Agora, por que alguém em sã consciência viveria no Alasca? Ainda mais numa vila em que o sol não dá as caras durante um mês? Eu até empatizo com o pessoal, mas começo a pensar se todos nós que nos sujeitamos a temperaturas desumanas não merecemos mesmo virar comida de vampiro. Enfim, “30 Dias” parte de uma idéia interessante, embora a realização seja bastante ridícula. Pra mim, seria mais instigante se fizessem algo do tipo “Insônia”, falando dos males causados por morar isolado num lugar escuro. Na trama até mencionam que a venda de alcóol fica proibida durante o mês, pois o pessoal já têm problemas suficientes sem perder o juízo. Imagina que legal seria se os vampiros fosse meras alucinações dos habitantes ... Mas claro, seria um outro filme. Um melhor.
Do jeito que tá, “30 Dias” deixa o terreno prontinho pra uma sequência (que deve se chamar o quê, “60 Dias de Escuridão”?), sem se preocupar em esclarecer qualquer regra. Tudo bem, dá pra compreender que o terror considera estaca no coração algo do passado, e que o quente hoje é cortar cabeças a machadadas. No entanto, o modus operanti dos vampiros fará com que eles passem fome, tadinhos. Eles matam quase todo mundo na cidade imediatamente. Não sei se eles têm a opção de matar as vítimas e deixar que a temperatura ambiente conserve a refeição. Eles podem comer comida congelada? Em “Entrevista com o Vampiro” não podia. Tinha que ser uma presa viva. E tampouco tá bem explicado como se dá o contágio. Basta uma mordida? “Extermínio” foi mais inteligente quando lidava com zumbis. Uma gotinha de sangue infectado no olho de alguém já era morte certa. Em “30 Dias” usam até seringa. Ah, e já que é pra criar novas regras, que tal alterar o jeito vampirístico de beber sangue? Por que não usar um humano como se fosse uma jarra? Usam como se fosse um bebedouro.
Outra dúvida cruel: quem inventou esse tipo de edição? Sério, não dá pra ver nada. E, apesar d'os vampiros serem super rápidos pra agir, pra falar eles são bem lerdinhos. Inclusive, nenhum deles tem muito a dizer, a não ser o Danny Huston, o líder, que curva a cabeça antes de proferir qualquer palavra e repete sempre o mesmo vocábulo: Shakara shakara shakara. As legendas traduzem como querem. O Danny diz Shakara e a legenda: “Acabem com eles”, ou “As coisas em que vocês acreditam são bizarras” ou “Devíamos ter invadido aqui antes”. Se Esperanto fosse assim tão fácil! Mas nem todos os vampiros dominam o Shakarez. Numa hora uma menininha é vista de costas, e a gente sabe que boa coisa ela não tá fazendo. Daí ela vira e diz, em inglês: “Cansei de brincar com este aqui”, e sua boca tá cheia de sangue. Só que a guria é tão má atriz que declama sua linha de forma exagerada, estragando a cena inteira. Ok, pode ser que a Dakota Fanning não estivesse disponível pro papel, mas não tinha ninguém menos pior? Em seguida a garotinha se agita mais que a do Exorcista enquanto girava a cabeça. Machadada nela!
Infelizmente não podemos ficar com os vampiros que falam Shakarez mais tempo, provavelmente porque americano não atura filme com legenda. Então somos apresentados aos humanos chatinhos da história. Os principais são um casal de xerifes interpretados pelo Josh Hartnett (de “Pearl Harbor”, mas posso estar enganada. Costumo confundir o Josh com o Ashton Kutcher. Juro que não sei distinguir um do outro. Qual é casado com a Demi Moore?) e pela Melissa George (de “Turistas”). No início eles estão de mal, mas a gente sabe que no fundo eles se adoram. É tão meigo como o amor floresce no meio de tanta carnificina. Se eu e o maridão brigarmos, espero que monstros invadam nossa cidade pra gente reacender a chama da paixão. Sempre desconfiei que esse troço de terapia de casal não tá com nada. Problemas conjugais? Tranque os pombinhos briguentos numa vila sem sol e jogue uns draculinhas pra temperar. Se o casal sobreviver, vai ser amor eterno.
P.S.: Só pode ser piada “30 Dias” mencionar o Bela Lugosi. Imagino a tribo de adolescentes ouvindo esse nome e falando “Bela quem?”. Eles não tavam nem vivos na época do “Ed Wood”.
P.S.2: A direção de “30 Dias” é do David Slade, que se saiu muito melhor em seu primeiro filme, “Hard Candy” (aquele que levou o título tolinho de “Menina Má.com”). “Candy” não só é um ótimo e polêmico suspense sobre pedofilia, como merece ser (re)visto agora que a carreira de sua protagonista tá indo de vento em popa. Refiro-me a Ellen Page. Andam falando até em indicação ao Oscar pra ela por “Juno”.
P.S.3: Essa nota não tem muito a ver com nada, mas... Um apresentador/comediante da TV americana, o Stephen Colbert, que é hilário, foi entrevistar um jornalista/ativista ecológico que avisou: “O planeta corre perigo”. E o Colbert: “Quando você fala isso, você quer dizer o Planeta Terra? E como esse perigo poderia afetar o Planeta América?”. Então, quem sabe, com o aquecimento global, todo o Alasca derrete e os habitantes não precisam mais enfrentar um mês de escuridão? O lado negativo é que todos nós fritaríamos, sem o gelo pra conter os raios solares. Mas é um preço pequeno pra se pagar pra nos vermos livres de filme de terror medíocre passado no Alasca.
2 comentários:
Lolinha, Lolinha. Tu sempre me fazendo rir com as tuas crônicas sobre as "pérolas hollywoodianas". Só rindo mesmo, né? Desde que eu me tornei leitor das tuas colunas no Jornal A Notícia, e lá se vão mais de cinco anos, que eu não me irrito mais com as presepadas hollywoodianas, pelo contrário, eu fico imaginando como serão os teus comentários e já começo a rir por antecipação, ah ah ah ah. Tens que ir pra SET, Lola, daí o time naquela revista vai ficar completo. Um abraço titânico. William, de São José/SC.
William dos abraços titânicos, obrigada por me avisar no orkut que vc tinha postado um comentário aqui, ou não iria ver. Fico muito feliz que vc continue sendo meu leitor fiel. Se a SET me fizesse uma proposta, eu a analisaria com prazer... Faz tempo que não leio a revista, mas acho que ela tem medo de falar mal dos filmes. E, como vc sabe, eu não tenho!
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