segunda-feira, 16 de junho de 2008

MINHA DIFÍCIL CONVIVÊNCIA COM MEUS SEIOS

Desde que a puberdade chegou, sempre tive seios grandes. E sempre quis reduzir esses seios cirurgicamente. Ao mesmo tempo, não me lembro de nenhum ritual de passagem como “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”. Acho que demorei a usar sutiã. Algo que lembro muito bem é que algumas vezes, aos quinze anos, ia a uma boate de um clube militar com um amigo. E eu, que nunca dei muita bola pra roupa, descobri um uniforme simples e a meu ver, naquela época, sexy: uma jaqueta de nylon que eu usava sem nada por baixo, nem camiseta nem sutiã. Ora, meus seios eram firmíssimos naquela idade, como são os de quase todas as jovens. Pra quê sutiã? Mas meu amigo da mesma idade logo me tirou a ilusão ao reclamar que não gostava de sair comigo vestida daquele jeito, porque meus peitos pulavam enquanto eu dançava. Foi um aprendizado. Até então, eu pensava que sutiã servia pra segurar os seios num sentido específico. De repente, vi que “segurar” tinha muitos outros significados, entre eles conter o corpo feminino.

Mais ou menos na mesma época, uma conhecida da mesma idade contou, orgulhosa, de como seus pais haviam lhe dado o melhor presente de sua vida: uma cirurgia pra reduzir seus seios. Entenda, na década de 80 não fazia parte do padrão de beleza das brasileiras ter seios grandes, ao contrário das americanas. Isso veio depois. E em 92 veio o escândalo da descoberta que implantes de silicone estavam vazando e precisavam ser trocados. Hoje, mesmo que a ciência falasse categoricamente que silicone no corpo é perigoso, pouquíssimas mulheres deixariam de usá-lo. A beleza compensa qualquer sacrifício, inclusive perder alguns anos de vida. Um estudo com ex-obesas revelou, por exemplo, que a maior parte preferiria perder alguma parte do corpo, como braços e pernas, a voltar a ser gorda. Uma questão de prioridades.

Mas fiquei com inveja daquela conhecida que tinha reduzido os seios, porque meus peitões me incomodavam. Um rapaz me chamava de “baixa combustão”, que eu demorei pra entender que era uma descrição exata do meu corpo: baixinha, e com bustão. Daí chegou a vez da minha mãe fazer uma cirurgia de redução dos seios também. Não me recordo quantos anos eu tinha. O que me recordo é que minha mãe não quis parecer fútil a ponto de fazer uma cirurgia puramente estética, porque existe esse tipo de culpa. Então ela inventou que a cirurgia era pra remover um princípio de câncer. Minha mãe tinha dessas coisas. Quando ela comprou um casaco de pele e teve de enfrentar a ira dos três filhos, crianças ainda, insistiu que as chinchilas usadas haviam morrido de velhinhas, e não sido sacrificadas pra montar aquela aberração. Aquela desculpa não colou, mas na do câncer de mama eu acreditei. Àquela altura eu, além de odiar meus seios por achá-los enormes, já havia aprendido que eles deviam ser contidos e cortados e eram locais de doenças fatais.

Através de revistas e programas de TV, via seios que pareciam muito mais bonitos que os meus. Qualquer par de seios parecia mais bonito, pra falar a verdade. Acho que ainda era criança quando aprendi o “teste do lápis”. Sabe, aquele que se você colocar um lápis embaixo do seio e ele, o lápis, ficar, é porque seu seio tá caído e você tá acabada. Adeus. Sua razão de existir na Terra terminou. O esquisito é que essas matérias não explicavam bem o que fazer quando ocorresse essa tragédia de não passar no teste do lápis. Claro, a sugestão da cirurgia plástica estava sempre presente, assim como alguns exercícios que você podia fazer em todos os momentos, inclusive sentada, comendo, vendo TV, conversando com amigas. Mas a estratégia da reportagem era, e é hoje mais do que nunca, fazer com que uma mulher nunca se esquecesse de como seu corpo é errado e medonho.

O tempo foi passando, mais amigas fizeram cirurgia, eu continuava detestando usar sutiã, mas uso, óbvio, que não vou cometer essa contravenção social passível a trinta anos de prisão. É curioso que até hoje as pessoas se referem às feministas como “queimadoras de sutiãs”. Mas elas nunca puseram fogo neles. Isso foi apenas o que a mídia quis transmitir do famoso protesto de 1968 contra um concurso de Miss América. Feministas se reuniram, tentaram perturbar o concurso, e jogaram numa cesta de lixo revistas femininas, perucas, cílios postiços, espartilhos – e sutiãs. A confusão com “queimar” sutiãs ocorreu porque era comum jovens americanos queimarem seus cartões de convocação pra lutar na Guerra no Vietnã (o alistamento era obrigatório). Daí pra mídia ver mulheres queimando sutiãs foi um passo.

