sábado, 30 de novembro de 2002

CRÍTICA: 13 FANTASMAS / Visões do inferno

Este foi um fim de semana de muitos sustos. Susto 1: não estreou nada que prestasse. Sem chance que eu vá ver um filmeco com escorpião no título, estrelado por uma montanha que deve ser tão bom ator que leva o sugestivo nome de "A Rocha". Na publicidade, eles têm coragem de colocar "dos criadores de 'A Múmia'" pra servir de chamariz. Tô fora! Ainda na linha "vou dá porrada", chegou também um chinês com artes marciais. Chinês com lanternas vermelhas nunca passou na minha cidade, mas basta qualquer carinha fitar a câmera e dar gritinhos histéricos enquanto distribui golpes pra ganhar as salas daqui. Ai, ai. Depois tem leitor que me implora pra ver "Cidade dos Sonhos" pra ver se entendo alguma coisa. Eu gostaria. Mas sabe quando que um filme do Lynch estreará aqui? Nunca! Distribuidoras, provem que estou errada, pelamordedeus. Tá, susto 2: estas são as produções boas passando nos EUA. O mês de férias escolares deles só começa em maio. Por enquanto, com as crianças nas aulas, o cinemão manda filmes adultos como... "Escorpião-Rei", ou qualquer coisa que pica. Logo, na total falta de opção, fui prestigiar "Os 13 Fantasmas".

Este terror começa num ferro-velho de onde, aliás, nunca deveria ter saído. Rapidinho vai pra uma mansão modernex cheia de vidros com frases escritas em latim. Vai por mim: a história não importa. Quer dizer, há uma família composta por pai, filha adolescente, gurizinho e babá, que herda uma casa. Casa em filme de horror é mal-assombrada, então prepare-se pra um desfile de mostrengos mal-encarados. A vantagem é que eles entram mudos, saem calados, e não assustam nem uma mosca, mas desconfio que a intenção não era essa. Aí chega uma hora que uma mulher diz pro pai: "Esta casa não é uma casa. É uma máquina". Não, querida, é uma geringonça. E está em vias de expor o olho do inferno. Olha, seja lá o que for, não pode ser pior do que já está na tela.

A filha moça tem sorriso Colgate e o exibe nas horas mais impróprias. Até seus berros são calculados pra mostrar o máximo de dentes brancos. Não sei o nome da atriz. Imagino que deve ganhar uma grana preta na TV. Não adianta me mandar email dizendo que ela é famosa, porque não vou acreditar em você. E o menino que anda de patinete só pra provar que o diretor deste terror morto-vivo viu "O Iluminado"? Felizmente, ambos somem depressa. Os filhos já foram pra Seção de Achados e Perdidos e tem mais de uma hora que ninguém os menciona, quando o pai exclama: "Não paro de pensar neles". Ah, sim, deu pra notar.

Há também o mistério do fotograma perdido. Sinta o drama: um cara tá encurralado entre paredes de vidro, enquanto a babá, de óculos, o ensina a esquivar-se de um gasparzinho. De repente, corta pro cara lá fora e de óculos. Este, aliás, é o único momento existencial do filme: você preferiria ser retalhado usando óculos especiais para poder enxergar seu algoz ou sem ver nadica de nada? Não que "13 Plufts" levante esta hipótese. A produção alma-penada está mais empenhada em fazer com que a babá imite a Whoopi Goldberg em "Ghost". Há várias gracinhas, mas qual a probabilidade de uma pessoa correndo risco de vida afirmar: "Droga! Acabei de pintar as unhas!"? Numa afirmação engraçadinha, mas creio que involuntária, a Whoopi pergunta: "Isto é metade do advogado?".

Se eu soubesse latim, poderia jurar que uma das escrituras no vidro continha a palavra "otária". Ia tomar isso como uma ofensa pessoal quando decidi centrar toda minha atenção no Matthew Lillard. O rapaz é um dos vilões de "Pânico" e ele tem muitos dentes, mais ainda que a estrelinha da TV. Este jovem de olhos arregalados é hiperativo, grita, se descabela, e, pelo bem ou pelo mal, acaba roubando o filme. É mais histriônico que os efeitos especiais.

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