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E depois dizem que homem não se mobiliza pra apoiar as mulheres...Perdi a conta de quantos tweets e emails recebi nesses últimos três dias. Só sei que foram 860 comentários no post explicando a situação, 500 no primeiro, 100 no último. A maior parte me dando todo apoio, um carinho imenso. Obrigada mesmo, pessoal. E hoje de madrugada a Raquel ainda me enviou este vídeo fantástico. Francamente, quanta incoerência, Mr. Tas... Lógico, co
mo não podia deixar de ser, recebi minha dose diária de ódio. O Júlio César, um leitor antigo e querido do blog, deu uma boa resumida: “Uma breve descrição da Lola pelos olhos dos defensores do Tas: É uma blogueira petralha e comunista (já pisou até na Rússia!), criou este blog há mais de 3 anos para defender um movimento falido de dominação feminina sobre os homens (como pode? a natureza diz o contrário!), pregar o assassinato de criancinhas indefesas e dar apoio aos homossexuais (contrariando a bíblia!). Finalmente conseguiu seu objetivo maior: seus 15 minutos de fama através da falta de humor! E ainda tem a audácia de ilustrar o blog com fotos suas mesmo estando acima do peso!”. Como este é meu blog e o único espaço que tenho, queria só dar meus pitaquinhos às asneiras mais repetidas que ouvi nesses últimos dias:É só uma piada.Nada é “só” alguma coisa. Tudo tem um significado e um contexto. Imagino que
o pessoal que vive repetindo, como se fosse um mantra, “é só uma piada, é só um filme, é só uma música, é só um _____ (espaço livre para sua imaginação)”, nunca tenha ouvido falar de Análise do Discurso. Que é a área que estuda, em todo o mundo, as entrelinhas de todo tipo de discurso (e, que eu saiba, piada é um discurso). Dizer que é um favor mulher feia ser estuprada, chamar mamilo de rocambole, ridicularizar mães que amamentam em público, criticar que mães feias exponham suas “tetas” na rua — tudo isso é um discurso. E não é um discurso novo. É clichê, lugar-comum. É o que se diz sempre, tanto a sério como brincando, para condenar o corpo da mulher e limitar seu espaço. Não é nem um pouco estranho que se façam tão poucas piadas com homens brancos e héteros? Sempre que a gente discute humor, vem um desavisado dizer
que “toda piada tem uma vítima”. Mas parece que as vítimas são sempre negros, gays, mulheres (ou você já contou muitas piadas de loiro burro hoje?), gordas, judeus, e outros alvos preferenciais. O humor burro é o que perpetua o preconceito. O humor inteligente é o que o combate. E abra sua mente: CQC e outras porcarias que há na TV não são as únicas formas de humor possíveis. Você está querendo se promover.Pois é, eu abri o blog esta semana com o único propósito de conseguir fama e fortuna. Não é que eu escreva posts diários falando de direitos das minorias há 3,5 anos. Comecei ontem. E pô, cadê a grana preta que me prometeram?!
Não entendo bem o que é promoção. Todo mundo que escreve quer ser lido, certo? Por que eu não posso querer? Ou eu não posso querer me promover “à custa de uma pessoa famosa”, como também fui acusada? Isso equivale a dizer que uma pessoa famosa não pode ser criticada. Ou que só pode ser criticada por outra pessoa famosa. Não tenho certeza, mas desconfio que esse tipo de pensamento seja ligeiramente anti-democrático. Você quer aparecer no CQC.Não, obrigada. Já participei do MTV Debate com o Lobão e foi uma experiência traumática pra toda a vida. Constatei que é raro ter vida inteligente na TV. De vez em quando até vou a alguns programas locais, desde que sejam comandados por pessoas sensatas sem o ego do tamanho de um boi, dessas que não deixam ninguém falar. Já passei por isso e aconselho: não aceite o convite. É o maior mico.
