sexta-feira, 18 de abril de 2008

CRÍTICA: QUEBRANDO A BANCA / Quebrando a cara

Merchandising de jogo: vamos fingir que ganhar de cassino não é apenas possível como fácil

Hoje estréia aí Quebrando a Banca, que passou aqui com o título de 21 e me decepcionou muito. O filme é fraquinho que só ele. É sobre um rapaz (o bonitinho Jim Sturgess, de Across the Universe) que precisa de 300 mil dólares pra se formar médico. Isso ou conseguir uma bolsa de estudos disputada por 76 candidatos com ótimo currículo. Ganha quem contar uma história de vida que entusiasme o selecionador. Olha, mil desculpas, mas o personagem do Jim é tão insosso que, pra me entusiasmar, só se ele tirasse a roupa e oferecesse favores sexuais. A gente fica sabendo que o sujeito é meio gênio porque faz contas rápidas. E porque todos ficam falando isso pra ele (e pra gente). Principalmente um de seus professores, o Kevin Spacey, que quer que ele aprenda a contar cartas pra ganhar dinheiro dos cassinos.

Eu não sei contar cartas nem quando me dão um maço fechado e dizem “Conta quantas cartas tem aí”. Mas o maridão descobriu na internet que isso de contar cartas (que é atribuir um valor às cartas maiores e menores) só aumenta as suas chances em 20%. No filme parece que a pessoa que conta carta ganha sempre. Será que os cassinos patrocinaram Quebrando pra que um monte de gente praticasse a contagem e fosse pra lá ganhar grana e quebrasse a cara? Ah, sim, um detalhe importante. A história de passa em Boston, onde fica MIT e Harvard. Pra chegar de lá até Las Vegas precisa cruzar o país. Chutando, é como se fosse a distância entre SC e Amazonas. Mas existe um lugar de jogatina na costa leste, Atlantic City, pertinho, e dizem que lá ninguém te leva prum porão pra te espancar por você contar cartas. Ok. Então onde nossa trupe intrépida decide ir? Pra Las Vegas! Só porque é glamuroso. Aí eu penso: mesmo que tudo dê certo pro Jim, que ele ganhe o dinheiro pra completar os estudos, será que eu gostaria de ser atendida por um médico que se formou indo todo final de semana pra Vegas, no resto do tempo estudando full-time sobre probabilidades de jogos, e não tendo que escrever um só relatório sobre qualquer coisa ligada à medicina?

Lá pelas tantas a mãe do Jim lhe dá uma alternativa, no formato de um cheque de 68 mil! No ato ela devia receber uma plaquinha comemorativa escrito “Única Americana a Guardar Dinheiro na História”. Mas o Jim não só recusa, como mente pra santa. Não sei porque as idas pra Vegas precisam ser um segredo absoluto. Será que a mãe é crente? Porque se a religião não permite que você jogue, tudo bem. Aí seria um segredo de estado mesmo. Mas num país onde o jogo é legalizado e o sucesso na vida é contabilizado em dólares, qual o problema de querer fazer dinheiro jogando? Outra coisa que escapa a minha inteligência é por que seria ilegal contar cartas. Não que seja. Parece que é tudo legal em Vegas, inclusive contar cartas e capangas baterem em você por contar cartas. Mas esse truque não seria uma mostra de um mínimo de talento contra a sorte? Os cassinos ganham sempre, e não vejo nada de errado no elo mais fraco da cadeia alimentar, o jogador, querer ter um lucrinho às vezes.

A gente já viu esse filme antes, centenas de vezes, mas com outras temáticas, que não o jogo. Garoto talentoso e puro de coração precisa ganhar dinheiro. Garoto ganha dinheiro. Garoto não é mais puro. Garoto fica convencido, insuportável e trata todo mundo mal. Garoto perde tudo (dinheiro, amigos, namorada). Garoto recupera a pureza no coração e também dinheiro, amigos, namorada. Garoto passa a perna em quem passou-lhe a perna antes. Espectador boceja. Garoto aprende preciosas lições de vida. Espectador comete harakiri. Se bem que este 21 deve ser superior ao Número 23. Se continuar assim, qualquer coisa com 22 será uma obra-prima.

