sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

REVISTA PROMETE ENSINAR COMO AGARRAR MILIONÁRIO MAS NÃO CUMPRE

Como falávamos de príncipes encantados no mundinho Disney, uma leitora fez uma conexão relevante entre o que os contos de fada ensinam às meninas (seja passiva e pura que seu príncipe ― sempre rico ― vai aparecer) e o que as revistas femininas ensinam às mulheres (aí depende da revista. A Nova fala pra atacar seu chefe ou o noivo da melhor amiga. Outras ainda insistem na passividade. O recado é o mesmo: sem um pênis pra chamar de seu, amiga, você não é nada). Saiu uma matéria numa revista de finanças pra mulheres, a Elas & Lucros, que rendeu polêmica no Twitter, pelo que li. Ahn, polêmica no Twitter tem sobre qualquer coisinha, até sobre palavrão que o presidente fala, então não sei se é um bom parâmetro.
Há quem considere machista o próprio propósito de uma revista de finanças só pra mulheres ― por que nós mulheres não leríamos revistas de finaas pessoais em geral? Bom, eu não vejo machismo na ideia de uma revista de finanças pra mulheres. Primeiro porque seria achar que as revistas de finanças em geral são escritas pensando em homens e mulheres, o que não é verdade. O público-alvo é masculino; a enorme maioria de seus colunistas é homem. E mulheres realmente têm uma realidade econômica diferente da dos homens. Gastamos incomparavelmente mais em “manutenção física”, digamos. É um dos mandamentos da sociedade que mulher precisa se cuidar, e se cuidar custa caro (quanto mais caro, melhor. Imagina comprar um creminho de 8 reais, se tem um de 50? Obviamente aquele de 50 é melhor e vai impedir que a gente envelheça. Talvez até impeça a morte!). Mulheres também ganham menos que homens. E, enquanto existem milhões de mulheres que criam sozinhas os filhos (inclusive sem receber pensão do pai das crianças), são raros os casos de pais que criam sozinhos os filhos. E, quando homens têm filhos, suas carreiras não param. Pra mulher não é assim. Nós que engravidamos e damos à luz. Isso afeta as nossas finanças pessoais, assim como toda a nossa vida. Muito mais que a dos homens. Portanto, acho bom que haja publicações pro público feminino.
Porém, a capa da Elas & Lucros, que é tudo que o pessoal que está falando viu, é realmente péssima: uma loira com olhar de sonsa se apoia num homem sem rosto. E o título da matéria já diz tudo: “Como agarrar um milionário”.
Um blog citou a capa e deu pro seu post o título de “Feminismo Fail”. Ué, como assim, no quê o feminismo fracassou neste caso? Quem é feminista nessa história? A capa, a revista, a matéria, ou, hum, nenhuma das anteriores? Uma blogueira que fala de finanças pessoais comprou e leu a revista e disse que, pelo título, esperava o pior. Que não veio. Mas ainda assim não gostou do que leu. O blog da revista sabiamente resolveu disponibilizar a matéria online (eu não consegui abrir, tá tudo em código. Pedi pra que me enviassem o artigo por email e fui prontamente atendida), e lamentou a polêmica, dizendo tratar-se de ironia. Bom, a capa não tem nada de irônica. Mas a foto que abre a matéria de capa, tem. É esta aqui: Por que ela pode ser vista como irônica (e isso dependerá da leitura de cada um)? Porque usa a imagem de um filme pra lá de antigo, Os Homens Preferem as Loiras, de 1953, sugerindo que a ideia de fisgar seu homem é meio século passado. E até a cara da Jane Russell, cínica, e a da Marylin, entre surpresa e burrinha, indica algo não muito sério. Mas só a foto não serve para fazer o título da matéria, e muito menos a matéria em si, irônicos.
A matéria abre assim: “Quem não quer ser um milionário ou, melhor ainda, bilionário? O caminho para a riqueza, entretanto, não está aberto a todos. Principalmente às mulheres. Apesar do avanço feminino no mundo dos negócios e no mercado de trabalho, a fortuna construída pelas próprias mãos ainda é coisa rara entre nós. Dos 25 maiores bilionários do mundo da lista dos megaricos de 2009, publicada pela revista Forbes, só três são mulheres. Todas herdaram suas fortunas – duas nasceram em berço de ouro e uma casou–se bem, muito bem” [Duas são herdeiras da Wal-Mart, outra da L'Oreal]. Até aí, nada de errado, a meu ver. Apontar que o clube dos bilionários é um clube do Bolinha é mostrar a realidade. Das 20 mulheres mais ricas do mundo, apenas uma (uma espanhola) conquistou sua fortuna com trabalho. As outras tiveram a sorte de nascer em berço de ouro ou casarem-se com um cara rico. Lógico que a revista não problematiza essa realidade, mas essa é uma característica comum de publicações sobre finanças: não há críticas ao capitalismo. Elas partem da premissa que, se você está lendo sobre dinheiro, é porque você gosta da coisa. E, se você gosta da coisa, é porque deve estar vestindo uma camiseta do tipo “I [coraçãozinho] capitalismo”. Sei muito bem que euzinha aqui, que se preocupa com a aposentadoria e gosta de guardar dinheiro, mas ainda assim não considera o capitalismo ou a concentração de riqueza o melhor dos mundos, não sou uma leitora-padrão. Você jamais verá numa publicação de finanças uma defesa ao aumento de impostos pros ricos ou, deus proíba, não engasgue, um limite para a riqueza. Logo, a Elas & Lucros vai mencionar que é bastante improvável uma mulher se tornar bilionária, mas não vai dizer que o sistema fede por causa disso.
