terça-feira, 1 de dezembro de 2009

TRABALHO PARA GASTAR O TEMPO

Como mencionei Um Grande Garoto no post anterior, melhor colocar logo o trecho a que me referia. É do romance About a Boy de Nick Hornby, que virou um filme fofo com o Hugh Grant. A tradução pobre é minha, mas, se vocês procurarem na Submarino clicando aí do lado (vamulá, gente! Sabem quanto vendi até agora? Zero vírgula zero!), certamente vão encontrar uma versão em português decente (putz, pior é que só encontrei o livro à venda em inglês).

Will às vezes pensava — não com muita frequência, porque especulação histórica não era algo que ele fazia com muita frequência — como pessoas como ele teriam sobrevivido sessenta anos atrás. (“Pessoas como ele” era, ele sabia, algo como um grupo especial; na realidade, não poderia ter havido alguém como ele sessenta anos atrás, porque sessenta anos atrás nenhum adulto teria um pai que ganhava dinheiro daquela forma. Então quando ele pensava em pessoas como ele, ele não queria dizer pessoas exatamente como ele, apenas pessoas que não faziam nada o dia todo, e não queriam fazer muito). Sessenta anos atrás, todas as coisas das quais Will dependia para passar o dia simplesmente não existiam: não havia TV no horário diurno, não havia vídeos, não havia revistas lustrosas e portanto não havia testes, e, mesmo que provavelmente houvesse lojas de discos, o tipo de música que ele ouvia ainda não havia sido inventado. (No momento ele estava ouvindo Nirvana e Snoop Doggy Dog, e você não podia ter encontrado algo que soasse como eles em 1933). Sobrariam os livros. Livros! Ele teria que arranjar um trabalho, quase certo, porque ficaria louco de outra forma.
Agora, no entanto
, era fácil. Havia quase coisas demais pra fazer. Você não tinha mais que ter vida própria: você podia só olhar por sobre a cerca para a vida de outras pessoas. [...] O Will de vinte anos teria ficado surpreso e talvez desapontado ao saber que ele chegaria à idade dos trinta e seis sem encontrar uma vida para si próprio, mas o Will de trinta e seis anos não estava particularmente infeliz a respeito; havia menos bagunça desse jeito.

Voltei! O romance do Hornby foi publicado em 1998 e, em alguns pontos, está datado (vídeos? E note que ele nem menciona a internet!), mas se passa num período específico: em 1993, próximo do suicídio de Kurt Cobain. Isso não tem muita importância na trama. Mas gosto muito do trecho, e sempre o usei nas aulas de inglês, porque o vocabulário é simples e o tema rende um bom debate. Como vocês podem ver, Will é um cara de 36 anos (não sei se tão lindo quanto o Hugh Grant) que vive sozinho, não trabalha (vive de renda; seu pai compôs uma música que fez sucesso), e é vazio e fútil. Ele não é de maneira alguma um herói. Livro e filme, na verdade, falam do relacionamento dele com um menino pré-adolescente. Um relacionamento que, convenhamos, seria impensável hoje: um menino passar horas sozinho na casa de um aduto com quem não tem parentesco? Com todo o medo que se tem da pedofilia? (como insinua uma personagem em Towelhead, é suspeito um adulto fazer amizade com uma criança).
Mas Will divide seu dia em unidades de tempo, e arranja meios de “gastar” essas unidades. Ver um filme gasta duas horas, ler uma revista, uma hora, preparar e comer uma refeição, uma hora, e por aí vai. Hoje ele estaria nas nuvens com a internet, que permite que se gaste um dia inteiro sem reparar. Eu até me identifico um tiquinho com o Will porque, bem no ano em que se passa a história, eu vivia em SP e tinha um trabalho que durou poucos meses como assessora de imprensa num sindicato (pra você ver como me envolvi no emprego, juro por tudo que é sagrado que não me lembro o quê/quem o sindicato representava! Só que ele era do tipo em cima do muro. Os dirigentes nunca eram contra ou a favor de alguma coisa, muito pelo contrário. Não era fácil assessorá-los: eles nunca tinham nada de relevante pra dizer, porque não queriam se comprometer). Eu era novinha e preguiçosa e ficava a tarde toda trancada num escri. E eu devia estar passando por algum tipo de crise, porque ao invés de levar livros pra ler durante aquelas longas horas sem fazer absolutamente nada, eu descobri num armário do escri uma coleção da Fórum. Sabe aquela revistinha erótica da Penthouse (acho) com relatos sexuais dos leitores? Uma que continha as palavras “membro entumecido” em todos os relatos? Essa aí. Devo ter lido a coleção inteira por puro tédio.
Hoje a internet proporcionaria esquemas pra matar tempo infinitamente superiores, óbvio. Mas é pra isso que serve um emprego? Não só pra receber salário, mas também pra manter as pessoas ocupadas? Inclusive, seria pra isso que serve a internet? Pra nos entreter enquanto gastamos nossas unidades de tempo? Vemos os Big Brothers e demais reality shows para podermos assistir à vida dos outros, ao invés de ter que pensar na nossa, como faz Will? Ficaríamos loucos sem ter o que fazer? (não preciso nem dizer o quanto esta é uma discussão burguesa, visto que a maior parte da população mundial não pode nem sonhar em não ter que trabalhar. Mas discutam, please!).