Olha, por mim, eu queimaria sutiãs. O que eles representam, desde sempre, é a restrição da minha liberdade. Tudo bem, a culpa não é deles: são apenas um símbolo de uma sociedade que ensina que mulheres nasceram pra ser bonitas, que pra ser bonita só sendo jovem pra sempre, e que mulheres feias (velhas, gordas, com cabelo crespo, fora do padrão único) devem se esconder. Volta e meia aparece algum prefeito excêntrico que proíbe a presença de mulheres feias nas praias da sua cidade, violando o direito básico de ir e vir. Mas essa figura caricatural do prefeito nem é necessária. Temos a sociedade inteira, homens e mulheres, pronta pra condenar aquela velha usando biquini, quando deveria estar usando maiô ou, preferencialmente, nem pisar numa praia. Gorda usando short ou saia? Deus me livre! Não importa que esteja quente - tem que usar calça e esconder aquele espetáculo deprimente. Por que não instituir a burka de vez? Ou melhor, vamos logo probir que as feias saiam de casa, pra não poluir a paisagem. E nós, mulheres ocidentais, nos consideramos livres...

38 comentários:

Suzana Elvas disse...

Tem mais ou menos um mês que minha filhota de seis anos começou a pedir pra ir de calça comprida para a escola. Um calor de derreter o cérebro, e ela implorando pra ir de calça comprida. Aí, na pressão, ela me disse que um garoto mais velho, de uns 13 anos, havia dito que meninas gordas (o que ela não é) de pernas cabeludas (que ela não tem) não deveriam andar de short.

Expliquei a ela que mesmo gorda e cabeluda feito um macaco ela tinha todo e qualquer direito de vestir o que quisesse do uniforme da escola. E que em absoluto não estava feio - ao contrário, que ela era uma gracinha. E mais: que os meninos ficam esquisitos com pernas magrelas e shorts imensos. E, para arrematar, que eles falam estranho, com uma voz grossa entremeado de uma voz agudinha, que nem uma menininha.
Ela riu, vestiu a saia e foi à luta.

E já ouviu críticas às suas pernas aos seis anos. Valha-me Deus.

Anônimo disse...

Nossa, Lola, estou sem palavras.
Texto maravilhosamente sério, principalmente para uma mãe de menina que, daqui a alguns anos irá passar por estes perrengues todos.
Também fui uma adolescente fora dos padrões, macérrima, mas com seios enormes, desproporcionais. Resolvi o problema engordando horrores (fiquei 'proporcional'), e depoois consertei o estrago com uma dieta e redução de seios. Estética e saúde.
Agora, mãe, e com um corpo longe daquele que eu considero bonito, que por acaso é completamente fora dos padrões das revistas, digo que não me lembro de ter sido tão feliz comigo mesma!
Beijos e parabéns, novamente!

lola aronovich disse...

Su, é dose, né? Uma menina de 6 anos já começar a ter traumas? Eu acho que comecei tarde, só com a puberdade mesmo, mas eram outros tempos. Sei que hoje as imposições e os preconceitos começam cada vez mais cedo. Só não sabia que já aos 6 anos... Porque isso é ridículo, é muito cedo (e desde quando meninas de 6 anos têm pernas cabeludas?!). Mas gostei da sua explicação pra ela. Ela precisa saber que vai escutar muita besteira na vida, e que deve dispensar essas besteiras. Mas já é uma segurança e tanto ela saber que não vai ouvir essas besteiras da própria mãe.

lola aronovich disse...

Chris, deve ser muito difícil ser mãe de uma menina, no meio de uma sociedade que desde a mais tenra idade já trata tão mal às meninas (e continua tratando mal às mulheres na idade adulta). Mas é ótimo que vc saiba das dificuldades, que vc tenha a sua história, e que vc esteja feliz na sua pele. Acho que só isso já passa uma lição enorme a uma filha. Mães são mulheres, e como 99% das mulheres, têm sérios conflitos de aceitação com o próprio corpo. Infelizmente as filhas captam isso rapidinho, e reproduzem esses complexos. Claro que mesmo mães conscientes, como vc e a Suzana, não podem fazer milagres. Não podem isolar as filhas. Mas o exemplo da mãe é fundamental, eu acho.

Juliana disse...

É exatamente porque essas pessoas são cada vez mais alienadas e fúteis que acontecem coisas do tipo que a minha colega de francês relatou. Ela disse que no Menino Jesus, os pais dos alunos vão reclamar com a diretora quando os filhos têm um professor velho. Não tem nenhuma questão de estética envolvida, mas os preconcituosos burros acham que o professor mais experiente é menos preparado para educar seus filhos? Alguma coisa tá muito errada nessa história toda...

Chocada com a filha da Suzana ter que passar por uma dessas aos 6 anos de idade. As crianças estão "crescendo" mto rápido e cada vez mais crueis. Tenho medo disso...

Ale Picoli disse...

É, Lola, somos do tempo que cirurgia nos seios era pra diminuir, não pra aumentar.
Eu não queimaria meus sutiãs pq tenho seios caídos desde o início. Desde que meus seios apareceram (o direito uns meses antes do esquerdo, diferença bem visível até hoje) eu não passo no teste do lápis, nem da caixa de lápis 24 cores. E aqui no calor do Rio, se eu não uso sutiã pra tentar manter a base dos seios um pouco arejada, acho que crio cogumelos não comestíveis lá. O que eu queimaria são calcinhas e sutiãs com muitas rendas ásperas e aros de sustentação que só servem pra tirar foto. Pra usar, que é bom, não servem.

Anônimo disse...

Tambem tentei fazer uma cirugia de redução mas quando o médico me explicou todos os riscos envolvidos, falou de estatíscas e explicou detalhadamente o procedimento fiquei com muitas dúvidas. Todas as vezes que tento comprar camisas ou jaquetas e tenho de comprar três numeros acima porque de outra jeito não apertam na frente, volto a pensar nisso... felizmente a moda está virando para o nosso lado e até comprar soutiens de tamanhos grandes, com bom suporte e bons materiais que não pareçam camisa de forças, já não é missão impossivel!!!
Amei essa da Baixa Combustão...vou "roubar"!

lola aronovich disse...

Não dá pra entender mesmo, Ju. Reclamar porque o prof. é mais velho?! Estranhérrimo.
Tem razão, as crianças, que sempre foram cruéis, parece que estão cada vez mais precoces nesse quesito...


Pois é, Ale, todo mundo pensa que seio flácido é só causado pela idade, mas tem muita mulher que tem seio caído desde o surgimento dos seios. Semestre passado vi um documentário interessante chamado "Breasts", em que americanas de várias idades, etnias e tamanhos falavam (e mostravam) seus seios. E havia mais de uma que falava isso que vc disse. O que não me conformo é: quem falou que seio flácido é feio? Isso está totalmente enraizado na minha cabecinha, e na da maior parte das pessoas. Mas a gente não nasceu achando isso. Alguém nos ensinou que só existe um padrão aceitável. Acho que era contra isso que as feministas que quase queimaram sutiã nos anos 60 estava se opondo.

lola aronovich disse...

Mary, ainda vou escrever uma segunda parte pra essa saga da minha convivência com meus seios. Tenho muito mais pra contar... Mas comigo é igual, praticamente toda vez que vejo meus seios no espelho quero operar. Só que há riscos, e pouca gente fala deles. Já imaginou morrer numa sala de cirurgia por causa de uma coisa puramente estética? Eu não me perdoaria jamais! Às vezes o que mais me incomoda dos meus seios é eles serem enormes, às vezes é por serem caídos. Varia.
Ainda preciso encontrar bons sutiãs...
O Baixa Combustão é bonitinho, né? Devo confessar que a única vez que ouvi isso foi daquele adolescente conhecido meu. Nunca mais.

Anônimo disse...

Lola, não adianta que a força da gravidade vêm para todas, e por mais silicone que se meta acaba ficando feio. Já vi senhoras com peitos que poderiam ser muito bem considerados armasletais.
Fico cada vez mais com a exatidão pelo que passam as mulheres quando você diz que elas preferem prejudicar à saude em nome da beleza.
Eu me preocupo muito com meu corpo, que óptimo após muito treino no ginásio, mas hoje descobri que tenho alguma coisa na Tiróide (palavra que até então eu ligava inocentemente a alguma coisa intestinal). Proxima semana vou ao médico, mas pelo que andei verificando o tratamento dura a vida inteira e engorda. Tenho que aceitar isso, viver gordo é melhor que viver doente...se é que vai ser assim.
E descobri que muitas pessoas não conseguem de maneira alguma emagreceram porque essa glândula, localizada na garganta, em muitos casos possue uma certa disfunção que resiste a qualquer regime. Algumas pessoas podem ter a vida perfeita, mas não por muito tempo, e acho que por mais dificil que sejam as coisas, em termos dos padrões estupidos de uma sociedade estupida, tem que se aprender a deixar correrem as águas.

Anônimo disse...

