Antes do início da sessão, um cartaz explicava tratar-se de "uma comédia surpreendente". Hã, devo ter perdido alguma coisa. Surpreendente no quê? O que exatamente difere este filme das dezenas de outras comédias românticas feitas todo santo ano nos EUA? Vou tentar responder essa perguntinha. Imagino que "Casamento de Grego" seja surpreendente porque: 1) custou apenas US$ 5 milhões, e já rendeu quase 200 mi só na terra do Bush; 2) não conta com atores famosos; 3) não tem efeitos especiais. Terminaram as novidades. O resto é 100% convencional.
Pra não me acusarem de má vontade, qual a surpresa em ver uma infeliz descendente de gregos ficar mais bonita e arranjar um namorado? Ela encontra seu príncipe encantado, um legítimo Homem Perfeito cujo único defeito é não ser grego. A família dela é contra, mas não há problema. Ele pode se converter, virar grego através de um batismo, sei lá. Cá entre nós, você já viu este filme antes. Vale a pena ver de novo?
Depende. O público que coloca no carro adesivos do tipo "Eu amo minha família" certamente vai adorar. Pra mim, meio avessa aos lemas da TFP – Tradição, Família e Propriedade, ficou difícil engolir que uma mulher de trinta anos precise da permissão do pai pra namorar. Pô, será possível que a Revolução Sexual não serviu pra nada? Voltamos aos bons costumes dos anos 50? No filme, há um personagem que vive contando a origem de cada palavra. Bom, "casamento", se não me engano, vem do latim medieval. É uma invenção da Idade Média. Olha, eu acredito que toda panela tem sua tampa, sou apaixonada pelo meu maridão não-legalizado, e respeito as moças que sonham em usar véu e grinalda, mas depender de aprovação patriarcal na escolha da sua cara-metade é dose, né?
Dá pra sacar por que "Presente de Grego" fez sucesso nos States. Não é à toa que Bush, agora com maioria absoluta no Congresso e no Senado, seja capaz de implantar sua agenda ultra-conservadora. A moda lá é pregar a castidade entre os jovens. Mas não é só o moralismo da comédia que atrai. É que é engraçado rir dos clichês das outras culturas. Por mais que os gregos do filme tenham orgulho da sua origem, são as bandeirinhas americanas que pululam. O pai discursa algo como "Cheguei a este país com oito dólares", pra logo depois dizer: "Somos todos frutas". Alguém duvida?
Enquanto por lá o mega-sucesso prepara sua seqüência, por aqui o espectador brasileiro vai na onda. Tive uma amostra ao ouvir os comentários incessantes de três moças que sentaram ao meu lado. Por exemplo, aparece a mãe da nossa heroína e uma amiga fala pra outra: "Você viu os peitões dela?". Nas telas, os dois pombinhos vão avançando o sinal. Na poltrona, uma mulher adverte com um "Ih!". Surge a prima mais atrevida (sabemos disso porque ela usa decote) e a platéia feminina grita: "Ai, que descarada!". Não é surpreendente como o imperialismo ianque consegue agradar gregos e troianos?
Um comentário:
Minha mãe estava muito triste com o fim do casamento dela com meu pai, não pelo meu pai, mas ela ficou meio perdida depois que tudo que ela mais acreditava desmoronou (a ideia do casamento). Então pedi pra ver esse filme com ela, porque eu vejo muita força na personagem principal. Ela passa a se conhecer aos poucos e antes mesmo de conhecer o seu futuro marido, ela se transforma, pra ninguém além dela mesma. Apesar de todos os clichês grotescos, Toula toma conta da sua vida e se impõe, em alguns momentos, ao que é esperado dela. O que você acha disso?
Postar um comentário