Conseguiu fama, hein? É só dar uma de ativista que o povo cai.Na realidade, “o povo cai” sem precisar “dar uma de ativista”. É só ver o que faz sucesso. CQC é ativismo? Se for, é contra o quê? Só se for ativismo na arte de divulgar preconceitos. Você deveria estar protestando contra _____ (insira aqui a causa que você acha mais pertinente. Dicas: Congresso Nacional / situação das crianças abandonadas / fome na África / corrupção / tráfico de drogas / preço do chocolate). Este deve ser o argumento mais antigo do mundo pra mandar alguém calar a boca. Só porque você acha que tal assunto não é importante, não quer dizer que não seja. Lamento informar, mas quem decide o que é ou não importante não é você. Pra piorar, esse tipo de argumentação costuma ser u
sado por gente do alto do seu privilégio e dirigido a representantes de minorias que lutam por seus direitos. É ridículo. Não é porque eu (e muitas outras pessoas) estou defendendo a liberdade de expressão e a amamentação em público que todas as outras lutas serão interrompidas automaticamente. Não é assim: “Atenção, Lolinha vai falar de liberdade de expressão. Vocês aí recolhendo animais na rua, podem parando já. Não insistam! Ei você aí, não ouviu? Largue já esse viralata!”. Sabe, obladioblada life goes on bla, a luta continua. Outra coincidência esquisita é que pessoas que usam esse argumento não costumam mexer um dedo em favor de causa nenhuma. Assim o Brasil vai continuar sendo terceiro mundo. É, bem assim, né? Primeiro que o conceito de terceiro mundo já está ultrapassado em alguns anos. O Brasil é tido como um país em desenvolvimento, parte integral dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, Áfric
a do Sul), essas nações com maior crescimento no planeta e bem cotadas para serem as próximas potências mundiais. Durante a sua vida, inclusive, olha só que honra! Segundo que o Brasil (como qualquer outra nação) tem inúmeros problemas pra resolver, mas não vai ser não protestando que o país vai melhorar. Um dos pontos em que o Brasil ainda é totalmente subdesenvolvido é na questão de direitos humanos. Mas disso você gosta, né? Direitos humanos para humanos direitos etc e tal. Assim você apoia o subdesenvolvimento.Já que você se diz feminista deveria cuidar de assuntos que realmente afetam as mulheres. É, eu “me digo” feminista desde meus 8 anos de idade (tenho provas!), com
muito orgulho. Um assunto que realmente afeta as mulheres é a aceitação do próprio corpo. Outro é que a mulher tenha autonomia total sobre seu corpo. Esses dois assuntos estão totalmente ligados às piadinhas do CQC contra as mulheres que amamentam em público. Este é um tema seríssimo. Não é à toa que tantas mulheres estejam se reunindo pra promover mamaços por todo o país. Estamos vendo um verdadeiro retrocesso no sentido da autonomia feminina, e o CQC só representa um exemplo visível desse retrocesso. Faz poucos anos, ninguém ousaria dizer pra uma mãe que amamenta em público pra ela ir ao banheiro, ou cobrir o filho com um paninho, ou ficar em casa. Isso era visto como um direito inalienável da mãe e do bebê. É assim nas Europas. Mas estamos importando o que há
de mais tacanho e medieval dos EUA que, há mais ou menos uma década, começou a condenar mães que amamentam em público. Claro, não é uma condenação formal. É o “socialmente inaceitável”. Por força popular e conservadora, de repente dar de mamar a um bebê na frente de todos passou a ser visto como errado. E é esse modelo reacionário, estúpido, repressor, moralista, machista que estamos copiando. Acredite em mim: é um assunto urgente que interessa demais às mulheres. Mesmo àquelas que, como eu, não têm filhos. Você só pode ser mal amada por estar criticando ______ (insira aqui o tema da vez
).What's love got to do with it, babe? Engraçado: eu não conheço uma só mulher que já reclamou sobre qualquer coisa que não foi chamada de mal amada (geralmente somos chamadas de vadias também, o que pra mim soa meio contraditório). Feministas, então, ouvem a alcunha mal amada com maior frequência do que ouvem o nome dos seus respectivos maridos, namorados, ou esposas e namoradas (sim, algumas feministas são lésbicas. O quê, você pensava que eram todas?! Aliás, alguns feministas são homens. Mas, curiosamente, eles não são chamados de mal comidos ou vadios). Quase todas as feministas que conheço são muito bem amadas, obrigada, até porque costumam ter parceir@s inteligentes, que não são machistas. Mas e se uma pessoa que luta por direitos não fizer sexo, isso invalida seu discurso? Tipo, a Madre Teresa de Calcultá não poderia se manifestar por não ser (sexualmente) amada? É a espécie de crític
a-clichê que não faz o menor sentido. Como se as outras fizessem...E, como este é um blog de utilidade pública, dou uma dica preciosa pros hominhos que sentem-se incomodados ao verem mães amamentando em público: andem sempre com um paninho pra cobrir os olhos. Não precisa agradecer.