Lola, é muito dificil ser feia! Nossa, mas é muito dificil mesmo. Tem até um livro chamado "o intolerável peso da feiúra, um trabalho de uma antropóloga em academias e clínicas de cirurgia plástica.
Eu sempre tive peito pequeno e queria desde sempre que eles fossem grandes. Tá vendo, tudo conspira mesmo pra gente achar que é feia/inadequada/etc...Minha mãe tinha grandes e maravilhosos, mas aos 50 e tantos resolveu fazer a cirurgia. Ficaram piores, pq eles eram lindos, maravilhosos, passavam aos 50 anos no teste do lápis. E eu ouço muito de amigas que tem seios grandes (e de minha mãe tb) que é porque nenhuma roupa fica bem! Como assim???? Nossa, eu fico pensando no ponto em que chega essa mutilação simbólica ou de fato do corpo feminino. Eu, que envelheço e pela regra "natural" das coisas, fico cada vez mais "feia" tenho achado que é mesmo cada vez mais intolerável ser feia. Talvez eu devesse mesmo me recolher dentro de casa, sei lá. Coitadas das meninas de hoje. Eu espero muito que elas consigam reverter isso, pq senão...Pelo menos elas terão um acesso bem maior à informação, o que já me dá esperança. Beijos

Anônimo disse...

Muito interessante o post, lola, e corretíssimo nas questões que coloca. Eu cheguei a operar os seios quando era mais jovem, acho que isso, se tem de ser feito, é melhor quando se é jovem pq se tem mais coragem para encarar o pós operatório, que dá um pouco de trabalho, sim. De todo modo, hoje tomo um remédio altamente engordativo também e os seios lindos da juventude já eram, mas nem ligo :)
um abraço,
clara lopez

Chaves disse...

Oi, Lola,
Essa dúvida me atormenta: o que fazer com estas coisas penduradas aqui na frente? Não posso correr, porque eles pulam, não consigo ficar parada à vontade, porque eles chamam mais atenção do que eu gostaria.
Bem, esse negócio de ter peitão e ser "mulherão" é um saco. É um papel difícil de interpretar.
Tenho uma amazona escondida dentro de mim, daquelas que cortam pelo menos um dos seios, pra poder atirar melhor.
Mas ainda não tive coragem, como sua mãe.
Abraços.

Anônimo disse...

Gostei muito do artigo. Também não tenho uma relação muito amigável com o sutiã. Tenho o peito bem bonito, mas a extrema importância dada a uma parte do meu corpo que certamente mudará muito (para pior, segundo a mídia, o espírito do tempo, tudo), fico apreensiva todo o tempo. Chego a me incomodar quando Marido elogia meus seios. Gostaria que ele elogiasse algo menos efêmero, digo a ele. Porque fico com medo de quando eles não forem mais tão agradáveis. Não é um horror?
Roberta

lola aronovich disse...

Cavaca, é, a tiróide é um problema, e faz com que muitas pessoas não consigam emagrecer. Eu pensei que tivesse um problema desses tb, mas, após alguns exames, vi que não. Meu problema de não emagrecer é genético mesmo. É meu tipo físico (e o de um monte de gente. Assim como ser alto ou baixo). Mas sem dúvida, perdemos tempo demais nos fixando em nossa aparência, que é algo bastante superficial. Sei que perdi muito tempo da minha vida por não ter começado a me aceitar antes...

lola aronovich disse...

Nalu, não tem jeito, a gente sempre encontra um problema na gente. Muitas mulheres que têm seio pequeno gostariam de ter seio grande, e mulheres que tem seio grande gostariam de ter seio pequeno. Mas a unanimidade hoje em dia é todo mundo ser magra. Ninguém quer ser gorda, né? Mas se até ser gorda ou magra é algo subjetivo às vezes (a gente vê tanta menina magra se achando gorda), o que dizer de ser feia ou bonita? Ao contrário do que a mídia quer nos fazer acreditar, não existe um padrão de beleza universal. E outra: até mulheres gordas (ou seja, feias, pro padrão de beleza atual) namoram, se casam e são felizes. Nossa felicidade não depende da nossa aparência física. Mas pra ser infeliz é fácil: é só ficar eternamente insatisfeita com o corpo que tem. A vida pode ser ótima, a mulher pode ter um bom casamento, um ótimo emprego, sentir-se realizada em muitas áreas, mas vai viver sempre sentindo-se um fracasso por não conseguir emagrecer ou entrar naquele tamanho de roupa. Montes de mulheres adiam a vida pra viver pro amanhã: só vou ir a tal festa quando perder não sei quantos quilos, só vou comprar um vestido que gosto quando emagrecer etc etc. A vida vai passando, a pessoa não emagrece, e vai se sentindo cada vez pior. Eu não deixei de fazer muita coisa em todos esses anos de extrema insatisfação com o meu corpo, mas, se tivesse encucado menos com a minha aparência, acho que talvez teria tido mais energia pra outras coisas. A gente gasta tempo demais se olhando no espelho e se odiando! E isso afeta a nossa vida. Deve ser bem diferente acordar, se olhar no espelho e se sentir linda, poderosa e maravilhosa. Eu gostaria muito que as meninas mais novas crescessem se gostando, sem desperdiçar tempo.

lola aronovich disse...

