terça-feira, 5 de julho de 2011

LOLINHA TIRA FÉRIAS NA EUROPA

Oi, pessoal! Daqui a poucas horas iniciarei meu processo de ficar desconectada da internet pelos próximos quinze dias. É, não será fácil, mas espero vencer o vício. É que preciso muito, muito, muito de férias. Serão as primeiras que tirarei desde que vim pra Fortaleza, no final de janeiro do ano passado. Na realidade, serão as primeiras em muito tempo (já que estar esperando algo acontecer, como ser contratada pela universidade depois de passar no concurso, é diferente de tirar férias). E sem dúvida serão as primeiras férias remuneradas em sei lá quanto tempo.
E eu estou cansada, e preciso relaxar, e pra relaxar preciso me desligar, senão sei que ficaria julho inteiro na frente do computador, fazendo parte das mil e uma coisas que tenho que fazer (e adiando mil outras). Então vou viajar com o maridão, que também está de férias. E pra onde vamos? Tá, não adianta manter o suspense, pois já coloquei o mapinha que o maridão fez no Google aí em cima. Pois é: Europa! Não preciso nem dizer como me sinto A Burguesona indo ficar quinze dias entre Roma, Paris, Madrid e Lisboa (com uma parada em Genebra). Mas é que nunca fomos lá. Da Europa, só conhecemos Moscou, em 2004. Até hoje tem troll achando que sou comunista porque fui à Rússia (sendo que nessa época a Rússia já não era mais a União Soviética havia, deixa eu ver, treze anos? Ou o troll disse que fui à Rússia por eu ser comunista. Difícil acompanhar o raciocínio dos trolls. Mas eu e o maridão fomos lá pra participar de um torneio de xadrez. E não foi muito bom. E, se eu puder evitar, nunca mais na vida irei voluntariamente a um lugar em que a temperatura é de 25 graus negativos. Porque, sabe, acho que a temperatura no meu congelador não passa de 0. Já falei da imagem que ficará comigo da minha viagem à Rússia? É a de um sorvete de massa, em casquinha, que alguém deixou cair na rua. O sorvete não derrete. Fica lá, inteiraço, até o degelo. Assustador.
Apesar da Praça Vermelha ser realmente linda, a melhor parte dessa nossa viagem (que foi meio improvisada, desorganizada, e barata -– e a gente passou fome em Moscou, até nossa vida mudar quando descobrimos a civilização, quer dizer, um supermercado) foi ter que passar, na ida e na volta, por Buenos Aires. E lá tava tudo quentinho, comida abundante, a preços acessíveis, e todo mundo disposto a se comunicar conosco numa língua que conhecíamos. Buenos Aires é sempre linda, mas naquela viagem pareceu o paraíso.
Como tanto eu quanto o maridão somos professores (ele, de xadrez), temos que viajar na alta temporada. E já falei em evitar os meses gelados? Se eu não precisar nunca mais usar um casacão pra sair à rua, juro que não vou sentir falta. Moramos um ano em Detroit, e já vimos toda a neve que precisamos ver na vida durante quase seis meses ininterruptos (ha ha, procurando fotos pra ilustrar o post, encontrei a crônica linkada acima, e tive um ataque de riso. O maridão perguntava se groceries era minha atitude com ele!). E olha que Detroit é quente se comparada à Moscou -– na maior cidade de Michigan só faz 15 graus negativos (e a sensação térmica entre 25 graus negativos e "apenas" 15 graus negativos é considerável).
Quando fomos a Moscou ficamos horas no aeroporto de Paris, mas não tem como dizer que se conhece uma cidade quando só se passa por ela (se bem que deu pra notar que não havia absolutamente nada no De Gaulle por menos de três euros –- isso dá R$ 7 e pouco. Eu só fiquei encarando um croissant pra tentar descobrir o que ele tinha de tão especial que eu não tinha). Daí ano passado eu perguntei pro maridão se ele queria passar parte das férias de julho em algum lugar de Europa, e ele topou meio a contragosto -– ele gostaria de jogar algum torneio de xadrez em Barcelona, isso sim. E eu que sou groceries?
Ah, sabe a parte da Burguesona? Fica pior. Vamos viajar pela CVC, que eu sempre con
fundo com CVV (Centro de Valorização da Vida, da qual fui voluntária quando a Rússia ainda era URSS). Minha lógica é que a gente não conhece nada por lá mesmo, mas eu conheço o maridão (e também me conheço um pouquinho), e se a gente deixar por nossa conta, não irá a nenhum dos cartões postais que o pessoal vai quando pensa na Europa. O maridão é um caso crônico: se permitir, ele fica no hotel vendo TV. E isso a gente pode fazer em casa (quer dizer... A antena daqui tá quebrada. E não temos TV a cabo).
Vai ser a viagem mais cara da nossa vida, glupt. Esses quinze dias vão custar uns 7 mil reais de parte terrestre, uns 6 mil reais de aérea (só porque o maridão conseguiu passagens muito mais em conta; a CVC queria cobrar quase 10 mil na parte aérea!), e vamos levar 1,300 euros pro dia a dia (basicamente comida). Eu e ele, pão-duros inveterados, ou, melhor dizendo, seres economicamente responsáveis, nos sentimos bem mal em torrar toda essa fortuna (uns 16 mil reais ao todo!) em meio mês. Mas estamos ganhando bem agora, o dobro do que ganhamos a vida toda, e se durante a vida toda conseguimos guardar dinheiro ganhando a metade, agora podemos aproveitar um pouquinho. Então vamos lá, comer na Europa. Opa, eu disse comer, né? É, pra mim férias e viagem cara combinam com poder saborear um lindo sorvete de chocolate sem (muita) culpa. Ouvi dizer que tem gente que vai lá pra fazer compras. Compras! Eu fico feliz se entrar num castelo! (e o maridão já abre um sorriso de orelha a orelha só pela perspectiva do café da manhã).
Bom, gente ótima, o blog não vai ficar abandonado durante esse tempo todo. Tá tudo programadinho. E, se o blogspot não der tilt, como deu pouco tempo atrás, haverá vários posts. Portanto, continuem passando por aqui, comentando, divulgando o bloguinho no Twiter e no Facebook. Não me deixem só!, como dizia o presidente antes de ser impeachado.
Neste mês de junho o bloguinho bateu todos os recordes por causa da polêmica com o CQC. Foram 83 mil visitas num dia, um número absurdo que nunca mais se re
petirá. Ou seja, em junho foram 327 mil visitas e 466 pageviews. Óbvio ululante que essa quantidade incrível não corresponde à realidade e não se manterá. Mas ficarei alegrinha se o blog tiver 4 ou 5 mil visitas por dia, algo entre 120 e 150 mil visitas mensais, e entre 200 e 250 mil pageviews. Ele já tava caminhando pra isso em maio, quando chegou a 95 mil visitas e 155 mil pageviews. Sinceramente, acho esse um número muito satisfatório prum blog feminista, pessoal, de esquerda, feito por uma só pessoa (com a ajuda maravilhosa da galera que escreve guest posts que publico toda semana, e que trazem sempre uma outra visão, novas experiências).
Bom, queridas pessoas, desligo o computador hoje às 16 horas, e volto no dia 21 ou 22 de julho. Mas o blog continua firme. Nada de você tirar férias também, onde já se viu?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

