Mas eu gostava mais da Hillary. O Obama é muito jovem ainda, inexperiente (está no seu primeiro mandato como senador), e podia esperar mais quatro ou oito anos pra se candidatar novamente. Ok, lógico que as coisas não acontecem assim. Nos EUA é até raro um candidato derrotado ter outra chance, ao contrário do Brasil, em que Lula só venceu na sua quarta tentativa (isso seria impensável aqui). Poderia acontecer do Obama perder sua vez e não ter outra chance. Mas pra Hillary, pela idade, simplesmente não vai dar mais. Se Obama vencer as eleições em novembro (torço muito por isso), ele seguramente será candidato a um segundo mandato. É ruim estar na posição da Hillary. Pra ela seria melhor que McCain vencesse, porque estaria velho demais para um segundo governo. E talvez Hillary pudesse ser a candidata democrata. Isso é, se não ficasse com a marca de “sua chance passou” ou de “você ajudou a derrotar Obama”.
Reconheço que a razão que mais me atraía a Hillary era pura e simplesmente por ela ser mulher. Seria mais representativo os EUA terem uma mulher na presidência que um negro (que só representam 13% da população). É meio difícil pra homens (e muitas mulheres) entenderem isso. A Fox, porta-voz da direita nos EUA, desde o começo pregou que essa seria uma corrida em que cor e gênero não contam. Mas como não contam, se todos os 43 presidentes americanos na história foram homens e brancos? Eleitores homens take for granted este pequeno detalhe. Assumem que é natural os eleitores escolherem o melhor candidato, ué, e calha dele ser homem e branco. Sempre. Compare essa reação - “é natural, sempre foi e será assim” - com a da esposa de 68 anos do meu co-orientador (ele apóia Obama, ela apoiava Hillary). Ela me disse que essa era provavelmente a última chance na sua vida de ver uma presidente mulher no comando do seu país. É melancólico sim, e milhões de americanas brancas com mais de 50 anos estão se sentindo assim nesse momento. Órfãs. Abandonadas. O sonho acabou. Procure entender o sentimento. É triste constatar que houve tanta misoginia durante a campanha. Porque a gente imaginava que, apesar do retrocesso dos anos 80, a sociedade tivesse evoluído um pouquinho, e que chamar uma mulher poderosa de “vadia” apenas por ela ser mulher não seria mais aceitável. Engano nosso. E o mais tocante é ouvir o pessoal dizer “Não leve pelo lado pessoal. Não xingamos você, xingamos a Hillary”. Claro. Sendo que a única coisa que me une à Hillary é por ela ser mulher.
Preciso deixar claro que eu nunca votaria numa candidata apenas por ela ser mulher. Nunca gostei da Margaret Thatcher (e adoro como usam o nome dela como exemplo de como é comum eleger mulheres, embora ela tenha sido a única primeira-ministra na história da Inglaterra). Quero distância da Roseane Sarney. Jamais votaria na Ângela Amin, ou na Yeda Crusius, e em outras que estão à direita do meu espectro político. Mas adoraria que a Dilma Rousseff fosse candidata em 2010. E se ela for, os insultos que ouvirá – que nós mulheres ouviremos, mas não devemos levar pelo lado pessoal – serão parecidíssimos àqueles dirigidos a Hillary.
É certo que Hillary não perdeu apenas pelo preconceito reinante contra as mulheres. Talvez o motivo principal é que ela também seja associada a um certo continuísmo, por ter sido primeira-dama duas vezes. O governo Clinton foi bem-avaliado, mas os últimos governos foram Bush Pai seguido por Bill Clinton duas vezes, seguido por Bush Filho duas vezes. Ter Hillary Clinton poderia parecer como mais uma sequência. E também, muita gente criticava o sentimento de entitlement dos Clinton. Assim, como se fosse um sagrado direito ela ser a candidata democrata.
