No final de 2008, descobri um blog americano que me serviu de inspiração por um tempinho. Inspiração para poupar dinheiro, bem entendido. O blog é pra quem quer se aposentar jovem, ou seja, bem antes dos 60 ou 70 anos com que as pessoas normalmente se aposentam (se é que conseguem fazer isso). É criação de Jacob, um dinamarquês de seus trinta e poucos anos que vive na Califórnia (não é esse da imagem!). Jacob tem doutorado, mas já parou de trabalhar. Agora só trabalha como free lance, e só pra fazer o que realmente quer. É o que se chama de ser financeiramente independente, não depender de trabalho pra viver. Seu segredo não é ter ficado rico. Certo, ele guardou uma boa grana (mais de 80% do que ganhava por mês) durante os anos em que foi assalariado. Mas a possibilidade de se aposentar tão cedo é mesmo ele gastar tão pouco. Jacob gasta menos de 7 mil dólares por ano para todas as suas despesas. Isso dá 580 dólares por mês (esqueça que é dólares e pense em reais, porque é quase a mesma coisa. O que vale um dólar lá geralmente vale um real aqui). Como que ele faz? Ele não tem carro, anda de bicicleta apenas, nunca come fora, aliás, só faz uma refeição por dia, mora num trailer, nunca vai ao cinema nem nada. Ele é casado, mas calcula seus gastos separados dos da esposa (que não é tão miserável quanto ele).
Eu gostei mesmo de um dos seus lemas, “Pare de gastar dinheiro”. No fundo, no fundo, a gente só precisa gastar pra comer e pra ter um teto pra dormir. Suas dicas são pra jogar fora a TV, porque só isso já te dá quatro horas a mais por dia. É verdade. Mas eu tenho usado cada vez menos tempo pra ver TV e cada vez mais pro computador. E nem pensar que vou jogar o meu laptop fora. Com esse tempo extra, aprenda a fazer as coisas. Arrumar o seu próprio telhado, ou desentupir seu banheiro. E ele faz a provocante pergunta: quantos banheiros a gente realmente precisa? Pois é, faz dezesseis anos que eu e o maridão vivemos com um. Às vezes o segundo faz falta. Lá em Detroit era um também e, como muitas vezes saímos de casa no mesmo horário, um tinha que acordar antes do outro pra tomar banho. Mas não é algo de vida ou morte. As casas que a gente tá começando a ver em Fortaleza tem três suítes, o que soa beeem desnecessário.
Outra coisa, que eu estou cada vez mais radical a respeito, é ter o mínimo possível de coisas. Quantos pares de sapatos eu preciso? Dois dá, e mais um par de chinelos? Quantas blusas e calças? Quantos sutiãs? Pra calcinhas, sete já não seriam suficientes – uma pra cada dia? Tá, oito, se a gente ficou com preguiça de lavar roupa naquela semana? A gente acumula muita coisa inútil. Não dá pra falar com o maridão sobre isso, porque ele fica histérico. Sério, histérico mesmo. Tem um termo pra isso em inglês, anal retentive. É parecido com o nosso bolo fecal isso de ter medo de jogar coisas fora. Agora tô lembrando de um diálogo entre o Woody Allen e a Diane Keaton em Noivo Nervoso, Noiva Neurótica. O Woody diz: “Não posso ver um filme que já começou porque sou anal”. E ela: “Esse é um termo educado pra descrever o que você é”.
Meu problema é com os livros. Tenho muitos, e desses eu raramente me desprendo. Nisso a regra do “se você não usou tal coisa por mais de dois anos, livre-se dela” não funciona. Mas o problema é que não tenho bibliotecas boas por perto. A maior parte dos meus livros é em inglês, e eu moro no Brasil. Quando (se?) todos os livros estiverem disponíveis na internet e bolarem um jeito legal de ler textos da internet sem a tela do computador, ter todos esses livros não será essencial.
Mas realmente, é necessário ter tanto que a gente tem? Chega uma hora em que pagamos pra simplesmente manter o padrão que temos, e esse padrão nem é tão alto assim. É preciso sacrifícios. Se ter um home theater é importante pra você, você terá que seguir trabalhando pra comprar e manter esse equipamento. Porque não é só o home theater em si, é o gasto a mais com eletricidade, a manutenção dos aparelhos... Eu não poderia ter um na minha casa. Nossa TV de 29 polegadas já é meio grande demais pro quarto. Precisaríamos ter uma casa maior pra ter uma TV maior.
