quarta-feira, 27 de novembro de 2002

CRÍTICA: JOGOS DOS ESPÍRITOS / Unhas sujas assustam

Olha só o programão que arranjei. O maridão queria ver "Guerra nas Estrelas". Eu lhe expliquei que nem morta compraria briga com a maior legião de fãs da internet. Então fomos ao mesmo complexo de cinemas, contamos ao bilheteiro que veríamos "Star Wars", mas ele nos fitou confuso, e rapidamente corrigimos: "Ataque dos Clones! Ataque dos Clones!". Assisti a uma meia hora de Jar Jar Binks e afins, e saí de fininho pra ver "Jogo dos Espíritos". O maridão ficou com o Yoda. "Pacto dos Lobos" parecia mais interessante que "Espíritos", mas não tava passando naquele shopping. Bom, novamente tive que agüentar um casal conversando a sessão inteira. A novidade teórica era que desta vez tratava-se de um casal gay. Mas, acredite, os comentários eram idênticos aos dos hetero. "Você tá com medo?!", e o carinha aproveitava pra pegar no braço do outro. "Ho ho ho, agora ela vai morrer!" era a senha pra apalpar a perna do futuro namorado. Nada tenho contra homossexuais, pelo contrário, mas o-dei-o pessoas que vão ao cinema pra tagarelar. Esses espectadores deveriam ser expulsos da sessão, ou senão obrigados a ver o filme três vezes seguidas, como nova modalidade de tortura.

"Jogo dos Espíritos de Porco" é o seu terror padrão, com a diferença do sotaque britânico, da garotada dirigir do lado errado do carro, e de ser mais liberal em relação às drogas. O resto é o de sempre: jovens amigos são assassinados brutalmente um por um. Começa com um pedacinho de horror no Marrocos, a la "Exorcista", com o único intuito de, mais tarde na projeção, alguém poder fazer uma piadinha do tipo "Nós sempre teremos Marrocos". Ahn, os produtores realmente acreditam que o público de "Espíritos" já ouviu falar de "Casablanca"? Uns camaradas estão numa boate e, por diversão, decidem se comunicar com os mortos através de um ouija board. Não sei como se traduz isso. Cientificamente falando, é a tal brincadeira do copo. Os amigos ficam em volta de uma mesa, com pedacinhos de papel, com um copo no meio. Todos precisam manter um dedo em cima do copo, e o copo se mexerá. Aqui veio o primeiro grande susto da platéia – gente, as unhas dos caras estavam imundas! Uníssono do público: "Argh! Ui! Blarg! Como é que pode?! Égua!". Aprenda a lição: quando for participar de uma sessão ouija, passe no manicure antes.

Parece que a cambada aciona um espírito ruim de nome "Djinn", um demônio do fogo. E como se liquida um demônio do fogo? Tacando fogo nele, ué. Óbvio. Mas isso só vai rolar após múltiplos assassinatos. Eu ficava me lembrando da Meryl Streep gritando "o djingo pegou meu bebê!". Porém, o público estava mais empenhado em morrer de rir com os microfones que teimavam em aparecer nos enquadramentos. De fato, há uma enorme concentração de microfones por metro quadrado. Surgia um e os espectadores apontavam: "Olha o microfone lá!". Não creio que tenha sido sem querer. Os microfones são aparentes demais. Acho que os realizadores de "Espíritos" notaram que o filminho era fraco, e pensaram: "Vamos distribuir uns microfones por aí, pro público se divertir com alguma coisa". Funcionou, não funcionou?

Outra distração simpática foi um ator com olhos arregaladíssimos e orelhas de abano. Não ponho minha mão no fogo, mas acho que era o Lukas Haas! Como assim, ficou na mesma? Sabe o menininho de "A Testemunha", ótimo filme de 85 com o Harrison Ford? O Lukas cresceu pra virar coadjuvante em terrorzinho! E esses filmes são todos iguais. É impressionante. O pessoal entende que não pode se separar, ou morrerá. Segue-se este diálogo: Bobão 1: "Vamos ficar juntos, hein?". Bobão 2: "Claro. Sempre juntos. Você tem um isqueiro?". Bobão 1: "Lá na cozinha". Bobão 2: "Já volto". Que são suas famosas últimas palavras, certo? A mensagem é que fumar traz riscos à saúde.

Quando por fim eu e o maridão nos reencontramos, ele estava realizado com o Obi Wan e eu, decepcionada com "Espíritos". Ele ainda tentou me consolar: "Ah, pelo menos tinha lobos". Lobos?! Efeitos especiais amolecem o cérebro da gente.

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