MINHA PALESTRA E MEU TALENTO PARA CONTAR PIADAS

E a foto pega só metade do auditório lotado

Já disse no Twitter, mas preciso deixar registrado aqui no bloguinho: adorei ter participado da II Semana de Gênero e Direito, na UnB. Poucas vezes na vida fui tão paparicada. Todo mundo me tratou com um carinho imenso. Cheguei meio em cima da hora na terça, levada pela Laura Senra, aluna de Direito e um amor de pessoa. O auditório já estava cheio. Imagina se eu esperava falar pra tanta gente! Me deu até um glupzinho na garganta, mas quando a hora chegou eu fiquei calma. O tema do painel era “Estupro não tem graça: repensando o simbolismo do humor”, e eu dividi a mesa com a Laura, que era a moderadora, @s professor@s Bistra Stefanova, Carolina Ferreira, e Luis Felipe Miguel, e Luna Borges, representante extensionista e Promotora Legal Popular. O painel foi realmente excepcional e tod@s falaram muito bem. Mais tarde, quando fui jantar com uma galera ultrasimpática, elogiei que ninguém na mesa se repetiu, o que é louvável, e fui corrigida: ninguém se repetiu porque a organização foi tão perfeita que convidou gente com visões e campos de atuação diferentes. O mérito era da organização. Pura verdade.
Não me lembro mais quem disse que, quando organizaram a Semana de Gênero e Direito no ano passado, fizeram questão de colocar o I na frente, porque tinham certeza que haveria uma segunda. Adorei aquilo. Mas acho que poucos imaginavam que esta segunda Semana atrairia tantos alunos, não só de Direito, como de outros cursos também. Foi maravilhoso ver o interesse do pessoal.
Eu tinha preparado um powerpoint, e falei sobre a infame piada do Rafinha acerca do estupro de mulheres feias. Ainda quero escrever um artigo sobre o tema e tentar publicá-lo. Só sei que meu grande desafio foi contar uma piada pro auditório lotado. Mesmo que fosse pra meia dúzia de pessoas, já seria uma dificuldade, pois eu sou a pior contadora de piadas que já pisou na face da Terra. Sou do tipo que erra a ordem da piada, conta o final no meio, ri enquanto conta, esquece tudo... Tanto que a única piada que costumo contar é: “Você gosta de fofoca?”. Aí quando a pessoa diz “Sim, sim, conta aí, vai” (o que meus interlocutores raramente dizem, então eu tenho que pedir: “Pô, você não vai dizer que gosta, seu infeliz?”), eu emendo com “E de tutubarão?”. Ninguém entende, daí eu preciso explicar: fo-foca, tu-tubarão, sacou? Tá, ninguém em sã consciência jamais achou essa gracinha engraçada. E pra piorar eu já cheguei pra alguém e comecei pelo final: “Você gosta de tutubarão?”, e só quando perguntei “E de fofoca?” eu notei que havia alguma coisa errada. Pois bem, se eu já errei uma piada de duas linhas (mais de uma vez, devo confessar), o que esperar de mim contando uma piada muito mais longa? Quer dizer, vocês já notaram que eu tenho problemas mentais quando, na Marcha das Vadias de Fortaleza, eu cantava: “Se cuida / Ô seu Batista / América Latina vai ser toda feminista!”. Só sei que se eu fosse religiosa, teria rezado para que o respeitável público da UnB não estivesse portando ovos e tomates.
A piada que tentei contar foi esta aqui, que vocês tão gentilmente me contaram na imensa e incrível caixa de comentários do post em que pedi ajuda.

Um caçador vê um urso grande, mira, atira e o abate. Ele está super feliz quando sente um tapinha no ombro. É um urso maior ainda, sacudindo a cabeça em sinal de desaprovação. O urso lhe diz: “Você não deveria ter feito isso. Você matou um dos meus, e agora vai ter de pagar. Prefere morrer ou ser estuprado?”
O caçador escolhe a segunda alternativa. Abaixa as calças, sobrevive, mas jura vingança. Volta um ano depois ao Alasca procurando o urso que o estuprara. Encontra o animal, mira, atira, e o abate. Sente um tapinha no ombro. É um urso enorme, que lhe diz: “Você matou um dos meus, e agora vai ter de pagar. Prefere morrer ou ser estuprado?”
O caçador opta pela segunda alternativa e entrega-se àquele animal monstruoso, jurando vingança. No ano seguinte, sedento por desforra, volta ao Alasca. Vê o urso que o estuprara, mira, atira, e o abate. E sente outro tapinha no ombro. É um urso descomunal, que lhe diz: “Fala a verdade, flamenguista, você não vem aqui pra caçar, vem?”

Mas o formidável é que eu consegui acertar a piada e o auditório riu! (A querida Saionara filmou a semana inteira, pra quem quiser ver os quatro painéis -- que valem muito a pena serem vistos! Ainda vou falar mais sobre eles, prometo. O painel de que participei é este, e minha palestra, que só dá pra me ouvir e ver os slides, começa lá pelo 40o minuto). Esta talvez seja a única piada sobre estupro que é engraçada (se bem que, como a Lia disse na parte das perguntas, ela é homofóbica). Mas a gente consegue rir dessa piada porque o universo dela está muito distante do nosso. Na vida real, ursos não dão tapinha no ombro de caçadores, não falam e, principalmente, não estupram.
Na piada original o caçador é chamado de são-paulino, não de flamenguista (uma aluna no auditório até lembrou que era são-paulino!), mas pra mim time de futebol é tudo igual. Eu pensei em dizer “brasiliense”, em homenagem ao time de futebol de Brasília, mas poderia ser confundido com a pessoa natural de Brasília, e além do mais não daria certo mesmo, já que quase ninguém que mora em Brasília é de lá. Mas na piada pode ser qualquer um, e eu podia ter dito: “Fala a verdade, Rafinha, você não vem aqui pra caçar, vem?”.

