Tem pessoas que criticam filmes que foram adaptados de peças por serem teatrais demais. A gente costuma ver os atores declamando ótimos diálogos e algumas cenas exteriores que em geral não têm nada a ver com nada mas que o diretor incluiu na vã tentativa de esconder a origem teatral. Eu não ligo. Não vou ao cinema só pra ver explosões. Portanto, gostei muito de Dúvida. Quer dizer, é difícil amar o filme (escrito e dirigido por John Patrick Shanley, que antes disso fez apenas o lastimável Joe Contra o Vulcão - dezoito anos atrás!), porque ele não é muito especial. Mas é inteligente, faz pensar, e dá cotoveladas numa das instituições mais poderosas do planeta, a Igreja Católica (por que continuo escrevendo isso com maiúsculas?). O que mais posso querer?
A história se passa numa escola católica em Nova York no início dos anos 60, pouco depois de Kennedy ter sido assassinado (como diz uma moça jovem em Harry e Sally: Ted Kennedy foi assassinado?!, mas acho que a piadinha só funciona pra quem sabe que existe um senador vivo, Ted, irmão do Kennedy presidente, e que a morte do John foi marcante, como a gente viu em JFK). Na escola há um conflito entre Philip Seymour Hoffman, um padre mais liberal, que acredita que a igreja deve estar mais perto da comunidade, e Meryl Streep, a diretora, uma freira linha-dura. No meio temos quem é na realidade a protagonista (o filme, inclusive, é dedicado a ela), a irmã James (Amy Adams), uma freira ingênua que passa a suspeitar da proximidade entre o padre e um aluno de 12 anos, o único negro no colégio. Até a metade, Amy aparece direto, em quase todas as cenas, e está muito bem. Mereceu a indicação ao Oscar de coajuvante. A quarta força é Viola Davis (a detetive em Paranóia) que faz a mãe do garoto. Ela está excelente, mas tem apenas uma cena (ou duas, se contar que os cenários diferem).
Meryl Streep é Meryl Streep, né? Tem alguma coisa que essa mulher não faça com os pés nas costas? A sua freira é uma megera intransigente e intolerante. Ela não liga pros alunos onde é diretora. Quer apenas discipliná-los e lutar contra uma “modernidade” que logo logo (uns cinco anos mais tarde) virá a trator, trazendo revoluções, inclusive a sexual. Ela tem um passado interessante do qual não sabemos quase nada (ela já foi casada, o marido morreu na guerra, de repente ela até tem filhos). Esse seu desprezo pelo que é novo é representado pelo ódio a canetas esfereográficas. Pra ela, isso significa preguiça, e o que fazemos preguiçosamente hoje vai nos tornar ainda mais preguiçosos amanhã. Ela não parece ser alguém que se divirta. Não parece nem ser alguém de fé.
Perto dela, o padre feito pelo Philip é a liberdade em forma de gente. Ele é bonzinho com os alunos, gosta deles, trata-os bem, principalmente o menino negro, que é discriminado pelos outros alunos. Há apenas uma cena do Philip falando com uma menina (o resto é com garotos), o que é estranho numa escola mista. Agora, por mais que estejamos cansados de saber dos escândalos dos padres pedófilos (só pra ficar num ótimo filme onde isso é retratado: Má Educação, do Almodóvar), a personagem da Meryl é tão bruxa que fica difícil acreditar nela. Cada espectador(a) vai tomar seu próprio partido, óbvio, mas o único elogio que a personagem da Meryl consegue de mim é que, bem ou mal, ela é solidária com as freiras que comanda. Há uma freira caquética, cega, e Meryl esconde sua cegueira, ou a velhinha será levada a um outro canto.
Há até um contraponto mostrando a austeridade em que as freiras comem juntas, sem conversar, enquanto três padres bebem e se divertem num jantar. Claro, ninguém vai querer rir perto da Meryl. Mas, novamente, dá pra pensar que os homens, mesmo os padres, têm mais motivos pra serem risonhos. A revolta da Meryl, se podemos chamar o que ela tem de revolta, é no fundo contra um sistema. O padre é seu superior. Qualquer coisa, ela deve reclamar ao monsenhor (que acobertará o padre). A igreja é um mundo de homens em que as mulheres não têm poder algum. A gente já sabe disso. E é incrível como não muda. Em pleno século 21, segue a tradição de que só se você tiver um pênis - e não usá-lo pra nada além de fazer pipi - você pode rezar missa, ser Papa, ouvir confissões, etc etc. As freiras têm uma posição totalmente secundária. Lógico, vemos essa hierarquia de poder que exclui as mulheres em muitas outras áreas, mas não se pode negar que ela seja fortíssima na igreja.
Pra um filme com padres e freiras, vale dizer que o lado religioso é mínimo. A gente vê missas e ouve coros, mas a parte da missa que vemos é logo a mais fascinante, que é a parte do sermão. Phillip fala de dúvida. Depois condena a fofoca, narrando o caso de uma mulher que confessa ter fofocado, e o padre lhe diz pra subir no telhado, esfaquear um travesseiro e depois recolher todas as penas, o que é impossível. A analogia é que, no caso da fofoca, não dá pra consertar o que foi dito, pois não sabemos em que direção cada pedacinho vai (não vou nem mencionar que esse é o travesseiro mais cheio de penas que já vi na vida. O meu não é assim). Porém, em Dúvida, a fofoca não parece ir além do que é dito entre as duas freiras. No final vem a culpa e suas consequências, como não conseguir dormir. Mas, como diz um personagem, talvez Deus não queira que descansemos mesmo.
Além de toda a questão da dúvida - o padre dá pano pra manga, ao proclamar que a dúvida pode ser tão boa quanto a certeza -, o filme é também sobre as terríveis dificuldades dos negros nesses tempos em que os protestos mal haviam começado. A mãe quer que seu filho fique naquela escola até junho, porque assim ele pode ir cursar o ensino médio numa escola melhor e ter alguma chance de, mais tarde, fazer uma faculdade. Seu pai bate nele direto, e tudo indica que sobra pra mãe: “Ninguém diz ao meu marido o que deve ou não fazer”. E tem a problemática da homofobia. Se hoje continua difícil ser gay, imagina naquela época, em que os psiquiatras ainda achavam que a homossexualidade era uma doença, um grave distúrbio psicológico, curável à base de eletrochoques. Milk mostra o despertar de uma consciência gay e a busca pela liberdade. Dúvida lida com a repressão e, nesse sentido, troca figurinhas com o incrível Longe do Paraíso.
Suponho que o Papa deve ranger os dentes pra obras como Dúvida. Há gente que se junta à igreja menos por motivos religiosos e mais por autoritários. Eu estudei em colégio católico. Havia lá pelo menos uma freira que aterrorizava os alunos, e na sexta série ela foi minha professora. Ela não estava naquela vida pra servir a Deus, e sim pra endireitar a humanidade. Isso ficou claro pra toda a classe desde o primeiro dia, e o seu sadismo era evidente - uma perversão da qual a Meryl compartilha. Sua personagem deixa que esse caráter ditatorial e esse desdém pelos homens da igreja transpareça quando ela manda a irmã James colocar um quadro do Papa na sala de aula. A irmã diz que o quadro não é do Papa atual, e Meryl a corta: “O que importa de que papa seja? É só pra você poder usar o reflexo do vidro pra ficar de olho nos alunos enquanto estiver de costas pra eles”. Às vezes, essa parece mesmo ser a principal vocação de muitas religiões: vigiar e punir.