Clara, que bom que vc não liga. Eu queria não ligar. Queria gostar dos meus seios como eles são. E queria não ter perdido tanto tempo detestando meus seios, durante os últimos trinta anos, quase. Não é ridículo? Detestar uma parte do seu corpo por tanto tempo? Uma parte que está sempre aí, que vc sempre vê? Eu acho altamente ridículo, mas é difícil evitar. Sem dúvida nunca vou gostar dos meus seios. Eu só queria não achá-los horríveis.


Chá de Camomila, li que desejar mutilação dos seios é muito comum entre meninas com distúrbios alimentares, principalmente anorexia. A idéia é suprimir qualquer vestígio de femininidade, ter o corpo igual a de um menino, e os seios realmente "atrapalham". E elas não sonham com cirurgia plástica pra reduzir os seios, sonham é com mastectomia mesmo! Não sei se tem muita diferença. É tudo (auto) mutilação, gerada por ódio ao próprio corpo. E aí a gente lê sobre mulheres que tiveram de fazer mastectomia por causa de câncer e o sentimento é outro, né?

lola aronovich disse...

É um horror mesmo, Roberta (Yallah). Mas tudo na nossa aparência física é efêmero. A gente vai invariavelmente envelhecer, e o corpo muda, como vc deve saber melhor do que eu (por todo seu envolvimento com dança do ventre). O terrível é que a mídia decretou (e a gente acredita) que só o corpo de uma mulher até os 30, 35 anos pode ser bonito. Estrias não são bonitas, qualquer coisa flácida não é bonita, gordura não é bonita. Mas quem disse? Quem determinou isso? Parece algo tão arbitrário, não? Tão ditatorial. Não acho que seu marido deva parar de elogiar os seus seios. Mas o ideal seria que ele os elogiasse sempre, porque são seus, fazem parte de vc, e ele te ama como vc é. Só que, se nós mesmas não conseguimos nos aceitar, como exigir que nossos companheiros o façam?

Anônimo disse...

Oi!
De fato, o lance da mutilação é coisa de anoréxica, negação do próprio corpo, como manifestaçao do feminino. Mas isso é caso psiquiátrico mesmo. Pra cada uma deve simbolizar uma coisa. No meu caso, seios estão relacionados a prisão, impedimentos. Como você bem falou no post, você não pode deixar eles livres, porque incomodam os outros, e eu completo: ou os outros vão te incomodar, te desrespeitando (trocadilho infeliz não-intencional). Ou seja, são a evidência maior de que somos mulheres, provocadoras, causadoras de problemas, essas coisas de bruxas da idade média.
Bom, falando em cinema, tem um filme chamado "Sob Suspeita" (Under Suspicion), com o Gene Hackman, Morgan Freeman e a Monica Bellucci. Certamente você viu, Lola, e quero lembrar de um momento cruel: quando o Gene Hackman diz na maior sinceridade que adora meninas de 15 anos, que quando ele tinha 15 anos ele as adorava, e que não tem porque não continuar gostando aos 60 - elas têm as carnes durinhas, a pele boa, essas coisas. E a Bellucci lá, lindona, mas perdeu a graça.
Aquilo me enlouqueceu, pois é a pura verdade. (os maridos de vocês não continuam curtindo pornografia com jovenzinhas? O meu adora.)
Bom, que coisa. A gente envelhece, cai, e o parceiro, claro, deixa de olhar pra você, que apesar de tudo ainda é um mulherão, pra ficar olhando pro computador, pras garotinhas.
Pra que então ficar tão preocupada em manter o sex-appeal?
Compreendo a Yallah, porque sinto o mesmo que ela. É tudo tão efêmero, e a cobrança pra permanecer sempre linda é permanente.
Com relação às nossas filhas, o duro é não reproduzir sem querer os padrões. Sempre que viro pra minha, que tem 3 anos, é difícil não começar dizendo que ela é linda. Sempre completo: e inteligente, e esperta, etc. Mas lembro só depois.
Quero que ela seja mais livre do que eu, mas os padrões machistas ainda passam através de mim.

lola aronovich disse...

