quarta-feira, 27 de novembro de 2002

CRÍTICA: RAINHA DOS CONDENADOS / Boemia, aqui me tens de regresso

Não digo mais "desta água não beberei". Não é que nessas bandas só estreou o mais inovador desenho animado da temporada? Pois é, como conheço essa ladainha de "revolução na animação" de cor e salteado, acabei indo prestigiar "A Rainha dos Condenados" – que nem é tão ruim, por sinal. Opa, antes de fazer outros comentários categóricos como este, deixe-me lembrar sobre o que era o filme. Ah, sim. O Lestat de "Entrevista com o Vampiro" volta aqui mais alto e mais magro, já que, desta vez (ó decepção), ele não é interpretado pelo Tom Cruise. Quem o incorpora é um perfeito anônimo. Paradoxalmente, o Lestat desta versão aparenta ser ainda mais famoso que o Tom. Ele é um vampiro cansado das trevas que, pra se tornar superstar, junta-se a um grupo de rock e canta revelações. Não entendi por que, nas telas, um astro da música declarar-se vampiro causa surpresa. Pra mim, o surpreendente seria descobrir que um desses sujeitos branquelas dos hit parades não gosta de beber sangue nas horas vagas, quando não está sacrificando morceguinhos no palco.

Óbvio que recomendo "A Rainha dos Congelados" a toda tribo gótica, que se sentirá representada. O que dá de gente trajando couro e correntes não é brincadeira. A música tocada é para ser consumida com ecstasy. Pra uma careta como eu, quase causou dor de cabeça. Aliás, o filme mostra como, para a abelha-rainha dos sanguessugas, a raça humana inteira é tão desprezível que só serve para ser alimento de seres superiores. Nunca me senti tão comida de vampiro antes. Só acho que eles deveriam tomar cuidado com o colesterol.

Tanto "Rainha" quanto "Entrevista" são baseados nos romances de Anne Rice. Incrível é que uma superprodução como "Entrevista" seja mais ousada, mais gay, que uma película baratinha dessas. "Rainha" é mais andrógina do que homo. Sai o Louis do Brad Pitt, entra um tal de Marius. Marius? Que Marius? Aquele do armarius?

Uma cena em particular é representativa do showbiz. O vampiro pop coloca uma tiete contra a parede e comanda: "Fale de mim!". É o assunto preferido dele, lógico. Isso me lembrou algo proferido pelo Marlon Brando. Algo do tipo "nós astros somos caras que, se você não estiver falando de nós, não estamos escutando". Se esta regra se aplica às celebridades mortais, imagine como são as imortais.

A rainha vampira tem um sotaque estranho e é conhecida por Abakasha, ou seria só Akasha, então não dá pra levá-la a sério. Ela surge primeiro como estátua e mais tarde transforma-se em carne e osso, mas a interpretação da atriz não faz distinção entre os dois estágios da personagem. Bom, pelo menos ela é mais bronzeada e dança melhor que seus amiguinhos de dentes caninos afiados. A moça encara a humanidade como se fosse um enorme buffet a seu dispor e comenta com o amante: "O mundo é o nosso jardim". Não é bonito isso? Imagino que o Bush também acorde assim todo santo dia e diga isso pra mulher dele, como é mesmo o nome? Bárbara é a mãe, né? Milly é a cadela? Desculpe a amnésia repentina. Melhor parar de fazer alusões entre o presidente dos EUA e parasitas sugadores de sangue. Da última vez que fiz isso, um leitor achou ridícula a analogia. Suas palavras textuais: "Bush? Vampiros? Qual a ligação, sua estúpida?". Aposto que ele não lê as páginas econômicas. Tal qual o Bush, a majestade pretende esgotar os recursos naturais renováveis – o homem, no caso.

No entanto, há outros vampirinhos menos afoitos para impedi-la. Curioso eu assistir a "Rainha" ao mesmo tempo em que se dá minha iniciação ao ótimo "Buffy, A Caça-Vampiros". Parece que existe uma overdose desses seres boêmios hoje em dia. Mas não entendo esta sedução do sangue. Os rapazes do filme vêem o líquido vermelho e babam. Agora, quando eu estou menstruada, o maridão não me dá nem bom dia.

O problema de "Condenados" é que ele não assusta nem uma mosca. Tudo bem, vivemos épocas difíceis. O verdadeiro filme de terror pros nossos dias seria "Entrevista com o Banqueiro". Ou talvez eu que esteja velha demais pra viver pra sempre.

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