Mas, voltando ao Jacob, ele comprou uma espécie de trailer, um mini-ônibus com cozinha, banheiro e quarto. Nos EUA é possível viver num desses, e muitos aposentados velhinhos e conservadores fazem isso, só que com trailers mais caros e luxuosos. O maior problema é onde estacionar, e eles geralmente param no Wal-Mart. Vi um documentário inteiro sobre isso ― muito chato, por sinal. Mas, enfim, o que o casal jovem quer é diferente. Primeiro que eles não pretendem viajar, e sim deixar o trailer estacionado. É pra não gastar em aluguel, que na Califórnia custa uns 1,400 por mês. No Brasil seria impossível viver assim, num tailer. Não apenas as estradas são ruins, como assaltos seriam um problema. Lá nos States não há esses dois percalços.
E vale frisar que Jacob é louco. Por exemplo, ele come apenas uma refeição por dia (sem variar o cardápio), o que não é aconselhável de jeito nenhum. Ele reutiliza desodorante usado. Ele é obcecado pela forma física. Ele é homem, e em vários posts já provou que não consegue ver além do seu privilégio masculino. Essas coisas. Mas, em outros sentidos, nesses de gastar pouco, eu me sinto praticamente sua alma gêmea. Tenho que concordar com ele: “Liberdade financeira é a maior forma de liberdade numa sociedade capitalista”.
A ideia é buscar alternativas de como se viver. Porque pra viver do jeito tradicional é fácil: é só seguir imitando os outros. Este post do Jacob é ótimo. Fala sobre como é viver nos EUA (e no Brasil, pra classe média), e como ninguém precisa trabalhar pra pagar uma dívida a vida toda.
Pra muita gente, trabalho é uma maneira de manter a sanidade mental. É não ter que se preocupar com o que fazer com tanto tempo livre. Como o protagonista de Um Grande Garoto sente que precisa fazer pra ocupar o seu tempo. O trabalho compulsório pode nos impedir de pensar no que realmente queremos da vida.
Outra coisa, que eu estou cada vez mais radical a respeito, é ter o mínimo possível de coisas. Quantos pares de sapatos eu preciso? Dois dá, e mais um par de chinelos? Quantas blusas e calças? Quantos sutiãs? Pra calcinhas, sete já não seriam suficientes – uma pra cada dia? Tá, oito, se a gente ficou com preguiça de lavar roupa naquela semana? A gente acumula muita coisa inútil. Não dá pra falar com o maridão sobre isso, porque ele fica histérico. Sério, histérico mesmo. Tem um termo pra isso em inglês, anal retentive. É parecido com o nosso bolo fecal isso de ter medo de jogar coisas fora. Agora tô lembrando de um diálogo entre o Woody Allen e a Diane Keaton em Noivo Nervoso, Noiva Neurótica. O Woody diz: “Não posso ver um filme que já começou porque sou anal”. E ela: “Esse é um termo educado pra descrever o que você é”.
Meu problema é com os livros. Tenho muitos, e desses eu raramente me desprendo. Nisso a regra do “se você não usou tal coisa por mais de dois anos, livre-se dela” não funciona. Mas o problema é que não tenho bibliotecas boas por perto. A maior parte dos meus livros é em inglês, e eu moro no Brasil. Quando (se?) todos os livros estiverem disponíveis na internet e bolarem um jeito legal de ler textos da internet sem a tela do computador, ter todos esses livros não será essencial.
Mas realmente, é necessário ter tanto que a gente tem? Chega uma hora em que pagamos pra simplesmente manter o padrão que temos, e esse padrão nem é tão alto assim. É preciso sacrifícios. Se ter um home theater é importante pra você, você terá que seguir trabalhando pra comprar e manter esse equipamento. Porque não é só o home theater em si, é o gasto a mais com eletricidade, a manutenção dos aparelhos... Eu não poderia ter um na minha casa. Nossa TV de 29 polegadas já é meio grande demais pro quarto. Precisaríamos ter uma casa maior pra ter uma TV maior.
Mas, voltando ao Jacob, ele comprou uma espécie de trailer, um mini-ônibus com cozinha, banheiro e quarto. Nos EUA é possível viver num desses, e muitos aposentados velhinhos e conservadores fazem isso, só que com trailers mais caros e luxuosos. O maior problema é onde estacionar, e eles geralmente param no Wal-Mart. Vi um documentário inteiro sobre isso ― muito chato, por sinal. Mas, enfim, o que o casal jovem quer é diferente. Primeiro que eles não pretendem viajar, e sim deixar o trailer estacionado. É pra não gastar em aluguel, que na Califórnia custa uns 1,400 por mês. No Brasil seria impossível viver assim, num tailer. Não apenas as estradas são ruins, como assaltos seriam um problema. Lá nos States não há esses dois percalços.
E vale frisar que Jacob é louco. Por exemplo, ele come apenas uma refeição por dia (sem variar o cardápio), o que não é aconselhável de jeito nenhum. Ele reutiliza desodorante usado. Ele é obcecado pela forma física. Ele é homem, e em vários posts já provou que não consegue ver além do seu privilégio masculino. Essas coisas. Mas, em outros sentidos, nesses de gastar pouco, eu me sinto praticamente sua alma gêmea. Tenho que concordar com ele: “Liberdade financeira é a maior forma de liberdade numa sociedade capitalista”.