Acabei de ser informada via Twitter de uma matéria no Comunique-se: 1o Caderno, com o título “Polêmica entre Marcelo Tas e blogueira: apresentador não nega processo contra professora”. A matéria de Anderson Scardoelli, que estranhamente não me contatou para ouvir o meu lado (embora utilize meus posts para resumir o que falei), faz um resumo do que aconteceu. É a primeira vez, que eu saiba, que Tas se pronuncia sobre o assunto. E sua posição é que isso não é notícia. Pra mim é. Afinal, eu que fui ameaçada com um processo!Bom, considero uma contradição que ele se diga prejudicado, pois, ao mesmo tempo em que está “chateado”, também se vangloria de ter aumentado seu número de seguidores no Twitter. Ele fala disso na matéria, e num tweet de ontem:
Mas o que fico pasma mesmo é como ele acha que falar de uma ameça de processo contra quem quer que seja não é notícia, é um assunto pessoal. Quando ele é vítima de ameaças contra sua liberdade de expressão, aí sim é notícia, né? Mas quando é alguém que ele quer calar, então é particular. Tas tem uma maneira peculiar de encarar a liberdade de expressão: para defendê-la em seu favor ele faz em público; para ameaçar, ele faz em privado. Considero essa uma atitude hipócrita. Por que @s leitor@s e espectador@s de um dos arautos da liberdade de expressão não têm o direito de saber quando ele ameaça uma blogueira com um processo?
E sim, considero que ameaçar alguém com um processo, embora seja um direito legítimo, é uma tentativa de coerção e de intimidação. E das mais usadas. Não estamos falando de uma pessoa processando outra. Estamos falando de uma pessoa com toda uma máquina de advogados processando outra. Que não fez nada além de manifestar sua opinião sobre o programa (porque, como já disse, apenas o citei uma vez no post). As palavras de Tas no email me soaram como uma mostra de arrogância, um exemplo de “você sabe com quem está falando?”. Foram essas: “Você vai aprender através de um processo por calúnia e difamação a ser mais responsável com o que publica, esta troca de e-mails documenta a minha tentativa de dialogo com voce antes de tomar o caminho da Justiça”.Que fique claro: Tás não está sendo reprovado (se é que está) pela opinião públic
a pelas asneiras ditas no CQC 3.0, apesar do apresentador querer se desvencilhar do programa, quando lhe convém. Meu texto criticando a misoginia explícita que o CQC mostrou contra a anatomia feminina ficaria restrito ao meu círculo de leitor@s (que não é tão pequeno, com as 150 mil pageviews por mês do meu blog), mas que nem de longe se compara à audiência de um programa de TV. Certamente as mães ativistas que participarão dos próximos mamaços (veja aqui a agenda) se lembrariam do que os integrantes do CQC acham delas, que ousam amamentar em público. Não necessariamente por causa do meu blog, mas porque a maior parte das mães que viu o programa (veja aqui) sentiu-se muito ofendida. E esse argumento de “é só humor, é só uma piada” é tão leviano, não? Quer dizer que se eu dissesse tudo o que disse do CQC e incluísse no final um “Ha ha, não levem tão a sério, vão ver a vida lá fora, eu só estava brincando” eu nã
o seria ameaçada de processo? Quem fala essas besteiras de "é só uma piada, é só um filme, é só um livro" nunca ouviu falar de toda uma área de pesquisa chamada Análise do Discurso. O jeito como o CQC tratou da amamentação em público revoltou muita gente, eu inclusa, mas o que realmente mobilizou a rede, em sua maioria contra o Tas (eu acho, não tenho os números das pesquisas em mãos), não foi isso — até porque, para muitos que viram o vídeo, ele não entrou nas brincadeiras de Rafinha e Luque para ofender as mães e seus corpos. O que revoltou o pessoal foi ele ter me ameaçado de processo. Não é muito difícil de entender. E por que isso é polêmico? Porque a ameaça partiu do Tas, que geralmente é associado a movimentos pró-liberdade de expressão. Só que as pessoas não são bobas: elas enxergam a contradição aí, os dois pesos, duas medidas. Acho que até os espectadores do CQC são capazes de ver essa contradição. Reitero que da minha parte, sou 100% a favor da liberdade de expressão. Nunc
a processei ninguém, nunca ameacei alguém de processo, nunca quis censurar ninguém. E meu blog está sempre aberto para ouvir “o outro lado”, através de guest posts ou de comentários. E, embora eu seja uma só mulher, sem programa de TV, com um emprego de professora que nada tem a ver com meu blog, sei que conto com o apoio de milhares de pessoas cansadas da arrogância das celebridades e do velho e autoritário “Você vai aprender através de um processo”. Esta luta não é só minha.
P.S.: Pra quem acha que estou tentando me promover com este caso, aviso que desde janeiro de 2008 escrevo diariamente neste blog. São 2195 posts, 1.7 milhão de visitas, 2.9 mi de pageviews, que renderam 53 mil comentários de leitor@s inteligentes, divertid@s, que sabem se expressar (ao contrário, e digo isso com pesar, do que parece ser o público-alvo do CQC). Um dos meus principais assuntos no blog é crítica da mídia. Realizo, aliás, um curso de extensão aberto à comunidade sobre este tema. O blog é o único espaço que tenho para me manifestar. E vou usá-lo para informar às leitor@s de cada passo do tal processo. Isso, sim, é acesso à informação. É liberdade de expressão. Porque eu não considero esse um assunto privado.