Oi, Camomila! Muito legal o seu comentário! Tem toda razão: é impossível os seios passarem despercebidos. Ou eles atraem ou incomodam (e não só por estarem caídos, fora do padrão, mas até quando cumprem uma de suas funções mais naturais, que é amamentar. Tá cheio de homem que se sente incomodadíssimo ao ver uma mulher amamentar).
Não vi "Sob Suspeita", esse filme que vc falou. Obviamente o personagem do Gene Hackman deve ter algum problema psicótico, porque trocar a Monica Belluci por uma menina de 15 anos é caso de internação, né? Mas aí já é coisa de pedófilo. Afinal, mulher de 25 anos também tem tudo durinho e no lugar. Nesse documentário que vi semestre passado, "Breasts", o que mais me chamou a atenção foi o depoimento de uma dançarina, muito bonita, de uns 30 e poucos anos, não lembro. Ela tem seios pequenos, e diz que muitos homens sentem-se atraídos por peito pequeno, porque podem fantasiar estar com uma adolescente. Lembram sua primeira namorada e tal, numa época em que não podiam transar com ela - e, transando com a bailaria, é como se pudessem. Eu acho isso meio horrível, fantasiar que tá transando com uma menina novinha, mas fantasia é fantasia, e desde que fique só no plano da fantasia... Eu não sei o tipo de pornografia que meu marido gosta. Mas desde que não envolva pedofilia ou zoofilia, ele pode ver o que quiser. Acho que pornografia faz parte da intimidade sexual dele, que não me envolve. Anyway, não sei quem é que disse que quase nunca há apenas duas pessoas numa cama. As duas partes do casal trazem suas fantasias, pensam estar com outras pessoas, anônimas ou famosas. Isso faz parte. Mais um motivo por que matérias de revistas femininas do tipo "posições para transar que deixam seus seios mais duros e sua barriga mais encolhida" são ofensivas! Durante o sexo, o homem vai prestar atenção se nossos seios estão num ângulo de 90 ou 180 graus? Por favor, né? Isso equivale a ficar contando rachaduras no teto...
Sobre a sua filha de 3 anos, é, eu sei, acho que todo mundo, quando vai falar com uma menina de 3 anos (ou mais), a primeira coisa que diz é "Vc é linda". E isso incomoda, porque a gente gostaria que as próximas gerações de mulheres crescessem sendo reconhecidas por outras qualidades, fora sua beleza. Mas, ao mesmo tempo, penso: pros meninos de 3 anos, a gente também não louva a beleza? Nesse ponto eu sempre me lembro do livro "About a Boy". Não sei se também tá no filme com o Hugh Grant, "Um Grande Garoto" (ótimo, por sinal). O narrador, que não gosta de crianças, não quer casar nem ter filhos, sempre se sente desajeitado ao ter que falar alguma coisa pros pais corujas de uma criança. E lá pelas tantas ele narra pra gente (depois de perguntar pros pais de um guri de 3 anos como ele anda): "O que eles vão dizer? ELE TEM 3 ANOS!". E aí ele sempre se impressiona como os pais sempre têm montes de coisas pra falar sobre as incríveis façanhas de uma criança de 3 anos...

Chaves disse...

Homens... a lógica deles está além da minha capacidade.
Sei apenas o segunte, que aprendi da boca deles: eles gostam de "carne nova", mesmo que seja pior do que eles têm disponível. Ninguém melhor pra ilustrar isso do que o Hugh Grant. E no filme "Sob Suspeita", essa é a tônica. É um filme policial meia-boca, machista até dizer chega. Se não viu, melhor não perder seu tempo.
Queria ser madura e bem-resolvida como você pra deixar a sexualidade do marido em paz. Mas, sabe como é, a insegurança é fogo.

E a Nalu colocou uma coisa verdadeiríssima: o mundo não perdoa a feiúra. Daí sobram altos conflitos quanto à maneira de criar os filhos. Você quer que eles se saiam bem, sejam fortes e não sofram, mas ao mesmo tempo que não fiquem presos aos padrões que você rejeita.
Minhas atitudes com relação à minha filha: a) não furei a orelha; b) não estimulo brincadeira envolvendo maquiagem; c) não a transformo em boneca pros outros admirarem; d)procuro me policiar quanto aos estímulos na educação, pra não reproduzir o padrão machista que sempre acaba escapando, como no exemplo que citei antes.

E acho que o maior trunfo na sociedade é a beleza. Se bem me lembro, já houve pesquisas demonstrando a relação direta que existe entre salários x beleza. Daí que não dá pra negligenciar esse aspecto, como eu e acho que todas as mulheres conscientes desejariam. Justamente porque sabemos o quanto nossa aparência muda rápido, que nossos corpos mudam com o decorrer dos dias no mês, com a gravidez, com qualquer hormônio descontrolado, por causa de qualquer besteira. E a gente acaba ficando neurótica.
Por isso estou cansada de ser mulher.

Unknown disse...

Lola, eu ODEIO sutiã. Tinha seios pequenos, até engravidar (aos 22 anos), então, nunca usava. Comecei a usar mais aqui nos EUA porque as pessoas ficam horrorizadas com os bricos do seio, mas DETESTO, mesmo os mais confortáveis, me apertam, incomodam.