15 comentários:

Juliana disse...

O jogo não é legalizado no país todo. Nevada é um deserto no meio do nada onde não se tem realmente nada pra fazer. Aí eles inventaram de fazer uma cidade (ou melhor, duas, Reno tenta) só de cassino e isso vira ponto turístico. Claro que o CSI deve ter contribuido, mas não sei se depois de ver tanta criminalidade em Vegas pelo CSI eu necessariamente gostaria de ir pra lá.

Mas essa coisa da legalização do jogo é engraçada. Morei em Tahoe, na fronteira de California com Nevada. Exatamente na fronteira começa a bombar de cassino, é mto engraçado.

E eu também não sei contar cartas nem com o baralho fechado (52?). Rain Man ajudaria nesse quesito... haha

Anônimo disse...

Acho que em Buenos Aires tem algo do genero, não me lembro mto bem, mas acredito que seja por isso que o Cassino são dois navios um do lado do outro que ficam na costa. HEHE Em um, jogos de maquina e tal, no outro jogos de cartas, roleta e derivados... (nesse ultimo quando eu entrei tomei um susto, parecia ter uma nuvem no teto hahaha era fumaça, se duvidar até o cachimbo da paz estava em uso lá. E eu vi uma senhora que parecia a poderosa chefona hahaha com fichas rosas e só apostando sinistramente). No final eu tripliquei minha aposta nas maquinas hahaha sorte que eu parei enquanto ainda tinha algo no bolso, pq é viciante.
Acho poker massa, mas não tenho jogado mto, comprei até uma maleta cabulosa com as fichas e tal, mas ainda assim, acho que eu preciso começar a ganhar dinheiro para jogar com apostas mesmo que insignificantes...

Quanto a 21, eu gostei do trailer. E quero ver, a Maira pelo jeito quer mto mais, segue algo para a Lolinha tentar descobrir como reparar os danos:


"Maira: ...
quero veeeer 21 desesperadamente
eahueaheuaheauheuhae
:D


Pedro: nao sei

Maira: ¬¬
nao sabe o que?

...

Pedro: sinistro


Maira: tao
eu so quero ver
21
ou 2 dias em paris
eahuehueahea
como vc nao vai ver
2 dias em paris
tem que ser 21
:S


Enviado - 11:56, sexta-feira
Pedro: ;D


Pedro: "Hoje estréia aí Quebrando a Banca, que passou aqui com o título de 21 e me decepcionou muito. O filme é fraquinho que só ele"


Maira: :O
lola gostou de awake
so tenho isso a dizer
aehuehuehaeuhea
tao, ja volto


Pedro: hahahaha essa eu vou ter que postar :D

...





como dizem por aí, tomou Lolinha ? hahaha Abr

lola aronovich disse...

Puxa, tenho um monte de comentário pra responder ainda... Ju, li na The Advocate que Las Vegas é uma das cidades que mais cresce nos EUA. Já tem muita gente morando lá... Mas pra mim, pessoalmente, deve ser horrível. Até escrevi um outro post sobre isso. Vou postá-lo amanhã. Pois é, o Rain Man era ótimo nisso de contar carta. Não entendo como o cassino pode intimidar alguém, espancá-lo, ameaçá-lo de morte, só por contar carta - que nem ilegal é.

lola aronovich disse...

Pê, eu adoro pôquer e tô com a maior saudade de jogar. Mas nunca joguei valendo dinheiro, dinheiro mesmo. No máximo a gente usava as fichas e, no final, elas valiam 5% ou 10%. Dava pra ganhar (ou perder) 5, 10 reais... Era bem pouquinho. Até que comecei a jogar com uma criança adorável e o dinheiro ficou totalmente de fora, claro. Não faz mal. Pra mim o importante é que o jogo é muito emocionante.
Quanto a sua correspondência com a Maira, ninguém me respeita mais! Fala pra ela dizer isso na minha cara, se for mulher! Tem um quadrinho do Charlie Brown que eu adoro. Ele tá lá, cabisbaixo, dizendo: "One mistake and you pay for it for the rest of your life" ("Um erro e vc paga por isso pro resto da sua vida"). Pelo jeito o meu erro foi ter gostado de Awake...

