sexta-feira, 29 de novembro de 2002

CRÍTICA: 007 UM NOVO DIA PARA MORRER / 007 não morre mais

Voltei! Confesso que o ponto alto das minhas longas e merecidas férias ao sul do Sul foi ter pulado "O Senhor dos Anéis 2". Em compensação, conheci um grupo de neozelandeses em Montevidéu. Eles são super simpáticos – como que o Peter Jackson foi sair assim tão tedioso? Mas vou ficar quieta antes que a legião dos fanáticos por Tolkien renove minha sentença de morte. Quero falar sobre o último 007. Estou pensando até em contratar o Bond pra me proteger da seita dos nerds.

Admito que fui assistir a "007 – Um Novo Dia para Morrer" (todo dia é dia pro pessoal que quer ver o meu cadáver) esperando o pior. Mas a aventura até que é bacaninha. Quero dizer, ela tá cheia de brinquedinhos tecnológicos, diálogos com duplo sentido, mulheres de biquíni, e agentes secretos a serviço de sua majestade, o Bush. O que mais pode se querer de um legítimo Bond, James Bond? Uma história consistente?

Repare nos números: este é o vigésimo filme da franquia mais duradoura do cinema (quarenta anos! Mais que o Jason!), o quinto com o Pierce Brosnan no papel-título, e o primeiro que eu encaro desde os tempos áureos do Roger Moore. Não vou entrar na discussão de quem é o melhor Bond, até porque temos o costume de considerar o melhor aquele que o interpretou na nossa adolescência, então pra mim o melhor é o Roger e ponto final – se bem que ainda não conheci quem falasse "Bom mesmo foi o George Lanzenby!" ou "Sua cretina! O melhor foi o Timothy Dalton!". Em geral, o público adora o Sean Connery. Tudo bem. Mas vamos aceitar que o Pierce está à altura dos seus antepassados. Ele é um charme. Tem uma hora que a Judi Dench lhe diz: "Agora você não serve pra nada". Não é bem assim, coitadinho. Se quiser dar um pulinho aqui em casa, James, tentarei encontrar alguma serventia pra você.

O 007 não se abala muito com a afirmação da Judi, pois logo ele parte pra salvar o mundo. Aliás, não sei por que os EUA estão tendo atritos na Coréia do Norte se o James poderia acabar com tudo sozinho. Começa com ele lá, sendo torturado durante 14 meses numa prisão coreana. Nada de grave acontece com ele, fora ficar a cara do Daniel Day-Lewis, o que não é de todo ruim. Em seguida, entra a música-tema com umas bailarinas pra lá de kitsch e a Madonna cantando que quer evitar todos os clichês. O filme não segue a dica. Depois, o Bond vai a Cuba. Vejamos... Algum arquiinimigo americano foi deixado de lado? Faltou o tour pelo Iraque e pela Venezuela. Quem sabe o James dá uma mãozinha no golpe contra o Chávez?

Claro que o 007 é tão britânico como o Tony Blair, o maior parceiro ianque. Bom, todo mundo sabe que o personagem do Ian Fleming foi criado para amortecer a queda do Império Britânico. Em outras palavras, inventaram um herói para que os ingleses se sentissem menos inúteis. Com o tempo, James foi ficando menos misógino e promíscuo. A época do Sean Connery surrando mulheres acabou. Hoje eles colocam uma mulher, a linda Halle Berry, pra bater em outra mulher e chamá-la de vadia.

Mas não dá pra filosofar em cima do 007. Por que vamos ver um filme desses? Um adolescente aluno meu disse que vai pra ver os carrões. É estranho, já que o melhor carrão é invisível e todos acabam explodindo, mas vá lá. O importante mesmo é o Fator Ahh. Quanto mais alto o espectador incrédulo fizer "ahh!", melhor o filme. Numa cena incrivelmente mal-feita (meu computador gera imagens mais fiéis, juro) em que o Bond cai de um penhasco e reaparece surfando de pára-quedas, um carinha atrás de mim gritou: "Ahh! Agora eles forçaram!". Agora?!

Termino contando que este 007 foi dirigido pelo neozelandês Lee Tamahori, o mesmo do bom "O Amor e a Fúria" e dos tenebrosos "O Preço da Traição" e "Na Teia da Aranha". O que me leva a pensar: o que anda acontecendo com os neozelandeses, hein?

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