A história se passa numa escola católica em Nova York no início dos anos 60, pouco depois de Kennedy ter sido assassinado (como diz uma moça jovem em Harry e Sally: Ted Kennedy foi assassinado?!, mas acho que a piadinha só funciona pra quem sabe que existe um senador vivo, Ted, irmão do Kennedy presidente, e que a morte do John foi marcante, como a gente viu em JFK). Na escola há um conflito entre Philip Seymour Hoffman, um padre mais liberal, que acredita que a igreja deve estar mais perto da comunidade, e Meryl Streep, a diretora, uma freira linha-dura. No meio temos quem é na realidade a protagonista (o filme, inclusive, é dedicado a ela), a irmã James (Amy Adams), uma freira ingênua que passa a suspeitar da proximidade entre o padre e um aluno de 12 anos, o único negro no colégio. Até a metade, Amy aparece direto, em quase todas as cenas, e está muito bem. Mereceu a indicação ao Oscar de coajuvante. A quarta força é Viola Davis (a detetive em Paranóia) que faz a mãe do garoto. Ela está excelente, mas tem apenas uma cena (ou duas, se contar que os cenários diferem).
Meryl Streep é Meryl Streep, né? Tem alguma coisa que essa mulher não faça com os pés nas costas? A sua freira é uma megera intransigente e intolerante. Ela não liga pros alunos onde é diretora. Quer apenas discipliná-los e lutar contra uma “modernidade” que logo logo (uns cinco anos mais tarde) virá a trator, trazendo revoluções, inclusive a sexual. Ela tem um passado interessante do qual não sabemos quase nada (ela já foi casada, o marido morreu na guerra, de repente ela até tem filhos). Esse seu desprezo pelo que é novo é representado pelo ódio a canetas esfereográficas. Pra ela, isso significa preguiça, e o que fazemos preguiçosamente hoje vai nos tornar ainda mais preguiçosos amanhã. Ela não parece ser alguém que se divirta. Não parece nem ser alguém de fé.
Perto dela, o padre feito pelo Philip é a liberdade em forma de gente. Ele é bonzinho com os alunos, gosta deles, trata-os bem, principalmente o menino negro, que é discriminado pelos outros alunos. Há apenas uma cena do Philip falando com uma menina (o resto é com garotos), o que é estranho numa escola mista. Agora, por mais que estejamos cansados de saber dos escândalos dos padres pedófilos (só pra ficar num ótimo filme onde isso é retratado: Má Educação, do Almodóvar), a personagem da Meryl é tão bruxa que fica difícil acreditar nela. Cada espectador(a) vai tomar seu próprio partido, óbvio, mas o único elogio que a personagem da Meryl consegue de mim é que, bem ou mal, ela é solidária com as freiras que comanda. Há uma freira caquética, cega, e Meryl esconde sua cegueira, ou a velhinha será levada a um outro canto.
Há até um contraponto mostrando a austeridade em que as freiras comem juntas, sem conversar, enquanto três padres bebem e se divertem num jantar. Claro, ninguém vai querer rir perto da Meryl. Mas, novamente, dá pra pensar que os homens, mesmo os padres, têm mais motivos pra serem risonhos. A revolta da Meryl, se podemos chamar o que ela tem de revolta, é no fundo contra um sistema. O padre é seu superior. Qualquer coisa, ela deve reclamar ao monsenhor (que acobertará o padre). A igreja é um mundo de homens em que as mulheres não têm poder algum. A gente já sabe disso. E é incrível como não muda. Em pleno século 21, segue a tradição de que só se você tiver um pênis - e não usá-lo pra nada além de fazer pipi - você pode rezar missa, ser Papa, ouvir confissões, etc etc. As freiras têm uma posição totalmente secundária. Lógico, vemos essa hierarquia de poder que exclui as mulheres em muitas outras áreas, mas não se pode negar que ela seja fortíssima na igreja.