Obama ganhou a nomeação, e isso merece ser comemorado. O racismo e a segregação na América não vão deixar de existir por isso, assim como o machismo não desapareceria se Hillary fosse candidata. Mas sempre fica a esperança que o racismo diminua se os EUA elegerem um primeiro presidente negro. Agora que a campanha vai começar pra valer, haverá muito racismo (veja um exemplo de uma camiseta que circula, comparando Obama a um macaco, o Curious George, e outro de uma fotomontagem). Haverá polarização, e espero que ela não seja apenas da ordem branco vs. preto (uma polarização inevitável nos EUA), e sim velho vs. jovem, continuísmo vs. novidade. As feministas americanas têm que cicatrizar as feridas e apoiar Obama. Não entendo como muitas dizem que até darão dinheiro pra campanha dele, mas não votarão no moço (nem em McCain, óbvio). Ajudaria a conquistar esse apoio se Hillary fosse candidata a vice-presidente. Por outro lado, Hillary vice também impediria que Obama tivesse um vice mais chapa-branca, mais agregador. Hillary traria os votos das feministas, mas elas são uma parcela minúscula da população. O necessário mesmo será conquistar o voto dos operários brancos mais conservadores. E isso não será fácil agora que a direita começa a chamar Obama de “afro-radical com sobrenome árabe”.
13 comentários:
http://www.redstate.com/stories/elections/2008/mccain_to_obama_come_out_and_face_me_without_your_teleprompter_if_youre_man_enough_mouth_of_obama_to_mcca?referer=sphere_related_content
Lola, é triste mesmo esse cenário de discriminação. Eu não entendo patavinas da eleição estadunidense, mas acho isso que vc relata triste. E vc acha que tem chance do Obama realmente ganhar? Beijos
Até porque, experiência por experiência, McCain tem mais que Obama e Hillary.
Além do mais, Hillary votou a favor da guerra!
Oi, Cavaca, não consegui abrir o link que vc indicou. Sobre o que é?
Nalu, acho que o Obama tem chance de ganhar. Vai ser uma eleição muito dividida e disputada, como todas. Difícil alguém ter mais que 55% dos votos.
Sim, Leonardo, McCain já é senador faz um tempão. Mas nem ele nem Obama tem experiência executiva. Anyway, McCain representa a direita. Seria um terceiro mandato do Bush, praticamente. Hillary votou a favor da guerra, como quase todo mundo, na época (menos Obama). Inclusive, a mídia que critica Hillary por ter votado a favor da guerra deu todo o apoio ao governo na ocasião. E a população também. Só o resto do mundo que se opôs à guerra. Mas uma coisa é votar, junto com o Congresso, pra dar suporte à guerra, e outra é ser do partido que promoveu a guerra. Pra mim faz diferença.
Lola, clica 2 vezes em cima do link até ficar tudo selecionado e dá o ctrl+c.
"Só o resto do mundo que se opôs à guerra."
Acho que até hoje muitos dos americanos são relativamente a favor da guerra, mesmo os que são contra o Bush. Já ouvi papo de gente que se diz ser contra o Bush porque ele foi rpa guerra sem uma estratégia e estão perdendo a guerra (e mtos americanos morrendo). Não creio que a maioria tenha uma consciência de humanidade mínima pra ver a barbárie que a guerra é.
Outro dia o Nick tava me falando que os EUA nunca passaram 20 anos sem estarem em guerra, olha que coisa triste...
olá lola...o site redstate traz uma carta um tanto desafiadora de mcain: McCain to Obama: "Come out and face me without your Teleprompter, if you're man enough." Mouth of Obama to McCain: "No."
No site estão as cartas e a respectiva resposta...é interessante assim como muitos comentários sobre as cartas.
Acho que Obama por ser negro vai sofrer muitos ataques até o fim da campanha, mas não por parte de mcain, ao menos não directamente, já que ele está optando por ignorar esse detalhe. Mas quanto aos seus partidários...já acho que é diferente como vc mesma mostrou.
E vc não acha que uma das questões mais importantes dessa campanha, além de acabar com a crise, é o Iraqui. O que acontece com o País se as Tropas são retiradas de lá? Eles se aguentam? Acho que não. E para impedir a ameaça do Irão usando a guerra, não vai fazer que o Irão ataque também o Iraqui?
ok lola...espero que consiga ver isso
http://www.economist.com/daily/kallery/displaystory.cfm?story_id=11294947
é uma charge ótima sobre a economia e o consumismo nos USA.