27 comentários:

Rita disse...

Bom, como hoje à tarde não fui trabalhar, posso me dar ao luxo de meter o bedelho mais cedo. ;-)

Meu sobrenome é crise profissional, então eu poderia manter um blog inteirinho com variações sobre o mesmo tema.

Na fase atual, estou tentando me convencer de que posso não amar meu trabalho, mas fazê-lo com a dedicação e responsabilidade devidas, curtindo verdadeiramente a vida fora do horário de serviço. Como o que está do lado de fora do trabalho hoje em dia é doce, doce, doce, tenho conseguido. Já houve uma época em que eu nem cogitaria não fazer algo que não amasse incondicionalmente (eu devia ter uns 19 anos), mas o rumo que a vida tomou me mostrou que as coisas às vezes se complicam um pouquinho. Então não sou do Greenpeace nem trabalho como intérprete, mas sou feliz mesmo assim.

Eu não conseguiria parar de trabalhar por diversas razões, mas gostaria de trabalhar menos horas por dia, blogar mais, brincar mais, dormir mais, viajar muito mais. Maybe later.

Sobre trabalhar para nos mantermos ocupados, falei um pouco disso no post anterior. E acho que a história de enlouquecer sem ter o que fazer passa um pocuo pelas nossas necessidades inventadas. E, além disso, talvez conseguíssemos trabalhar menos se as coisas coletivas funcionassem melhor - se saúde, educação de qualidade, transporte, moradia, etc. não nos custassem tanto. Mas é preciso confrontar essa tese, porque não me parece que as pessoas em países onde o coletivo vai bem obrigada trabalham menos (trabalham?). Enfim, você está certa quando diz que a internet é de grande valia nas "horas vagas" hoje em dia, mas há algo muito engraçado nisso (para mim): se eu passasse o dia inteiro blogando e isso fosse o meu trabalho, eu adoraria; se eu passasse o dia inteiro blogando apenas por lazer, sem trabalhar, entraria em crise! O que isso faz de mim? Um fantoche programado para gerar dinheiro? Hein? Huummm... para pensar.
Talvez eu aborde o tema no meu blog em breve.

bjs..
Rita

Marjorie disse...

Nossa,Lola. Como esse post ressoou em mim. Desde que cheguei de viagem, eu estou meio Will. Arrumar um emprego tem demorado mais do que eu pensava e a faculdade só volta no ano que vem. Depois de uma semaninha, passa a euforia das pessoas em te verem novamente e elas voltam a viver as suas próprias vidas.

