“Encontro” nada mais é que uma adaptação de “Uma Linda Mulher” que, por sua vez, nada mais é que uma adaptação de “Cinderela”. Sai a prostituta que conquistará o homem rico, entra a camareira. Sai a Julia Roberts, entra a Jennifer Lopez. A cantora e atriz é tão respeitada nos EUA que seu apelido é J-lo, ou gelatina, e as resenhas sempre tratam do tamanho de seu bumbum. Mas eu não tenho nada contra a Jennifer. Achei que ela estava formidável ao lado de George Clooney em “Irresistível Paixão”, o ponto alto dos dois astros, e não se comprometia em “A Cela”. Só que a pobrezinha concorreu à Framboesa de Ouro no ano passado por este “Encontro” e por “Nunca Mais”, que nem é tão horrendo. Voltando à história, em “Encosto” a moça é camareira de um hotel de luxo e mãe-solteira. Ao vestir as roupas chiques de uma hóspede, ela chama a atenção de um político. E não é preciso ser um gênio com poderes mediúnicos pra saber como tudo termina, né?
O filme didático mostra que o único meio de ascensão social pras mulheres, e isso se elas forem jovens e belas, é se casar com um ricaço. A novidade é que o galã é um republicano, que só não se parece com um troglodita total a la Bush porque é interpretado por um britânico. Ralph Fiennes (“O Paciente Inglês”, “A Lista de Schindler”) é uma graça, mas não nasceu pra fazer papéis levinhos. E o ator-mirim que pegaram pra fazer o filho da J-lo está a anos-luz de um Haley Joel-Osment. Claro que a culpa não é só do ator, é também do personagem. Visualize: o garotinho aprende tudo sobre os anos 70 na escola e logo de quem ele vira fã? Do Nixon! Sua orgulhosa mãe mal pode esperar pra que ele estude a década de 80, quando, provavelmente, passará a idolatrar o Reagan e o Oliver North. Oh Deus, esse revisionismo histórico me mata. Se bem que tais mensagens retrógradas vêm amaciadas em muitas boquinhas e momentos Colgate. Meu preferido é quando um vigia suborna nossa heroína pedindo um beijo na bochecha, lógico, e a câmera corta pro guri sorrindo com a cara mais falsa do mundo. Que tenro! Opa! Mas a presença de uma criança não amolece seu coração? Não tem problema! Vamos tacar um cachorro em cena!
Tem pra todo mundo. Tem até a tradicional montagem com a J-lo provando inúmeros vestidos ao som de “I’m Coming Out”. Lembrou de “Pretty Woman”? Acertou! O pior é que esse veículo sob encomenda pro público feminino foi executado por um chinês que já teve algum prestígio em Hollywood, Wang Wayne. O carinha dirigiu “Sem Fôlego” e “Cortina de Fumaça”. Que decadência, hein, Wang?
Na saída, me dediquei a ouvir comentários alheios. Uma senhora que riu o tempo inteiro concluiu que “faltou conteúdo”. Outra acatou: “Não chegou lá”. Um rapaz falou pra namorada que “'Uma Linda Mulher' é mil vezes melhor. Tem o Richard Gere”. Mas eu nem estava prestando atenção. Pensava num livro que explica por que as massas não se revoltam – porque elas são persuadidas a se identificar com o opressor, uai. De repente, olhei pro rosto de uma velhinha e vi nele o melhor comentário sobre “Encosto”. Ela parecia em estado de choque.
Um comentário:
pô, vai assistir esse tipo de filme e quer que seja bom?
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