Unknown disse...

Lendo esta crônica lembrei de Jogada de Risco. Lola vc gosta de Hard Eight?

lola aronovich disse...

Vi Hard Eight recentemente e gostei bastante. Mas 21 nao tem nada a ver com Hard, que tem um outro ritmo.

Leo disse...

Acabei de ver 21. Concordo com td o que você disse. Fraquinho, fraquinho. E eu gosto muuuuito de Poker e Blackjack, Jogo toda semana com amigos (ganhei 80 reais ontem... hehe). Mas o filme é bobo e previsível. Como você disse, faz parecer que é algo certo, e não apenas uma probabilidade. Também achei a forma como eles ganham chata. Num é um golpe de mestre que quebra a banca! Algo que vc fique bobo com a sagacidade dele.
E pra ser sincero, até agora não entendi a história da Porta da Esperança. Se uma porta foi eliminada, as chances aumentam de 33,3 pra 50%, não?
Enfim... acho que matemática não é mesmo meu forte.

lola aronovich disse...

É, Leo, o filme não tá interessado em explicar nada. É mais jogar uma idéia pro ar - uma idéia perigosa, de que é só se preparar um pouquinho pra jogo de azar deixar de ser jogo de azar. Cassinos são construídos em cima de estatísticas e probabilidades de que eles nunca perdem!

Andie disse...

To lendo posts perdidos de tras pra frente. Eu gostei de 21, eh sessao da tarde, mas legalzinho.
Agora, voce sabe que esse filme eh baseado numa historia real neh? A galerinha da MIT realmente fez isso, e foi praticamente por causa deles que tornaram contar cartas ilegal. E, diz o James, desde que eles foram pegos no esquema, todos os Cassinos de Vegas tem um "MIT screening system", e se voce estuda la, eh foda conseguir jogar sem ser monitorado... Portanto, statisticas a parte, a chance de ganhar contando cartas nao devem ser tao minimas naum!

lola aronovich disse...

Pois é, Andie, sei que o filme é "baseado em fatos reais", mas pelo que sei contar cartas não é proibido. Eles até falam disso no filme. Não tem nada de ilegal em contar cartas. Os cassinos que monitoram e expulsam quem faz isso porque não gostam de perder. É só que os cassinos devem ter um lucro tão fantástico que se vem um grupinho com 30% de chance de vencer já é preju pro cassino. Mas certamente não é como mostram no filme, que o pessoal só ganha... Isso não existe. Continua sendo um jogo de azar!

Vitor Ferreira disse...

Eu achei o filme divertido, se mergulharmos no universo proposto por ele. Claro que a história é altamente batida e previsível. O supra sumo do clichê, com destaque especial pra última cena.

lola aronovich disse...

É, Vitor, o filme não é chato em momento algum. Pra mim, é só... fraco. Banal. Posso pensar em muitas coisas mais proveitosas pra fazer com duas horas da minha vida.

Anônimo disse...

Ainda bem que Lola não é ninguém e com sua opinião + R$1,50 você compra uma lata de Coca.

Vamos supor que Lola goste de colecionar calendários. Se fizerem um filme sobre isso, só ela e mais alguns irão entender e gostar.

21 é um filme que precisa de cérebro para entendê-lo. Confesso que, me baseando em sua crítica sobre o filme, você não é tão bem dotada disso.

Seu raciocínio não consegue acompanhar um filme rico em detalhes que só quem joga pode perceber.

Bom, tenho certeza de que quando fizerem um filme sobre pessoas que pensam que são importantes porquê tem um blog e acham que realmente são escritoras, você vai adorar e escrever um belo texto.

Até lá ... Vá lavar a louça do jantar!

