quinta-feira, 19 de agosto de 2010

GUEST POST: VIOLÊNCIA DO OUTRO LADO DO OCEANO

Antes, uma boa notícia: a Ana, a moça corajosa que escreveu um comovente guest post contando como seu namorado a aterrorizou quando ela tinha 13 anos (eu ainda tô devendo uma resposta praquele post!), me enviou um email: “Só queria informar que eu fiz um blog (além de algumas pessoas no seu blog, minha psicóloga me aconselhou) e gostaria que você desse uma olhada de vez em quando, sei lá, quando você tiver tempo... Obrigada por tudo, viu? Quem sabe você não me traz o apoio de algumas leitoras que foram tão boas pra mim quando eu fiz o guest post, com o tempo?”. Então, gente, apareçam pra dar boas vindas a Ana, a mais nova blogueira da praça!
E temos mais uma
história de horror pra contar... Esta semana recebi um email da Mirelle, que me pediu pra divulgar o que aconteceu com ela. É bem educativo pra quem pensa que “país de primeiro mundo é outra coisa”, e pra quem acha que hoje as mulheres vivem em pé de igualdade com os homens e, por isso, o feminismo não tem mais razão de ser. Visitem o blog dela, que é muito bom.

Me chamo Mirelle, sou jornalista e tenho 30 anos. Moro em Lyon, na França, com meu marido também brasileiro, desde dezembro do ano passado. Uma cidade que eu considerava segura, até agora.
A França está em plena campanha para encorajar as denúncias de agressões contra as mulheres. O governo se mobilizou e declarou que esse tipo de violência seria a Grande Causa Nacional de 2010. Aqui na França, 2 milhões de mulheres são agredidas por ano pelos seus maridos, e 400 morrem apanhando, ou seja, mais de uma por dia. São pelo menos 75 mil casos de estupro todos os anos, 205 por dia! A meu ver, o mesmo homem que estupra ou agride dentro de casa, é aquele que distribui murros no trânsito. Foi assim que eu entrei para as estatísticas.
Andando de bicicleta pela cidade, passei por um homem de uns 40 anos que ficou furioso e assustado quando tentou cruzar uma avenida, sem olhar para a direção de onde eu vinha. Buzinou e foi atrás de mim. Jogou o carro contra a minha bicicleta, quase me fazendo cair no chão. Desceu, gritou, e ao me ver calada em estado de choque, me deu um murro forte nas costas. Eu, sei lá como, consegui improvisar um francês para dizer que no meu país homem não pode bater em mulher, e depois dei-lhe umas bolsadas para me defender. A confusão foi muito além, ele ainda me perseguiu e ao me encontrar uma segunda vez, me ameaçou.
Chorando e muito desesperada, esperei o meu marido sentada na calçada para irmos à delegacia. Foram mais de seis horas entre depoimento e hospital, para fazer o exame de corpo de delito. "Contusão nas costas, torção no punho e estado de choque", dizia o relatório médico. Incapacidade total de trabalho: 4 dias. Para ter valor penal, precisa ser de pelo menos oito. Ou seja, perante as leis francesas, eu não fui agredida o suficiente para processar o cara, já que não tive o nariz quebrado, nem fiquei com o olho roxo.
Dado empurrou Luana e ganhou o direito de passar quase 3 anos dormindo na prisão. Um exemplo para mostrar que no Brasil, a Lei Maria da Penha não nasceu para ficar no papel.
A minha indignação infelizmente não para por aí. Recebi uma convocação para comparecer à delegacia na última sexta-feira, 13. Achamos que eles queriam mais informações e fomos tranquilos. Chegando la, um policial muito grosso e agressivo me encaminhou para uma sala sem permitir que o meu marido me acompanhasse, mesmo sabendo que eu não falava francês muito bem. Na sala, dei de cara com o homem que me agrediu. Em nenhum momento soubemos que esse homem estaria lá, portanto, eu não estava preparada para fazer essa confrontação. Depois descobrimos na internet que eu poderia ter me negado a entrar, mas em momento algum recebi essa informação na delegacia.