Niemi é uma comentarista frequente e querida por aqui. Quando a Aoi Ito publicou seu guest post, a Niemi perguntou se podia dar a sua visão. E claro que eu topei.Antes de inicia
r o texto, gostaria de agradecer primeiramente a Lola pelo espaço e em segundo lugar às queridas Larissa, Jac e Mia pelas suas valiosas considerações.As pessoas de modo geral vêem o mundo claramente dividido em dualidades, bem e mal, homem e mulher, certo ou errado; a vida se resume a preto no branco e não há espaços para tons de cinza.No meio de tudo isso está nossa sexualidade. As pessoas entendem que há duas opções a se seguir, homo ou hétero, mas quando alguém se manifesta 'bissexual' essa pessoa parece transgredir a dinâmica de 0 e 1. Numa alusão tosca, imagine um sorveteiro que pergunta se você quer sorvete de mora
ngo ou de chocolate. Ao responder que quer um pouco de cada um, ele se espanta e diz com petulância: “Como assim? Não tem como você gostar dos dois! Você precisa escolher um”. [Nota da Lola: essa conversa me lembra a cena deletada de Spartacus sobre gostar de ostras ou escargot]. Ser bi é ser guloso, desejar mais do que se tem para oferecer. A bissexualidade (ou biafetividade?) na maioria das vezes é percebida como a indecisão de alguém que só quer chamar a atenção, mas será mesmo?Desde que me descobri biafetiva aos 14 anos, quando tive coragem para me declarar para a primeira garota, passei a me perguntar se isso não era apenas curtição, um ato de rebeldia adolescente. O tempo passou e eu percebi que não.Creio que para a maioria das pessoas independente da sua orientação sexual o que importa mesmo em
uma relação é a companhia da pessoa com quem você está; sexo é um complemento (muito bom aliás, mas não é tudo num relacionamento). A necessidade de se sentir amado e amar alguém é que nos atrai, isso não muda.No meu caso que sou mulher, tenho que enfrentar a diminuição da minha sexualidade por homens que a reduzem a um fetiche. Eles pensam que beijo outras mulheres para ganhar pontos, mostrar que sou safada e que topo tudo, tudo para agradá-los. Fica difícil entenderem que a minha biafetividade é algo para mim. Eles ignoram a minha individualidade e acham que estou beijando outra mulher para atender a sexualidade deles. Quando o homem se diz compreensivo, a dita compreensão vem quase sempre acompanhada de um interesse. O companheiro que se acha dono deixa claro: “Eu, seu dono, deixo você ficar com mulheres porque não fere meu orgulho de macho alfa e ainda satisfa
z a minha sexualidade”. Outros perguntam se você topa uma brincadeira a três. Claro, ser bi é nunca dizer não, afinal, se está na dúvida, por que negar? Experimentar, experimentar, experimentar.Isso sem contar que muitas vezes a pessoa biafetiva carrega a imagem de alguém que é promíscua e tem tendência a ter relações ‘clandestinas’. Não basta querer morango e chocolate -- enganar o sorveteiro e levar um pouquinho da calda de menta é a regra se você é bi. Mas essa confusão da parte dos homens é culpa daquela visão de que a sexualidade feminina não existe, ou existe para ser objeto da sexualidade masculina. Para eles a vagina é um acessório que deve estar sempre acompanhada de um pênis. A nossa cultura mesmo fortifica isso demonizando meninas que sentem vontade de descobrir seu corpo. Uma bi resolvida com seu corpo e sexualidade para alguns machos é vista como uma mulher que aprendeu a gostar de sexo igual homem, já que mulher nunca descobre por si mesma que sexo é bom ,
né? (e uma vez que ela aprendeu que gosta de sexo, automaticamente quer fazer sexo com qualquer pessoa, como um homem faria). A idéia de que bi é promiscua vem daí.Deveríamos ter o direito de levar nossa vida sexual do jeito que bem entendermos, sem esse julgamento soberbo. Não importando nossa afetividade.Nas baladas da vida há meninas que beijam esporadicamente outras meninas. Para algumas pessoas, essas meninas querem apenas provocar os homens, e aceitarão de bom grado se algum deles quiser se juntar na brincadeira. Não digo que algumas não estejam de fato experimentando, se descobrindo ou então fazendo isso por pressão social, acreditando que serão mais procuradas por rapazes, e isso as agrada. Na minha humilde opinião não adianta ficar taxando essas garotas de falsas. Elas se envolvem com quem quiserem. Se a pessoa em questão procura uma relação séria, hétero ou homo, que seja, com uma mulher e detecta que a outra está apenas de curtição, acho que cabe o bom senso de seguir seu caminho. Falso ou verdadeiro é muito subjetivo e não serão esses