A ideia é buscar alternativas de como se viver. Porque pra viver do jeito tradicional é fácil: é só seguir imitando os outros. Este post do Jacob é ótimo. Fala sobre como é viver nos EUA (e no Brasil, pra classe média), e como ninguém precisa trabalhar pra pagar uma dívida a vida toda.
Pra muita gente, trabalho é uma maneira de manter a sanidade mental. É não ter que se preocupar com o que fazer com tanto tempo livre. Como o protagonista de Um Grande Garoto sente que precisa fazer pra ocupar o seu tempo. O trabalho compulsório pode nos impedir de pensar no que realmente queremos da vida.
29 comentários:
lindo o final do post, Lola. Eu, infelizmente, ainda sou uma escrava do sistema. mas concordo q a maioria das pessoas, além de trabalhar demais pra consumir demais, trabalham como forma de fuga.
tá, tá, eu tb não saberia oq fazer com tanto tempo livre e sem dinheiro. mas em algumas pessoas essa coisa de trabalho como defesa psíquica é ainda mais evidente.
Lola,
Eu concordo que a gente precisa de muito menos do que a sociedade consumista nos faz acreditar que precisamos para ser felizes.
Mas algumas coisas são prazeres dos quais não abro mão. Qual a vantagem de guardar dinheiro compulsivamente e não aproveitar a vida?
Uma boa refeição, às vezes num restaurante caprichado, é um dos prazeres dos quais não abro mão. Detesto cozinhar, mas o maridão (te copiando rsrs) gosta de fazer uns pratos caprichados com os quais não tenho pena de gastar.
Você ficaria sem chocolate pra economizar dinheiro? ;)
Outro dos meus grandes prazeres é viajar. Não quero esperar estar aposentada pra isso. Sei lá se minha saúde vai permitir? Espero que sim, mas...
Enfim, não entro na onda consumista da maioria das pessoas com quem convivo, mas acredito em aproveitar o dinheiro que ganho trabalhando pra fazer o que realmente me dá prazer.
Um beijo,
Aline
É tudo uma questão de moderação e bom senso! Jamais economizaria pra comer bem! Mas não me deixo levar por modismos e etiquetas de roupas por exemplo. Tem que ter harmonia em tudo que se faz na vida! Já imaginou viver economizando a vida toda para acumular dinheiro e quando der conta não poder mais gastá-lo para o prazer próprio porque envelheceu e o custo com saúde e remédios tornou-se prioritário? Ou pior ainda, morrer plematuramente e não usufluir do que acumulou em vida! Pensar na tranquilidade dos dias futuros é bom e recomendável, mas não ao ponto de esquecer de curtir o presente!
Eu vejo o trabalho como uma forma de conseguir as coisas que preciso. Vendo 8 horas do meu dia para poder pagar meu aluguel, minhas viagens, minha cerveja e meu futebol. O dinheiro poupado é o que não consigo gastar. Para o futuro existe INSS, previdência complementar, FGTS.
É um caso raro no Brasil, onde a maioria da população ainda vende o almoço para comprar o jantar, mas posso ficar tranquilo de não precisar levar a vida do doido do trailer.
Oi, Lolinha, há quanto tempo! (busy bee here)
Gostei bem deste post. Outro dia citei o Oscar Wilde em meu blog ("O trabalho é o refúgio para os que não têm nada para fazer") porque ando pensando nessa loucura de trabalhar como loucos para pagar necessidades inventadas. Gosto de exercitar o desprendimento e cada vez mais vejo o dinheiro como um passaporte possível para grandes prazeres (como viajar, por exemplo) e não como um fim em si (na verdade, nunca o vi como um fim, mas quanto mais o tempo passa, mais isso se torna evidente). Wilde e suas ironias à parte, acho que trabalhar é preciso porque vivemos em comunidade e é importante que cada um contribua como pode para o bom funcionamento do conjunto, seja criando, ensinando, pavimentando, construindo, fazendo rir; a armadilha está em se tornar apenas mais uma pecinha em mecanismos enferrujados, e aí esquecer o real significado do jogo todo.
Bjs
Rita
Olá, Lolíssima.
Acho que existe uma fase pra tudo na vida, dependendo do que se tem como objetivo. Durante muito tempo trabalhei muito, porque naquela fase da vida era importante investir no futuro dos meus filhos, claro! Isso era essencial, esse era o meu objetivo.
Passando um tempo, sinto hj algumas conseqüências, mas que valeram. Vejo meus filhos encaminhados e muito felizes, felizes porque buscam hoje o que sonham pra seus futuros, com estrutura...