E mesmo que você, mulher, tenha ambições mais modestas, você ainda vai sair atrás (quem mandou nascer com uma vagina?). A matéria explica que, “em 2004, a média dos ganhos da mulher aposentada nos Estados Unidos era de 12 mil dólares contra 21 mil dólares dos homens”. 12 mil dólares?! É, falta um pouquinho pra chegar ao prometido bilhão. Nessas horas até um milhãozinho já tá de bom tamanho.
A matéria também entrevista um guru das finanças, um tal de Richard Paul Evans, que diz: “São tempos difíceis. Hoje a maior parte das pessoas não espera por um iate; elas estão rezando por um salva-vidas. Principalmente as mulheres”. Até porque as meninas são condicionadas a esperar por um príncipe (leia-se salva-vidas), ao mesmo tempo que aprendem que competir é coisa feia, e que iate é brinquedo de menino. Mas isso a matéria não diz. Richard cita uma fala de Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras: “Você não sabe que um homem ser rico é como uma mulher ser bonita?”. Sim, a gente sabe. É triste, mas a fala de Marilyn continua atual, quase seis décadas depois. A sociedade ainda espera que a mulher seja bonita acima de tudo, bem acima de qualquer realização. E que o homem faça coisas que lhe resultarão em riqueza. Mas, novamente, não será uma revista que vai morder o sistema que a alimenta.
A matéria segue dizendo: “Ken Fisher reconhece que, hoje em dia, casar-se por dinheiro é abominável. Ele lembra, com uma ponta de ironia, que 'casar-se bem é arquetípico na literatura e na mitologia – o casamento da linda camponesa com o príncipe encantado'. O encanto do príncipe, além da figura garbosa, era seu rico patrimônio, claro: castelo, terras, jóias e pratarias. E as mentes românticas nunca viram conflito moral nestas estórias”. No parágrafo seguinte Ken diz que, como estratégia para felicidade, casar-se por dinheiro é legítimo. E menciona uma pesquisa de 2007 do Wall Street Journal, na qual dois terços das mulheres e metade dos homens responderam estar dispostos a se casar por dinheiro. Tadinhos dos homens. Se soubessem que existem tão poucas bilionárias no mundo, se satisfariam em casar-se apenas pela beleza da mulher.
A reportagem então aponta que uma mulher não precisa casar com um endinheirado pra enricar, e termina falando de uma bilionária, já morta, que fez sozinha sua fortuna com cosméticos, após largar uma empresa que preferiu promover um subordinado seu do que ela: “A rainha dos cosméticos, como era chamada, norteou sua vida e seus negócios pelas sábias palavras que ouvia da mãe, ainda criança, quando enfrentava situações novas: 'Você pode Mary Kay, você pode.' Você também”.
Yes we can, é isso? Pra mim, a matéria não é machista. É apenas confusa, sem rumo, sem foco, e com um título e uma capa absolutamente nada-a-ver. Imagine que você é uma garota influenciada pelos contos de fada. Sonha com seu príncipe, que está demorando pra aparecer, e vê uma revista que promete “como agarrar um milionário”. Você a compra correndo, pensando em adquirir dicas práticas de como fisgar seu personal?! É propaganda enganosa, né? Alguém me explica por que uma matéria com esse título precisa incluir um quadro de “como acumular um milhão de reais”. Não era que iam me ensinar a acumular um milionário, não um milhão? Pra quê eu vou querer um milhão de reais, a menos que eu seja um homem? E infelizmente há falhas até no quadro. O economista entrevistado que nos fala como atingir o primeiro milhão ainda usa cálculos de rentabilidade de 10% a 15% para a Renda Fixa, que foi a média anual nos últimos dez anos no Brasil. Pode apostar que não será a média da próxima década, que está mais pra 7% ou 8%, sem descontar a inflação. Portanto, depender dessas previsões pra fazer seu pé de meia é embarcar numa canoa furada. Claro que a Elas & Lucros não é a única a usar esses números. Todas usam (eu mesma, quando calculo rentabilidade, sempre penso no numerinho mágico dos 10% ao ano), porque é chato falar pra pessoa que, com juros de 5%, e guardando 10% do salário ao ano, talvez aquele sonhado milhão não chegue nunca. Melhor agarrar um milionário mesmo.

