Confesso que não gostei tanto assim de "O Invasor" como outros críticos. Numa pesquisa feita por profissionais, este que é o terceiro filme de Beto Brant foi eleito o mais importante da retomada do cinema nacional, ou seja, do período entre 1994 e 2002. Em segundo ficou "Cidade de Deus". Sem dúvida, "O Invasor" é marcante, e a imagem do ex-Titã Paulo Miklos não sai da minha cabecinha. É um retrato fiel da luta de classes em Sampa, mas é também um pouco redundante. Tem cenas sobrando que não contribuem muito com a história. Talvez eu tenha gostado mais de "Matadores" e "Ação entre Amigos", os outros do Brant. Ou talvez, depois de tanto oba-oba, eu estivesse esperando mais de "Invasor", e tenha ficado um tantinho decepcionada. Mas é uma obra altamente recomendável e que se tornou mais atual ainda depois do assassinato do rapper Sabotage, que compôs boa parte da trilha sonora do filme.
"Amores Brutos" ("Amores Perros" no original; "perro" é cachorro), de Alejandro González Iñárritu, é bem mais longo que "Invasor", e, pra mim, mais inesquecível. São três histórias terríveis envolvendo cães, amor e ciúmes. A primeira trata com grande realismo as rixas de cães, e eu só sosseguei depois de ver nos créditos finais o aviso de que nenhum animal foi ferido durante as filmagens. É até difícil de acreditar. Gael García Bernal, o nome mais repetido do cinema mexicano de hoje (ele está em "O Crime do Padre Amaro", outro que vai passar longe das telas daqui), é o protagonista da primeira história. Na segunda, muda-se o foco completamente pra mostrar uma modelo que tem um acidente. No último, um andarilho é contratado para matar um cara rico, mais ou menos como em "O Invasor". As três tramas vão se unindo à la "Pulp Fiction", numa competição insana pra ver qual me arrancava mais lágrimas. Mas "Amores" não tem nada de sentimental. Nada das novelas mexicanas que vez por outra invadem o SBT. "Amores" é forte como café amargo, e sabe quando ia ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro a que foi indicado no ano passado? Nunca. É chocante demais pro gosto comum dos votantes da Academia.
Outro que deixa um gosto ruim é "Réquiem para um Sonho". Mais distante do cinema de entretenimento de massas de Hollywood, impossível. Em linhas gerais, "Réquiem" fala de vícios. Ellen Burstyn (lembra dela em "O Exorcista"?) é a mãe de um viciado em heroína que namora outra viciada, Jennifer Connelly (que levou o Oscar de coadjuvante por "Uma Mente Brilhante"). Ellen também se vicia, primeiro em televisão, mais adiante em pílulas para emagrecer. E tudo acaba excepcionalmente mal pra todos. O vício não compensa, a gente já sabia disso, mas "Réquiem" está estupidamente bem-filmado, cheio de ângulos inovadores e uma edição pulsante. Não pense que digo isso só porque o sobrenome do diretor (Darrren Aronofsky) é lindo. Não. "Réquiem" tá lotado de cenas inolvidáveis, e pode ser que minha preferida seja aquela em que a Ellen vai ao médico – que nem sequer olha pra ela. Quem já passou por isso, levante a mão. Um de cada vez, por favor.
Pois é, se você, como eu, anda cansado das coisas horrendas que ficam em cartaz por semanas a fio, tirando o lugar de filmes mais densos e inteligentes, agradeça aos céus pela invenção do vídeo e do DVD. E pegue essas obras que fazem pensar. Afinal, quem não tem cão caça com gato, né?
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