Então eu me vejo sozinha em casa, sem ter o que fazer e tb sem poder gastar muito dinheiro -- o que me impede de simplesmente sair e ser uma turista na minha própria cidade, como eu fazia nas zoropa. Tinha dia que eu saía andando e descobria coisas muito bacanas em ruas onde turista não vai, etc. Aqui em Sao Paulo, é mais difícil fazer isso e demanda um dinheiro que eu não tenho (até porque preciso ser prudente com as minhas finanças).

Aí eu fico desejando ardentemente arranjar um emprego logo, só pra ter o que fazer e dizer da vida. É contraditório, pq qdo eu trabalhava e estudava e nao tinha tempo pra mais nada, eu me lamentava de nao ter tempo pra ler, pra fazer as coisas que eu gostava. Agora tenho todo o tempo do mundo e essas coisas não me dão ânimo. A gente pensa que o ócio sempre vai ser criativo e nem sempre é. Tem dia que eu acordo me sentindo um lixo mesmo. Desperdiçando a vida.

Marjorie disse...

Ah, é. E toda vez que eu fico bem entediada e deprimidinha, eu me lembro do "mística feminina". Aquelas mulheres donas de casa dos anos 50. Gente do céu, eu não aguentaria aquela vida. Prender alguém dentro de casa assim é mesmo uma agressão. Eu seria suicida naquela época, com certeza.

Unknown disse...

Bem, pra mim, só há um jeito de parar de trabalhar: ganhar na mega sena! como eu não jogo, não tem como..hahahaha. mas, olha, eu viveria tranquilamente sem trabalhar.

morro de inveja dessa galera de classe média alta que tem mamãe ou papai pra bancar os estudos até a pessoa fazer quase uns trinta anos.

Claudia disse...

Pois sabe que esse é um grande dilema: quando tenho tempo, não tenho dinheiro e quando tenho dinheiro, não tenho tempo. O fato é que já passei um tempo com um "negócio" que me deu pouco lucro e muito tempo livre. Mas eu não tava feliz, porque queria fazer várias coisas legais que precisavam de dinheiro, e não tinha. Agora, que estou em emprego fixo e estável, tenho dinheiro (mas não muito também...) e queria muito ter tempo pra não fazer nada, ou pra ficar uma tarde inteira lendo um livro, meu hobby favorito. Enfim, difícil!
bjos

Paloma Peruna disse...

Lolinha, não gostei das idéias do rapaz. Ao menos não para mim. Imagina se privar de vários confortos legais, ou de comer o q vc quiser, qdo quiser unicamente para trabalhar menos/acumular dinheiro. A vida é mto curta e blá, blá, blá pra fazer tanta economia.
PS: já te falei de como sou perdulária, né?! Pois então, eu só raciocino assim e estou tentando mudar... Bjo

Merinha M disse...

Oi Lola,minha amada terra é Guarapuava,fica no centro do estado do Pr.Com uma população de 17o mil é uma boa cidade p/ se viver.Não é mto pequena nem grande demais.Temos belas praças e dois parques com lago bem no centro da cidade.Lugares mto agradáveis com belo arvoredo.Temos uma universidade estadual e algumas faculdades particulares.Moro aqui há mtos anos e gosto mto.Hoje estou aposentada(fui professora estadual)e não trabalho mais de forma nenhuma!Só faço o que gosto e o que não pude fazer antes.Por exemplo:estudo ingles,ando de bicicleta,leio mto,navego na net,vejo filmes e mto esporte na tv e nos ginásios da cidade.Por aí vai...Ah!tenho uma casinha na área rural pertinho de um lago e vou sempre lá pescar e nadar.As pessoas me perguntam "o que vc faz agora que se aposentou?" e eu respondo com ar sério:Ah! estou fazendo "especialização em Ócio!"O povo fica sem entender!outros apenas dão uma risadinha.Então é isso Lola.Escrevi essas coisas tambem para ligar um comentário com o outro post,o da aposentadoria.Hoje posso dizer que é MUITO BOM ter todo o tempo do mundo para realmente VIVER!Abraços.