P.S.: Conheci um montão de gente maravilhosa em Brasília, inclusive leitor@s antig@s do blog. Não vou colocar os nomes porque esqueceria a metade. Mas alguém aí reconhece a Valéria na foto? E foi um grande prazer finalmente conhecer a Srta. Bia. E mando o meu muito obrigada pras outras fofas alunas de Direito que ainda não citei e que foram gentis em conversar com uma mente senil como a minha: Luisa, Milena, Gabriela, Luana, e todo o Centro Acadêmico de Direito. Eu voltarei aí e todo mundo vai dizer: "O que essa chata tá fazendo aqui de novo?".
P.S.2: Assine a petição contra a piada do Rafinha!

domingo, 3 de julho de 2011

UMA LINDA HISTÓRIA CHOCANTE

Foi meu querido leitor Koppe que traduziu esses quadrinhos de Jason Yungbluth e os enviou pra mim (clique para ampliá-los). Obrigada, Koppe!... por arruinar meu dia.
A ilustração é linda, a trama é instigante. Mas acho que existe uma só interpretação, certo? E ela é muito trágica. Aqui tem mais doze páginas de pura depressão (em inglês). Cortesia da Aoi Ito.

sábado, 2 de julho de 2011

GUEST POST: INQUISIÇÃO CONTEMPORÂNEA

Dois dias atrás Ricardo me enviou um email pedindo um texto de repúdio às declarações absurdas da deputada estadual Myrian Rios. Respondi que estava muito sem tempo, mas que já havia tuitado contra o vídeo (inclusive ajudando a divulgar esta paródia), e querendo saber se ele não poderia escrever um guest post. Ele atendeu prontamente. Muitíssimo obrigada, Ricardo!
Também recebi algumas charges do Lucas referentes ao meu post explicando a estupidez que é um dia de orgulho hétero. Lucas, de Curitiba, já tinha me presenteado com esta homenagem. Vou usar essas charges para ilustrar parte do guest post do Ricardo Medeiros.