Tenho a consciência que a aposentadoria é essencial, pois a independência é algo que num se pode deixar pra depois. Mas algumas coisas eu não abro mão e até que gostaria de fazer muito mais vezes... não esbanjo, mas quando tenho vontade, quero algo, ... e principalmente POSSO , faço numa boa sem consciência pesada.
É isso minha querida.
Beijos e tenha uma boa terça.
LoooooooooooooooooooooLaaaaaaaaaa!
Tá certo! Eu ando sèriamente desconfiada que tenho sim algum chip colocado em lugar errado aqui na minha cabeça mas o que vou dizer agora, embora para a tribo de "Escreva Lola Escreva", possa parecer uma bobagem, este é um dos seus posts melhores do ano ou, que mais me atingiu. Foi direto na veia!Essa é a Lola que me impressiona, melhor: me arrasta eheheheheh. Veja só o que li recentemente na entrevista da Rosa Monteiro "As pessoas são contraditórias, confusas, animais confusos". A Rosa tem uns 55 anos é espanhola e escreveu o maravilhoso "A imaginação é a louca da casa". Então o que desejo dizer é que a nossa cultura tenta nos submeter a conceitos, a necessidades, horários e o escambau.A gente absorve tudo e chega aos sessenta assim se sentindo algo descartado, uma "ninguendade", tomando de empréstimo, e adaptando, o termo do antropólogo Darcy Ribeiro. O seu post nos aponta que há vida fora da lógica que gerencia a logística desse estado de coisas ehehehehe.
Abraçalhão. Fatima/Laguna
"Ele reutiliza desodorante usado."
Como assim????????
Ser desse jeito nos EUA deve ser quase que um alienígena??
Tenho a impressão que nos EUA as pessoas simplesmente vão acumulando coisas, só por comprar(no Japão que morei é assim!)
Em casa tb nunca fomos consumistas (pais ex-hyppies), mas comer um salgado na rua, uma cervejinha é bom, faz bem p alma :)
Agora economizar no Brasil é p quem ganha bem, a maior parte está longe de economizar qq coisa no final do mês.
Mesmo que tente economizar Lolinha,por exemplo, quem ganha uns 1200 reais, sei lá, que economize 100 reais por mês,,o que se faz com isso? Logo na primeira doença essa grana vai p remédio, uma geladeira que quebrou etc...
Aqui acho que a situação é mais complicado né..Infelizmente.
Beijão!
Ok, ok, ele não é escravo do sistema. Mas o que diverte ele? Ficar parado em casa olhando pro teto? Pra que um monte de tempo sem poder pagar nada que gostamos de fazer? Nem cinema, nem teatro, nem um restaurante legal, nada. Ah, tá, isso tudo não é necessidade básica, mas o que diverte são necessidades básicas? Tipo, yupiiiiiii me alimentei hoje. Ou, to super feliz pq fiz xixi e tenho uma privada. Não entendo mesmo. Concordo com o Bruno, vendo 8 horas do meu dia pra nas outras horas pagar minha diversão.
Lola, passei a usar várias dicas de economia que achei em blogs e/ou sites. Mas tb percebi que isso vicia algumas pessoas, como drogas ou internet. A vida fica algo "em função" da economia, como dá pra perceber quando vc descreve o fulano.
Cortar o supérfluo é interessante, mas transformar tudo em supérfluo é inoperante.
A observação da Haline é ótima.
Eu trabalho como forma de fuga, assumidamente. Adoro entrar na locadora, e esquecer de todos os meus problemas. Eu vejo filmes como forma de fuga hoje em dia, antigamente eu lia uns 7 livros por mês. Mas esse é outro assunto.
Eu gosto de trabalhar, de me sentir util, de me sentir digna, de não depender dos meus pais, de me bancar.
Gosto do seu modo de pensar sobre economia de dinheiro, até adotei alguns dos seus pensamentos, sobre guardar dinheiro para ter dinheiro daqui uns 20 anos. Ta funcionando. :]
Porem, acho que não vale a pena viver uma vida de privações. Porque afinal todo mundo morre, e dinheiro não se leva pro caixão. E essa de deixar dinheiro pros filhos, acredito que da mesma forma que eu estou conseguindo sozinha, eles tbm conseguirão. O que eu quero é ter condições para ter um filho, futuramente. Para que ele tenha oportunidade, e base, para fazer o seu proprio dinheiro.
Mas não concordo muito com essa de herança proposital, eu não vou esperar meu pai morrer pra ter um apartamento.
E eu amo ir ao cinema, adoro comer o que eu tenho vontade. É claro que eu não esbanjo. Mas por exemplo esses dias eu comprei duas calças por 20 reais cada... comprei uma blusinha por 10 reais... comprei um celular que fala, canta, limpa a casa e faz bolo por 180. Eu não deixo de ter o que eu quero ou o que eu preciso, mas eu faço cotação antes. ;]
E tenho guardado dinheiro. :]
Beijos, Mami! HAHAHA....