Giovanni Gouveia disse...

essa conversa, em pleno Dezembro ( o mês mais improdutivo do ano) dá uma preguiiiiiiiiiiiça....

Giovanni Gouveia disse...

Ah, se puder leia os livros de Domenico de Masi, um italiano maluco que vive discutindo o ócio...

lola aronovich disse...

Olá, Rita Crise Profissional! É, eu te entendo: eu não conseguiria parar de trabalhar tão cedo. Por um lado, eu penso nisso e acho que até gostaria do ócio, mas, por outro, sei que sentiria falta de alguma coisa. É muito difícil explicar. Bom, agora estou há 4,5 anos sem trabalhar de fato. Foram 4 anos de doutorado, e meio ano agora de mezzo espera, mezzo desemprego (sem stress). Acho que não aguento mais estudar por enquanto, e sinto falta de um salário mais parrudo. Mas, de repente, daqui a um ano, eu mude de ideia, não sei. É bem o que vc disse sobre “nossas necessidades inventadas”. Eu inventei que queria fazer mestrado. Daí inventei que faria doutorado. E agora inventei que preciso usar o que aprendi. Porque precisar não precisa, né? Ah, parece que sim, parece que na Europa se trabalha menos. 44 horas por semana, como aqui, nem pensar. Em muitos países a carga horária é 35.
Ah, espero que vc escreva sobre tudo isso no seu blog!


Laura, mas aí é que tá: gastando pouco, guardando muito, dá pra parar de trabalhar mais ou menos cedo. O que o Jacob faz no outro post é aposentadoria precoce ao extremo (com 35 anos), mas eu tô pensando em parar com menos de 50. Se eu quiser. Se eu conseguir ficar parada. Porque às vezes eu penso: parar e ficar fazendo o quê? Mas deve ser super legal ter mesada dos pais aos 30, né? Ah, eu trabalho desde os 18...

Bárbara Reis disse...

Essa menção aos Big Brothers, me lembrou o filme 'O Show de Truman', no qual eu estou na faculdade neste minuto, lendo textos de ética, para fazer uma resenha/artigo sobre.

No meu atual momento, eu estou desempregada. Acho que as pessoas tem por desemprego, falta de carteira assinada, pois mesmo trabalhando 10h~12h por dia num sábado, domingo e feriados. Eu tenho que aturar perguntas do tipo: - Não trabalha mais não?? Que vidão hein!!

É horrivel, e me irrita de tal forma, que eu tenho vontade de voar no pescosso da pessoa. HAHAHA... trabalho mexe muito com meu orgulho. Pois foi o modo como eu consegui a minha liberdade e a minha independência, e quando isso não é reconhecido só porque não tenho um emprego fixo, me tira do meu eu.

Como já te disse algumas vezes, trabalho numa locadora, sou free lancer, trabalho de aos finais de semana, e feriados, vesperas de feriado, cubro os efetivos que precisam faltar, no geral, trabalho mais do que trabalhava no meu ultimo emprego fixo, de recepcionista de agência, e ganho mais trabalhando em menor quantidade de dias/mês. Ou seja, eu tenho uma maior quantidade de dias, pra descansar. O que eu não faço porque eu também tenho faculdade.

Aonde eu quero chegar te contando a minha vida? hahaha...

Mesmo eu trabalhando, num emprego informal, as pessoas à minha volta me cobram um emprego fixo. Como se eu tivesse obrigação de estar empregada. Eu confesso que eu nunca estive tão bem financeiramente, mesmo estando 'desempregada'. Ter sido mandada embora foi a melhor coisa que me aconteceu. E mesmo assim, praticamente todo dia eu sou cobrada por não trabalhar todos os dias, como a maioria das pessoas. Isso me incomoda demais... ser taxada de 'vagabunda' por estar em casa numa terça-feira de manhã, por exemplo.
Como eu comentei no post anterior... o trabalho me dá a sensação de dignidade... de poder me bancar, de pagar as minhas contas, e não dever nada pra ninguem. E sinto que isso é tirado de mim, quando eu sou cobrada de um emprego, que eu não preciso agora. Entende?