Fui coagida pelo policial o tempo todo. Ele passou os primeiros 30 minutos fazendo perguntas só para mim, falando rápido e tentando me colocar contra a parede, para cair em contradição, enquanto eu chorava copiosamente. Ao homem, ele não dizia nada. Fui constrangida e tratada como se fosse a culpada. Até eu já estava me convencendo de que a errada fui eu por ter incomodado o andamento do "sistema" com uma denúncia assim, tão banal. Afinal, agressão que não quebra osso algum não é bem uma agressão, certo?
- Você subiu na bicicleta falando ao telefone depois que este senhor saiu com o carro?
- Sim, eu liguei para o meu marido e ele foi me guiando para dizer aonde eu deveria ir.
- Você sabia que é proibido falar ao telefone em cima de uma bicicleta?
----------
- Você gritou e agrediu o senhor com a sua bolsa?
- Sim, mas só depois que ele me deu um murro nas costas! Gritei por socorro.
- Por que você não saiu do local e ligou para a polícia então?
----------
- Por que você queria tanto que este senhor esperasse o seu marido no local?
- Por que eu não falo francês fluentemente.
- Esse foi o único motivo ou você esperava que o seu marido resolvesse o problema de outra forma?
----------
- Você disse a este senhor que se no país dele é permitido bater em mulher, no seu não é?
- Não, eu disse que eu não sei se aqui no país dele é permitido bater em mulher, mas que no meu não é.
- Você sabia que isso é racismo e você pode ter problemas?
- Eu não sou racista.
- Mas foi, porque este senhor é de origem arabe.
- Como é que eu vou saber de onde ele vem? Eu quis dizer que se aqui na França os homens batem em mulher, no Brasil não batem.
- Ainda assim, comentário racista.
-----------
- Você sempre chora fácil como agora?
- Não, so quando alguém me agride na rua.
(Depois perguntou para o meu marido se eu era muito emotiva ou tinha sofrido algum trauma no Brasil porque choro "à toa").
Não parece, mas EU fui agredida, EU prestei queixa, EU sou a vítima. Que tal perguntar para aquele senhor por que ele veio de carro atrás de mim, ou por que ele jogou o carro em cima da minha bicicleta, ou mesmo por que ele desceu do carro e me deu um murro sem que eu falasse nada, na frente da esposa e do filho pequeno?! Mas não, nenhuma dessas perguntas foram feitas ao agressor, que saiu impune dali. Eu saí revoltada.
Revoltada por não ter sido atendida por uma policial mulher, por ouvir que na França não é permitido bater em criança nem em mulher, mas que vejam so, eles batem - "acontece". Que um simples murro nas costas não caracteriza agressão, que agora é preciso aguardar a decisão do juiz e que provavelmente "não vai dar em nada, no maximo uma multa por você ter jogado a bicicleta no chão e falado ao celular enquanto pedalava".
Pensei muito antes de tornar público um acontecimento que me machuca tanto, mas acho importante mostrar que tudo na vida tem seu lado ruim, inclusive o primeiro mundo. Acho fundamental que todos saibam que a violência não é "privilégio" dos brasileiros. Decidi que falar no assunto é melhor que deixá-lo morrer. Tantas mulheres pensam o contrário e por isso, continuamos apanhando gratuitamente dentro de casa e nas ruas. Conto com a ajuda de outros blogueiros como a Lola (que prontamente aceitou espalhar a estoria), dos twitteiros e de todas as pessoas que, de alguma maneira, se indignam com qualquer tipo de violência no mundo. Sozinha do lado de cá do oceano, ainda estou perdida sem saber que caminho seguir para conseguir justiça. Só sei que calada não posso ficar. Algo bom precisa sair disso tudo.

36 comentários:

Pentacúspide disse...

