quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CRÍTICA: BRAVURA INDÔMITA /Tapa-olho e atriz anônima

Atriz que não é nem mencionada no poster e o Matt Damon

Agora que vi o trailer para poder me lembrar alguma coisa sobre Bravura Indômita e escrever sobre o troço, ele me pareceu melhor. Eu realmente não gostei do filme, e olha que sou fã de carteirinha dos irmãos Coen. Ri um monte com Queime Depois de Ler, acho a primeira metade de Onde os Fracos Não Têm Vez brilhante (a segunda parte não gosto nadinha, mas a culpa é do romance); amo Fargo de paixão; adoro o ritmo esquisitão de Arizona Nunca Mais, e por aí vai ― isso só pra citar meus preferidos. Pra falar a verdade, não tem alguma obra dos dois que eu não goste. Quer dizer, Matadores de Velhinha e Na Roda da Fortuna eu considero dispensáveis, e o primeiro filme deles, Gosto de Sangue, me dá sono. De todo jeito, Bravura entra como o único filme deles que não me cativou.O que é estranho, porque parece ser o maior sucesso de bilheteria que eles já tiveram. O filme foi muitíssimo bem recebido por crítica e público, está concorrendo à uma penca de Oscars ― pelo jeito a anomalia sou eu. É que definitivamente não vi nada de mais nele. Nada da originalidade dos Coens. Apenas um western convencional, tudo que já vi em três episódios da série Deadwood. Convenhamos, se não estivesse escrito lá, em letras garrafais, que é um filme dos Coen, a gente jamais desconfiaria, né? Podia ser de qualquer um. E na realidade, por ser uma refilmagem (os Coen geralmente produzem seus próprios roteiros originais), dá essa sensação de ser tão não-autoral.
Devo dizer que nunca vi o clássico de 1969 com o mesmo nome, que deu o Oscar de melhor ator ao lendário John Wayne. E certamente o remake dos Coen não me deixou com vontade de vê-lo. Aliás, fiquei foi com vontade de ver um documentário lançado no ano passado, Reel Injun (trocadilho entre real e reel, que é bobina de filme, e Injun é como os cowboys americanos dizem Indian), sobre a representação criminosa ― da qual John Wayne tem destaque especial ― que Hollywood sempre fez dos índios. Se bem que li que metade do documentário se dedica a falar mal de um filme que gosto muito, Dança com Lobos. Mas vou ver o doc e volto aqui pra contar pra vocês.Sobre Bravura de 2010, nenhum ator me chamou a atenção. Levei meia hora pra reconhecer o Matt Damon. O papel do Jeff Bridges não parece difícil de fazer ― é de um bêbado com tapa-olho falando enrolado. Os holofotes sobram mesmo pra Hailee Steinfeld, uma menina de 14 anos que faz Mattie, o fio condutor da história. Ela contrata o Jeff, e depois o Matt, pra capturarem o Josh Brolin, empregado de seu rancho e que matou o seu pai. E a trama é essa, os três cavalgando por aí, brigando entre si e encontrando alguns fora-da-lei pelo caminho, até chegar a um desses finais absurdos cheios de coincidências em que tudo acontece ao mesmo tempo. E nesses westerns eu sempre fico com pena dos cavalos.
Por um lado é interessante que Mattie seja uma personagem forte, mandona, decidida. Isso é raríssimo de ver, e gostei principalmente da negociação dela com o velhinho no começo (embora seja uma cena um tantinho longa demais). Por outro lado, não achei a personagem muito bem desenvolvida. Por exemplo, ela fala pouquíssimo da família e não há ameaças sexuais contra ela, o que, se já soaria incomum nos dias de hoje, imagine no século retrasado, numa terra de ninguém como era o velho oeste. Agora, não há a menor dúvida que ela é a protagonista: é ela que narra a história, que une os demais personagens, que movimenta os conflitos, que aparece em quase todas as cenas, certo? Errado. Vejamos o poster. Nenhuma menção à atriz. No Oscar deste ano, ela tá concorrendo ― à atriz coadjuvante! Hã, como assim? Ela é coadjuvante de quem? Do tapa-olho do Jeff? Acho injusto com as outras indicadas à coajuvante que elas estejam disputando com a atriz principal de um filme. E parece desonesto, e até machista, não reconhecer que ela é a protagonista inquestionável de Bravura.Faroeste é um gênero eu eu gosto, porque tenho curiosidade em saber como as pessoas viviam (principalmente os homens; havia poucas mulheres naquelas bandas). O tema da fronteira americana também me interessa, assim como a representação dos índios. E o revisionismo histórico de Imperdoáveis, que desconstrói toda a mitologia em torno do cowboy, eu acho fascinante. E, assim, nenhum desses temas foi explorado por Bravura. O que me deixa morrendo de desejo de rever (e finalmente escrever sobre) Era uma Vez no Oeste.