34 comentários:

Sabrina disse...

Lola! Eu assisti Os homens preferem as loiras na quarta-feira e quando li o post das princesas fiquei pensando no filme e em como eu achei o filme sem graça! É lamentável, é o que eu posso dizer. Não consegui nem admirar o filme em seu contexto, sabe. Quanto à ficar milhonária, isso é tão importante pra mim que eu tento a minha chance na mega sena, sabendo que é mais fácil um camelo passar num burac... ops, digo, é mais fácil um avião cair em cima da minha casa.

Lord Anderson disse...

Lola

Imagino que a escolha da capa tenha o objetivo de chamar a atenção criar polemica mesmo.

Afinal muita gente não conhecia a revista.

Sobre o quadro de como acumular um milhão ele deve ser p/ os eventuais homens que lerem a revista, assim as chances deles de casarem aumentam.


Agora se a propaganda é enganosa será dá p/ processar a editora e conseguir pelo menos meio milhão???

heheheh

Margot disse...

pois é, o grande problema dos cálculos em todos os livros, sites de finanças, etc, é q é tudo baseado nesse rendimento mínimo de 8% ao ano (ou mais). Queria TANTO saber q aplicação mágica é essa q rende pelo menos 8% ao ano... antes da crise até rolava algumas (a maioria de alto risco, lógico), mas vários fundos por aqui fecharam o ano com com um número não só bem abaixo de 8%, mas negativo !!

aiaiai disse...

A ideia de casar para ficar rica pode ser antiga, mas está cada vez mais atual.

não sei se vcs repararam mas muitos dos comentários no blog do texto "respeitem o meu risoto", que faz parte do concurso de blogueiras sobre Maternidade, falam em algo como:
eu escolhi ser dona de casa, eu tenho esse privilégio e não tenho que ficar com vergonha e nem dar ouvidos a outras mulheres que não tem o mesmo PRIVILÉGIO.

Que privilégio seria esse? Eu aposto que estão falando de casar com um cara que, se não é milionário, pelo menos ganha o suficiente para sustentar a PRIVILEGIADA, para que ela possa ficar em casa fazendo o seu risoto.

Má disse...