Deus do céu, mulher, não deixa isso ficar assim. Deve haver por lá organizações que te defenderão, procura-as, não faça a denúncia apenas por Internet. O que descreveste não é apenas sinal de estupidez e idiotia por parte da autoridade, como também de nacionalismo, racismo e não sei mais que ismo. Tenta com o teu consulado ou embaixada, tenta com a imprensa, enfim, tenta tudo mais não deixes passar; sê americana.

joshua disse...

Aqui em Portugal e em Espanha, a violência contra mulheres assume proporções assustadoras: os assassinatos são em grande número. Uma lástima. Ainda bem que a sociedade está a organizar-se para que a prevenção salve o máximo de vidas possível.

É muito importante protestar, quando injustiçados. Beijo.

=Maíra= disse...

Nossa, Mirelle, que horror!!! Sei que a França é cheia de organizações feministas e pró direito das mulheres. VOu conversar com um amigo meu que está aí e ver se ele sabe de alguma coisa (se ele souber, dou o retorno aqui). Procurar essas organizações pode ser um ótimo meio para você se orientar sobre o que fazer.
Abraços e muita força!

Anônimo disse...

Nossa, Mirelle, que horror!!! Sei que a França é cheia de organizações feministas e pró direito das mulheres. VOu conversar com um amigo meu que está aí e ver se ele sabe de alguma coisa. Procurar essas organizações pode ser um ótimo meio para você se orientar sobre o que fazer.
Abraços e muita força!

Flávia CML disse...

Eu acho que você deveria procurar o consulado. Não deixem que tratem o caso como algo pequeno. No mínimo uma retratação pela forma como o policial te tratou você merece. Além disso, aí não tem algo equivalente à OAB aqui? Porque certamente o fato de você não ter sido informada que se encontraria com o seu agressor nem que tinha o direito de se recusar a entrar na sala constituem violações ao Direito. E, se eu fosse você, procuraria contato (até pela internet) com a OAB de seu estado de origem aqui no Brasil, pois as seccionais da OAB usualmente tem profissionais especializados em Direito Internacional. Aqui na OAB-RN, por exemplo, tem o Dr. Marcos Guerra que, inclusive, viveu por bastante tempo na França.

aiaiai disse...

off topic de novo: o que sarah pailin acha sobre feminismo:

'A Cackle of Rads'", http://bit.ly/dAADB6 Tradução: "feminismo é cacarejo de radicais"...
peguei a informação no tuiter do @politikaetc

Flávia Simas disse...

Nossa, Mirelle, estou pasma com essa história. Depois ainda dizem que violência é coisa de terceiro mundo, putz. Admiro-a muito pela coragem em denunciar.

E por falar em crimes contra mulheres, vocês viram a polêmica envolvendo a marca de maquiagem MAC? A marca lançou uma linha de produtos com ares mórbidos batizada de 'Juarez', que vem a ser o nome de uma das cidades com o mais alto índice de violência contra as mulheres do mundo, no México.

Vários protestos foram feitos por parte de feministas, e a marca resolveu voltar atrás e não lançar o produto: http://www.stylebistro.com/Industry+Spotlight/articles/yMUEC5L8ZHL/MAC+Rodarte+Collaboration+Cancelled+over+Label

Gabriela R. disse...

Que horror essa história :/ Nao sei se é assim na França mas nos EUA todo mundo fala pra nunca falar com a polícia, que lá eles realmente USAM todas tuas palavras pra serem distorcidas.

Já tentou falar com um advogado?

L. Archilla disse...

Nossa, fiquei chocada com o relato, porque recentemente passei por uma situação muito menos assustadora e mesmo assim me abalei pra caramba.

