quarta-feira, 27 de novembro de 2002

CRÍTICA: DRAGÃO VERMELHO / O dragão da maldade contra o santo guerreiro

Olha a coincidência: poucos dias depois da eleição histórica, estréia "Dragão Vermelho". Como assim, nada a ver? O serial killer geriátrico está de volta! E não é que ele é a cara do Serra, que Deus o tenha? Retornou Hannibal Lecter, o psiquiatra psicopata mais erudito, inteligente, e refinado de toda uma estirpe de insanos. Aliás, pra quem insiste que Lula Presidente não pega bem, já que lhe falta um diploma, tudo que posso dizer é: que pena que Hannibal não seja brasileiro! Que belo estadista ele daria!

Mas é melhor eu parar de associar cinema e política antes que alguém tenha a idéia de fazer comigo o que o assassino de "Dragão" faz com um jornalista: por não gostar do que ele escreveu, o desequilibrado o cola numa cadeira, arranca sua língua, ateia-lhe fogo e o lança ladeira abaixo. Não, o jornalista não sobrevive. Você já está visualizando a Lolinha pegando fogo, né? Por sinal, "Dragão" é um bom exemplo de como a crítica pode ser brutal. Logo de cara, nosso canibal intelectual come (no sentido digestivo) um violinista que tocava mal. Pô, será que eles nunca ouviram falar em crítica construtiva?

Esses meliantes deveriam se inspirar em mim, uma crítica sempre construtiva. Imagina se eu invento de comer o Anthony Hopkins só porque a interpretação dele não me agradou?! O Edward Norton tudo bem, eu encaro (antropofagicamente falando, claro). Mas o Anthony já passou dos 64! E esse negócio de panela velha é que faz comida boa, sei não... Ó, eu adoro o Anthony. Acho que ele mereceu o Oscar por "Silêncio dos Inocentes", em 91. Acho que ele já tava meio idoso pra assustar alguém em "Hannibal", mas entendo, não dá pra desprezar cachê de milhões de dólares; o Anthony também tem que comer, gente. Só que em "Dragão" ele tá tão acabadinho, coitado, que eu ficava torcendo pra ele não fraturar a mandíbula ao morder carnes mais duras.

Por falar em dureza, tentei argumentar com um atendente de locadora que "Dragão" é uma refilmagem de um suspense de 1986 com o mesmo nome, mas ele não acreditou em mim. Tive de devorá-lo com um bom Chianti. Tá, antes que me perguntem o que achei de "Dragão" (o atual, não o de 86, que não vi), respondo que é muito inferior a "Silêncio" – que, afinal, é bárbaro –, e muito superior a "Hannibal" – que, afinal, é um lixo. E já vou logo contando a trama de "Dragão", que se passa na década de 80, anterior a "Silêncio". O Edward, um agente do FBI, prende o Hannibal. Porém, como nos EUA psicopata nasce em árvore, logo surge o Ralph Fiennes pra liquidar famílias inteiras e gritar: "Eu sou o dragão e você me chama de louco!". A cega Emiliy Watson se apaixona por ele. Já já ela aparece no Ratinho pra divulgar seu livro, "Eu Transei com um Serial Killer" (subtítulo: "e gostei"). Pra capturar o carinha, Edward tem que consultar o Anthony. E é óbvio que, com tanta família pra matar por aí, o Ralph vai se fixar na família do detetive, o que me leva a pensar: será que assassino não vai ao cinema, não? Meter-se com o herói não faz bem à saúde.

Achei legais os trinta minutos iniciais e a trilha sonora, embora "Dragão" não explique por que diachos toda a humanidade acha que o Edward é um agente superdotado. Tá certo que ele encontra todas as pistas sozinho, mas, fora fazer perícia à noite, com lanterna, ele não tem nada de especial. Agora, já tá na hora do canibal se aposentar. Hannibal, o monstro gourmet, só me amedronta por gostar de fígado, argh. Terror por terror, vamos admitir: o Serra apavorava muito mais.

Nenhum comentário: