quarta-feira, 23 de março de 2022

SERVIÇO SECRETO DOS EUA APONTA QUE INCELS SÃO PERIGOSOS


Um relatório do Serviço Secreto dos EUA mostra que tudo o que eu (e muitas outras feministas) venho falando sobre incels é a mais pura verdade: eles não são garotinhos inofensivos. São terroristas.

Incel, pra quem ainda não sabe, é abreviação para "celibatário involuntário", o popular virjão. Na realidade, são homens que odeiam mulheres e nos culpam por todos os seus (muitos) fracassos.

O estudo de 26 páginas do Serviço Secreto analisou quatro ataques terroristas: um de julho de 2020, em que o filho de uma juíza foi assassinado na porta de sua casa; um de novembro de 2018, em que duas mulheres foram mortas numa aula de ioga na Flórida; um de abril de 2018, em que onze pessoas (9 delas mulheres) foram mortas e 15 feridas, atropeladas por uma van; e um de maio de 2014, cometido por Elliot Rodger, que matou 6 e feriu 14 em Isla Vista, Califórnia. Em todos os quatro casos, os assassinos eram incels.

Não existe um perfil definido de um indivíduo que planeja ou executa um ato de violência (nesses quatro casos, a idade dos assassinos ia de 22 a 72 anos; todos são homens, óbvio; três são brancos, Rodger era mestiço -- a mãe dele nasceu na Malásia). O que eles têm em comum, segundo o estudo, é "um conjunto de comportamentos preocupantes antes de cometerem atos de violência". 

No caso de 2020, um advogado antifeminista e ativista pelos direitos dos homens se disfarçou de um entregador do FedEx e bateu na porta da juíza Esther Salas, que ele andava stalkeando. Atirou e matou o filho (adulto) da juíza, e depois se matou. Ele achava que a masculinidade corria sério perigo nos EUA e pedia uma "revolução". 

No caso do homem de 40 anos que abriu fogo numa aula de ioga e se matou em seguida (muito parecido ao que outro incel, George Sodini, fez em 2009), havia vários avisos de que ele poderia cometer um massacre.

Foi militar, demitido de diversos empregos, expulso
de bares e prédios, e foi preso três vezes por assediar mulheres em público. Teve que ser tirado da festa de aniversário de sua sobrinha ao tocar meninas. Na infância, seus pais dormiam com a porta trancada com medo do que ele poderia fazer. Desde a adolescência, o assassino já stalkeava colegas na escola. Numa fantasia de vingança de 81 páginas que escreveu sobre um garoto que vira serial killer, as vítimas eram aquelas alunas do ensino médio. Entre os colegas de quarto ele era chamado de Ted Bundy. Nas redes sociais, era o nazi. O recado que deixou antes de cometer seu massacre: "Se eu não posso encontrar uma fêmea decente pra viver, vou encontrar muitas fêmeas indecentes para morrer". 

Os dois outros casos são muito mais famosos. Elliot Rodger foi de fato quem popularizou o termo incel, ao escrever um longo manifesto se queixando de continuar virgem aos 22 anos (antes dele, o termo mais usado para definir mascus em inglês era MRA, ou Men's Rights Activist, ativista pelos direitos dos homens, o que engloba MGTOWs -- homens trilhando seu próprio caminho, que pregam a separação das mulheres --, e PUAs -- pick-up artists, ou artistas da sedução, que prometem sucesso sexual para homens frustrados). O passatempo de Rodger era parar seu carrão (seu pai era rico) em praias e praças da cidade californiana e se enraivecer ao observar mulheres brancas namorando homens não brancos, em vez de namorarem um cara bonzinho como ele. 

Alek Minassian, que dirigia a van em Toronto em 2018, também deixou uma mensagem antes do seu massacre: "a revolução incel já começou". Ele era um grande fã de Elliot Rodger. Aliás, é ainda, porque, ao contrário dos outros, Minassian está vivo. Ele tentou o que chamam de "suicide by cop" ("suicídio pela polícia"), mas não conseguiu. Está preso e, no julgamento, a juíza jogou pra escanteio sua defesa de "sou autista, eu não sabia o que estava fazendo". Sua sentença definitiva vai sair este ano. 

O estudo identificou alguns temas entre incels que podem servir de alerta: dificuldade de interação, história de bullying, instabilidade financeira, fracassos pessoais, e, principalmente, incapacidade de estabelecer relações pessoais com mulheres. Ideologicamente falando, os assassinos dos quatro casos eram todos antifeministas e acreditavam que o mundo é dominado pelas mulheres, além de serem de extrema-direita. É como eu sempre digo: nesses onze ou doze anos em que sou atacada por mascus, nunca conheci um que fosse de esquerda. Não que homens de esquerda não possam ser misóginos, mas pra atingir esse nível de misoginia organizada, em grupo, tem que ser de direita. Há muitos outros estudos que mostram conexões indeléveis entre mascus e supremacistas brancos. 

O Serviço Secreto do EUA lida mais com a proteção de seus presidentes, mas também examina ameaças terroristas. A agência observou que a misoginia não está apenas por trás dos massacres, mas da maior parte dos atos de violência, como stalking e violência doméstica. Como tal, a resposta para essas ameaças deve ser uma colaboração entre as polícias, as cortes, e ativistas que combatem violência e grupos de ódio.

Aqui no Brasil, a supervisão de grupos de ódio pela polícia começou a dar alguns resultados. Só em maio do ano passado, cinco massacres em escolas conseguiram ser impedidos a tempo. Demorou, mas as autoridades finalmente passaram a ver incels como os terroristas que são. Não foi por falta de aviso. 

3 comentários:

Anônimo disse...

Sabe de nada, e ainda culpa as vítimas ou você acha que involuntário é o que?

Zeni disse...

Super esclaredor Lola..acompanhei alguns destes casos nos jornais, mas desconhecia essa leitura desses Incels obrigada por relatar..

kay wilbury disse...

Agora que o Serviço Secreto Americano concluiu o que a gente já sabia, tomara que isso passe a ser tratado como questão de segurança, com a seriedade que merece.