terça-feira, 10 de agosto de 2010

O PECADO DE UMA REVISTA

É notícia do mês passado, mas talvez seja importante. A Playboy portuguesa, para homenagear a morte de José Saramago, aprontou uma capa estranha. Colocou Jesus segurando uma mulher seminua numa cama, com a inscrição “O evangelho segundo Jesus Cristo” (um dos livros mais célebres do escritor vencedor do Nobel) na cabeceira. Causou polêmica, lógico, como era a intenção da revista. Vários cristãos do mundo inteiro chiaram. Consequência: a publicação foi fechada. A matriz da Playboy alegou que não foi avisada anteriormente do teor da capa e decidiu rescindir o contrato com sua filial portuguesa. Li algumas pessoas, não sem razão, compararem essa censura (ou tem outro nome?) com aquela onda de violência muçulmana causada pelo cartum dinamarquês de Maomé. Mas o que mais gostei foi ler em algum lugar a descrição de que a moça segurada por Jesus tinha “cara pecaminosa”. Cara pecaminosa?! Ela tá dormindo!
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E vou aproveitar essa notícia pra colocar duas outras anotações que fiz faz tempo sobre a Playboy, mas nunca desenvolvi.
Uma é que o logotipo da Playboy é vendido para meninas em estojos escolares, sabe, como se não significasse absolutamente nada além de um coelhinho estiloso. O logo da Playboy é um dos símbolos mais conhecidos do mundo. Pessoalmente não gosto da revista, não vejo, não leio nem as entrevistas (desculpa comum que o pessoal usa pra comprar o troço). E não acho o logo bonito. E sinto que é anti-ético usá-lo numa “revista adulta” para adornar objetos infantis.
Existe uma ampla discussão se algo como a Playboy é pornografia ou erotismo. Pra muita gente, pornografia é apenas sexo explícito. Outros consideram os vídeos da Playboy “softcore porn”, ao contrário de hardcore. Nem vou entrar nessa discussão. Pra mim, Playboy e similares objetificam as mulheres, mas pelo menos não são misóginas como a maior parte da pornografia hardcore. Hoje em dia, a Playboy é tão bobinha se comparada com outros tipos de pornografia que ninguém nem se espanta que estojos com o logotipo da coelhinha sejam vendidos pra meninas de 11 anos. Mas a gente não fica revoltada que outras marcas, como o McDonald's (pra não falar da indústria tabagista), aliciam crianças com brinquedinhos, parques e símbolos infantis? É claro que elas fazem isso pra formar uma grande clientela. Há grandes chances de uma pessoa que vira cliente quando criança tornar-se consumidor fiel pra vida toda. E é também mais fácil fisgar crianças para um produto duvidoso. Meninas crescendo com a ideia que o logo da Playboy e, consequentemente, o império inteiro de Hugh Hefner, é algo cool, me parece bem perigoso. Já é péssimo que meninas tenham top models como role models e sonhem em ser a próxima Giselle. Agora vão querer crescer pra ser a próxima playmate do mês?
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Este artigo sobre a decadência da Playboy, relacionada à decadência do Hugh Hefner, é do ótimo Jezebel, um site que mistura feminismo com celebridade e cultura pop (muitas vezes, americana demais pro meu gosto). As vendas da Playboy tem caído muito, há rumores que ela está pra ser vendida, e a distribuição gratuita para os anunciantes foi cortada dos 2,6 milhões para 1,5 mi. A meu ver, a revista não é só machista como também elitista e, a julgar pelas pouquíssimas negras, racista. Mas isso tudo normalmente anda junto.
Aparentemente, Hefner defende o direito das mulheres abortarem e a igualdade de gêneros. Jezebel diz que isso é importante, “Mas liberdade sexual para Hefner ainda é liberdade dos homens para olhar para as mulheres, e essa é uma forma bastante estreita acerca da sexualidade humana e de como combater a repressão. Sou totalmente a favor do direito das mulheres poderem usar minissaia, mas o fato de os caras poderem ver as nossas pernas não significa necessariamente que estamos sexualmente realizadas, e a existência de uma revista pornô leve não ajuda muito as mulheres”.
Não sei exatamente como ligar as três notinhas. Deixo esse trabalho pra vocês.

12 comentários:

Natty disse...

Você PRECISA ver essa entrevista.
NOJO da Globo, muito nojo.

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1315694-7823-DILMA+ROUSSEFF+E+ENTREVISTADA+NO+JORNAL+NACIONAL,00.html

Mônica disse...

Lola,
há muitos anos não vejo uma Playboy, mas antigamente ela costumava trazer entrevistas e artigos muito bons. Se isso acabou, é uma pena, porque aí só ficam mesmo as peladonas de praxe...
Quanto aos 'role models', tá bom demais quando as meninas querem ser uma Giselle - que, além de bonita e com uma aparência saudável e de bom astral, é conhecida por ser excelente profissional. Dureza é quando o exemplo passa a ser uma daquelas com cara de fome e tédio, ou então a Naomi Campbell com seus diamantes... :P
abraço
Mônica
Crônicas Urbanas

Lord Anderson disse...