“Por favor, quais são suas habilidades?”
“Como a senhora pode ver, tenho excelentes referências! Trabalhei com renomadas famílias, e tenho boas qualificações.”
“É bem verdade, percebo um curriculum notável, e já providenciei a veracidade das referências. Estou realmente impressionada!”
Depois de uma longa avaliação do curriculum, e da pessoa a sua frente, vem a pergunta:
“Só mais uma coisa: Qual a sua orientação sexual?”
“Hein? Como assim?”
“Hum, como posso explicar? O senhor é, digamos, homem ou... quer dizer, o senhor é heterossexual ou homossexual?”
“Ah, sim entendi. Não sei exatamente qual a relevância disso, mas já que a senhora perguntou, sou homossexual.”
“Hum... Bem, seu curriculum profissional é excelente, mas procuro uma pessoa com outro perfil, obrigada.”
“Mas a senhora fez averiguações e confirmou dados, como meu perfil não serve?”
“Tenho dois filhos, dois meninos, um de 5 e outro de 8 anos, e não quero que eles sofram algum tipo de ação pedófila por parte do senhor. Não me leve a mal, mas sou mãe, católica e missionária, e tenho esse direito. E não aceito ser chamada de preconceituosa.”
O que pensar desse pequeno diálogo? Seria possível? Imaginável? Passível de realidade? Pasmem! É o que dias atrás fez na plenária a deputada estadual pelo PDT Myrian Rios, antes de votar contra a PEC 23 -– uma emenda que coloca como crime discriminação por orientação sexual, juntamente com racismo e afins.
O diálogo é apenas uma ilustração, mas o pronunciamento é real e diz exatamente isso. A deputada, desprovida de qualquer informação, levanta bandeiras preconceituosas vinculando homossexualidade à pedofilia. Na fala da digníssima há uma série de equívocos. Confunde-se orientação com opção e identidade de gênero; relega-se TODOS os homossexuais a uma sexualidade irresponsável, desenfreada e criminosa como a pedofilia. Afinal de contas, em explicações claras da representante do povo, ela coloca que uma babá lésbica poderia cometer atos pedófilos contra suas duas filhas, ou um motorista travesti poderia bolinar seus meninos.
Observando bem o vídeo, faz-se a leitura de muitas submensagens. Estranhamente a senhora deputada diz-se desprovida de preconceitos e atos discriminatórios, mas quer ter o direito de não contratar homossexuais como funcionários, não levando em conta competência, experiência, produtividade etc, mas apenas a orientação sexual de cada um. Afinal, como ela mesmo diz: “Eles fizeram suas escolhas, que posso eu fazer?” Excluir! Sim, essa é a resposta. A mãe devotada, missionária religiosa, representante eleita exclui, pura e simplesmente, e isso não é visto por ela como preconceito, e sim como prevenção. Ela defende o direito de escolha, direito este que em momento algum a tal emenda quis suprimir –- afinal, admitir e/ou demitir um funcionário perpassa por muitas situações. No entanto, o que impressiona não é a liberdade de escolha que ela defende, mas a justificativa: homossexuais usurpariam seus rebentos através de atos violentos como a pedofilia. Seu repúdio também se justifica pelo fato dela e de sua família serem heterossexuais e portanto comprometidos com a perpetuação da espécie.
Historicamente falando, apenas para ilustrar, vale dizer que, em nome dessa mesma perpetuação, o nazismo mandou milhares de homossexuais aos campos de concentração e consequentemente à morte certa.
“A turba ensandecida aguarda a voz de comando para começar o massacre.” Qual é a voz de comando? Não contratem homossexuais, que eles poderão violentar suas crianças. Em outros tempos seria cortem-lhes as cabeças, mande-os à fogueira, mas hoje vive-se a Inquisição Contemporânea. É exatamente isso que vídeos, pronunciamentos e opiniões irresponsáveis de pessoas formadoras de opinião podem suscitar.
Existem homossexuais pedófilos sim, isso é fato. Mas a maioria esmagadora dos casos de pedofilia registrados são de heterossexuais, e uma boa parte pais de família (pesquisa da USP revelou que 70% das crianças estupradas com menos de 10 anos são vítimas de seus pais ou padrastos).
Sou homossexual e meu estereótipo deixa claro qual minha orientação sexual. Também sou professor há quase vinte anos. Hoje estou na Secretaria de Educação de Brasília, mas também já trabalhei na área privada. Já trabalhei inclusive em escolas católicas e nunca, nunca passei algum constrangimento ou advertência ou ainda qualquer tipo de violência deliberada quer por parte dos meus alunos e seus pais, quer por parte dos meus empregadores. E, obviamente, nunca desrespeitei as crianças de qualquer forma.
Mas imagine se a turba segue a voz de comando da deputada! Eu e boa parcela da sociedade estaríamos desempregados, rotulados, condenados com a chancela de quem é pago, inclusive por mim, para criar leis que tornem o mundo mais tolerável. Terrível saber que há pessoas querendo fazer com que um Estado que deveria ser laico mantenha o direito de discriminar quem não gosta.
É triste, é medonho, é lamentável, é doentio, é um escândalo! Imputar crime a todo um grupo, só porque ele não segue a orientação sexual padrão, é um desrespeito que a sociedade como um todo não pode permitir. Ou isso, ou a barbárie.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

ENTREVISTA SOBRE O BLOGUINHO

Moizinha

Noelle é radialista formada e está fazendo especialização em Jornalismo Multimídia pela PUC-SP. Seu projeto é sobre blogs como fontes de informação, opinião e crítica, e ela escolheu este modesto bloguinho que vos fala como um dos três que vai analisar (estou muito curiosa pra ver o que ela vai dizer). Ela me enviou algumas perguntas, e quero compartilhar as respostas com vocês. Não tem nada de muito novo pra quem já lê o blog faz tempo, mas como tem bastante gente nova por aqui, fica um histórico.