rótulos que vão fortificar o movimento LGBTTT. Se pessoas héteros que se passam por bi contribuem para uma imagem estereotipada de lésbicas, cabe a nós continuarmos vivendo da nossa maneira e mostrar que somos diferentes do que nos pintam. Combater o nojo enrustido que as pessoas têm do sexo seria muito mais eficaz do que ir atrás de uma “falsa lésbica”, acreditem.Agora contando um pouco da minha própria experiência como bi. Quando me relaciono com outras mulheres, costumo ouvir a constante ameaça: “ou você para de sair com homens ou nosso namoro acaba”. Vejo nessas palavras a dedução de que eu como bi não consigo controlar meu desejo insano, já que devo amputar minha gula. Infelizmente, vejo muita lésbica preocupada demais com extremismo, que não enxerga que só reforça a heteronormatividade copiando a sua dinâmica de ‘pureza’.Muitas ainda acham que se estou em um relacionamento com uma menina não posso depois sair com um rapaz, pois iss
o significaria que mudei de lado e não apoio mais o “movimento”. Espera ai, não é porque uma pessoa biafetiva decide ter um relacionamento com alguém do sexo oposto que ela vai deixar de ter empatia pela causa LGBTTT e que vai esquecer todos os pesadelos que ela e outras pessoas vivem por conta do preconceito! Estamos apenas procurando afeto, carinho, atenção, sexo. Para ter empatia por alguém, acho que não é preciso necessariamente viver a mesma situação, correto?Algumas pessoas biafetivas podem acabar estabelecendo uma relação hétero duradoura. Elas sabem que isso representa uma série de privilégios, acreditem. Mas a biafetividade não pode ser considerada algo ruim por representar uma zona de conforto para elas. E quem é definitivamente homoafetivo e não tem coragem de ‘sair do armário’? ‘Conforto’ é uma palavra de significado complicado neste contexto; tenho certeza que a pessoa não se sente realmente confortável em nenhuma dessas duas situações. Vamos culpá-las?
As pessoas não têm coragem ou vontade de discutir a biafetividade porque o próprio termo ‘bi’ parece surreal demais para ser discutido. Preferem inventar termos toscos como “Flex” do que se perguntar qual é a necessidade que leva uma pessoa a amar homens e mulheres.Vão por mim: há pessoas que não têm dúvida alguma de que gostam de meninos E meninas.
Estou indignada, mas vou me esforçar para não parecer tão indignada. Ontem, como vocês viram, publiquei um post mandando o CQC pra PQP. Isso foi no título. No texto em si eu estava muito mais comedida, e expliquei porque é misoginia ter nojo da anatomia femin
ina (principalmente quando esta anatomia não está a serviço dos homens adultos e héteros, como no caso da vagina no parto e dos seios na amamentação). Por que fiquei tão revoltada? Por uma questão de princípios. Não sou mãe, nunca quis ser mãe, e agora, prestes a completar 44 anos na próxima segunda, definitivamente não serei mãe. Portanto, nunca amamentei. Também nunca fiz aborto, e no entanto sou 100% a favor da legalização do aborto. Assim como não sou lésbica, mas comemorei quando a união homoafetiva passou no Supremo. Não sou negra, mas faça uma piadinha racista perto de mim. E por aí vai. Eu não defendo apenas as causas que me beneficiam diretamente. Já faz tempo que eu e muitas, muitas pessoas não engolimos as asneiras “politicamente incorretas” (código para “posso falar o que quiser e não aceito ser contestado”) de Rafinha Bastos, Danilo Gentili, e do C
QC em geral, entre tantas outras celebridades e seus programas. Mês passado foram dois casos: Rafinha, numa revista, defendendo com todos os dentes piada de estupro (é um favor uma mulher feia ser estuprada, estuprador merece um abraço etc), e Danilo twittando que entende porque os judeus de Higienópolis são contra a construção do metrô — porque, da última vez que entraram num vagão, foram parar em Auschwitz. No segundo caso, a Band exigiu retratação do seu contratado, e Danilo rapidamente tirou o tweet do ar e pediu desculpas. No caso de Rafinha, nada. Parece que não é bacana fazer piada com judeu, mas com mulher, zuzo bem, tá liberado. Afinal, somos apenas 52% da pop
ulação. Mas eu me ofendo. Sou feminista desde os 8 anos de idade, e pra mim é ponto pacífico que a mulher tenha liberdade sobre seu corpo. Portanto, quando vem um bando de marmanjo ridicularizar mulheres por amamentarem em público, vejo isso como uma intervenção no corpo da mulher. É dizer que ela não pode amamentar na frente de outras pessoas, que existe apenas um tipo de seio que pode ser exposto. Isso num momento em que os mamaços se intensificam por todo o país, porque as mães não são bobas: elas sabem que vem crescendo no Brasil um conservadorismo que é contra a liberdade feminina (e também contra a liberdade de todas as outras minorias).