"O trabalho compulsório pode nos impedir de pensar no que realmente queremos da vida".
Perfeito.
Não me lembro bem onde foi que vi ou li mais ou menos o seguinte: "aquelas ficções científicas totalitárias de meados do século XX já se tornaram em grande parte realidade. É que a gente está se ocupando demais para perceber. Mas do momento em que o despertador toca, começa o roteiro bizarro".
E eu lembro de toda a literatura marxista que faz justamente essa crítica. A relação do ser humano com o mundo e a subsequente transformação de ambos deveria ser a própria consagração das pessoas, e em termos de ação, o que elas fazem de mais importante.
Isso seria a própria definição de trabalho, mas hoje o trabalho é alienado do ser humano, e vivemos uma vida dupla e vazia, precisando encontrar resquícios de liberdade no capitalismo (que é o dinheiro, como bem falou o Jacob) e apenas residualmente tentar preencher esse vazio com qualquer coisa (e muitos tentam com, p.ex., um home theater para assistir aos finais de semana e apreciar aquele momento melancólico inexplicável das 21h de domingo).
E são resquícios de liberdade mesmo. Porque para um assalariado, a sensação de liberdade só começa no momento em que ele chega em casa depois do serviço. Aí ele coça a cabeça e contempla tudo o que tem. Antes disso, ele não é muito diferente de um escravo para quem olha de fora, ele não pode exatamente escolher o que quer fazer.
Além disso, o sujeito que vende 8 horas do dia dele, e somente essas, está muito bem. Porque no meu caso e das pessoas que conheço, tem aí mais 1 hora de transporte lotado e/ou de trânsito para ir E voltar, o que dá 10h. E aí o chefinho "pede" para que fique mais um pouco, ou para que leve serviço para casa, ou então agenda plantões. E ainda que fosse somente 8h, todo esse tempo de dedicação a qualquer coisa é muito e cansa bastante. Se for ver o tempo agregado necessário para o trabalho, com o que resta a gente tem que se cansar para ter a chance de relaxar. De fato, acho que pra defender a dignificação pelo trabalho, realmente tem um quê de dissonância cognitiva.
Hein, Lola? Pode ser que as pessoas estejam consumindo mais porque precisam se convencer mais de que "o trabalho é uma virtude". Que acha?
Grande abraço!
Bem legal o texto Lola, conheci o blog recentemente por indicação de uma amiga.
Achei o texto muito bom e ponderado. Definitivamente o cara que escreveu é muito louco, aliás, existe algum californian@ que não seja minimamente louc@?
Os comentários também estão bem interessantes. Concordo com algumas coisas e com outras não. Dei muita risada com a pessoa que fala que o doidinho se diverte mijando. Imaginei ele dando pulos de alegria depois de um piriri.
Mas não concordo com o povo que simplesmente se conforma em vender 8 horas de trabalho. Será que realmente precisamos trabalhar 8 horas por dia? Será que nossa sociedade não chegou em um ponto em que podemos nos dar ao luxo de termos um pouco mais de ócio? Será que ela não consegue bancar materialmente trabalhar menos?
Eu não sei se gostaria de ficar o dia inteiro em função de bolar o que fazer, mas ao mesmo tempo me incomoda absurdamente trabalhar 8 horas por dia, completamente desnecessário e me atrapalha em vários pontos da vida.
Acho que acabmos sendo incorporados num sistema pronto que aparantemente dá como natural 8horas diarias de trabalho, e ninguem questiona a validade disso. Existem paises em que trabalho meio perído é algo normal, aqui é sinomimo de vagabundagem. E será que trabalhar 4 horas por dia também é normal?
My point is, trabalho é invenção humana, não existe certo ou errado. Talvez ao invés de quebrarmos a cabeça tentando descobrir se é certo trabalhar ou não trabalhar de forma alguma, deveriamos tentar descobrir formas flexiveis (e não estou me referindo a flexibilização do trabalho pós fordismo) e humanas de trabalhar. Algo complicado neh?
Abraços
Bom, eu concordo que eu não preciso de tantos pares de sapato, e também poderia gastar bem menos com coisas inúteis na minha vida... agora essa de ficar rico por excesso de mesquinharia não me desce muito goela abaixo... talvez seja porque aqui aonde eu vivo, ser miserável (pão-duro) é praticamente a regra, e de certa forma viver cercada de gente miserável e neurótica que não pode comprar nada não é lá muito legal. Vou colar um post que fiz sobre o assunto, se vc tiver paciência de ler, entenderá melhor o meu posicionamento:
http://diariodadevathai.blogspot.com/2009/10/eu-e-os-outros-outra-e-os-eus.html
Enfim... acredito que um equilíbrio é fundamental, e realmente nós gastamos sem necessidade, e acabamos perdendo nosso tempo - e energia - administrando coisas inúteis. Bjo!