19 comentários:

Carina Prates disse...

O que? Atriz coadjuvante? Não creio. OO

Roberta disse...

Por falar em ameaça de estupro,Lola,da uma sacada nessa matéria:


http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/02/110216_jornalistaataque_is.shtml

Anônimo disse...

Ela concorrer como coadjuvante é pura estratégia, pois deve ter acreditado que não teria chances como principal. Não é machismo não, gente.

Valéria Fernandes disse...

Vou assistir hoje... É a segunda crítica de gente que eu gosto de ler/ouvir que critica o filme. Motivos diferentes, claro.

Mas a tal explicação para ela estar concorrendo à coadjuvante é mais etéria que machista: acredita-se (*sim, até que alguém quebre a regra*) que adolescentes e crianças JAMAIS ganharão um oscar como protagonista.

Pela sua crítica e a do maurício Saldanha, Jeff Bridges está fora. Colin Firth não precisa se preocupar com ele. Falta o Javier... :P

Niemi Hyyrynen disse...

Lola,

Desculpa a perunta,mas vc queria ver uma cena de estupro ou de uma tentativa de, só para vc dissertar sobre? Pois parace que foi isso que vc deu a entender...desejar uma cena dessas para apontar o dedo e dizer "o lá tá vendo? eu não falei !?"

Uma cena de estupro me parece totalmente fora de contexto, não há necessidade naquela narrativa.

Além do que, na cena que o cowboy texano da umas palmadas na bunda da Mattie, já me parece uma cena de abuso suficiente, pois ele se acha no direito de homem de dar uma "lição" pra garota.

Do resto, adorei o filme! Torcendo muito para que ele leve uns oscars...

Luma Perrete disse...

O filme não é um remake. É baseado no livro que originou o filme do John Wayne, então seria uma nova versão.

Li que ela concorreu ao Oscar como atriz coadjuvante para ela ter mais chances de ganhar, que no Globo de Ouro ela perdeu porque concorreu como atriz e tal.

Enfim, ainda não vi o filme e não sou muito fã do gênero.

lola aronovich disse...

Roberta, não é terrível? Horrível essa notíca da repórter da BBC. Vi ontem. E hoje li um artigo dizendo que, com a revolução, o assédio sexual diminuiu no Egito. Pessoas em grupo são sempre perigosas Vira turba mesmo.


Anônimo e Valéria, pois é, eu sei: atores e atrizes iniciantes, novinhos, novatos, geralmente são indicados a coadjuvantes. Mas eu acho estranho que o estúdio possa escolher. Deveria haver regras mais claras. A decisão é do estúdio. Ele que decide como vai fazer a campanha, se vai pedir pra que a Academia vote na pessoa pra principal ou pra coadjuvante. E certamente a Hailee tem mais chances como coadj que como principal, mas ainda assim eu acho injusto pras outras coadjuvantes que realmente são coaj. Lembram da Anna Paquin em O Piano? Claramente coadj. E ganhou. (e a Holly Hunter, que faz a mãe dela, ganhou pra principal). Em Thelma & Louise e Laços de Ternura as duas mulheres de cada filme foram indicadas pra atriz principal pq, realmente, uma não é coadj da outra.
E Valeria, Jeff Bridges não tem nenhuma chance mesmo. Além do papel não ser grande coisa, ele ganhou no ano passado.

lola aronovich disse...

Niemi, imagina se vou torcer pra ver alguma cena de estupro num filme! Imagina se vou torcer pra alguma coisa horrível acontecer pra eu poder dizer “Não disse? Não disse?”. Não, o que eu quis dizer é que imagino que, naquele contexto (menina de 14 anos sozinha numa terra sem lei), estupros deveriam ser bem comuns. A gente sabe bem com que idade começa o assédio sexual, e em geral é bem antes dos 14. Se é assim hoje, penso que em 1850, quando a expectativa de vida era muito mais baixa e as mulheres se casavam mais cedo, era ainda pior. Foi por esse motivo que estranhei a ausência desse tema no filme. Imaginei que haveria algum tipo de ameaça no ar pra uma menina de 14 anos. E aquela cena do Texas Ranger dando palmadas, eu achei que foi bem o contrário: ele quis dizer pra ela que ela é uma criança.


Luma, pois é, o filme é baseado no livro de 68 que originou o filme de 69. A menos que o filme de 69 seja muito diferente do livro, pra mim é um remake.

Anônimo disse...

"Desculpa a pergunta,mas vc queria ver uma cena de estupro ou de uma tentativa de,só para vc dissertar sobre?Pois parece que foi isso que vc deu a entender...desejar uma cena dessas para vc apontar o dedo e dizer?"o lá tá vendo?Eu não falei!?".

Não entendi porra nenhuma.

Anna Steiner disse...

Lola, fugindo do assunto do post, gostaria de deixar aqui indicada a babaquice, racismo, classismo e ignorancia que assolam a internet sob a pecha de "humor"

http://www.pimentanoteuerefresco.com.br/2011/02/os-25-novos-sintomas-da-pobreza.html

Da-lhe crasse media way of life, que tristeza morar num pais onde tirar sarro de gente que passa necessidade eh "humor"

Valéria Fernandes disse...

Lola, já houve gente ganahndo por dois anos seguidos. Então, poderia ser possível. Eu acabei de assistir ao filme. Não é o melhor concorrente, não desconstrói nada, mas é um filme muito bom, redondinho, muito bem fotografado e a menina é ótima. Eu indicaria à melhor atriz, ainda que fosse para não levar. Ela tem futuro.

E, tendo assistido seis dos dez indicados, continuo achando que Bravura Indômita tem chance. Exatamente por não mexer em temas espinhosos.

Renata Lima disse...

Eu adorei o filme.
Se bem que sou suspeita, amo o Jeff Bridges desde Suzie e os Baker Boys, ele foi uma das minhas paixonites de adolescência...
Já quanto ao título, acho que não restou dúvidas de que a verdadeira Bravura Indômita é a Mattie.
Chorei demais com a cena do Little Blackie, o Thiago ficou rindo de mim..

E Anna, eu até escrevi um post sobre essa "piada" que consegue reunir diversos preconceitos em tão pouco conteúdo: preconceito social, linguístico, de gênero, de orientação e de identidade sexual, etc, ad nauseam.
Recebi o texto ontem por e-mail, e já lancei uma resposta que virou um post-desabafo...
É dose...
Abs
Renata

(ah, Lola, não vou votar no Jeff pro bolão, vou seguir a sua dica de que não dá pra votar no favorito da gente, mas em quem realmente tem chances de ganhar... hehehe)

Elaine Cris disse...

Talvez não anunciaram que a menina é protagonista do filme porque acharam que espantaria o público, uma menina como protagonista de um filme de cowboys. Não sei, me parece que esse tipo de filme atrai mais homens mais velhos, exatamente porque cresceram assistindo esse tipo de filme.
Este é um gênero que pessoalmente não gosto, então é bem improvável que eu veja.

Elaine Cris disse...

Ah, sim. Agora que li que no globo de ouro ela foi indicada como atriz principal e acham que criança tem mais chance de ganhar como coadjuvante.
Realmente faz sentido, mas acaba sendo um pouco desonesto com quem realmente atuou como coadjuvante. Apesar que tantos coadjuvantes, mesmo com o papel secundário ou pouco tempo na história, conseguem roubar a cena.

Weligton disse...

Lola, o problema é vc... rsrsrs

Eu gostei demais!!
até pq naum esperava mto, vc devia estar num clima pra outro gênero no dia que assistiu, isso acontece, naum adianta assistir drama se quiser rir e por aí vai!

Anônimo disse...

Vi o filme e tive a mesma impressão que você. Tirando a interpretação da Hailee, o filme não me pareceu bom o bastante para levar Oscars.
Mas estou torcendo pra que a jovem ganhe o prêmio de coadjuvante, adoro essas atrizes novas e não consigo me esquecer da atriz fofinha de Pequena Miss Sunshine, que foi maravilhosa e, pra mim, merecia ter levado a estatueta Oscar naquele ano.

Também achei estranho não haver nenhuma insinuação de assédio para com a garota, bem, talvez tenha sido melhor assim.

See you Lolinha :D

EneidaMelo disse...

OFFTOPIC

"Admiro Martha Rocha desde que a conheci, no início dos anos 90, quando se destacava da mesmice conservadora e machista predominante, na polícia civil do Rio de Janeiro"

Assim começa o post de hoje no blog do Luiz Eduardo Soares, sobre a nova chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

http://luizeduardosoares.blogspot.com/2011/02/pintada-para-guerra-va-martha-ser.html

Tia Paula disse...

Ai, adoro "Matadores de Velhinhas". Devo ter um humor meio torto mesmo.

De qualquer maneira, os irmãos Coen moram no meu coração eternamente e a culpa é de "Fargo".

Caio Ricardo disse...

Como é que não houve nenhuma insinuação? Percebi isso em 2 cenas, quando o personagem de Damon entra no quarto onde a menina está dormindo e diz que só não a beijou porquê a achou sem atrativos, e quando o mesmo se separe deles pela segunda vez. Pelo menos nessa parte a coisa pareceu mútua.

Apesar de ter gostado dos personagens, dos diálogos e ter rido bastante, não é um filme dos Coen. A única cena que parece deles é quando o personagem do Jeff corta os dedos do outro carinha.