Graças ao bom Deus, Frida não é irmã do Frodo, aquele que é froda. Frida Kahlo foi uma artista mexicana que morreu em 1954 aos 47 anos, jovem ainda, provavelmente de uma overdose proposital. Ano que vem vai fazer meio século que ela partiu dessa pra melhor, então aguarde festejos. A mulher é importante. Hoje ela meio que virou um ícone pop, um símbolo das feministas, e suas pinturas são vendidas por uma dinheirama. Isso explica porque havia tanta gente interessada em filmar sua história. A Madonna, que coleciona quadros da artista e que, como ela, é mestre em promover sua imagem, foi uma. Outra foi a Jennifer Lopez. Felizmente, os direitos ficaram com a também mexicana Salma Hayek (de “Um Drink no Inferno”). “Frida” é o projeto da sua vida. Ela não só estrelou (e foi indicada ao Oscar) como co-produziu o filme, levantou dólares, reuniu amiguinhos famosos pra fazerem pontas de graça (Antonio Banderas, Geoffrey Rush, Ashley Judd) e pediu a ajuda do namorado pra reescrever o complicado roteiro. O namorado dessa gente nunca é um zé-ninguém. No caso da Salma é o Edward Norton, sabe como é (que também dá as caras no filme). O resultado é uma cinebiografia, como não podia deixar de ser, mas superior a outras. Gostei mais dessa que de “Caravaggio”, “Pollock”, e “Os Amores de Picasso”, por exemplo.
Não que esses gênios tenham sido tão diferentes entre si. São todos egocêntricos, temperamentais e atormentados. Frida talvez tenha tido uma existência ainda mais so-frida (trocadilho um) que os demais. O filme não mostra, mas ela teve pólio na infância, o que a deixou manca (quiçá por isso o sobrenome dela seja Calo? Trocadilho dois, e o último, juro!). Na adolescência – e isso o filme mostra bem – ela sofreu um terrível acidente de ônibus que quase a matou. Por causa disso, ela passou por mais de trinta cirurgias durante sua vida, gastou anos inteiros em hospitais, se acostumou com a dor constante e com as drogas pra aliviá-la. Tanto que ela é tida como uma heroína da dor. Com esse material, a diretora Julie Taymor (de “Titus” e “O Rei Leão” na Broadway) poderia ter realizado algo pesadão, deprê, pra baixo. No entanto, ela preferiu enfatizar a alegria de Frida. Num lance inventivo, a pintora aparece nas próprias telas. O filme tá cheio de cactos, chihuahuas, bela música (inclusive a cantada por Caetano) e cores vibrantes. Aliás, da próxima vez que eu pintar minha casa, vou usar azul escuro nas paredes e vermelho-sangue nas portas, não esse discreto laranja-cheguei que adotei. Viva o México!
Frida foi uma moça que viveu intensamente. Bem cedo, ela conheceu o célebre pintor Diego Rivera, interpretado por um ator que adoro, o Alfred Molina (de “Chocolate”. Dizem que ele vai estar no “Homem-Aranha” do ano que vem). Diego era gordo, feio, e totalmente irresistível entre as mulheres. Teve um monte de amantes – Paulette Godard a mais superstar. Eram todos comunistas e boêmios. Numa das cenas mais legais, Diego vai pra Nova York pintar um mural pro Rockefeller. Quem ele coloca no mural do bilionário? O Lênin, lógico. Como ele se recusa a tirar a figura, o ricaço manda destruir a obra. Ele grita “É a minha pintura!”, o capitalista rebate com “É a minha parede!”.
Frida sofria com a infidelidade de Diego, mas ela teve tantos amantes quanto médicos. Entre eles, Trotsky e Josephine Baker. Gente famosa é fogo! Ainda por cima, ela morria de orgulho do bigode que tinha (retirado do filme). Então, não vale a pena ficar duas horas na companhia desta grande dama? Acho que vale.
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