensivo (escrito "Nancy, Bigo esteve aqui sua vadia"), por seus pés em cima da mesa e coçar seus testículos. 

Pelo menos 68 foram presos e quatro ou cinco morreram. Moore lembra que, quando ocorrem mortes, os nomes são divulgados em questão de horas. Mas há dúvidas sobre as mortes. Por exemplo, aquele cara que teve um ataque cardíaco enquanto tentava roubar um quadro. Os rumores (provavelmente falsos) são de que ele carregava um taser na sua cintura, e esse taser disparou nas bolas dele, levando ao ataque cardíaco. Estamos falando muito de bolas, não? É a masculinidade tóxica e radioativa em ação.

Vários terroristas usavam disfarces não pra mostrar seu saudosismo pelo YMCA do Village People, mas para esconder armas de fogo. A maioria dos invasores era do movimento MAGA (Make America Great Again), mas seus gurus vêm da extrema-direita, da alt-right (direita alternativa, que é como dizer que o Partido Novo tem algo de novo), dos supremacistas brancos. 

Obviamente havia vários membros dos Proud Boys. Em debate com Joe Biden em outubro, Trump se negou a condenar grupos extremistas e milícias, e disse: "Proud Boys, recuem, preparem-se", o que foi a glória para o grupo misógino e racista fundado em 2016, durante a campanha do chefe. Eu e o resto do mundo já dizíamos que ele era uma ameaça real à democracia, o que ficou devidamente comprovado em 6 de janeiro. Além disso, não se pode esquecer que uma milícia armada de extrema-direita planejou sequestrar a governadora de Michigan Gretchen Whitmer em setembro. Pareceu um ensaio para a invasão do Capitólio em janeiro.

O movimento QAnon também nasceu em 2016. Menos articulado, ele foi ganhando as cabeças ocas de extremistas de direita que adoram teorias da conspiração. A dos QAnon é que há uma rede de pedófilos ricos (e que Trump não é um deles, pelo contrário, apenas o super Trump, defensor das mulheres e crianças, pode pará-los) e que a civilização branca corre perigo.
 
Entre os malucos há também o Boogaloo, que sonha em começar uma segunda guerra civil. Uma guerra racial, evidentemente. Dentro do movimento não há apenas neonazis, mas libertários vestidos com camisas havaianas. E armados, lógico. Sempre armados.

Graças a Trump, esses grupos fortemente armados saíram dos esgotos da internet e cresceram. É a milícia laranja. Mas as plataformas da internet são também responsáveis pelo golpe. Todas permitiram que Trump e seus extremistas amestrados espalhassem ódio e fake news à vontade. Só depois do dia 6 é que elas começaram a banir a sujeira. Mas foi muito tempo de racismo, supremacia branca, negação do holocausto e agora da pandemia, movimentos anti-vacina, e por aí vai. Quanta grana tem sido ganha por conteúdo e ódio e mentiras? Quantas eleições foram ganhas através de mamadeiras eróticas no WhatsApp?

Trump pode estar indo embora e, se houver Justiça, ser preso, ou ter que fugir pra alguma oligarquia árabe para não ser encarcerado, mas Elon Musk, o segundo homem mais rico do mundo (US$ 84 bilhões), disse em julho do ano passado sobre o golpe na Bolívia para tirar Evo Morales: "Daremos golpe em quem quisermos". 

E vale lembrar que, se os policiais não participaram da invasão ao Capitólio, eles certamente não fizeram nada para contê-la. Aqui a PM parece estar toda com Bolsonaro. A dúvida é se dariam um golpe com ou sem uniforme, à la milícia.

As Forças Armadas dos EUA já tinham deixado claro de que lado ficariam -- da Constituição, não de Trump. Depois do resultado das eleições, um general explicou: "Não fazemos juramento a um ditador. Fazemos juramento à Constituição". Fica a pergunta: qual a postura das Forças Armadas aqui no Brasil, em que o presidente é um capitão, o vice é um general, e há mais milicos nos ministérios e secretarias do que nunca na história do país? 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

CRÔNICA DE UM GOLPE ANUNCIADO

Ontem a nação mais poderosa do mundo, tão acostumada a patrocinar e organizar golpes de estado em outros países, viu uma tentativa de golpe no próprio solo. E não foi bonito. 

Uma sessão de certificação do resultado da eleição americana (com Joe Biden vencedor; ele assume dia 20) teve que ser cancelada depois que Donald Trump, o maior biggest loser (pior perdedor) de todos os tempos, instigou seus apoiadores a irem protestar no Capitólio ("Não vamos desistir nunca. Nunca vamos aceitar" -- o Donald teve suas contas suspensas nas redes sociais por 12 horas). Centenas de manifestantes negacionistas do holocausto e da pandemia, adoradores das teorias da conspiração, muitos dos quais membros de grupos supremacistas arianos, cumpriram as ordens do mestre. 

A polícia, geralmente tão dura para enfrentar manifestantes do Black Lives Matter, não ofereceu grande resistência aos neonazis branquinhos, se bem que ao menos quatro pessoas morreram na invasão. Foi um dia que entrou pra história dos EUA. Uma vergonha internacional, uma mostra de como governantes de extrema direita não têm o menor apreço pela democracia, e um spoiler de 2022.

Cenas grotescas de lunáticos que mais pareciam personagens do Village People tomaram as telas, nos fazendo lembrar dos nossos próprios lunáticos, que preferem se vestir de cavaleiros templários. Ironicamente, até os nossos reaças devem ter achado o espetáculo ridículo, pois rapidamente passaram a espalhar as fake news de que os invasores seriam antifas (anti-fascistas) infiltrados.

Um dos caras vestia roupa que dizia "Camp Auschwitz" na frente e "Equipe" atrás. Outro ostentava a marca "6MWE", sigla para "seis milhões não foram suficientes", em referência aos judeus mortos pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Antifas, sei! Nazistas muito bem assumidos, que às vezes preferem ser chamados de QAnon e MAGA (Make America Great Again).

Como eu disse em entrevista à revista Marie Claire, "Mais do que uma investida contra a democracia, as cenas filmadas durante a invasão mostram a explosão do machismo enraizado na sociedade. Eram imagens de puro machismo feitas por homens misóginos, em prol de um homem misógino. Símbolo de misoginia, que Donald Trump sempre foi".

O Trumposo, ao notar que havia comandado um dos episódios mais anti-democráticos da história dos EUA, mandou que os terroristas voltassem pra casa. Ao mesmo tempo, deixou evidente que iria continuar liderando grupos supremacistas arianos: "Isso representa o fim de um dos melhores primeiros mandatos presidenciais e é apenas o início da nossa luta para devolver aos EUA sua grandeza". Hoje o Congresso confirmou a vitória de Biden.

E sabem quem mais estava lá, taking notes (fazendo anotações)? Pois é, Eduardo Bolsonaro, vulgo Dudu Bananinha, acompanha tudo de perto em Washington, a convite da Ivanka Trump. Convidado especial de um workshop para 2022 e 23.

Em declaração a seus seguidores no cercadinho, o pai de Dudu, seu Jair, presidente de uns 57 milhões de otários, declarou que a falta de confiança nas eleições levou "a este problema que está acontecendo lá" e que no Brasil, "se tivermos voto eletrônico", em 2022 "vai ser a mesma coisa", ou "vamos ter problema pior que nos Estados Unidos". 

Nenhuma novidade pra quem já disse que houve fraude até nas eleições de 2018, em que ele ganhou de lavada (com um monte de governadores e senadores que ninguém tinha ouvido falar sendo eleitos). Assim, Bolso deixa claríssimo seu plano para 2022: se perder, vai alegar que houve fraude nas urnas eletrônicas. Se ganhar, talvez incentive seus neonazis amestrados (e bem armados) para dar um golpe do mesmo jeito, pra ter total controle do legislativo e do judiciário. 

Não resta qualquer outra alternativa: temos que tirar esse crápula do poder JÁ! Ele já tem todo o roteiro prontinho pro ano que vem. 

E vale lembrar como foi a administração Trump, que é tão representativa da extrema direita de todo o mundo, principalmente no Brasil: é um governo que começou com Charlottesville e acabou com a invasão do Capitólio.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

BIDEN NÃO CONSEGUE DORMIR

O mapa acima não está totalmente correto: não foi só o Brasil de Bolso que ainda não cumprimentou Joe Biden, o 46o presidente dos EUA. Kim Jong-un também não.