Falando primeiro da capa, não gostei.

Acho sim um desrespeito e se fosse comprador da Playboy não compraria essa edição, mas não pediria o fechamento da editora ou recolhimento da revista.

Sobre ser ou não censura,é bom lembrar que todo cidadão ou grupo tem direito de se reclamar se sentir-se ofendido por uma publicação,programa de tv, etc.
E protestar, pedindo boicote, retratação ,etc.

E isso vale p/ os religiosos tb.

Agora, é diferente se esse protesto se torna violencia ou ameaça de violencia. Se qualquer grupo ameaça autores, editores, jornalistas com a morte.

Então sorry,mas nesse caso em particular não da p/ comparar.

Lord Anderson disse...

Sobre a marca da Playboy ser vendida p/ crianças, é muito preocupante.

Eu vejo dois extremos muito serio na mideia e na sociedade, de um lado a um incentivo a erotização precoce, e de outra um conservadorismo que tenta tolher o proprio desejo sexual feminino.

Nenhum dos dois colabora para um desenvilvimento saudavel da sexualidade de cada individuo.

Giovanni Gouveia disse...

Nos anos 80 fizeram um presépio ali em Olinda com Maria amamentando Jesus, uns idiotas acharam um absurdo, criou-se uma polêmica, aí um dia o presépio foi criminosamente incendiado...

o oculto disse...

ola, sou um leitor deste blog e, ao mesmo tempo, sou um estuprador em potencial. eu nunca serei um, de fato, mas fiz um blog pra tentar mostrar a cabeca de um cara que faz isso e procurar formas de tratamento sem que isso destrua a minha vida e a de outros caras como eu. se puder, por favor, ajude a divulgar.

João disse...

Interessantes seus pontos de vista, Lola. Só que comparar (colocar no mesmo nível) boicote à revista portuguesa com a reação violenta à charge dinamarquesa (ou a Salman Rushdie -- este, um acréscimo meu, já que vai na mesma direção) é um descalabro. Em nome da defesa de seus pontos de vista você compara alhos com bugalhos e sua teoria se perde... Todo radicalismo escorrega feio. Todo radicalismo é ruim!

Natty, fiquei curioso em saber o que exatamente deu nojo em você a entrevista da Globo. Não consegui abrir o link! Mas certamente a Lola vai "explicar por que a entrevista deu nojo em petistas", mas não vai dizer que foram as respostas pobres da Dilma, e sim que os entrevistadores foram tendenciosos. Só porque eles não queriam ser enrolados, hoje já ouvi de um petista a pérola de que os entrevistadores "foram fraquinhos". Isso é o máximo! A entrevistada cometeu erros de geografia, de economia e praticou "enrolation" boa parte do tempo... Sem contar nos de português, claro, mas esse é o normal dela, não foi só nessa entrevista...

Vitor Ferreira disse...

Lola, só uma correção:

O correto é A logo, e não O logo, apesar das duas coisas existirem. Logo pode ser abreviação de logotipo e logomarca. Todo logotipo é uma logomarca, mas nem toda logomarca é um logotipo, caso da logomarca da playboy. Logotipo é uma logomarca feita apenas com tipos, ou seja, letras, palavras, e afins.

Todo mundo erra isso, já que não é algo esclarecido mesmo, e eu como deisgner fico me corroendo por dentro sempre que vejo o pessoal errando hehehe.

Pentacúspide disse...

Vi no youtube uns vídeos onde religiosos atacam filmes de disney dizendo que eles promovem a erotização precoce das crianças (o que é estúpido, visto todo o ser humano ser sexualizado desde a nascença. Freud falou da boca como o primeiro órgão erótico; porém, compreendo o que querem dizer quando usam o termo erotização, tal como a usou o Lorde, apesar de concordar com o seu ponto de vista sobre o dois extremos), e mostram imagens de falos disfarçados em desenhos, e referências sexuais e brincadeiras bem maldosas em algumas cenas de alguns desenhos; na verdade, eu nunca tinha dado conta daquilo, dizem que eram mensagens subliminares. Vou descrever uma dessas cenas: no desenho o rei leão, Simba e Nala (julgo ser o nome dela) estavam a descer o rio quando caíram três cocos, ela apanhou duas delas com as mãos e a terceira desapareceu, só que ela fez a cara de quem tivesse apanhado o terceiro coco com a vagina. Bem, até me terem mostrado a cena eu nem sabia que ali estava, mas nem por isso deixei de gostar dos desenhos da disney.