Pra um filme com padres e freiras, vale dizer que o lado religioso é mínimo. A gente vê missas e ouve coros, mas a parte da missa que vemos é logo a mais fascinante, que é a parte do sermão. Phillip fala de dúvida. Depois condena a fofoca, narrando o caso de uma mulher que confessa ter fofocado, e o padre lhe diz pra subir no telhado, esfaquear um travesseiro e depois recolher todas as penas, o que é impossível. A analogia é que, no caso da fofoca, não dá pra consertar o que foi dito, pois não sabemos em que direção cada pedacinho vai (não vou nem mencionar que esse é o travesseiro mais cheio de penas que já vi na vida. O meu não é assim). Porém, em Dúvida, a fofoca não parece ir além do que é dito entre as duas freiras. No final vem a culpa e suas consequências, como não conseguir dormir. Mas, como diz um personagem, talvez Deus não queira que descansemos mesmo.
Além de toda a questão da dúvida - o padre dá pano pra manga, ao proclamar que a dúvida pode ser tão boa quanto a certeza -, o filme é também sobre as terríveis dificuldades dos negros nesses tempos em que os protestos mal haviam começado. A mãe quer que seu filho fique naquela escola até junho, porque assim ele pode ir cursar o ensino médio numa escola melhor e ter alguma chance de, mais tarde, fazer uma faculdade. Seu pai bate nele direto, e tudo indica que sobra pra mãe: “Ninguém diz ao meu marido o que deve ou não fazer”. E tem a problemática da homofobia. Se hoje continua difícil ser gay, imagina naquela época, em que os psiquiatras ainda achavam que a homossexualidade era uma doença, um grave distúrbio psicológico, curável à base de eletrochoques. Milk mostra o despertar de uma consciência gay e a busca pela liberdade. Dúvida lida com a repressão e, nesse sentido, troca figurinhas com o incrível Longe do Paraíso.
Suponho que o Papa deve ranger os dentes pra obras como Dúvida. Há gente que se junta à igreja menos por motivos religiosos e mais por autoritários. Eu estudei em colégio católico. Havia lá pelo menos uma freira que aterrorizava os alunos, e na sexta série ela foi minha professora. Ela não estava naquela vida pra servir a Deus, e sim pra endireitar a humanidade. Isso ficou claro pra toda a classe desde o primeiro dia, e o seu sadismo era evidente - uma perversão da qual a Meryl compartilha. Sua personagem deixa que esse caráter ditatorial e esse desdém pelos homens da igreja transpareça quando ela manda a irmã James colocar um quadro do Papa na sala de aula. A irmã diz que o quadro não é do Papa atual, e Meryl a corta: “O que importa de que papa seja? É só pra você poder usar o reflexo do vidro pra ficar de olho nos alunos enquanto estiver de costas pra eles”. Às vezes, essa parece mesmo ser a principal vocação de muitas religiões: vigiar e punir.
19 comentários:
No geral, eu tenho pena de freiras. Nem menciono a questão da fé. São sempre subordinadas aos homens, como você diz. Felizmente são cada vez menos, acho que nem há renovação de freiras - alguém aí já viu uma freirinha novinha? Eu tenho uma prima que quis ser freira, 25 anos ou 30 anos atrás. Um ano no convento foi suficiente para deixar de se iludir com a possibilidade de encontrar a paz de Deus e se doar à comunidade: as freiras mais velhas eram completas sádicas e o apoio ao trabalho comunitário era mínimo: hoje qualquer ong faz melhor.
Eu achei o filme muito bom,e não sei se achei a personagem da Meryl assim tão detestável não,É óbvio que ela também estava confrontando o padre por causa da situação hierárquica toda,e por não gostar das idéias do dele,mas eu também acho que ela se importava com o garoto.
Mas e aí Lola,você acha que o padre era pedófilo?Eu acho que sim.
Eu gostei muito de Dúvida. Fiquei inclusive em dúvida quanto à minha aposta de melhor atriz no bolão...
Amo a Kate, mas aquela maquiagem prejudicou muito ela... e no final das contas, acho que gostei mais dela em Revolutionary Road... e a Meryl... bem... é a Meryl... todos falam que ela é sempre tão boa que acaba não impressionando mais... Pois a mim parece que ela bem que merecia mais uma estatueta. Já concorreu dúzias de vezes e só levou duas pra casa!