Juro que não me lembro quem falou antes de mim, mas é a pura verdade: o governo Bolso reconhece o golpista Guaidó presidente da Venezuela, mas não reconhece Biden presidente dos Estados Unidos. 

Como se diz em inglês, in a nutshell, resumindo, este é o fracasso diplomático do pior governo de todos os tempos. Justo  aquele que prometeu que não iria ser "ideológico". Nunca houve uma gangue de milicianos tão ideológica quanto esta!

A próxima vez que eu ouvir falar no Trump, ídolo de dez entre dez reaças brasileiros, é quando ele sofrer um divórcio ou for pra cadeia. Espero que sua queda seja ainda mais feia, e que inspire o mundo inteiro a se livrar da extrema-direita. Seu dia também vai chegar, Bozo! 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

COMO SE ROUBAM AS ELEIÇÕES AMERICANAS

Reproduzo este ótimo texto da Natalia Viana, codiretora da Agência Pública. Fora Trump! 

Quando, na noite de quarta-feira, o estado americano de Nevada interrompeu sua contagem com apenas 8 mil votos de diferença, anunciando que só atualizaria os números na quinta pela manhã, senti um frio na espinha. 

Imediatamente me vieram à cabeça duas eleições recentes no continente. Em 2018, em Honduras, quando a apertada contagem de votos para a disputa presidencial foi suspensa por uma “queda no sistema” e dois dias depois o presidente apareceu reeleito, seguiram-se diversos e violentos protestos. No ano passado, a suspensão temporária da contagem rápida para as eleições bolivianas levou a protestos, acusações de fraude e ao exílio do presidente Evo Morales. 

Seria diferente, se os Estados Unidos da América fossem ainda a mais sólida democracia do continente. Mas basta ouvir as ameaças contínuas de Donald Trump e de seus eriçados seguidores para perceber que o país do norte está tão à mercê de aventuras autoritárias quanto os nossos. 

Donald Trump tem se aprimorado em desestabilizar a democracia dos EUA de maneiras sem precedentes. Muito antes do dia de votação, já avisava que não ia aceitar nenhum resultado que não fosse sua vitória – e que ia entrar na justiça para isso. Durante a dolorosa milonga em que se transformou a contagem dos votos, entrou com processos contra as normas da Pensilvânia e para pedir a recontagem de votos em Michigan e Wisconsin.

Nada novo para Trump, que vem há décadas subvertendo o sistema americano com a sua matilha de advogados bem pagos e sem caráter. No livro American Oligarchs, a jornalista investigativa Andrea Bersntein demonstra como ele repetidamente evadiu milhões de dólares em impostos, fugiu de investigações, comprou testemunhas e contratou a altos salários procuradores que antes o investigavam. Foi assim que conseguiu montar seu império de entretenimento, que vai de hotéis e cassinos de luxo e campos de golfe, sempre com a marca do terrível mau gosto – império esse que, conforme apontam diversas investigações, pode ser apenas uma grande lavanderia de dinheiro para oligarcas russos. 

Mas Trump não está sozinho nessa. Há pelo menos uma década são exatamente as Cortes que vêm apoiando a derrubada de presidentes na América Latina. Foi a Suprema Corte de Honduras que deu legitimidade ao golpe de estado contra Manuel Zelaya em 2009, quando ele foi sequestrado da sua casa no meio da noite. No Paraguai, depois de um impeachment que durou 24 horas, a Corte Suprema, parcialmente financiada pelos EUA, também deu seu aval. Aqui, nem se fala. 

A verdade é que os juízes do continente também estão bem contentes com o protagonismo que lhes tem sido dado. Afinal, em meio ao esfacelamento da democracia, a política tem virado um caso para os tribunais. 

Vale lembrar que, há 20 anos, foi a Corte Suprema americana que suspendeu a recontagem de votos na Flórida, permitindo que Bush ganhasse o estado – e a presidência – por apenas 537 votos. Dessa vez, Joe Biden já avisou que vai até o fim: os democratas reuniram milhares de advogados voluntários para a batalha legal que começa agora. E que deve ser longa.