Ontem a nação mais poderosa do mundo, tão acostumada a patrocinar e organizar golpes de estado em outros países, viu uma tentativa de golpe no próprio solo. E não foi bonito.
Uma sessão de certificação do resultado da eleição americana (com Joe Biden vencedor; ele assume dia 20) teve que ser cancelada depois que Donald Trump, o maior biggest loser (pior perdedor) de todos os tempos, instigou seus apoiadores a irem protestar no Capitólio ("Não vamos desistir nunca. Nunca vamos aceitar" -- o Donald teve suas contas suspensas nas redes sociais por 12 horas). Centenas de manifestantes negacionistas do holocausto e da pandemia, adoradores das teorias da conspiração, muitos dos quais membros de grupos supremacistas arianos, cumpriram as ordens do mestre.
A polícia, geralmente tão dura para enfrentar manifestantes do Black Lives Matter, não ofereceu grande resistência aos neonazis branquinhos, se bem que ao menos quatro pessoas morreram na invasão. Foi um dia que entrou pra história dos EUA. Uma vergonha internacional, uma mostra de como governantes de extrema direita não têm o menor apreço pela democracia, e um spoiler de 2022.
Cenas grotescas de lunáticos que mais pareciam personagens do Village People tomaram as telas, nos fazendo lembrar dos nossos próprios lunáticos, que preferem se vestir de cavaleiros templários. Ironicamente, até os nossos reaças devem ter achado o espetáculo ridículo, pois rapidamente passaram a espalhar as fake news de que os invasores seriam antifas (anti-fascistas) infiltrados.
Um dos caras vestia roupa que dizia "Camp Auschwitz" na frente e "Equipe" atrás. Outro ostentava a marca "6MWE", sigla para "seis milhões não foram suficientes", em referência aos judeus mortos pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Antifas, sei! Nazistas muito bem assumidos, que às vezes preferem ser chamados de QAnon e MAGA (Make America Great Again).
Como eu disse em entrevista à revista Marie Claire, "Mais do que uma investida contra a democracia, as cenas filmadas durante a invasão mostram a explosão do machismo enraizado na sociedade. Eram imagens de puro machismo feitas por homens misóginos, em prol de um homem misógino. Símbolo de misoginia, que Donald Trump sempre foi".
O Trumposo, ao notar que havia comandado um dos episódios mais anti-democráticos da história dos EUA, mandou que os terroristas voltassem pra casa. Ao mesmo tempo, deixou evidente que iria continuar liderando grupos supremacistas arianos: "Isso representa o fim de um dos melhores primeiros mandatos presidenciais e é apenas o início da nossa luta para devolver aos EUA sua grandeza". Hoje o Congresso confirmou a vitória de Biden.
E sabem quem mais estava lá, taking notes (fazendo anotações)? Pois é, Eduardo Bolsonaro, vulgo Dudu Bananinha, acompanha tudo de perto em Washington, a convite da Ivanka Trump. Convidado especial de um workshop para 2022 e 23.
Em declaração a seus seguidores no cercadinho, o pai de Dudu, seu Jair, presidente de uns 57 milhões de otários,
declarou que a falta de confiança nas eleições levou "a este problema que está acontecendo lá" e que no Brasil, "se tivermos voto eletrônico", em 2022 "vai ser a mesma coisa", ou "vamos ter problema pior que nos Estados Unidos".
Nenhuma novidade pra quem já disse que houve fraude até nas eleições de 2018, em que ele ganhou de lavada (com um monte de governadores e senadores que ninguém tinha ouvido falar sendo eleitos). Assim, Bolso deixa claríssimo seu plano para 2022: se perder, vai alegar que houve fraude nas urnas eletrônicas. Se ganhar, talvez incentive seus neonazis amestrados (e bem armados) para dar um golpe do mesmo jeito, pra ter total controle do legislativo e do judiciário.
Não resta qualquer outra alternativa: temos que tirar esse crápula do poder JÁ! Ele já tem todo o roteiro prontinho pro ano que vem.
E vale lembrar como foi a administração Trump, que é tão representativa da extrema direita de todo o mundo, principalmente no Brasil: é um governo que começou com Charlottesville e acabou com a invasão do Capitólio.