Minhas preces vão para a pobre senhora Jacob, cujo marido, além de doido, é sovina!!! :-)
Como diria minha avó, que hoje joga Mahjong com Santa Rita, 'tudo com temperança'! A gente não precisa partir pro consumismo desenfreado, mas alguns prazeres são indispensáveis (e aí cada um que pegue o seu) e colorem a vida.
Daqui a pouco o Jacob vai dizer que reutiliza fio dental e papel higiênico... Ele faz só uma refeição por dia, é? Sugiro que ele volte pra Dinamarca, onde a assistência médico-odontológica é gratuita. Na hora em que ele começar a ter que desembolsar seus estimados dólares pra pagar conta de hospital (com uma refeição por dia e só, não deve demorar muito), ele vai perceber que economia porca não é exatamente economia...
abraço,
Mônica
Esse cara é doido mesmo! Comer uma vez por dia? Nunca fazer um programinha fora? Reutilizar desodorante?? (Essa vc vai ter que explicar melhor). Ele quer viver pra que, afinal de contas?
Mas concordo que nossa sociedade gasta demais com coisas completamentes desnecessarias. Dois sapatos sao suficientes pra viver, assim como sete calcinhas. Televisao gigante pra que? Celular de ultima tecnologia pra que? Mas vai falar isso pra minha mae, por exemplo! Ela vai negar até o fim! Ela mora sozinha e tem QUATRO televisoes.
Eu consigo muito bem juntar dinheiro, sempre consegui. Nao sou escrava do capitalismo. E nem da sovinaria.
Lolinha,
Trabalhei dos 15 aos 50 por necessidade, pra ter meus prazeres e manter meus vícios e manias, entre as quais guardar quinquilharias e badulaques, que nem o CM. Vivi todo dinheiro que ganhei. Troquei uma possível carreira no banco por qualidade de vida. Estou feliz da vida e posso me dar ao luxo de ler seu blog e ver o Chaves na TV daqui a pouco...
Ps.: gostei do desfecho.
Ps.2: Esse Jacob é doido varrido!
Acho legal não ser consumista, mas ficar doido para acumular dinheiro também é uma prisão.
Agora, vc tem que explicar para a gente: como é que ele reutiliza desodorante ????KKKKKKKKKKKKK
Lolissima,
Como sempre, vc trazendo assuntos que fazem a nossa mente pensar. Sou uma pessoa consumista, nao nego isso. Mas acho que tudo na vida eh questao de bom senso: comprar um iphone por todo mundo tem e vc nao se sente gente se nao tiver eh idiotice... MAS se vc trabalha, tem suas contas pagas na boa, e PODE ter um iphone (coisa q vc adora e usa o tempo inteiro...), pq nao?! Estou citando o telefone como exemplo, claro, nem iphone tenho (risos).
Eu penso q a gente nao precisa de tudo q tem, mas certamente nos faz bem certas coisas. O mais legal da vida eh isso, nao precisar, mas querer e poder. Eu nao quero precisar do melhor plano de saude do mundo, mas nao eh melhor ter?
Ninguem precisa de uma arvore de natal, mas para quem gosta (e ai a gente vai entrar no assunto cultural, mas vamos assumir q todos somos brasileiros e vivemos mais ou menos na mesma cultura) nao tem coisa melhor do que chegar o natal, juntar as criancas e decorar uma arvores juntas. Coisas q nao precisamos nos deixam FELIZES.
A maior prova da minha teoria (querer e ter eh melhor que precisar) eh um relacionamento... vc nao PRECISA de maridao, pode muito bem viver sem ele, MASSSSSS nao eh melhor viver COM ele? VC nao escolheu viver com ele? p isso teve q abrir mao de estar "livre" para os outros homens, etc e tal? Pois bem, assim eh a vida.
Para ir "naquele" restaurante legal que a comida eh exatamente o que vc DESEJA, vc abre mao do dinheiro, uma "coisa" q vc trabalhou para ter e que, dependendo, nao vale a pena guardar.
Guardar pra que?! Acho sim q temos q pensar no futuro, na velhice... MASSSSSSS nada tira a alegria de viver, e para viver com plenitude, SORRY, tem q se gastar dinheiro SIM.
Here's how to extend the life of a deodorant.
http://earlyretirementextreme.com/2008/06/deodorant-refurbishing.html
However, before deodorants people used soap and it worked just as well and so that is what I'm using now.
nã posso usar bike como transporte pq o transito é assaz violento, não posso morar num trayler/roadhome porque a cidade e as estradas são assaz violentas, não posso me alimentar uma única vez ao dia pq isso me transformaria num superobeso, e extremamente fraco, não posso viver com menos de 1000 reaus por mês pq tenho um filhote...