- Como surgiu a vontade de ter um blog?
Desde 1998 escrevo para o jornal A Notícia, de Santa Catarina, que é basicamente um meio impresso. Em outubro de 2000 passei a colaborar com o Lost Art, um site de fotografia do meu irmão e cunhada. Lá eu tinha uma coluna sobre cinema, Escreva Lola Escreva, e postava críticas toda semana. Só que, por ser um site, não blog, e pelo público que me lia não ser particularmente o "meu" público, havia pouquíssimo feedback de leitores. Não era gratificante. Em 2007 comecei a colaborar com outro blog, o Antigravidade (que é mais nerd, mais sobre filmes de ação e histórias em quadrinhos). Novamente, quase não havia interação com os leitores, e o editor, um amigo meu, achou que um texto meu sobre um diálogo com o maridão não fazia o perfil do blog. E não fazia mesmo! Então em janeiro de 2008, no meio dessa crise, rompi com os dois e comecei o meu próprio blog. Não tinha a menor ideia de como fazer isso, e o maridão (que também não sabia nada desse universo) me ajudou a descobrir e me deu muito apoio. A recepção foi impressionante. Em um mês de blog meus posts já tinham mais comentários que em sete anos de Lost Art ou em meses de Antigravidade. Fiquei muito feliz, porque quem escreve quer ser lido, e gosta de ouvir impressões sobre o que escreveu. Essa troca de ideias com leitor@s me fez ver que eu podia escrever sobre o que quisesse, não apenas cinema. Eu me senti muito livre. Eu era (e continuo sendo) minha única editora. E @s leitor@s sempre sugerem ótimas pautas. Assunto não falta. Acho que este foi o 1o banner do blog. O que está aqui até hoje foi o segundo.

- O blog atende a todas as suas necessidades como veículo de comunicação? Como lida com a interatividade (comentários, e-mails)?
Adoro fazer o blog, e adoro os comentários d@s leitor@s. Muitas vezes a caixa de comentários fica muito mais interessante que o próprio post. Vira um fórum de debates mesmo. Então, como veículo de comunicação, o blog atende a todas as minhas necessidades. Pelo lado financeiro, não. Continuo sem saber como se ganha dinheiro com blog, e cada vez desconfio mais de quem diz viver disso. Mas, voltando ao assunto da interatividade, em 3,5 anos de blog foram mais de 55 mil comentários. Se dividirmos pelo número de posts (2,200, mas dá pra descontar uns 500 que eu trouxe do Lost Art, porque, quando criei o blog, transferi todas as críticas pra cá), dá uma média de 32 comentários por post. Os posts mais polêmicos sempre têm mais de 80 comentários (mas eu erro muito e quase sempre me surpreendo: um post que eu acho que vai render muita discussão às vezes não dá em nada; e outro que eu acho ameno acaba repercutindo um monte). Portanto, a discussão é realmente boa, uma diversidade grande de opiniões e pontos de vista. Até meados de 2009, eu fazia um esforço descomunal pra responder todos os comentários. Mas o número foi aumentando, e ficou impossível fazer isso. Notei que ou eu escrevia um post, ou eu respondia os comentários, e acabei optando pela primeira opção. Afinal, o blog não é uma fonte de renda, e eu preciso trabalhar. Tento, e raramente consigo, dedicar apenas uma parte do meu dia ao blog. Mas é viciante, e difícil ficar longe, e o Twitter (que relutei muito pra entrar, e só entrei em agosto do ano passado, mas é uma ferramenta essencial de divulgação do blog) só aumentou o meu vício e meu tempo gasto na internet. Também sinto muita falta de ler e comentar blogs de leitor@s (boa parte tem blogs excelentes, bem escritos, fascinantes), mas infelizmente não sobra tempo. Quanto aos emails, tento responder todos, mas ultimamente tem faltado tempo até pra isso. Alguns são tão interessantes que eu peço permissão pra transformá-los em guest posts. Outros trazem perguntas e dúvidas, e eu tento respondê-los em forma de post, porque acho que a resposta pode ser relevante pra mais gente.

- Como é a escolha dos assuntos tratados?
Acho que o enfoque principal do meu blog não é nem o feminismo, apesar de ser um blog assumida e orgulhosamente feminista. Mas o enfoque mesmo é a crítica da mídia, e a palavra "crítica" é o mais importante aí. Claro, tudo que escrevo tem um viés feminista e de esquerda. Sempre teve! Minhas críticas de cinema trazem uma visão feminista e de esquerda. Recebo muitas sugestões de quem me lê, e costumo acatá-las quando o assunto me interessa. Tem assuntos que eu sinto que não tenho nada de novo pra contribuir, que o assunto é muito óbvio ou já foi esgotado, e nesses casos evito escrever. Também não me sinto na obrigação de ter opinião sobre absolutamente tudo. Não tenho vergonha de não ter opinião formada, ou de revelar que não sei muito sobre um determinado assunto. Acho que meu blog é muito interativo, embora eu raramente responda os comentários. Muitas vezes eu faço um post baseado em alguns comentários. Tento publicar um guest post por semana, com assuntos variados que nem sempre representam a minha opinião, e na maioria das vezes estão fora da minha vivência. Adoro esses guest posts, pois eles realmente amplicam o foco do blog. E tem coisas que eu acho que não vão interessar a muita gente, mas tenho vontade de publicar do mesmo jeito (meus diálogos com o maridão, por exemplo). O blog é também um registro. É a minha memória.