Estava de carro andando numa rua que acredito ser preferencial (pois é paralela à uma preferencial e a maioria das ruas perpendiculares tem placas de "pare"), porém num cruzamento onde não havia placa em nenhuma das ruas. Distraída, atravessei o cruzamento mesmo vendo que vinha um motoqueiro pela direita, pois acreditei que ele pararia. Ele não parou e entramos ambos na mesma rua, que era larga e portanto não nos encostamos. Ele deu uma buzinada longa, e na hora acreditei que estava errada (até agora não sei, mas de qualquer maneira, deveria ter parado pela dúvida). Como ele andava paralelo à mim, olhei na direção dele e gritei: "desculpa!". E não é que o sujeito começa a gritar comigo? "ERA PRA VC TER PARADO, VC QUASE ME ATROPELOU, BLA BLA BLA..." - Ingênua, imaginei que ele não tinha ouvido meu pedido de desculpas e gritei mais alto: "DESCULPA!", fazendo sinal com as mãos. E o cara simplesmente CONTINUOU gritando, cada vez mais irritado! E eu lá, super culpada, gritando "desculpa, desculpa!"... Só na hora que ele virou em outra direção eu fui raciocinar que NADA justificaria uma atitude daquelas por parte dele, mesmo que eu não pedisse desculpas. Tá, eu errei, mas e aí? Se eu me sentir bastante culpada vai surgir um portal do tempo pra gente voltar e eu dar passagem pra ele?

Fiquei super nervosa, dirigi tremendo até meu destino. Chegando lá parei, respirei fundo e contei pra uma amiga, que ficou indignada, disse que ele só reagiu assim porque eu era mulher. Demorou pra cair minha ficha, na hora a gente age por instinto, mesmo. Não sei se fiquei mais irritada pela atitude do motoqueiro ou por ter pedido desculpas. Devia ter mostrado o dedo do meio e passado reto. Falei pra minha amiga, sem nenhum remorso: "Meu consolo é que babaca assim vive pouco. Hoje ele me xinga, amanhã xinga um cara armado e já era." Ela disse: "Ele não vai xingar um cara. Ele te xingou porque vc é mulher e mulher não anda armada."

Barbara O. disse...

Estou chocadíssima! pasme!!! força para você mulher! odeio violência no trânsito e isto que vc passou é impossível, absurdo! a frança nunca mais será a mesma no meu conceito (sendo que já não era grande coisa).
parabéns a lola por ter este espaço que acaba servindo para estas denúncias. concordo com pentacúspide: traga o caso à tona, ainda mais que o seu marido é jornalista.

Karina disse...

Aqui na França, questões com árabes sempre explodem... é tudo delicado demais. A agressividade e a tensão são claras. Não fui vitima de violência, mas já tive uma interação tensa com um homem árabe que afirmou que eu deveria sair com ele mesmo sendo casada. Afinal, eu não sou brasileira? não sou racista. Não estou explicando a situação pelo fato de ele ser árabe. Mas a tensão em que vivem árabes e franceses é enorme e isto também, além do machismo clarissimo, deve ter contribuido pra coisa toda. Vivo no norte (Lille), cidade onde essas questões aparecem com força ainda maior.

Sinto muito mesmo pelo que você passou. Senti uma impotência enorme lendo seu relato. Espero que você fique bem.

Não existe na sua cidade algum órgão de defesa de direitos da mulher? algum órgão civil ou não, ou até mesmo ligado a prefeitura?

abraços.

Roberta disse...

O importante é não ficar calada.
Vá atras do seus direitos,faça um escandalo!Vc é que esta certa

Ana disse...

Que absurdo, essas coisas me deixam tão indignada. Eu entendo a sensação que a Mirelle deve estar tendo agora, a mesma que eu tive quando contei pra umas pessoas e elas achavam que eu estava "fazendo drama"... Ela só não pode deixar isso fazer com que a condição de vítima lhe seja tirada. Tomara que ela consiga mudar essa história!

Abraço Lola, e obrigada por divulgar o meu blog. Você é muito boa pra mim! (:

Anália disse...

Que coisa horrível! Mistura de machismo com racismo... No mínimo o policial ficou ofendido com o fato de vc não saber falar francês e se aproveitou ainda mais da situação. Sem palavras, mas realmente não me espanta, pois o machismo existe mesmo!
Espero que vc consiga se recuperar.
Bjs,
Anália

Marissa Rangel-Biddle disse...