Quando Rafinha desdenhou do mamaço (e do beijaço), ele sabia o que estava fazendo. O CQC sabia. E aq
ui admito que errei numa informação no meu texto, como me informou uma leitora: não foi na TV que esse lamentável diálogo (veja aqui) aconteceu. Foi no CQC 3.0, que passa na internet após o programa televisivo. Mas faz muita diferença? Os participantes são os mesmos. Os temas, pelo que me contam, são os mesmos. O nível de estupidez é o mesmo. Se a gente considerar que integrantes do CQC estão ligados ao programa até quando falam numa revista ou no twitter, imagino que o que eles digam num troço pra internet chamado CQC 3.0 conte como parte do CQC, ou não? De todo modo, ontem mais ou menos no almoço recebi um email do Marcelo Tas, curto e grosso, querendo saber onde e quando ele se posicionou contra a amamentação. Eu respondi, com a mesma educação que me foi dispensada, que nem ele nem o CQC se opuseram à amamentação, e sim à amamentação em público, como está claro no meu texto.
E que eu só citei o Tas uma vez, num parênteses sem referência à amamentação em si, em que eu dizia que é claro que a sociedade gosta de seios (desde que direcionados a sua função única, a de fazer babar os homens) porque a TV não sobreviveria só de Rafinhas ou Marcelos Tas. Mas ele me mandou um outro email, subindo o tom, pedindo retificação imediata, porque ele não se disse contra a amamentação em público, ele não disse nada daquilo, e ele não é misógino. Comentei no Twitter que eu tinha recebido email do Tas e, mais tarde, publiquei nos comentários do meu post esses dois emails curtinhos como resposta dele, como um “outro lado”. Recebi outro email em seguida, em que ele diz: “Você vai aprender através de um processo por calúnia e difamação a ser mais responsável com o que publica, esta troca de e-mails documenta a minha tentativa de dialogo com voce antes de tomar o caminho da Justiça”. Quer dizer, o que foi isso? Ameaça de processo, certo? E isso me deixa indigna
da. O CQC tem o direito sagrado da liberdade de expressão para caluniar todas as mulheres, mas eu não tenho a liberdade para criticá-los? Então me parece que essa tal liberdade é meio relativa. Eu, por exemplo, dona deste humilde bloguinho com suas 90 mil visitas e 150 mil pageviews por mês, jamais ameacei ninguém com um processo. Sou contra a censura. Em todas as minhas críticas aos machistas, misóginos, homofóbicos e racistas de plantão (e são muitas críticas em 3,5 anos de blog com atualizações diárias), nunca exigi que alguém se calasse ou que algo fosse tirado do ar ou da internet. No caso do Rafinha fazendo piada com estupro, não divulguei nem o que seria totalmente legítimo — que passássemos a boicotar os anunciantes do CQC, programa que o emprega. É engraçado que o Tas queira me processar porque, como lembrou a Srta.Bia, no caso do Danilo, quando a PinkyWainer perguntou ao Tas se ele apoiava o tipo de humor danístico sobre judeus e o metrô de Higienópolis, ele respondeu:
Engraçado também que o CQC e demais programas são os primeiros a gritar “Censura! Exijo liberdade de expressão!” quando recebem qualquer crítica, mas são tão rápidos no gatilho pra ameaçar com processo quem os critica. Eu até entendo. Por coincidência, estava lendo uma matéria da Lúcia Rodrigues na
Caros Amigos de maio. Chama-se “As Novas Táticas da Repressão Política” (trecho aqui) e fala justamente sobre como processos jurídicos são movidos para intimidar os ativistas. É o que está em alta atualmente. O MST incomoda? Não basta só jogar a polícia em cima, mete também um processo! Processo é usado pra calar qualquer um que se oponha ao status quo. E Tas e seus colegas de CQC, apesar de posarem de moderninhos, representam, com seus preconceitos ultrapassados, esse status quo. Seu exército de advogados, sempre prontos para defender os integrantes de qualquer processo, também serve para intimidar. Mas se alguém achar que difamei o Tas, peço para que leia o post, do qual não troquei uma só vírgula. Como disse o Bruno, “se esse post é calúnia, o CQC é formação de quadrilha”. Tas em nenhum momento criticou o que seus colegas disseram, ou as outras besteiras que vivem dizendo. Mas se irritou porque eu o chamei de misógino. É, fui injusta. Gostaria de acrescentar que, além de considerá-lo um m
isógino de marca maior, também o vejo como um tucano enrustido e um babaca arrogante. Isso é calúnia e difamação? Ou é a minha opinião? Se não tenho direito a minha opinião, então, Tas, me processe. Pela demonstração de apoio que recebi ontem, suponho que bastante gente ficará do meu lado, a favor da liberdade de expressão. Acho que na hora muit@s de nós nos levantaremos gritando “Eu sou Spartacus”, sabe? Você deve saber a força de uma mobilização online. Fico no aguardo de você começar uma lu
ta de Davi e Golias contra mim. Ao contrário de você, eu não tenho um dos maiores grupos de comunicação do país me dando apoio. Tenho apenas a minha consciência, e esta precisará de mais de um processo pra ser calada. Eu sou mulher, sou feminista, tenho peito, não tenho medo. Pra mim “aquilo roxo”, balls, cojones, nunca foram sinônimo de coragem. Coragem é enfrentar todo um sistema que insiste em perpetuar preconceitos.