Gostei bastante de dúvida, embora concorde que não seja um filme que marque. Mas ele é muito bem conduzido, com brilhantes atuações!
A Viola está de emocionar, mas acho difícil ela ganhar num papel tão pequeno. A judy Dench ganhou por 8 minutos em cena, mas na verdade ela ganhou por Iris, um ano depois, né?
Só adicionando, acho que o padre não fez nada com o garoto, mas gostaria... e se deixou levar pela culpa que sentia por seus sentimentos reprimidos!
Lola, AMEI a crítica!
Contudo, apesar da Meryl e do Philip, não faço questão alguma de assistir filmes com contexto religioso, não dá... O mais perto que me permiti chegar (e dê crédito ao Jonathan Rhys Meyers, óbvio) foi Tudors, e assim mesmo, por causa dele... ahhhhh rsss
Beijos
Amei o texto!!! Mas o que eu mais queria saber era o seguinte: no fundo da sua mente, o padre Flynn era pedófilo ou não?
Na minha opinião nao.
Eu acho a Meryl Streep uma otima atriz, tb, ela tem uma carreira cheia de atuacoes excelentes, tanto em papeis dramaticos como A Escolha de Sofia quanto como fazendo vilã, em O Diabo Veste Prada por exemplo. Adoro ela, o Philip Hoffman tambem eh bom. Ainda nao vi Doubt...
Voltei, Lola!! Conheci Joinville, que graça de cidade!
mas voltando ao post... eu esperava bem mais de Dúvida. como ponto forte eu destacaria as interpretações (todas), o conflito entre o novo e o conservador e a inconclusão (existe essa palavra?) da trama, uma coisa meio Pássaros de Hitchcock. Mas, sei lá... depois de ver tanto filme do Almodovar explorando religião, pedofilia e homossexualidade, achei Dúvida fraco.
E refaço aqui um comentário: a personagem da Meryl foi inspirada no Santiago!!! certeza!!! ahahahah ela tem a CONVICÇÃO ABSOLUTA de uma coisa que NÃO VIU! ahahahah isso é muito Santiago!
Também gostei muito desse filme.
Uma reflexao que fiz foi a de que ambos os personagens, o padre pedofilo e a freira megera, cometem crime de abuso. Ambos sao condenaveis, a meu ver. Ambos deixam marcas pra vida inteira.
Eu nao vi o filme, mas vi a peca em Portugal (com dois atores famosissimos de la, Eunice Muñoz, que eh tipo a Fernanda Montenegro, e Diogo Infante). Nao sei se foi a montagem ou o que foi, mas a personagem da madre superiora nao era uma megera, mas sim uma mulher que se apegava ao que achava certo com unhas e dentes.
E que se sentia oprimida pela parte masculina do clero, por saber que nao tinha tanto poder assim (poder para garantir o que ela achava certo).
Gostei bastante, principalmente da parte da mae do menino - nao sei se no filme eh igual, mas na peca ela entrava, fazia uma cena soh e virava a historia de cabeca pra baixo.
Lola, eu considero-me uma pessoa aberta e nada rigida e acho que perante uam situação semelhante faria o mesmo que a Merryl. A dúvida não pode permanecer quando se trata da integridade de um criança. Aqui a dureza e intransigencia justificam-se.
Mais me choca a atitude da mãe do rapaz que prefere fingir que não vê e que permite que o filho continue sujeito a abusos em nome de uma suposta melhoria de estatuto. Ela vendeu o filho...e isso sim é chocante!
Tenho certeza que o padre cometeu aquele abuso pela forma como se portou naquela conversa com a protagonista. E eu gostei que o suposto padre abusador era uma pessoa aparentemente boa, simpática, amistosa e a mulher 'malvada e rigorosa' que parecia não se importar com as crianças é quem decide dar um fim nestes abusos...
Quando eu assisti o filme, eu imaginei que o garoto loiro teria sido um que sofreu abuso por parte do padre e que o garoto negro ainda não tinha sido uma vítima - como se o padre ainda estivesse ganhando a confiança do garoto.