Hahahaha..só rindo com algumas coisas ..:)

Lolinha, o que sempre me pergunto é, "realmente as pessoas acreditam nisso?".
O sonho capitalista de ser "rico", o mito de ter um corpo de supermodel, casar com um rico (quantos ricos tem em proporção a todas as mulheres que querem casar com um?)...
Vixe,,,a briga é acirarda, será mais fácil casar com um rico, ou vc ficar rica? Claaro, daí vai depender de algumas variáveis, se vc for muito bonita, mais fácil casar com um rico etc..(pior que a dupla empresário-modelo parece se tornar regra?).
Juro que gostaria de saber se "REalmente" as pessoas acreditam, pensando racionalmente, analisando o mundo, vendo as proporções, daí se acham que vão ficar ricas mesmo...(não que um ou outro não vá, mas os exemplos destas matérias são sempre a exceção..)
Mais , os que dizem que todos podem ficar ricos, nunca pensaram como seria uma sociedade capitalista onde todos vão ser ricos?? Chega a ser engraçado, pois todos seriam patrões? Empresários?? De onde surgiriam a riqueza?? Quem trabalharia como operário? Balconista? Garçom? Limpeza? Ou vão aceitar pagar salário de rico p eles? Mas daí se o patrão pagasse o que realmente os funcionários merecem o patrão deixaria de ser rico etc etc....
Bom,,fico divagando sobre Lolinha.
Não que as pessoas não devam sonhar ou não ter objetivos, mas os sonhos poderiam ser mais realistas, assim, a frustração (para mim, acho q algumas doenças modernas estão diretamente relacionadas com tudo isso) seria menor e sobraria tempo p coisas melhores da vida..
Enfim, só mais uma coisa.Esse lance de as pessoas quererem mesmo casar com um rico (vi uma enquete pareceida no jornal japonês um tempo atrás), da mesma forma que o conceito de beleza, infância, juventude, honra, liberdade se modificou com a história e seu modo de organizar a sociedade, vejo que em nossa sociedade capitalista, o conceito de amor tb se modifica.
Não que seja uniforme, mas para muitos que casam por dinheiro, ou pela beleza da mulher etc, e que nem acham problema nisso, esta relação passa a ser a forma de amor moderno ao meu ver.
Loucura tudo isso....

Beijão Lolinha e acho que ficou longo como sempre!

jonas_cg disse...

Infelizmente tem gente que ainda pensa assim, mas na revista diz mesmo como "agarrar" um milionário?? Ou somente divaga, diz e diz mas não diz nada, como na maioria das revistas de finanças? Aff, vou ter que ler essa matéria agora e perder meu tempo, talvez eu possa até rir um pouco (pra não chorar de desgosto pela humanidade)
Eu não leio nenhuma dessas revistas de finanças, porque me sinto pobre e fracassado, já que as "fórmulas mágicas" que eles propõe pra guardar dinheiro são todas ilógicas, mas eles juram que dão certo...

Jonas

jonas_cg disse...

Nossa, sou muito distraído mesmo, pelo título do blog e pelo blog da revista já deu pra perceber que a revista só deu esse título pra causar polêmica e chamar atenção...ou seja, continua sem nexo, prometendo, prometendo, mas não cumprindo, como qualquer revista de finança, por mais estúpida que seja a matéria.

Amanda disse...

Muitos homens gostam dessa formula camponesa + milionario pq acham que as esposas devem ser gratas à eles por toda a vida, visto que foram eles que as tiraram da pobreza. Dinheiro e poder mais uma vez andam juntos...

Quanto à esse post do risoto, tbm achei ingênuo e no blog da Marjorie ela fala justamente dessa escolha: o problema nao é decidir voltar ao lar, sao as consequências dessa escolha. Quando a dona-de-casa/mae integral se ver entediada, traida, falida e sem saida, o que ela vai poder fazer? So um risoto mesmo.

Luciana disse...

Eu procurei a probabilidade de um avião cair na minha casa, mas só achei a de queda em qualquer lugar. É de 1 em 8.450.000 de voos. Ganhar na megasena é 1 em 50.063.860!

Haline disse...

Sinceramente? Eu não vejo nada demais em alguém, homem ou mulher, casar por dinheiro. É uma troca como outra qq que fazemos o tempo todo. Qual o valor no capitalismo? O consumo. Todos estão, de uma forma ou outra, correndo atras de dinheiro. Agora, cada um tem seu limite. Eu não conseguiria, mas consigo vir trabalhar 8 horas por dia e muitas vezez engolir sapo.