Conclusão, preciso ganhar mais...
Lola, talvez você possa considerar, a partir do filme Dogma, que nada existe com um fim. Se você fizer4 isso, poderá chegar à conclusão de que é possível dispor da sua vida para fazer exatamente nada. Claro que tem a questão financeir. sem uma grana você fic com o sonho comprometido. Só pensei em juntar minhas coisas quando assisti ao matrix 1. Não, pensei, eu não posso ser escravo ! Assim, chamei o meu contador e fiz o apanhado das coisas esparsas, bons necógios e bons investimentos, porque o meu negócio é número, que havia feito desde que aprendi a calcular. Já tinha uma grana pra viver. Calculei um treco chamado coefficiente de exaustão. Não vai acabar, a minha grana, se eu gastar um "x" por mês. Desde então é o que faço. E como trabalho no que gosto, quando quero, quando enche o saco ficar parado, essas coisas do vai e vem do ser humno, aí faço um trabalho. Gosto de trabalhar bem porque é hum hobby. E deixo minha grana rendendo. Assim, minha única preocupação, hoje , é o aquecimento global. Fora do lugar onde moro, um emaranhado de árbores, faz muito calor. Não era assim. Então me especializei em trabalhos com projetos ambientais de redução da poluição. Brasileiro, na sua maioria, é ignorante. Não pôde esturdar. Então é dificil você explicar para os caras que investir em limpar o mundo vai ser lucrrativo pra caramba. É mais fácil lá fora. E eu sinto um prazer enorme em fazer isso. Até porque tenho medo de raios !
Haha, de novo eu vou precisar falar da viagem, Lola. Porque durante um ano eu vivi basicamente como esse cara, economizando uns 80% do meu salário pra poder viajar. Eu colocava tudo na ponta do lápis. Deixei de comprar várias coisas que eu queria, economizava em abolsutamente tudo. Ganhava o salário e já investia 80% no mesmo dia, me forçando a viver com bem pouquinho por mês mesmo.
Em compensação, embora minha viagem tenha sido no esquema mochilão, eu pude esbanjar com algumas coisas. Comprei a mochila mais cara do mercado, comprei roupas, comi em restaurante caro quando deu na telha, etc. Não deixei de fazer nada que eu quisessepor falta de grana. E ainda me sobraram mil euros ao final. Eu podia ter ficado mais tempo lá até -- mas é que,quando eu fiz as contas, a cotação do euro estava bem mais cara, vai ver é isso. Mas é que, por causa dos tempos de economia, eu acho que tb me tornei uma pessoa mais simples. Nunca fui de curtir luxos, agora então, menos ainda. Tenho amigos com salários maiores do que o que eu tinha e que estão aí enrolados no cartão de crédito, pagando um carro de que não precisam ou roupas de marca só pela etiqueta...
Aprendi a ser mais simples durante a própria viagem tb. Mesmo podendo relaxar e gastar dinheiro numa boa. Lá eu vi que a gente tem mesmo coisas demais. Que a gente não precisa de muito pra viver. Eu sobrevivi dois meses com um tênis e duas melissinhas. E ainda achei que a segunda melissinha foi um peso, porque eu usei pouco. Levei só dois sutiãs, não precisei de mais. Enfim, levei de tudo o mínimo possível pra não carregar peso. E não me fez a menor falta. As pessoas sempre se impressionavam com a leveza da minha mochila. Mas estava ali tudo o que eu precisava -- e até alguns supérfluos, tipo uma lanterna que eu nunca usei ou uma blusa de lurex que eu levei só pra balada -- e quando ia pra balada, acabava decidindo usar outra coisa. Descobri que dava muito bem pra viver só com aqueles 12 quilos.
Continuando:
hoje, eu acho que não me sacrificaria tanto pra economizar, não. Eu me daria alguns prazeres de vez em quando. Agora que voltei, embora precise ser prudente com o meu dinheiro porque não sei quando vou arranjar emprego, ainda assim eu não resisto a sentar o pé na jaca na feira do livro da USP, a comer numa gelateria cara só pra matar as saudades do sorvete italiano, e por aí vai. O que eu não fazia no ano passado porque eu era muito obcecada com economia. A viagem me reforçou que a gente não precisa mesmo de muito pra viver -- e que é muito gratificante fazer economia pra nos dar experiências que, pelo menos na minha classe social, são praticamente inatingíveis (ninguém da minha familia nunca saiu do Brasil). Tenho muito orgulho do que consegui, economizando meu salarinho de estagiária. Mas também me ensinou que eu mereço pequenos prazeres diários. E que dinheiro é só dinheiro. às vezes, vale pagar 20 contos só por uma mísera bolinha de sorvete, sem neuras. Beijo!