- Para criticar é necessário possuir repertório?
Depende do que vc quer dizer por repertório. Se repertório é arcabouço teórico, aí depende do blog. Como meu blog não é acadêmico, eu não incluo muita teoria. Mas tem vezes que a teoria está a mão, ao meu alcance, e ela ajuda a fazer um post mais fundamentado. A teoria poupa tempo. A gente não precisa sempre descobrir a roda se souber que um monte de gente já estudou aquilo com muito mais profundidade. O que acho fundamental é fazer conexões, comparar o que estou criticando naquele momento com outras coisas que critiquei, com outras coisas que andam acontecendo. Inúmeras vezes eu perco essas conexões e @s leitor@s lembram nos comentários (por isso quem vem ao meu blog e lê apenas os posts, não os comentários, sai perdendo). Mas se repertório for conhecer o que estou criticando, acho importante. Por exemplo, não vou criticar um livro que não li. Mas posso criticar a entrevista que aquele autor deu sobre o livro, e deixo claro que não li o livro. Outro exemplo: quando critiquei o vídeo que o CQC 3.0 fez contra a amamentação em público, algumas pessoas me criticaram por eu não ser uma espectadora habitual do programa. Como elas sabem disso? Porque eu falei. E não acho que eu precise ver CQC para poder criticá-lo. Obviamente eu vi aquele dia específico, e pra mim isso basta. É sobre aquilo que vou falar, não sobre os sei lá quantos anos do CQC ou de suas versões em outros países. Mais um exemplo: escrevo uma crítica de Crepúsculo ou Senhor dos Anéis, e deixo claro que só vi aquele filme, que não li os livros. Muita gente acha que não tenho conhecimento para falar sobre tais franquias. Mas estou falando apenas daquele filme em particular, que é uma obra independente, feita para se sustentar sozinha. Claro que um fã fiel de uma dessas franquias saberá muito mais sobre ela do que eu, porque terá lido todos os livros, visto todos os filmes, lido todas as entrevistas e matérias. Isso é maravilhoso, mas não estamos numa competição. Tomara que ess@ fã tenha um blog, e consiga registrar todas as suas opiniões.

- Acha que a critica sempre tende as opiniões e gostos pessoais?
Sim, acho. Minha opinião é pessoal, parcial, e subjetiva. Ela é baseada nos meus valores, nas minhas experiências, na minha identidade. Por isso é tão importante termos diversidade, porque quando é sempre o mesmo grupo social que escreve, suas visões tendem a ser meio parecidas. E acho insuportável ler críticas em que o autor camufla ou disfarça sua opinião, como se quisesse se passar por neutro. Neutralidade não existe. Claro que posso incluir na minha crítica opiniões de outras pessoas. Muitas vezes eu faço isso. Nas crônicas de cinema, incluo reações e diálogos do público, e interpretações de outros críticos. Mas a minha opinião vai transparecer de alguma forma, seja através da construção do meu discurso, seja através das minhas escolhas (não só do que incluí no texto, mas principalmente pelo que deixei de fora). Leitor@s crític@s devem sempre se perguntar: ué, por que ela não tocou naquele assunto? Nem sempre é proposital: às vezes não mencionei aquilo porque esqueci, ou porque o texto já estava quilométrico, ou porque não era um assunto do meu interesse, ou porque meu recorte era outro. Mas às vezes é também porque incluir aquilo enfraquece minha argumentação. Geralmente sou muito sincera, sincera demais, e menciono o que deixei de fora. E também tento dialogar com quem lê, já antecipando as oposições. A argumentação fica mais forte se a gente adivinha os argumentos contrários. Mas isso tudo já está tão enraizado na minha forma de escrever que é raro eu pensar nisso. O meu estilo é argumentativo. E muito pessoal.