Sobre a repressão, me lembro de uma vez, quando estudava no Colégio Imaculado Coração de Maria, aos 13 anos e a freira me deu uma esculhambação e me mandou pra casa, na hora da aula, porque eu estava sem sutiã... imagina, eu mal tinha alguma coisa "pra esconder".

Ah, e mais uma vez temos algo em comum, há alguns anos, fiz uma série de posts sobre SEIOS:

http://sindromedeestocolmo.com/archives/category/corpo-saude/seios/

Beijos :-)

Unknown disse...
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Unknown disse...

http://sindromedeestocolmo.com/archives/category/
corpo-saude/seios/

lola aronovich disse...

Camomila, eu não me considero exatamente madura e bem-resolvida em relaçao à quase nada... Mas isso sobre nossa insegurança frente à sexualidade do marido merece um post à parte.
Apóio todas suas atitudes em relação a sua filha. Se eu tivesse filha, faria igual. Mas mesmo a influência das mães é limitada, né? Dá pra uma menina não se fixar na aparência se todas as suas amiguinhas de escola só falam nisso?
Quanto à beleza, é verdade, tem pesquisa mostrando que quem se encaixa dentro dos padrões de beleza até ganha mais, é tratado melhor pelo mundo. Mas a vantagem é que temos um padrão de beleza tão difícil de atingir pras mulheres que a enorme maioria fica fora dele. E mesmo assim a gente consegue emprego, marido... Deve ser tudo mais fácil pra Giselle, claro. Acho que a idéia é justamente que a gente fique neurótica o tempo todo, e gaste muito na vã esperança de ser menos neurótica.
Quanto a estar cansada de ser mulher, bom, acredito que a maioria de nós já fantasiou sobre como nossa vida seria menos complicada se fossemos homens. Mas eu gosto de ser mulher e tenho orgulho disso. Só não gosto de algumas coisas ligadas a ser mulher (como também não gosto de algumas coisas que parecem inerentes ao comportamento masculino). Será que não dá pra mudar ou ignorar só essas coisinhas? Ok, coisonas?

lola aronovich disse...

Oi, Denise. Então, não dá pra entender como americano, que tem fixação por seios, tem horror a bico dos seios! Mas este é um país puritano. Deve ser bem complicado não usar sutiã por aqui (bom, acho que, hoje em dia, em todo lugar).
Outro dia li algo parecido em algum blog americano, não lembro qual, de que era regulamento interno da escola que, a partir da sexta série, todas as meninas devem vir à escola usando sutiã. Sexta série! Sua professora freira não estava só.
Já já dou uma olhada nos seus posts sobre seios. Agora preciso escrever a crítica de Incrível Hulk! Abração.

Anônimo disse...

Bom dia , gostei deste artigo sou jovem tenho 24 anos , sou magra e tenho seios tamanaho volumoso, uso copa D34 , nunca gostei do meu corpo , pricipalamente dos meus seios , por serem grandes, o mais engraçado é que não sou larga fisiscamente, asvezes tenho dificuldade ao usar blusas nem todas ficam , por causa do busto, eu axo que isso nme afecto psicologicamente, demoro muito tempo a vestir, ja xeguei xorara tantas vezes, mais enfim quando saio e vou pra rua vejo mulhres com busto muito maior que meu , sinto um pouco de consolo afinal n sou a unica , sempre quis ter seios pequenos ou medios. so tenho que me sentir feliz comigo mesma e gostar de mim, por se nã ninguém ira gostar, nos seres humanos somos insatisfeito por natureza.a perfeição não existe , a felicidade é um momento ilusorio da vida.há cremes e compromido para aumnentar o volume dos seios , mais para reduzi-lo ainda não inventaram que pena.nem toda mulher com seios grande gosta de seus seios o mesmo acontece com aquelas que tem seiso pequenos.

Anônimo disse...

No Google coloquei "Meus seios grandes" e... veio seu link. Engraçado que, declaradamente, sou 'tarado' por seios grandes.
Gosto de ver, tocar, sentir, beijar ou simplesmente ficar deitado com eles 'colados' no meu rosto.
É algo inexplicável... é tara (assumo).
E, o que mais me deixa triste é... pq vcs mulheres com estes seios maravilhosamente grandes querem diminuir !? - Tudo bem que 'eles' podem ser prejudiciais à sua coluna, de ser complicado achar blusas, etc e tal.
Mas, ainda que eu seja suspeito de falar... é a parte da mulher que mais traduz sensualidade, feminilidade, desejo...
E, nada mais interessante do que um mulher com (o Y o) grandes usando uma blusa frente única, um corpete (é assim que se escreve ?), um tomara que caia, ou simplesmente uma blusa básica... é claro sem sutiã.
Beijos para vc.

Isobel disse...