Ótimos comentários neste post, pena que não deu pra responder... Desculpem!
Mas, Pcesar, vc fez bem o que o Jacob defende: ter renda suficiente pra se aposentar cedo. E o segredo disso realmente é gastar pouco, mais do que ganhar muito. Parabéns por ter conseguido!
Marj, adorei o seu comentário. Vc fez o que os especialistas em fincanças recomendam: economizou muito, guardou com um objetivo específico, e assim realizou um sonho ou um desejo que vc tinha (e deve ter sido difícil mesmo, ainda mais sendo a primeira da sua família a sair do Brasil. Pô, fala pro resto da família ir ao menos até o Uruguai e a Argentina! É pertinho, são países lindos, e a viagem não sai cara não). Eu sou do tipo que, por não ter sonhos de consumo, por não ter sido picada pelo bicho do consumismo, gastou pouco e guardo muito. Não uma ou outra vez, mas sempre. Minha média nos últimos dez anos foi poupar 50% do que recebi. Como nunca ganhei muito, e sou conservadora nas aplicações, não dá muito dinheiro. Mas seria o suficiente pra me aposentar agora, aos 42 anos, com uma renda suficiente pra pagar minhas contas. E pra mim nunca foi nenhum sacrifício economizar. É o meu jeito mesmo. Eu raramente me privo das coisas. Claro que, pra muita gente, é um absurdo que eu e o maridão vivamos do jeito que vivemos. A gente certamente poderia viajar mais, se permitir mais coisas, comprar roupa de vez em quando (é impressionante o quanto a gente NÃO gasta em roupa). Mas, e a vontade? A gente tá bem assim. Só que fico pensando se às vezes eu não exagero. Por mais dinheiro que eu guarde, nunca serei do tipo que vai gastar 20 reais numa bola de sorvete. Porque eu penso em quanto sorvete mais barato eu poderia comer por esse valor, e sinto culpa. O meu lado pragmático não permite gastar 20 reais numa casquinha se eu posso comprar dois potes de 2 litros. Mas eu e o maridão já comemos bastante sorvete italiano, e é uma delícia. E era caro pra chuchu, só que nunca chegou a 20 reais, e eu não pagaria isso. Claro que vou ficar feliz se em Fortaleza houver uma super sorveteria pra eu ir de vez em quando (aqui em Joinville realmente não tem). Mas ficarei mais feliz se venderem casquinhas deliciosas da Kibon Sorvane por 2 reais. Porque aí posso comer toda vez que sair, não só em ocasiões especiais.
Mas isso que vc conta sobre como economizar tanto te mostrou que dá pra ser uma pessoa mais simples é muito ilustrativo. Porque isso que muita gente não entende: que viver é barato. Que a gente não precisa de muita coisa pra viver bem. Só que a gente passa a acreditar na propaganda e a crer que realmente, sem dúvida, não dá pra sobreviver sem uma geladeira que pica gelo na porta (só dando um exemplo).
E isso que vc fala de carregar tão pouco na mochila, a gente também passou por isso. Levamos duas malas pra passar um ano em Detroit, e voltamos com as mesmas duas malas (e mais dois laptops). Eu viajo tranquilamente com dois sutiãs e dois pares de sapatos. Abração, e parabéns pela experiência! Acho que é muito melhor economizar antes, viajar bem, e voltar sem dívidas, do que viajar sem planejamento e depois passar os dois anos seguintes pagando juros no cartão de crédito.
Olha, pra mim é fácil não ser consumista. Eu já sou pobre mesmo, meu dinheiro mal da pro que eu preciso, imagine pra coisas desnecessárias.
Não tenho cartão de crédito, porque isso também é uma ferramenta do sistema pra fazer você gastar mais do que precisa e mais do que pode.
Mesmo assim não me falta nada. As vezes saio, as vezes vou ao cinema, viajo de vez em quando.
Hoje em dia tudo é descartável, as pessoas vivem trocando de celular, de carro, de camerazinha digital. Tudo isso pra que? É TUDO POR STATUS. Uma grande ilusão, Prefiro continuar com a minha vidinha simples do que cair nessa de ficar gastando sem necessidade e achar que é feliz porque tem COISAS.
E olha, eu não faria o que esse cara fez, mas se ele consegue, parabéns, pelo menos ele é livre disso.
Desculpe por ressuscitar este post, mas tenho pesquisado bastante sobre "aposentar cedo" na internet, pois fiz um blog com o mesmo nome " http://aposentarcedo.com ". Acredito que esse estilo de vida muito restritivo, seja muito difícil de seguir. Todavia, tento seguir um estilo de vida mais simples, sem muitos luxos, mas permito que eu tenha diversão. Desta forma, pretendo me aposentar antes dos 35 anos seguindo as dicas do MMM (talvez vc coheça o blog dele tb)
abraços!
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