Rafinha, que nunca viu um rocambole, engasga ao dizer mamaçoEu não vejo CQC, mas leitoras me contaram da última do programa da Band em geral, e do Rafinha Bastos (que adora contar piadas sobre estupradores merecerem um abraço) em particular. Dá pra ver aqui. Raf começa lendo carta de uma leitora que lhe pe
de pra falar sobre o mamaço, a manifestação promovida em frente ao Itaú Cultural depois que uma mãe foi impedida de amamentar seu bebê em público. Note como ele diz mamaço, com a maior cara de asco. Não fica claro se seu nojo é pelo ato de amamentar ou pela audácia de pessoas protestarem. Ele exemplifica falando do beijaço, que seria “pra promover o beijo, sei lá”. É, é pedir demais que um carinha, numa concessão pública que é a TV, se informe minimamente antes de falar diante das câmeras. Beijaço não é pra promover beijo. É uma arma do povo LGBTTT para lutar contra a homofobia. Porque, assim como pessoas como Rafinha não aceitam v
er uma mulher amamentar em público, também acham horrível um casal gay se beijar. Do jeito que Raf menciona beijaço e mamaço, ele deixa transparecer o que acha de protestos: ativistas são pessoas fúteis sem nada pra fazer na vida além de reclamar. Revolucionário e profundo é o CQC. Reproduzo um pouquinho o diálogo. Raf: “Por que cargas d'água tem aquela mãe que enfia a teta nas caras das pessoas na rua, véio? Mano, vai prum banheiro, c*ralho, porque a gente olha, não tem como.”“Joga um lencinho em cima,” diz um outro neandertal. “Às vezes dá até um constrangimento” [é, o constrangimento é deles! Não das mães com um cara babando em cima delas!]
Raf: “Não precisa tirar aquele mamilo, que mais parece uma, que parece um rocambole. [...] [Definição rafística pra mamaço:] Todo mundo lá mostrar as teta. [...] Não pode proibir, é um direito da pessoa [note que ele não diz “da mulher”], mas pô, dá uma protegida”.Aí vem o outro energúmeno dizer que amamentar é um pretexto, porque no fundo o que a mulher quer mesmo é mostrar os seios. Claro, né? Afinal, a primeira coisa que tá na mente de toda mulher, inclusive as que estão com um bebê chorando nos braços, é atrair a atenção sexual do macho. É instinto! O problema, segundo o filósofo Rafinha Bastos, não é que a mulher queira se mostrar (isso pode
na nossa sociedade! Imagina se não pudesse, a TV ia viver do quê? Só do talento de Rafinhas e Marcelos Tas?), “é que quem quer mostrar a teta é quem não deveria querer mostrar. Nunca é aquela gostosa. Geralmente é aquela mãe com aquelas buchibas”. E os três machos lamentam que nunca viram a Giselle Bundchen amamentar, apenas aquela mulher “que não precisa de um sutiã, precisa de joelheira”. Essa conversa entre compadres tão moderninhos me revolta, porque é difícil ver três marmanjos do alto do seu privilégio falar de um assunto que não lhes diz respeito.
