quinta-feira, 28 de novembro de 2002

CRÍTICA: NAVIO FANTASMA / A ver navios

Ainda não estreou "Gangues de Nova York" na minha cidade! Então, cheia de tristeza, fui ver "Doidas Demais", que sempre me confunde, pois não tinha um nacional com a Vera Fischer com esse nome? Mas errei o cinema. Pode rir se quiser. Atire a primeira pedra quem nunca errou o cinema. Acontece direto, ou como se explica o público que comparece às películas do Van Damme? Como perdi o horário, não sobrou alternativa: fui ver "Navio Fantasma". Avisei minha mãe antes, que perguntou: "Navio Fantasma? Ah, o do Wagner?". Tive de responder: "Não, o de Hollywood mesmo". E lá fui eu. No cinema, havia cartazes de "Gangues", de "As Horas", de "Chicago", e de outras produções apetitosas indicadas ao Oscar. Fui me informar com a gerente quando aquelas gemas estreariam, e ela sussurrou minhas velhas e conhecidas palavras: "Não tem previsão". E fez uma cara como se acrescentasse: "Mas os cartazes são bonitos, não?". Enfim, me aproximei do bilheteiro, que quis saber: "Qual filme?". E eu, olhando fixo pro rosto do Leonardo DiCaprio, insisti: "Gangues de Nova York". Juro que o bilheteiro me fitou com compaixão enquanto me encaminhava pra sala de "Navio Fantasma". Eu segurei minhas lágrimas.

Você não precisa de uma crítica de cinema altamente especializada como eu pra suspeitar que "Navio Fantasma" é uma casa mal-assombrada em alto mar, né? Esse tipo de filme é feito às dúzias pra passar nos EUA em outubro, quando os adolescentes festejam o Halloween. A trama é meio confusa, mas ela não é fundamental nesse caso. Dá pra imaginar como os realizadores fazem esses terrorzinhos. "Oba! Pensei numa cena em que pessoas são cortadas ao meio. E tem outra em que uma piscina se enche de sangue. E aquela de praxe onde os atores comem coisas nojentas. Ah, e um dos barcos explode, claro. Agora vamos pensar numa história pra encaixar todas essas cenas, gente!". O que eu entendi da trama é que uma equipe de aventureiros descobre um navio desaparecido há 40 anos e decide ficar com o ouro encontrado lá. Tolinhos! Aí um monte de gente mata outro monte de gente, até que sobra uma só pessoa, que também é um Gasparzinho. No fim, uma carrada de alminhas é liberada, só que elas parecem girinos.

O início até que é legal, embora me fizesse lembrar de "Resident Evil". Tem um baile bem chique no convés, vários casais dançam, e uma corda corta todo mundo pela metade. A cena funciona: passei a ver meu varal com outros olhos. Depois disso, o estilo do filme segue um certo padrão. Por exemplo, moça vasculha o quarto de uma fantasminha. Música suave. De repente, um susto em câmera lenta. Moça grita. Público boceja. E tem aquela lógica de filme de terror. Um cara fita um carrão parado e exclama: "Olha só, eu amo carros! Vamos lá ver!". A moça receosa replica: "Não, a gente tem que sair daqui já! Agora mesmo! Rápido! Opa! Tem alguma coisa se mexendo atrás daquele caixote. Vamos conferir!".

O problema de "Navio à Deriva" não é ter atores fracos ou história bobinha. É simplesmente não assustar. Filme de terror que não assusta é como comédia que não faz rir. E sou só eu que não considera os plufts uma séria ameaça à civilização? Pô, esses penadinhos não conseguem sequer segurar um facão. Vão machucar quem?

"Navio" se esforça pra imitar obras melhores. Tem um tiquinho de "Alien", outro de "Exterminador do Futuro 2", e tanto de "O Iluminado" que, se tivessem colocado duas menininhas ao invés de uma, seriam acusados de plágio. Só que o diretor não é Scott nem Cameron e muito menos Kubrick. É um tal de Steve Beck, que tem no currículo o tenebroso "13 Fantasmas". "Navio Fantasma", "13 Fantasmas" – mais um e o Steve recebe o título honorário de diretor-fantasma, imagino. Mas não quero descartar o filme totalmente. Pra quem adora ver velharias abandonadas, "Navio" tem inúmeros atrativos.

Nenhum comentário: