quarta-feira, 25 de junho de 2008

CRI-CRÍTICA DE TRAILER: RELIGULOUS

Como não tinha TV a cabo no Brasil, acho que nunca tinha ouvido falar do Bill Maher antes de vir pra cá. E, se eu não tivesse HBO no meu primeiro semestre nos EUA, creio que o Bill teria continuado um desconhecido pra mim (ele é a cara do Costinha, um pouco mais bonito). Mas vi um ou outro de seus especiais de stand up comedy e gostei muito. Só estranhei um pouco que ele não fosse gay, porque um de seus especiais praticamente só falava nisso. Aí vi o seu talk show às sextas, onde ele entrevista jornalistas, escritores e celebridades em geral, e gostei menos. No começo ri bastante, mas com o tempo fui cansando, e me vi rangendo os dentes pra várias de suas afirmações – como a defesa quase incondicional que ele faz de Israel, ou a besteira de declarar que mulheres não devem amamentar em público, ou sua arrogância, pura e simples. E, num de seus programas, que são ao vivo e têm platéia, algumas pessoas no auditório reclamaram, vaiaram, e interromperam um de seus convidados, e a reação dele foi a pior possível. Coisa de estrela mesmo.

Ainda assim, ele é dos poucos que têm coragem de peitar as religiões. Mais de 90% dos americanos acredita em Deus e pertence a alguma religião (o maior índice disparado entre os países desenvolvidos), e nos dois mandatos do Bush a direita cristã pôde, de várias maneiras, fazer da Bíblia sua constituição (por exemplo, nada de verba para educação sexual nas escolas; ao invés disso, campanhas para que os jovens mantenham-se virgens até casar). Então falar contra uma maioria bem barulhenta não é tarefa simples. Programa após programa, Bill tem discursado contra a estupidez de muitos dogmas religiosos. Ele parece ser a pessoa ideal para estrelar um documentário que, já no título, põe religiosidade e ridicularidade numa só palavra.

Mas então por que o trailer é tão fraquinho? A impressão é que faltou coragem pra uma montagem mais ousada e divertida. Perceba que o trailer não fala ou mostra basicamente nada. E o pior é que o diretor do documentário é o mesmo de Borat – que era hilário já no trailer. Tenho grande vontade de ver Religulous (que estréia nos EUA em outubro e no Brasil sabe-se lá quando), e só posso rezar pra que o trailer ruim seja isso mesmo, uma estratégia de marketing pra não afastar de cara o pessoal que pode se ofender. Agora, convenhamos que não é uma estratégia inteligente. Muitas dessas pessoas sabem ler, e o sacrilégio já começa pelo título do filme. Nota 2.

12 comentários:

Suzana Elvas disse...

É o caso típico daquele que, ao desprezar o outro lado, acaba repetindo o comportamento que critica.

Entendeu-se com o Pando?
:o)
Bjs

Tayná Tavares disse...

Pow, quando chegar no Brasil, deve ir direto pras lojas. Nem deve passar nos cinemas, o que é triste, porque esse documentário deve ser bem melhor do que Hulk...

Anônimo disse...

Olá Lola, curiosamente depois que comecei a ler teu blog sempre me apetece falar com os meus amigos a respeito dos USA. Falo com os clientes também, e em matéria de religiosidade, tirando a Itália onde ainda acontecem coisas muito atrasadas, a Europa chega a ser um paraiso comparada com aquilo. Mais especificamente aqui em Lisboa...Deus não existe. As pessoas não falam sobre religião, ou Jesus Cristo. Não sei se isso é bom, eu acredito em Jesus Cristo, mas não sinto a necessidade de impôr que os outras pessoas acreditem. Ninguém liga muito para o seu estilo de vida e para as coisas em que você acredita. Cada qual vive a sua vida e todo mundo respeita isso, ou na verdade nem quer saber. Revistas e jornais religiosos não temos e programas na Tv não conheço nenhum.
E cada vez mais eu vejo como os europeus desprezam os americanos. Eles não os suportam, e querem fazer uma america diferente com Obama, "uma américa mais européia". Isso foi a fala de um advogado cliente nosso, e um outro americano (professor) me disse estar muito preocupado com a possibilidade de Obama no poder: "Eu não sou racista, mas é facto que ele traz uma raíz africana e pode apostar que quando eles chegam no poder, o desejo de se vingar dos brancos vem á tona. Ele sofreu racismo sua vida inteira, está muito marcado nele, e lhe está dando forças para chegar lá".

lola aronovich disse...

Oi, Su! A gente tá instalando o Pando. Tá demorando um pouquinho, mas vamos ver se quando acabar dá pra ver o filme.
É, sobre o Bill Maher, espero que, no filme, ele consiga adotar uma postura menos arrogante. Porque isso não é legal.


Pois é, Huntress/Tayná, documentário pra passar no Brasil, só se for os do Michael Moore, e muito de vez em quando (Sicko teve distribuição bem limitada). Aliás, não é só no Brasil. Aqui mesmo nos EUA não vai ser fácil ver Religulous (ou qualquer outro documentário, ou filme independente, ou filme estrangeiro). Só em cinemas alternativos mesmo.

lola aronovich disse...

Cavaca, que bom que meu blog tá te dando tanto assunto! Realmente, as diferenças entre a "Europa secular" e a "América religiosa" vem crescendo todo dia, e há muita animosidade. Boa parte dos americanos odeia os europeus, principalmente os franceses. Eu acho que algum dia os EUA declaram guerra contra a Europa. Espero estar enganada. O maridão acha que não, que os EUA não invadirão a Europa, porque aí não tem petróleo.
Tomara que não mesmo...
Como eu já disse antes, acho que as religiões podem ser positivas. Não é por eu ser atéia que eu gostaria que todo mundo fosse ateu. Nada disso. Fico feliz se uma religião traz felicidade, tranquilidade, e esperança a alguém. E não acho que o mundo seria melhor se as religiões desaparecessem. O que não aceito é que as religiões interfiram no Estado. Porque há muitas religiões, e inclusive uns 10% de ateus, e o Estado tem que governar para todos, não apenas para os fiéis de uma religião. Acho que o Estado deve ficar longe das igrejas, e vice versa. E aí é aquele negócio: se sua religião proíbe o sexo antes do casamento, e vc concorda, ótimo. Não faça sexo antes do casamento. Não use anticoncepcionais, etc. Mas não queira que exista uma lei nacional proibindo sexo antes do casamento ou distribuição de camisinhas. Porque aí já é interferência.
Sobre o Obama, é, todo mundo tem esperança que, depois de 8 anos de Bush, uma mudança será muito positiva. O Obama é altamente religioso também, mas espera-se que isso não interfira no seu governo. Agora, que triste essa declaração do seu cliente americano. Já notou como quase toda declaração racista começa com "eu não sou racista, mas..."? Como o Obama se vingaria dos brancos, eu gostaria de saber. Ai, os EUA são TÃO racistas. Tava lendo uma reportagem da Rolling Stone sobre um comício do John McCain em Nova Orleans, e os comentários dos eleitores eram assim: "Se a Michelle Obama não gosta da América, ela deveria voltar pra África". E "O Obama é desonesto e exagerado quando diz que sua mãe e avó eram brancas. Ou vc é um de nós ou não é. E ele não é".
Mas lembre-se sempre, Cavaca, que este é um país dividido. Existe muita gente que pensa assim, mas também muita gente que não pensa assim. É só que metade de 300 milhões de pessoas já é MUITA gente retrógrada...

Anônimo disse...

O Obama representa uma ameça em várias frentes: tem raízes africanas, islâmicas e promete mudança... é um prato cheio para as mentes retrógradas.

Suzana Elvas disse...

Oi, Lola;

Acho que você já citou aqui o George Carlin aqui, e como tem tudo a ver com esse post, deixo aqui o link para o "Bitaites", blog do Marco Santos - que, se você não conhece, vai ficar fã:

http://bitaites.org/ilustracaodesenho/george-carlin-o-homem-das-sete-palavras

Bjs

lola aronovich disse...

Entao, Mary, nao entendo muito bem isso das raizes islamicas do Obama, porque ele sempre foi cristao. So o nome mesmo... (o que pros americanos eh uma grande coisa. Hoje vi na internet uma camiseta a venda que dizia: Obama 08. Osama 09).


Obrigada, Su. Eu nao conhecia o site. Eh portugues, ne? Da pra ver quando ele fala "sitio" (e uns outros momentinhos tambem).
Pensei em fazer um postzinho sobre o George Carlin. Mas imagino que a maior parte dos meus leitores seja como eu, um ano atras: nunca tinha ouvido falar nele. So ouvi e vi alguns shows e videos no youtube depois que vim pra ca. E ele era otimo mesmo. Recomendo que todos os meus leitores (que entendam bem ingles, porque nao encontrei nada com legenda) procurem no youtube videos do George Carlin. Outro dia mesmo eu vi um sobre golfe. Concordo plenamente (nao concordo com tudo que ele fala - ele ataca os ecologistas, eh contra votar etc. Mas o que ele fala sobre religiao certamente eh muito mais contundente e engracado que o Bill Maher). E uma frase famosa, "Pro-life is anti-woman", eh dele.

Anônimo disse...

Lola...toda a gente odeia os franceses.

lola aronovich disse...

Cavaca, vcs em Portugual também odeiam os franceses? É, eles não têm fama de simpáticos. Mas acho que no Brasil não se odeia os franceses...

Anônimo disse...

Sabe Lola, se fala muito do patriotismo dos americanos mas os franceses são campeões, a única diferença é que a França fica no seu canto sem chatear ninguém....bem, sem chatear ninguém em termos. Eles se recusam a falar Inglês, é quase uma ofensa, até mesmo jovem não fala. E não precisa ser só o Inglês, eles desprezam todas as outras linguas, são muito racistas também.
Mas tem que se ter cuidado as vezes, muito frances parece chato e arrogante mas na verdade é apenas o jeito da pessoa, um modo de se expressar com poucos modos, o que não significa exatamente que a pessoa é mal educada. Quando estive em Paris encontrei muita gente simpática que se esforçava ao máximo para me ajudar.
Para nós o mais chato de tudo é que eles nunca deixam gorjeta.

lola aronovich disse...

Cavaca, é, os franceses têm uma reputação bem ruim, principalmente nisso de se recusarem a falar inglês. Mas mesmo entre os jovens é assim? Eu conheci vários franceses, estudei com franceses na escola, e eram gente boa (assim como praticamente todos os americanos que conheci). Interessante isso de não deixarem gorjeta... Vc pode falar mais disso? Eu e o maridão raramente comemos em restaurantes (somos pobres e pão-duros), mas quando comemos não costumamos deixar mais que 10% de gorjeta. Qual a sua experiência aí?