domingo, 15 de junho de 2008

CRÍTICA: A OUTRA / Uma das seis desafortunadas

Scarlett: no filme eu faço expressões mais inteligentes


Geralmente não tenho admiração nenhuma por filmes com reis e rainhas, já que acho a monarquia algo inútil e que deveria ser extinto. Porém, pra minha grande surpresa, me diverti bastante com A Outra (The Other Boleyn Girl), sobre as intrigas amorosas na corte de Henrique VIII, na Inglaterra do século 16. Não sei até que ponto a trama tem veracidade histórica e pode ser levada a sério, mas, como também acho que a monarquia em si não é pra ser levada a sério, não ligo que o filme seja meio novelesco.

Agora permita que eu me confunda com os nomes das personagens em inglês e português. Duas jovens irmãs, Ana Bolena (Anne, feita por Natalie Portman) e Maria (Mary, feita por Scarlett Johansson), vêem que suas poucas chances de subir na vida se resumem a uma delas se tornar amante oficial do rei (Eric Bana, que esteve bem em Munique). Henrique já é casado com Catarina de Aragão, mas não está muito feliz por ela não lhe dar um herdeiro. O importante mesmo é ter bebê homem. Ainda bem que naquela época não existia método pra ver o sexo do bebê antes de nascer, porque senão o aborto de bebês meninas seria maior que o da China atual, imagino. Enfim, o começo da trama enfatiza a rivalidade entre as duas irmãs, o que me fez lembrar um tiquinho do estupendo clássico O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Há também algumas reclamações sobre não ser o primogênito, tanto do rei (que só foi entronado quando seu irmão mais velho, Artur, bateu as botas, e ainda herdou a viúva) como de Maria. A segunda parte enfoca mais a tensão sexual entre Ana e o rei.

Na vida real, Henrique VIII é famoso até hoje por ter se casado seis vezes, por vários de seus sagrados matrimônios terminarem mal (pras esposas, claro), por ter rompido com a Igreja Católica e fundado o Anglicismo (obviamente, só pra poder se casar quantas vezes quisesse), e por ser pai de Elizabeth, que viria a reinar a Inglaterra por 45 anos (como a Cate Blanchett não nos deixa mentir). Eu acharia um péssimo negócio se casar com um carinha que mandou executar duas de suas seis esposas, mas essa sou eu. E o filme só está preocupado em mostrar três das esposas do rei, ou 50%. Naquela altura ainda não dava pra saber que ele viria a se casar tanto quanto a Elizabeth Taylor, ou que ele tinha um meio um tanto literal, digamos, de terminar o matrimônio. Mas foi esquisito ir ao banheiro após a sessão e ouvir uma moça perguntar pra amiga: “Você acha que Henrique se arrependeu de não ter casado com a Maria?”. Cuma? Como se fosse uma opção: ele já era casado. Teria de anular o casamento, brigar com o Papa, abandonar o catolicismo, e criar uma nova religião.

É interessante como não existe vida privada pra um monarca, ou pras amantes do rei, já que sexo tem esse inconveniente de muitas vezes resultar em gravidez. Sexo produz herdeiros e bastardos. Portanto, montes de situações são decididas baseadas unicamente nos interesses sexuais do rei. E, apesar de eu achar ridículo que esses atos sexuais despertem tanta atenção, não é só com a Lady Di que isso acontece. Nos países republicanos não é tão diferente: Bill Clinton transou com a estagiária, e isso paralisou os EUA. Ele quase perdeu o mandato, o que ajudou a eleição do Bush. E lembra dos nossos presidentes? Lembra do destaque dado pela mídia quando o Collor aparecia em público sem aliança, pra se vingar da Roseane? Do oba-oba que foi o Itamar sentado ao lado da modelo sem calcinha no carnaval? Pelo menos pro filho ilegítimo do FHC a imprensa fechou os olhos.

Mas voltando à Outra, Eric Bana provavelmente faz o rei com o corpo mais bonito já visto (veja a incrível semelhança com o retrato do Henrique VIII verdadeiro – tô sendo irônica). Pena que esse corpanzil apareça tão pouco. Comentei isso com o maridão, e ele: “Então você ficou prestando a maior atenção no corpo do Eric Banana?” E eu: “Não é bem assim, ele apareceu na minha frente em tela inteira, não pude evitar”. Se bem que o mais sexy não é o Eric, ou o irmão das Bolenas, feito pelo Jim Sturges (de Across the Universe e Quebrando a Banca). Por algum motivo que me escapa, quem eu achei o mais bam-bam-bam foi o sujeito que faz o duque, um tal de David Morrissey (acabei de descobrir que ele é o psiquiatra seduzido pela Sharon Stone no abominável Instinto Selvagem 2). Mas suponho que os críticos homens só terão olhos pras moças. A Natalie tem um papel mais difícil que o da Scarlett, que fica com a boca aberta o tempo todo, pra variar. Dá aflição. E sua personagem ou é lerdinha das idéias ou não tem nuances. É uma santa. Talvez, como disse a mulher no banheiro, o rei tenha mesmo se arrependido de não ter casado com ela. Mas uma coisa eu aposto: conhecendo o currículo do rei, duvido que Maria tenha se arrependido de não ter sido uma das seis.

Única foto que encontrei do David Morrissey em A Outra. Sacanagem!

11 comentários:

Kaká disse...

A melhor coisa desse filme são os três homens que vc mencionou: o rei, o irmão das Bolenas e o duque.
As irmãs me entediaram, não achei que nenhuma das duas foi bem. E também não curti muito aquele telhado que elas usavam na cabeça. :) No filme parece que o rei romper com a igreja católica foi uma coisa super simples.
Se for por falta de veracidade histórica eu prefiro ver o seriado The Tudors, tem mais intriga, fofoca e o amigo do rei (o Charles) é uma delícia.

lola aronovich disse...

Putz, verdade, Kaká, eu sempre esqueço dessa série, The Tudors, que nunca vi. Acho que eu deveria ver um pedacinho, né? Sim, o rompimento com a Igreja Católica acontece num instantinho. É que o filme opta por se concentrar apenas na vida amorosa da corte (o que pra mim tá bom). Acho que o Jim Sturges não tá bem aproveitado. Mas gostei da Natalie Portman. Ela exerce um poder (sexual) muito forte sobre o rei durante boa parte do filme. E dá pra ver sua extrema ambição.

Suzana Elvas disse...

"The Tudor" é uma série maravilhosa. Eu curto muito a história dos reis da Inglaterra e da França, principalmente porque se vê como as mulheres mandavam e os homens obedeciam - tendo consciência disso ou não.

O mais engraçado de tudo é que, quando Elizabeth I morreu quem assumiu o trono foi seu sobrinho James, filho da Mary Stuart - que, segundo historiadores, não era filho dela. Basta ver os retratos da família antes dele - ele não tem nenhum, mas nenhum traço dos Tudor ou dos Stuart ou de qualquer nobre conhecido da época.

Enfim... E pensar que a mulher do rei Ricardo Coração de Leão morreu virgem porque ele a-ma-va seus companheiros de armas!

Anônimo disse...

Lola, vc por acaso assistiu a 'The Tudors', no HBO? Para mim, a série ainda supera o filme ;)

Eu particularmente gosto muito desta parte da História, principalmente da ruptura com a igreja católica e o início do protetantismo...

Beijos

lola aronovich disse...

Tá bom, tá bom, moças: me convenceram, vou tentar ver uns episódios do The Tudors. Vou ver se na netflix tem (quer dizer, ter tem. Só não sei se tem no Watch instantly). Ou no hulu. Eu não gosto muito dessas histórias, mas com tanta gente boa recomendando... E ainda mais que gostei de The Other Boleyn Girl e fui a única pessoa no mundo a ter gostado do segundo Elizabeth. Vai que meu gosto tá mudando?

Anônimo disse...

no meu caso vai ser o caminho oposto: vou assistir "a outra" por causa de the tudors.
[a outra parece nome de novela mexicana, né?~]
kaká, cê viu o henry cavill [o charles brandon] fazendo papel de gostosinho em stardust?

Anônimo disse...

ah, e jonathan rhys-meyers assinou para a 3a temporada [terceira e quarta esposas].

lola aronovich disse...

Batata, não gosto do título em português, A Outra, porque é aquele filme do Woody Allen. Não podiam ter chamado "A Outra Garota do Rei" ou algo assim? (até entendo tirarem o Boleyn). Opa, mais um bom motivo pra ver The Tudors: Jonathan Rhys-Meyers. Cada vez gosto mais dele. Acho que ele tá bárbaro no incrível Match Point. E outro dia vi Titus, que gostei muito, e ele tá bem lá também.

Anônimo disse...

Você devia ter umas aulas com o Pablo Villaça pra aprender como é que se faz critica de verdade. Essa de "MARIDÃO" é de matar!

Anônimo disse...

vim ler seu comentario sobre este filme, por causa da cena de estupro. Quando assisti a cena em que Henrique estupra Anne, alguém falou "viu só, bem feito, ficou provocando". E eu me senti um pouco mal com isso. O que você acha, Lola?

Anônimo disse...

Eu acabei de ver o filme é também (como a última comentadora) vim buscar alento num blog que confio e imaginei que seria mais severo em sua crítica ao filme. A cena do estupro foi absolutamente desnecessária, colocada de forma apenas de sentenciar mulheres como Ana, enquanto a curtinha Maria merecia carinho. Fiquei muito mal com o filme, não achei divertido.