Lembro muito bem de ter sido Xingada por uma amiga, com meus 11, 12 anos por confessar que só usava sutiã para ir para o colégio, enquanto ela, chegava a dormir de sutiã. ela vivia falando "seus seios vão bater no chão, os meus não" . Confesso que isso me perturbou por alguns anos, principalmente quado percebi que tinha engordado, meu IMC passando dos 42 e os seios segundando não só um lápis, mas como um piloto. Hoje eu me aceito, mas se doeu? Doeu e muito. Hoje eu me aceito, aceito o fato de não ser uma Barbie, uma escrava de academia, Odeio academia. Hoje, mesmo em meio a preconceitos, eu sou feliz. Obrigada Lola, obrigada!

Lubastos disse...

Confesso que sinto uma certa vergonha de mostar as pernas, mesmo não sendo gorda... Penso na brancura, varicozes, celulites... De qualqer forma, acho vulgar usar saia curta em uma cidade não-litorânea como Curitiba (ou principalmente Curitiba, hehe)! Talvez só quando estiver muito calor, o que não é o caso de muitas: um solzinho de inverno e dá-lhe shortinho e decote! E isso NÃO vale só pras mulheres: pense num cara sem camisa num dia de calor por aqui, eu, sinceramente, acheria bem feio! Ou um homem de shorts que mais parecem uma cueca! Igualmente feio pra um lugar que não tem praia.

Fernanda Maria disse...

Oi Lola. Acho você deveria escrever um post sobre aquelas calcinhas minúsculas que vedem aos montes hoje em dia. Eu as odeio!! Tenho uma relação boa com o sutiã. Mas detesto aquelas calcinhas fio dental, ou super fininhas que enchem as lojas. Prefiro aquelas tipo "cuecinha". Bem mais confortáveis. Mas sempre parece estar em falta nas lojas. O estranho é que em outros países as calcinhas são maiores, enquanto no Brasil são minúsculas. Sendo que o biótipo da brasileira é de ter um bum bum mais avantajado. Então qual o sentido de impor algo tão desconfortável?

Anônimo disse...

Agora, o lado inverso... eu e meus seios pequenos... ainda hoje é motivo de grilo pra mim... eu demorei um tempo usar sutian, só comecei a usar pq algum parente falou e eu fiquei encanada que tinha q usar, devia ter uns 10 anos... lembro de um dia estar com uma regatinha, sem sutian pois foi em uma época em que tinha ainda menos peito, e estava com frio, então cruzeis os braços e os coloquei por cima do ombro, e um idiota passou por mim e disse pro outro "olha isso, nem tem peito e ainda tá escondendo, como se alguém fosse olhar". e aí passei me julgar pq tinha pouco peito e via menina da minha idade com peitos grande, queria ser daquele jeito, pq era "mais bonito" (pros meninos, né). então virei refém (ainda sou) do sutian, pois se sair sem ele vão olhar pros meus "peitos muchos" e praticar bullying. e então agora uso sutian com bojo e como estou mais cheinha do que uns anos atrás, tenho seios. e ainda assim, penso em colocar silicone, ideia que estou tentando negar há tempos pois quero muito me amar e me aceitar como sou, sem querer me adequar aos padrões da mídia: magra-peituda-loira-branca

Anônimo disse...

Eu passei minha adolescencia inteira sofrendo por ter seios enooormes... sempre sofri muito, mas sempre tive o apio da minha mãe pq ela fez redução de mama aos 19 anos... então depois de muito sofrimento, minha cirurgia de redução de mamas eh amanha... se quiser acompanhar minha historia, ela está em http://mamoplasonho.wordpress.com/
bjss!!

Anônimo disse...

Tenho 14 anos e vivo com uma luta com meus ceios des dos 12 anos hj estou centindo uma dor insuportavel nunca fui no medico des que comesou o grecimento abisurdo estoi morrenfo de medo da reducao mas se deus quiser vou faxer e vai dar certo

Anônimo disse...

tenho 15 anos os meus seios mi fazem sentir mal, mi sinto emcomodada com eles, tenhu primas que me esnoba por ter seios maioris que os delas

Anônimo disse...

Não fique triste fique feliz por ter seios grandes

Anônimo disse...

Desteo essa porcaria de sutian e nunca uso. Tenho seio medios e podem balançar tremer, fazer o q for não me importa. Gosto de sentir os rapazes olhando e me "comendo" com os olhos rsrsrsrsrs. Nunca vou usar essa coisa ridicula nem que meus seios arrastem no chaão kkkkkkkkk

Anônimo disse...

O ano é quase 2024 e eu tô aqui. Sofrendo, com meus peitos pequenos e nojentos no auge dos meus 24 anos. Há 8 anos (desde os 16 anos) caídos, e muito, muito doloridos. Eles acabam com a minha autoestima, e tudo vem da sociedade, não tenho dúvida.