Ah, e os homens se casam muito por dinheiro tb, não importa se as mulheres não são tão ricas por esforço próprio, elas tem heranças ué. Algumas famosas namoram garotos lindos, vide Jesus Luz. Não vejo nada demais nisso.

Acho bem ruim é que uma mulher se submeta a troco de nada. Lavar, passar, cozinhar, cuidar dos filhos, do corpo e etc. A maioria faz de graça. Isso é que incomoda. Eu acho até graça quando uma mulher assim falar mal de alguma famosa qq q casou ou teve filho por dinheiro. As vezes ela tem o mesmo esforço, gastos absurdos com estetica, academia, se endivida, alem de acumular funções da casa, ficar preocupada se o marido trai ou não e não ganha nada, absolutamente nada. Não faz um passeio de iate, uma viagem pra europa, nada. Qual a graça?

Anônimo disse...

O que mais gosto no movimento feminista é o dos quadris.

Marcos Vinicius Gomes disse...

Bem nunca sofrerei deste dilema (ficar na dúvida se alguém quer casar comigo pelo dinheiro ou amor) - sou professor...Faltou você abordar detalhadamente as estratégias mulherístico-mercenárias que tem dado certo na prática de 'como fisgar o seu milionário'.Poderíamos citar atitudes como frequentar boates onde jogadores de futebol gostam de ir (Maria-chuteiras) ou então se não der certo isso, poderíamos sugerir a ida aos 'encontros de empresários' da Empresa (ops), Igreja Universal do Reino de Deus. Lá deve ser fácil achar um ricaço, pois como todos sabemos na IURD todos tem o pó do pirlimpimpim econômico, onde eles tocam tudo vira ouro!

Marcos Vinicius Gomes disse...

Má jogou no 'oito ou oitenta'. Engraçado que sempre que falamos de finanças jogamos com os opostos. Ela argumentou (até certo ponto bem) contra a falácia do casamento por interesse indo pelo pantanoso terreno do pensamento conservador... Ela diz: "De onde surgiriam a riqueza?? Quem trabalharia como operário? Balconista? Garçom? Limpeza? Ou vão aceitar pagar salário de rico p eles? Mas daí se o patrão pagasse o que realmente os funcionários merecem o patrão deixaria de ser rico etc etc...." Senti um calafrio ao ler isso, aliás sempre sinto quando leio algo similar. Parece frase de ultra-mega direitista que diz que a sociedade deve ser'meritocrática', 'hierarquizada', etc. É a velha história, o lixeiro tem que ser lixeiro por toda a vida pois está no seu DNA (sem desmerecer os coletores e suas respectivas dignidades). Assumir esse raciocínio é esquecer (ou ignorar) que as sociedades são dinâmicas e que quanto mais atrasadas menos dinâmicas essas sociedades são. No Tio Sam que tanto criticamos há exemplos disso: Você só tem empregada/o se for um baita executivo que ganha baciadas de money ao ano.E o mais curioso essa empregada será muito bem remunerada, falará dois idiomas, terá carro que não fica nada a dever ao do patrão, etc. E o patrão somente terá UMA empregada que fará todo o serviço.Grandes escritores (Steinbeck, Faulkner, Jack London) trabalharam em ocupações para as quais muitas das vezes torcemos nosso nariz esnobe-terceiro-mundista-apreciador de quartos de empregada de 1,5metro quadrado. E esses autores são grandes ícones culturais...

Vivien Morgato : disse...

A revista apostou na polêmica, acredito. Acho um jornalisminho porco, porco.
Mas aquilo que ela condensa em um texto é realmente reiterado inúmeras vezes por diferentes meios de comunicação, pela família, pela mídia toda, enfim.
O lance é ter grana, não importa de onde ela venha, se vier de um "pênis pra chamar de seu", como vc bem o disse, tanto melhor.
Acho que a acepção do ideal da "princesa" continua vingente, certo? A camponesa que se torna princesa...rs
Assim, parece que o casamento, além de um destino aparentemente óbvio (!) para as mulheres, ainda pode ser uma "profissão de sucesso".
Acho profudamente deprimente.