Eu sinto muito por vc ter passado por isso tudo! Eu nunca mais vou imaginar a França do jeito que eu imaginava antes de ler seu relato. Obrigada por compartilhar apesar de ser ainda doloroso.

Tem jeito de vc procurar o consulado? Ou uma ONG? E a imprensa?

Boa sorte!

Elaine Cris disse...

Que absurdo! O problema maior da impunidade é que os agressores não se sentem intimidados e continuam a se comportar do mesmo jeito e ainda dão mal exemplo pra outros, que também já pensaram em fazer o mesmo e sabem que não serão punidos.
Muito fácil bater e ameaçar uma pessoa mais fraca e que ainda está caída no chão e assustada.
Tenho certeza que os covardes que fazem isso não tentariam bater em alguém que tivesse a mesma força que eles.
Acho que ele deve procurar um bom ou uma boa advogada. Ou até mesmo procurar a embaixada brasileira e tentar fazer alguma coisa.

Elaine Cris disse...

E sobre essa Sarah Pailin, ela não deve saber que é graças ao "cacarejo de muitas radicais" que ela tem muitos direitos.
Fico nervosa com mulher que fala mal de feminismo.
Realmente, é muito fácil falar mal de feminismo depois de poder votar e ser votada, podendo ter um bom emprego, uma boa formação, delegacia pra mulheres que as levam a sério no caso de uma agressão do companheiro, podendo ser levada a sério por suas idéias e não só pela aparência, podendo pedir divórcio se o casamento não der certo e com as duas perninhas pra cima na frente de um computador que comprou com o próprio dinheiro...
Ridículo! Sou a favor que as mulheres que falam mal de feminismo voltassem a viver como antes, pra ver se iam mesmo achar bom... Desconfio que a maioria voltaria feminista até a raiz dos cabelos depois de passar pela experiência...

Masegui disse...

Todo mundo já disse o que Mirelle deve fazer: consulado, advogado, botar a boca no trombone (você não é jornalista?). Faça tudo isso, não deixe passar.

Agora, se eu fosse seu marido (ou se minha vó estivesse viva ou se o Brasil tivesse vencido a copa) eu já teria dado uns "tapas na oreia" do sujeito. Ah, ele é grandão? mais uns 2 amigos resolveria... :))

dan disse...

Aqui em Londres ouço direto um comercial sobre isso, dando um numero que as mulheres podem ligar e tal.

mas ouço muitas histórias sobre a groceria e ignorância francesas. certamente nao é exclusividade brazuca.

Aline disse...

Lendo que o Brasil tem um pouco mais de punição para agressores de mulheres eu me lembro da reportagem do Fantástico (passou no dia da entrevista do goleiro bruno) mostrando um delegado de uma Delegacia de Mulheres falando pra vitima rezar, tipos, que só Deus pra ajudar ela mesmo... nossa, uma coisa dessas me faz querer simplesmente deixar de existir. Não me conformo em pertencer a um mundo assim, especialmente, a uma espécie assim.

Anônimo disse...

nao tem relação com o tema, mas é bem bacana!

http://www.youtube.com/watch?v=fkHZyAp31No&feature=channel

S. disse...

Absolutamente ridículo o tratamento que você recebeu do policial, Mirelle. Ele se aproveitou mesmo do seu nervosismo e do fato do seu francês não ser fluente (até porque, em uma hora dessas mesmo quando a gente domina o idioma nos engasgamos por causa da tensão). Em teoria o certo seria se recusar a falar qualquer coisa, mas quem é que consegue? E o medo? Muito baixo esse policial que te atendeu.

Seria uma coisa boa se você puder botar a boca no trombone, contratar advogado ou tomar algum tipo de medida diretamente contra esse policial, até pra evitar que ele continue prestando esse tipo de "serviço" à população. Claro que nem todo mundo tem condições de levar esse tipo de processo pra frente, mas só de você ter se aberto já ajuda a conscientizar as pessoas que esses problemas não são coisa do passado mesmo. Quanto mais gente dividir, melhor.

Anônimo disse...

Ah, posso publicar sua história no meu blog?

Mirelle Matias disse...

Ola, agradeço imensamente pelo apoio de todo mundo. Ja estou bem, o pior aparentemente ja passou. Fiz questao de tornar publica pq como eu disse, não da para fingir que não aconteceu. Nao da para achar que so no Brasil tem esse tipo de coisa, não é.

Eu e meu marido estamos tomando as providências necessarias. Entramos em contato com duas associaçoes, que vão nos receber na semana que vem. Elas possuem advogados que estaram la para no orientar. O que mais me magoa não é a agressão em si, mas a postura do policial, que acredito não ter sido a mais correta. Quero saber onde ele errou, de acordo com as leis francesas.

Não publiquei a historia para que tenham pena de mim ou achando que o homem que me deu um murro vai ser preso e o policial punido, não vai ser assim, sou realista. MAs acho que posso ajudar outras pessoas que venham a passar por isso, indicando pelo menos quais as medidas a serem tomadas, como proceder.

Acontece que temos dois problemas, meu marido esta pedindo a cidadania francesa e o processo esta correndo. Temos medo de entrar com processo e isso nos prejudicar. Nossa vida aqui na França, apesar dos pesares, é muito boa e gostamos de viver aqui. Perder esse direito por uma justiça que não vai ser feita, vale a pena?

Para mim ja valeu so por ter divulgado sabe? Valeu para as pessoas saberem que não é so com elas que acontecem. Enfim.

Lola, muito obrigada por me dar voz e a todos os outros, obrigada mais uma vez pelo apoio.

Mirelle

Dáfni disse...

Eu estou chocada até agora. Só queria que a Mirelle soubesse que, no post que publico todo sábado no meu blog (melhores leituras da semana) estou colocando o link desta postagem pra que outras mulheres leiam este ABSURDO que aconteceu com ela.

Sorte, Mirelle, e muita paz.

Débora Lima disse...

Que terrorismo, terrorista o maldito motorista estúpido, e terrorista o estúpido policial maldito! O problema todo é que você é mulher e não ficou calada, não o cara agir como louco!!!

Fico imensamente feliz que você tenha um companheiro de verdade te apoiando e que além de ter espalhado a história já está tomando mais providências! Boa sorte com a cidadania francesa também!

Andrea disse...

Vou levar pedrada pelo meu comentario, mas aqui vai. Desculpem meu portugues cada vez pior.

Aqui na Europa e cheio de casos de violencia contra a mulher envolvendo muculmanos, arabes, africanos, etc. E o agressor sempre acaba sendo protegido, ou entao escapa so com uma advertencia. Se for punido como um europeu seria, vem logo o exercito de politicamente corretos clamando racismo, pregando o relativismo cultural, etc.

Mirelle, sinto muito pelo que te aconteceu, mas e triste dizer que nao me surpreendi. Sabia desde o comeco que era coisa de arabe ou muculmano. Horrivel dizer isso, mas depois de mais de uma decada de Europa, perdi a conta de casos assim.

A Europa foi de um extremo a outro. De racista, discriminatoria e genocida ao ridiculo de dizer que certas pessoas tem o direito de bater em mulher, cometer crimes de honra, etc, porque sao muculmanas. Execravel, isso. Alias, isso sim e racismo, nao? Pois estao praticamente dizendo que um europeu sabe que nao se bate em mulher, mas os imigrantes nao sao capazes de entender isso.

Ok povo, podem comecar o apedrejamento.

Anônimo disse...

Andrea, eu moro na Holanda ha 3 anos e aqui é a mesma coisa... a maior parte dos crimes é praticado por imigrantes muçulmanos. E o grande vencedor das eleiçoes que teve esse ano, foi o cara que quer acabar com a imigraçao de muçulmanos para ca, da pra culpar as pessoas por ter votado num cara desses? Claro que nao... e nao adianta dizer que a cultura é outra e deve ser respeitada e bla, bla, bla... De mim vc nao vai receber pedradas, concordo plenamente com o seu post!

Lidi disse...

ô queridas anônimas.. eu também moro na Europa há quase uma década; voto e pago imposto na Holanda. Dizer que a maioria dos crimes na Europa é cometida por mulçumanos é tão desinformado e grave quanto dizer que a maioria dos crimes no Brasil é cometida por afro descendentes ou que a maioria dos crimes nos EUA é praticada por latinos. E sim, Wilders foi o grande vencedor das eleições na Holanda. Sabe que província o elegeu? LIMBURG, a província com o MENOR número de mulçumanos na população, depois de Drenthe. Limburg votava CDA até o surgimento de Wilders para as eleições da Tweedekamer. E de onde vem Wilders? De Limburg! Curioso, né? Uma província conhecida pelo bairrismo exagerado e pela posicionamento histórico de direita(que chama de "estrangeiros" pessoas de outras províncias holandesas). Sugiro a leitura diária do Volkskrant, o único jornal de esquerda da Holanda, para sua reflexão pessoal. Há problemas e exageros na forma como toda a questão intercultural vem sendo tratada na Europa, com certeza. A Islamofobia, no entanto, não nos levará a absolutamente nada. Abraços a todos!

Ana Duarte disse...

Lidi, parabéns pelo comentario, um dos mais lucidos que vi aqui. Também moro na Europa e acho um erro dizer que tudo que acontece de ruim é culpa dos muçulmanos. Acho perigoso generalizar dessa forma.

Quanto a Mirelle, achei um absurdo a atitude do policial, mas isso ja aconteceu comigo por aqui, e na época eu também nao falava bem o francês, entao senti que ele se incomodava com isso.

Quanto à agressao, teve testemunhas? alguém viu e pode depor a favor? porque senao sera sua palavra contra a dele. Como aconteceu comigo ( em outro contexto) ha alguns anos atras.

Cristiani disse...

Pra mim uma cultura onde mulher nao vale nada... ja diz tudo... e sim pra maioria dos homens muçulmanos mulher so serve pra procriar... Conheço varias muçulmanas por aqui, que tb acreditam que nao tem os mesmos direitos quanto os homens...
Ah, sou o anonimo do post acima

Cristiani disse...

Ah, acho que esse post desse blog, diz tudo em relaçao a imigraçao:

http://www.pacamanca.com/

Priscilla "S" disse...

Mas esse policial que destratou a Mirelle nao era islamico.Ou era?

Andrea disse...

Priscilla S, o policial provavelmente nao era muculmano. Mas as instituicoes do governo sao instruidas a proteger essa gente em nome do politicamente correto. Hoje em dia eh assim no norte da Europa.

Lory disse...

Lola, os franceses sao extremamente mal educados e agressivos e nao tem nada de 1o. mundo naquele lugar!

Como turista fui agredida verbalmente vaaarias vezes e decidi nunca mais colocar meu pes lah. Talvez se a moca do relato fosse francesa as coisas mudariam de figura pq eles sao sim, racistas no ultimo! Eu sinceramente acho que a questao nao eh o cara ser arabe, mas a mulher agredida ser brasileira que eles acham que somos todas "vagabundas" (desculpe o termo).Tenho horror disso mas ainda acontece mais do que se imagina e por debaixo dos panos, claro!!!
Mas o importante eh correr atras dos seus direitos sempre!!! Relatos como este encorajam outras mulheres a exigirem respeito da sociedade.

Nunca fui fa da Piovani, mas pra mim ela fez um bem enorme denunciando o Dado. E pq ele nao esta na cadeia ate agora? Dormir enjaulado nao eh o suficiente pra um aborigene como ele!

E eu sigo acreditando que a justica ainda nao foi feita pra todo mundo, principalmente pras mulheres...

Andrea disse...

Lory, verdade. Pode mesmo ter rolado preconceito do policial porque a mulher e brasileira.