Adorei esse filme. Os dialogos sao fantasticos. Adoro filmes que veem do teatro e nos brindam com dialogos longos e interessantes. Nesse aspecto, me lembrou Closer, que eu amo.
Gostei do filme mais pela forma que ele nos coloca em dúvida do que pelos temas espinhosos de nossa sociedade. Acho que o filme fala disso; não só exatamente sobre a Igreja. Consegui ver a diferença de gêneros, como isso conduz a leitura de mundo, e é claro que me lembrei deste blog no meio da sessão. O padre deu a melhor definição de fofoca que já vi. Não acho que tenha abusado de ninguém, e tampouco acho que esse tenha sido o objetivo da mensagem, algo como se deu no livro Dom Casmuro, o que menos importa é saber se Capitu traiu ou não o chato. Que o padre, entretanto, se aproveitou de sua condição de homem pra se livrar de um falso testemunho (que eu suponho), ah, isso ele fez. E eu faria também, ué. A postura da mãe do garoto negro é tão firme como a da madre superiora, admiro as duas personagens pela crença doentia em seus propósitos. Eu não consigo, mas gostaria. Talvez se tivesse um ente tão querido em situações tão adversas, tomasse forças pra "vendê-lo" a quem quer que fosse se isso correspondesse a um destino melhor pra ele.
eu adorei o filme!
também não achei a personagem da Meryl tão detestável, ela só é obsecada pela disciplina, até demonstra preocupação pelos alunos e pelas freiras.
acredito que o padre aliciou o menino sim, por dois fatores, a conversa da mãe que afirma, implicitamente, que o menino é gay e gosta do padre, e pelo fato do padre ter cedido às chantagens da freira. ele como superior e homem poderia ter levado isso adiante se não tivesse culpa de nada.
achei tudo ótimo e a última cena pra mim valeu o filme inteiro!
Rute,
então vamos supor que vc tenha seus doze anos, se apaixone pelo professor de ciências, logo, o professor te aliciou? essa leitura é no mínimo contestável, não acha? o mesmo ocorre no caso do menino gay. Se eu fosse um pré-adolescente negro no início dos 60 nos EUA, pobre e gay, estivesse sendo acolhido, não necessariamente estaria sendo "corrompido", au rite? talvez estaria, sim, sentindo algo muito forte por essa pessoa.
E o padre não cedeu às chantagens. Se ele tivesse levado adiante, poderia até ter provado que a freira mentia para persuadi-lo, mas o estrago seria enorme para pais, alunos e a escola. A freira via o que queria ver. Alguém se lembra do caso dos donos de uma escola em SP acusados leviamente por pedofilia? Depois que a polícia divulgou a inocência deles, jamais puderam se reestabelecer.
eu gostei do filme, mas não adorei. gostei mais da temática e do roteiro do que do filme em si.
de certa forma, me afeiçoei à personagem da meryl streep. ela em muito me lembrou uma tia, já falecida, que durante muito tempo foi diretora de colégio e era temida pelos alunas. minha tia não era freira, mas não era casada e não tinha muita vida pessoal. sua vida era toda dedicada a defender fortemente uma disciplina rígida
que ela considerava importante na formação daqueles estudantes de um colégio estadual no interior de são paulo.
luiz,
sim, pode ser que ele nao tenha aliciado mesmo. só que tem também o loirinho que é super desinibido mas tem medo até de ser tocado pelo padre. de onde vem esse medo? talvez a situação tenha sido igual a do negro com a diferença que o sentimento foi mútuo.
de qualquer forma é difícil tomar qualquer partido, pois só nos é mostrada a visão dela e um pouco da dele, nada exterior à situação.
a parte sobre o retrato do padre me lembra das pinturas dos juizes no processo do kafka.
enfim! nem costumo comentar em blogs mas fui obrigado a comentar no seu, depois de ler vários posts!
continue assim [!].
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