O comentário da Haline de forma costumaz, me faz pensar, me deixa inquieta. E acho isso muito interessante.

beijos.

Vivien Morgato : disse...

Em tempo: vi alguns comentários fazendo alusões a "risotos" e me lembro de ter lido isso em outro blog.
Ainda que não sejamos livres, dado que estamos atados a uma sociedade de consumo, acredito que exista espaço para a diversidade: mulheres que trabalham e casam, trabalham e não casam, casam e não trabalham, tem ou não filhos, tento pensar de forma a aceitar todas as opções, sem eleger uma como a melhor.
A melhor é a sua escolha, ainda que com todos os limites, é sua escolha.
beijos, again.

Má disse...

Oi Marcos,,descuple não entendi muito bem o que vc colocou...
Bom, mas vamos ver..
O exemplo que dei de todos ficarem ricos, me refiro a um certo pensamento que acreditam mesmo, que todos, se quiserem podem ficar ricos mesmo, e não classe média como a empregada de um rico (no Japão, onde morei 9 anos, certamente a empregada de um rico viverá bem, mas rica ela não será, idem balconista, garçonete...)
Aliás, mesmo esta cultura que vc citou, e estes retratos de uma classe média, me parecem se referir a um Welfare State de "países dinâmicos" que já viu o seu esgotamento desde a crise da década de 70 (vide os direitos trabalhistas se recuando em todos os países europeus). Do meu ponto de vista e do que venho percebendo pelo menos do que leio(pesquiso precarização do trabalho), o que vejo é cada vez mais a precarização destes tipos de trabalho considerados "desqualificados" e inclusive os qualificados tb. Daí a remuneração real baixar e cada vez mais ser difícil ficar rico...
Ou será que é mais fácil ficar rico hj do que 50 anos atrás?
Não sei se era isto mas é mais ou menos por aí...

aiaiai disse...

Amanda disse:

"o problema nao é decidir voltar ao lar, sao as consequências dessa escolha. Quando a dona-de-casa/mae integral se ver entediada, traida, falida e sem saida, o que ela vai poder fazer? So um risoto mesmo".

Eu não acho que esse é o problema...ou melhor, esse é o problema da mulher que escolheu fazer isso. problema dela.

O PROBLEMA verdadeiro e mais universal é como essa escolha "dela" e de outras como ela reverberam na sociedade. Ou seja, qual a mensagem que elas estão passando para todos. No caso do blog do risoto, isso fica patente quando as comentaristas lá se sentem orgulhosas de serem privilegiadas. É como se dissessem: "quem não tem o mesmo privilégio que eu, fica com inveja e fala mal da minha 'escolha'. Isso é quase igual ao conhecido "quem acha ruim a propaganda divulgar o ideal da mulher bem cuidada, maquiada, magra e loura é porque não consegue ser assim". Ou seja, vc que é feia tá é com inveja...já lemos e ouvimos muito isso.

A mensagem que as moças do risoto estão passando é: "toda mulher quer ser dona de casa, só não é quem não pode. O homem foi feito para trabalhar e eu para cuidar dos meus filhos."

Imagina que nós estamos ouvindo e lendo isso na virada da primeira década do século XXI. Imagina quanta luta e sofrimento as mulheres passaram para conseguir um pouquinho de liberdade e essas FAZEDORAS DE RISOTO vem agora dizer que isso é bobagem...eu quero mesmo é ser feliz dona de casa.

O que eu sempre digo é que só vou aceitar essa escolha como uma coisa normal, no dia em que o homem puder escolher isso também.
Hoje, o homem pode fazer isso, é claro, mas terá que suportar a sociedade inteira o chamando de vagabundo, michê e perdedor.

aiaiai disse...

Vivien,

só agora vi seu comentário sobre "escolhas".

Vale para vc também a questão: podem os homens escolher cuidar dos filhos e deixar o trabalho de ganhar o pão para as mães?

Se você vive em um lugar onde ambos tem essa "liberdade", me avisa que eu vou mudar para ai já!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

aiaiai disse...