Andrea disse...

Oi Lola, assisti 21 ontem, depois q quase todo mundo ja foi ao cinema. Aquela expectativa, sabe... o trailer me dizia q o filme seria muitoooo bom!!! Mas q nada!!! tb fiquei bem frustrada! Enfim... Massa foi a cena entre a que vos fala e o namorado no cinema:

Eu pro namorado(no momento em q o protagonista do filme vê a carta de reprovação de disciplina na porta): "Agora ele vai entrar no quarto e ver q roubaram todo o dinheiro dele".

E dito e feito!

Aí o namo vira e me pergunta: "Como vc sabia?"

Me poupei de responder... Claro pq sou vidente né... Eita filminho previsível!!! Acho q ri uma ou duas vezes ao longo do filme, mas nem lembro mais o motivo... E o filme tinha tudo pra ser legal.

Pedro Girão disse...

Acho que a crítica feita por você foi precipitada... As chances de se ganhar num jogo de 21 usando o mesmo sistema de contagem que eles usam no filme (Sistema Hi-Lo) é de 97% (e não de apenas 20%, como seu marido afirmou).

Obviamente, não é fácil contar. Os alunos do MIT treinaram/estudaram a contagem de cartas durante MESES antes de partirem para Las Vegas (e continuaram treinando e estudando durante e depois, para não perderem a prática). O problema é que as pessoas vêem um filme de 2 horas e pensam que em duas horas podem aprender a contar cartas e ganhar dinheiro em Vegas.

Outra afirmação que posso fazer é: não é fácil achar uma "mesa quente" (que é quando a contagem favorece ao jogador e não ao cassino). Você pode ficar HORAS E HORAS numa mesa e dar o azar dela não esquentar. Por isso que, no filme, eles usam mais de um "olheiro": porque se tiver mais de uma mesa sendo contada, as chances de achar uma quente aumentam.

Os próprios atores e atrizes dão risada - no making off - das pessoas que pensam dessa maneira precipitada como você, Lola, pensou. Um deles diz algo como: "O engraçado é que as pessoas vão achar que podem aprender o sistema no filme em si e partir para Vegas. Eles esquecem de que foram meses treinando todos os dias, várias horas por dia, esse sistema."

Você também levantou a questão de: "será que eu gostaria de ser atendida por um médico que se formou indo todo final de semana para Vegas?" - Bem, não sei se você sabe, mas os universitários (não só os de Medicina) do Brasil mesmo vivem enchendo a cara (alguns até usam outras substâncias) em festas todos os finais de semana. E quando se formarem, irão atender as pessoas normalmente e elas nem saberão (a não ser que eles falem).

Outro ponto: "Não sei porque as idas à Vegas é segredo absoluto..." - Nem eu; vou ali falar pra minha mãe que vou contar cartas nos cassinos em Las Vegas e já volto; afinal, acho que ela não vai tentar me impedir, nem ter um infarto quando imaginar o que os seguranças do cassino poderão fazer comigo caso eu seja pego contando, imagina! (Sim, eu fui irônico, e acho que deu para ter uma ideia do motivo pelo qual ele não contou, não é?)

Pra encerrar, o último ponto: Você não vê motivo pro cassino arrebentar de porrada quem conta cartas? Sério? "Talento contra a sorte"? Tá brincando? Cassino é um lugar de "JOGOS DE AZAR", logo, não tem essa de "talento". Ali, eles querem mais é que os jogadores se viciem e percam todo o seu dinheiro, para engordar os próprios cofres, não o contrário.

Enfim... Acho que seu maior erro foi ter visto o filme e achado que contar cartas e - literalmente - passar a perna nos maiores cassinos de Las Vegas é fácil. Não, não é fácil (nem um pouco); mas também não é impossível: basta treinar umas 6 horas por dia, todos os dias, durante uns 8 meses (no mínimo), para começar a fazer dinheiro com o 21 em Las Vegas.

Aos que tentarem, desejo-lhes um bom estudo de contagem e boa sorte para não serem pegos! haha