Sabe como tem muita gente que acha que homem não deve dar pitaco sobre aborto? (e ainda assim 77% de quem comanda as campanhas anti-aborto são homens). Então. Também não deve se meter em amamentação. Porque homem não entende de amamentação. Pra entender, teria que parar de pensar com o pênis e pensar um tiquinho com a cabeça. Toda a questão é que seios não são apenas órgãos sexuais, assim como mulheres não são objetos sexuais. Mulheres existem independentemente do que os homens acham delas. Seios existem, independente do que os homens acham deles. A atitude do CQC deixa claro, em cada linha, que mulheres e seus seios deveriam ter apenas um propósito na vida: servir aos homens. Tenho certeza que Rafinha pensa assim. Aquilo não é um personagem, é ele mesmo, seus pensamentos. Esse pessoal tem muito em comum com o Bolsonaro. É toda uma maneira fascista/mimada de ver a vida, de achar que algo que não os serve não serve pra nada. Mas não são apenas
os reaças que pensam assim. Lembro quando vivia em Detroit e vi o Bill Maher, que nos EUA é tido como liberal, discursar longos minutos contra amamentação em público (veja aqui, é de 2007). Ele acha que mulheres que amamentam em público são preguiçosas, porque não planejam com antecedência quando o bebê terá fome. E ridiculariza as queixas das ativistas: “Não é lutar por um direito, é lutar pelos holofotes. Pare de se achar especial porque você teve um bebê. É algo que um cachorro pode fazer”. E, óbvio dos óbvios, compara amamentar com se masturbar. Todo mundo que é contra amamentar em público fala uma asneira dessas, e nem fica vermelho. As pessoas se masturbam (e, por algum motivo estranho, parece que apenas os homens têm vontade de se mastubar em público, geralmente na frente de alguma me
nina indo pra escola) para obter prazer pra elas mesmas. Amamentar, embora possa ser um ato prazeroso, é alimentar um outro ser, inclusive um ser indefeso, que depende da mãe (ou ao menos de um adulto) pra sobreviver. Como há inúmeros estudos provando que amamentar é melhor pro bebê, já que leite materno é feito especialmente pro bebê humano, e por isso o protege contra doenças, essas cretinices que alguns homens dizem não condenam a amamentação como um todo, apenas a amamentação em público. Mas dá na mesma. Pregar que uma mulher não pode amamentar em público equivale a dizer que ela não deve sair de casa, que ela deve viver pro bebê, deixar de trabalhar e de curti
r a vida pra unicamente servir ao bebê. E isso por quê? Ah, porque homens são seres que não conseguem se controlar ao ver um peito de fora (quem diz isso são eles, não eu!). Mulheres devem deixar de vestir certas roupas e de amamentar porque homens são tarados. Quer dizer, os homens é que têm um problema, e a mulher é quem deve resolvê-lo, abdicando da sua liberdade.Porque olha, não são as mulheres que têm problemas com mamilos. São os homens. E não me venha com essa de que, imagina, homem hétero adora mamilo de mulher! Primeiro que homens mal reconhecem que eles têm mamilos! É zona erógena pra homem héter
o também, sabia? Lembra de todo o carnaval feito em cima da armadura com mamilos de um Batman aí? (escrevi sobre isso). Quem armou todo o auê, homens ou mulheres? Eu me recordo de quando algumas mulheres, no início da década de 80, quiseram fazer topless em praias cariocas. Elas quase foram linchadas. Precisaram de escolta policial pra sair. Quem quase linchou? Homens ou mulheres? Eu nunca ouvi um homem dizer “Ué, não teria problema algum se as mulheres saíssem sem roupa” sem o adendo “mas só as gostosas, mulher feia nem deveria poder ir à praia”. Então não estamos falando de liberdade, né? Estamos falando de homens ditarem pras mulheres quando, quem e onde elas podem fazer o quê com o corpo delas. A ofensiva contra a amamentação em público é uma coisa recente, iniciada nos EUA. Não existia com tanta força até
poucos anos. Agora se alastrou, e como adoramos importar o que não presta dos países desenvolvidos (só o que não presta, como algemar criminosos), importamos mais esta barbaridade pro Brasil. Tá se alastrando. Precisamos lutar contra mais essa barbárie.Os machos do CQC terminam com outro exemplo de como a anatomia feminina é asquerosa, principalmente quando não está a serviço de sua função primordial (satisfazer o homem). Um deles fala de uma tia que mostrou o vídeo do parto. Eles quase vomitam ao
mencionarem vaginas gigantes e sangrentas. Ahn, dica. Gente, tem um nome pra quem diz que anatomia feminina é nojenta, algo do qual as mulheres deveriam se envergonhar: misógino. O substantivo é misoginia. Vocês devem ter ouvido falar. Afinal, é isso que vocês fazem pra viver. Aprendam, homens: seios têm mais finalidades que vender cerveja.
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