Prometo que é o último comentário do dia:
lola, o título do post tá meio estranho, melhor seria:
revista promete ENSINAR como agarrar um milionário mas não cumpre.

Só para manter a minha fama de chata!
kkkkkkkkk
beijos

lola aronovich disse...

Gente, desculpa o meu silêncio, mas esta tem sido uma semana complicada! Claro que leio sempre o que vcs comentam, e adoro. Gostaria de poder responder.

Mas, hoje, só a minha radical Aiaiai. Acho que temos discussões mais importantes que ficar brigando umas contra as outras. São essas as inimigas do feminismo, as mulheres (de classe média, as de classe baixa não têm escolha) que optam por parar de trabalhar e cuidar da casa e dos filhos? Sorry, pra mim não são. Feminismo é sobre liberdade. E liberdade inclui que a mulher (e o homem) possa cuidar da casa e dos filhos sem ser criticada por isso. É sobre isso que fala o post “Respeitem o meu risoto”, dessa liberdade de escolha. Porque a questão é que nós mulheres somos SEMPRE criticadas (muitas vezes por nós mesmas): se trabalhamos fora, não somos boas mães, não temos tempo pros filhos. Se não trabalhamos, somos Amélias. Se fazemos plástica, somos burras e fúteis, fantoches da indústria da beleza. Se não fazemos, não somos femininas, não temos vaidade, somos barangas que não fazem esforço pra lutar contra o tempo. Minha luta não é contra a mulher que faz plástica. É contra a sociedade que diz que uma mulher deve fazer plástica. Não é contra a dona de casa. É contra a imposição que a mulher deve ser quem cuida da casa. Assim como não é contra a atriz pornô, mas contra uma indústria pornográfica que é altamente misógina.
E Aiaiai, só porque os homens não têm a liberdade de ficar em casa cuidando dos filhos e fazendo risoto, não quer dizer que devemos tirar essa liberdade das mulheres também, né? Eu quero liberdade de gênero para todos.

E sobre o título deste post, tá estranho mesmo, concordo.

Marcos Vinicius Gomes disse...



Obrigado pela resposta. Sei que você quis se referir a esta visão propagada por aí de que 'todos podem ser ricos, o sol nasceu para todos, etc.'um viés 'American Dream'. O que me causa estreanheza foram estes comentários meio que 'na real' de que existem peças determinadas pelo 'establishment' que não devem ser mudadas.Coisa meio que de 'direita'(não estou dizendo que vc seja, mas apenas comparando). Quanto à precarização do trabalho isso tenho tomado conhecimento sim, inclusive aqui no Brasil. E referente à possibilidade de acúmulo de riqueza dentro de um contexto assalariado imagino que isto nunca existiu, mesmo em sociedades como a americana com salários satisfatórios (lá) e excelentes (para nós). O acúmulo de riquezas associada ao empreendedorismo é característica anglo-saxonica, coisa rara entre nós. Veja o termo 'fundo de quintal' quando nos referimos a algo ruim, ordinário. Lá no Tio Sam isso não tem significado pois a garagem é o celeiro de idéias para assalariados que queiram desenvolver algum projeto que o possibilite de largar o emprego e tocar uma empresa em qualquer ramo acumulando assim riqueza (não como assalariado, obviamente)

Vivien Morgato : disse...

Aiaiai, sua questão é super pertinente: o homem que opta por ficar em casa é rotulado como sacana, malandro.
Apesar disso, eu prego mesmo a tal liberdade de escolha.
Veja, não creio que sejamos totalmente livres, talvez estejamos muito longe disso.
O fato é que a mulherada que coloca avental e meneia a cabeça em sinal de reprovação quanto ás que trabalham fora me irrita TANTO QUANTO ás que fazem o contrário: sacaneiam a mulehr que3 teve por opção - temporária ou não - ficar em casa.
Eu optei por trabalhar, eu optei por ter filhos. Eu. Isso não é uma bandeira, muito menos uma receita.
Respeito mesmo quem optou por outros caminhos, porque, como já dizia minha sábia avó "cada um sabe onde aperta seu calo".
Eu sinceramente me arrepio com intolerantes e com receitas de vida.
E que as mulheres e homens possam ser felizes com ou sem risotos.
Beijos.