Ju, bom, não é todo o resto do mundo que se opôs à guerra. O Bush teve o apoio do Tony Blair, por exemplo, mesmo que a maior parte dos ingleses foi contra. E do Berlusconi. Mas os americanos foram totalmente a favor. E não tem como eles serem contra. Eles estão cansados da guerra do Iraque porque já tem cinco anos (e achavam que ia ser outra Guerra do Golfo, aquela guerra de videoclip que durou apenas dias), e porque o custo é altíssimo, mais de um trilhão de dólares. E mesmo assim os EUA estão em crise? E parece que não havia armas de destruição em massa lá, ao contrário do que foi vendido ao público. Mas americano depende de guerras, sabe disso, ama seu exército. A estatística que eu conheço é que, desde o final da Segunda Guerra, não se passou UM ANO sem que os EUA invadissem um país. Não sai barato ser império.
E quanto à barbarie, americano é condicionado a se achar especial. Sua vida vale muito mais que a de qualquer outra nacionalidade. Por isso que eles só contabilizam (e choram) o número de soldados americanos mortos no Iraque. Civis iraquianos? Esses não valem nada. Mas imagino que um cidadão romano na época do Império Romano também se achava assim, especial, intocável.
Cavaca, não, claro que o McCain não vai atacar o Obama racialmente. Não pode fazer isso! O racismo vai acontecer por conta dos eleitores (atacar mulheres é diferente - isso pode). E o carinha que fez a camiseta comparando o Obama com um macaco diz que não, não é racista. Ele só acha o Obama parecido! É praticamente uma homenagem, segundo ele. Racismo é também não entender porque certas coisas são consideradas racistas.
A questão mais importante da campanha não vai ser a guerra do Iraque. Quer dizer, faz parte, mas fundamental mesmo é a recessão e a crise do petróleo. Coisas que afetam diretamente o cidadão americano. Acontece que a guerra do Iraque, e todo o Oriente Médio, entra nessa equação. Os EUA estão ansiosos pra bombardear o Irã. Pode ser que façam Israel atacar o Irã antes (com dinheiro e tecnologia americanos), e depois continuem o ataque. Esta semana publico um post sobre um artigo americano que li sobre a crise de energia. Muitos comentaristas do artigo dão a solução "racional" pra resolver o preço alto do petróleo: vamos jogar uma bomba nuclear no Oriente Médio, matar todo mundo, e depois pegar o petróleo. E eles não falam brincando...
li teu artigo pela primeira vez ontem, no Diário Catarinense e gostei da tua opinião, bem construída e posicionada, em relação as eleições nos EUA. Eu, particularmente, torcia para Obama desde o início. Tô fazendo um control C do teu texto para por no meu blog. abs.
Oi, Cor. Bom que vc gostou do meu texto. Sou meio nova nisso de ter o meu próprio blog, mas o que li de blogueiros experientes é que é indelicado fazer um control C e pôr um texto de outra pessoa no nosso blog, mesmo citando a fonte. É possível colocar um parágrafo do texto e escrever "continue lendo aqui", e dar o link pro blog do autor. Eu concordo que esta seja a regra de etiqueta correta. Por favor, se vc decidir usar um texto meu novamente, pode proceder assim? Obrigada, e apareça. A propósito, eu escrevo pro jornal ANotícia, não pro Diário (apenas d'os dois pertencerem à RBS hoje em dia).
O Obama assumiu o cargo de senador 2 anos depois do início da guerra, como ele pode ter votado contra ela?
É uma boa pergunta, Ferdinando. Acho que errei de palavra, portanto. Obama não votou contra a guerra, mas se posicionou contra ela. Ele é Illinois State Senator desde 96, mas senador federal, só desde 2004. Nem sabia que existia senador estadual e federal. Mas enfim, encontrei isso na wikipedia:
"Obama was an early opponent of Bush administration on Iraq, when many Democratic leaders supported the Congressionaljoint resolution authorizing the Iraq War. Obama was not yet in the United States Senate,and therefore unable to vote on the joint resolution. On October
2,2002, the day Bush and Congress agreed on the joint resolution authorizing the Iraq War, Illinois State Senator Obama addressed the first high-profile Chicago anti-Iraq War rally in Federal Plaza at noon and
said: 'I am not opposed to all wars. I'm opposed to dumb wars. [...] You want a fight, President Bush? Let's finish the fight with Bin Laden and Al-Qaeda, through effective, coordinated intelligence, and a shutting down of the financial networks that
support terrorism, and a homeland
security program that
involves more than color-coded
war".
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