Outro, dizem que os desenhos fazem referências a cultos satânicos, e mostram algumas cenas que lhes dão razão no seu dizer. Entretanto, de novo, se não me tivessem mostrado as cenas e me explicado que certos gestos eram próprios desses cultos eu nem saberia que ali estavam.

Com toda esta treta quero dizer: as meninas não usam símbolos do coelhinho porque querem ser os próximos modelos (vou evitar o uso de logótipo até interiorizar o ensinamento de Vítor , pois não fazia distinção nenhuma das duas coisas, aliás, para confessar, é a primeira vez que ouvi falar de logomarca), mas porque o símbolo é "cool", é marca da moda, é ser "avant-gard", ou estar nas fileiras dos modernos e actualizados. Pelo menos é o que acredito. De facto, às vezes faz-me espécie ver menininhas com esse símbolo, porque eu conheço tanto o significado quanto o significante; mas, por acaso, lembro-me de um diálogo ente as filhas de uma amiga, de onze e nove anos, cujo o símbolo significavam coisas diferentes; para a de onze lembrava a Jessica Rabbit e o Bugs Bugny, mas a de nove sabia o que significava e chamava de totó à irmã, porque aquilo era símbolo de miúdas giras. Só isso, miúda giras, nada de sexo, eu queria explicar-lhes o significado, mas não via como, não seria eu a falar de sexo a menininhas, ainda mais filhas de outrem, a mãe delas disse-me depois: elas irão aprender o seu significado quando aprenderem, deixa-as ficar com a ideia que criaram, não faz mal a ninguém.

Pentacúspide disse...

Bom, quando a Samantha diz a capa ser um desrespeito aos cristãos, eu pergunto: se os religiosos se referem aos filmes e capas de revistas, às pornógrafas como exemplos do pecado sem serem por isso censurados e sem que isso seja desrespeito, por que raios seria desrespeito que uma dessas "revistas de pecado" se referissem a eles? (http://montedepalavras.blogspot.com/2009/10/caim-e-abel.html)
A religião vende a "hipocrisia sexual" à sua maneira, as revistas vendem a "hipocrisia sexual" à maneira delas, à religião ataca abertamente os símbolos dessas revistas e ninguém manda fechar as igrejas, mas o contrário quando acontece é polémica e desrespeito. Pelo amor de deus!

Eu sei lá se as revistas masculinas são machistas, só sei que mulheres como Jenna Jameson não se arrependem da notoriedade que têm e da mansão em que vivem porque o ganharam despindo a roupa ou chupando a pila alheia. A prostituição existe, o onanismo existe, o voyeurismo idem, alguém foi inteligente e combinou esses factores para ganhar dinheiro. Não me digam que consideram a prostituição também uma actividade machista? Se sim, o gigolôs são quê, vimas do feminismo, ou é outra vez algo machista?

Vi filmes que retratam coelhinhas de playboy como acéfalas e que eram melhor a abrir as pernas do que a boca. E o filme concorda com a opinião de que as coelhinhas são exploradas por machistas, mas decerto que vocês de pronto vão partir para a defesa dessas coelhinhas e dizer que o filme é machistas e elas são vítimas?

Há uma pornógrafa cujo nome não me lembro que diziam ter um QI (quociente de inteligência, não Quem Indica) de 146 e cuja leitura de preferência era física quântica, vão-me dizer que ela não sabia o que fazia?

O feminismo gritava nos anos sessenta que a mulher tinha o direito sobre o seu corpo, quando a mulher começou a despir-se para o gáudio dos punheteiros, o feminismo diz que as mulheres são objectos por se despirem, porque não é normal que a mulher goste de ser penetrada por muitos ao mesmo tempo (embora concorde que muitas atitudes dos filmes pornos sejam realmente misóginas), mas parece que o feminismo também acha que as mulheres que frequentam casas de swing são forçadas a isso. E ninguém no seu bom juízo (para não dizer perfeito) acredita que as mulheres, menos que 10% pelo menos, sejam hipnotizadas por qualquer pénis em exposição como acontece nos filmes (eu serei eu que não estou em juízo?).

Pentacúspide disse...

Oculto, se não sentes vontade de procurar ajuda, porque carga de água vens aqui contar que tens problemas, aliás não é problema conforme dizes.

Das duas uma: ou queres andar a vangloriar das tuas acções posteriormente visando a fama ou então esta é uma forma inconsciente de pedir ajuda. Tens de te decidir rápido.

De qualquer maneira, colhões não te faltam por fazeres um blog do género. Só espero que saibas que o teu IP pode ser localizado até por mim que não percebo muito de computadores.

O melhor mesmo é pedires ajudas. Mas... ganhaste um leitor, só espero que não faças merda, pois não hesitaria nem um bocado a denunciar-te.

UP! - UFRRJ disse...

BIN THE BUNNY.ACORDEM BRASILEIRAS!

http://binthebunny.wordpress.com/