Vivien Morgato : disse...

Em tempo: eu optei por colocar meu nome, vc optou pelo anonimato.
Como dizia o filósofo; "cada um no seu quadrado".

beijos, again.

Vivien Morgato : disse...

Lola, vc é foda.;0)

| viviana | disse...

Belíssimo texto, Lola, parabéns.

Rita disse...

Lolaaaaaa!! Que saudade dos seus comentários. E aí você vem e compensa todos os comentários não feitos nos últimos dias. Quer ajuda aí com alguma coisa? Pra você ter mais tempo de vir aqui bater papo...

Bjs!

Rita

Má disse...

Oi Marcos
" O que me causa estreanheza foram estes comentários meio que 'na real' de que existem peças determinadas pelo 'establishment' que não devem ser mudadas"
Onde é que vc viu isso no meu comentário??
Não entendi.

Bjo

Má disse...

E Lola, mesmo com todo o ar de seriedade que essas revistas possam ter, este tipo de matéria tá no nivel de "conquiste a barriga de tanquinho em 1 mês"
Não aparece resposta porq não tem milagre!
kkkkkkkkk...

Mirella Machado disse...

É relamente uma matéria sem foco algum. No início parece ser machista, mas no fim diz que as mulheres podem fazer seu próprio bilhão. eu não entendi muito o que eles quiseram passar de verdade

Gabriela Martins disse...

Li o comentário no blog de finanças e passei por cima de alguns aqui, e concordo: o problema maior foi a escolha de fotos + chamada da matéria, dando a entender que realmente iam ensinar algo no estilo "10 dicas pra conseguir o seu homem rico". Tivessem usado a foto que abriu a reportagem, já deixaria a coisa mais irõnica e mais compreensível.

Mas pelo visto a matéria também não é grande coisa, enfim...

aiaiai disse...

Tá bom, façam quantos risotos quiserem. Mas, as mulheres que comentaram no blog lá e tiveram a concordância da autora, não estão pensando na liberdade de todos. São é muito preconceituosas, tanto que rotulam quem "não pode ter o privilégio de virar dona de casa" de invejosas.

Eu, de minha parte, sinto-me livre para rotulá-las de prostitutas de um homem só. Elas tiveram a opção de escolher e escolheram ser totalmente dependentes de um homem.

Estão sim, mandando a mensagem errada para a sociedade, estão sim dizendo amém para os homens que acham que lugar de mulher é na cozinha, estão sim abandonando a possibilidade de terem uma vida construida com liberdade. Vão sim ter que pedir dinheiro ao marido para comprar calcinhas!

continuo, como podem ver, absolutamente radical nessa questão.

Marcos Vinicius Gomes disse...

Aiaiai parece um pouco revoltada com a vida...
Talvez um novo amor sane parte desta revolta :oP

Priscila disse...

Ai Lola, fiquei passada com esse post. Será que eles têm razão?

http://www.manualdocafajeste.com/2009/10/12/dia-dos-leitores-sociedade-machista-ou-mulheres-masculinizadas/

Evelin Ribeiro disse...

Oi, Lola! Adorei seu post!

Sabe, a opção de ser dona-de-casa é válida e digna. Poxa, cuidar de casa e filhos dá um trabalhão e a mulher não é pior que ninguém se fizer essa opção. Assim como o homem que optar por isso tb, na boa. Mas, por mais q a revista negue, o que elas sugeriram foi q casar com um milionário é uma forma super válida e digna de enriquecer. Isso não deu pra engolir e nem aceitar.

E sobre o ficar rico, tem MESMO q fazer uma leitura bem crítica dessas fórmulas com rentabilidades absurdas q dificilmente são conseguidas. Tem muita falácia por aí, que iludem as pessoas e depois as frustram. Apesar de ter um blog sobre finanças, nunca digo q a pessoa precisa ficar rica, sabe? Pra mim, ter uma renda que dê pra levar a vida sem sofrer na miséria qdo ficar velho já está de bom tamanho. Pra quê mais?

Bjo!