Acho que as pessoas estão tão engajadas num padrão, num sista comum, que quando alguem sai desse sistema, é julgado e discriminado.

Isso era algo que eu queria pautar contigo...

Outra coisa, a do matar o tempo trabalhando. hahaha... eu também não fazia 'nada' no meu emprego de recepcionista... ficava a manhã inteira na internet, hahaha, porque AMÉM era liberada... e eu ia embora às 14h. E pasme, eu fazia MUITO mais que a menina que ficava de tarde. hahaha... já na locadora, eu chego à exaustão... de tanto trabalho. Saio de lá com as pernas inchadas de ficar em pé...
E pasme de novo, eu amo trabalhar na locadora, adoro tudo o que eu faço, não acho que o faço pra fugir, mas eu fico tão entregue aquilo que acabo me desligando sem querer do mundo externo. Eu nunca havia trabalhado em algo que eu realmente gostasse... e acho que é preciso muita sorte, e oportunidade, pra conseguir fazer o que se gosta.
Enfim, outro ponto é que nós humanos, temos grande problema de ficarmos ociosos e sozinhos...
Temos pavor de ficar sozinhos, porque em verdade vamos ficar com nós mesmos, e seremos forçados a pensar na propria vida, e por medo de perceber que não somos tão bonitos, feliz e sucedidos. O que fazemos??
Ligamos pra qualquer amigo, pra ir comer qualquer pizza, em qualquer pizzaria. HAHAHA....

Bom...

Chega que já fiz um post-comentário.

Beijão Lolinha!

lola aronovich disse...

Marj, pois é, agora que vc falou, eu me lembrei do seu ótimo post sobre viagem, sobre o que fica pra gente de uma viagem. Eu pensei um pouquinho nisso quando escrevi a crítica de Se Beber Não Case, nisso de memórias fabricadas, como se a gente, ao fazer uma viagem, estivesse pagando por memórias, que vão se apagando se não tivermos registros (fotos, videos, diários etc). Não foi bem sobre isso que vc falou, mas eu tb penso o que sobra quando uma viagem termina.
E olha, acho que a gente sempre tem uma disposição muito maior pra conhecer uma cidade fora do que a cidade onde vivemos. Ou talvez só falte companhia. A época em que mais explorei SP foi quando eu saía à noite com um amigo. A gente andava por todo lugar. Era meio loucura, meio perigoso, a gente só andava pelo centro, sem gastar. Mas era uma delícia, a gente conversava sem parar, e eu me sentia segura com ele (que era bastante mal encarado). E conheci bem o centro de SP.
Mas compreendo as contradições: quando a gente tá trabalhando, quer parar, quer ter tempo pra fazer um monte de coisas. Quando não está trabalhando, sente-se desocupada e tem saudade de fazer montes de coisas. Parece que a gente nunca tá satisfeita!
Mas pelamor, né, Marj? Vc é tão novinha! Não pode ter esse sentimento de estar desperdiçando a vida. Espera pra ter crise existencial com pelo menos 30, 40 anos, vai! E não se preocupe que já já vc encontra um emprego. E acho legal que vc volte a estudar.
E sobre a Mística Feminina, não sei. Se eu tivesse filhos, ia querer muito ficar perto deles o máximo de tempo possível. Por isso, entendo as mães que deixam de trabalhar por um tempo. As crianças só serão crianças durante um tempinho, e entendo que a pessoa (seja mãe ou pai) queira aproveitar a convivência. Deve dar um desespero ter filhos pra ficar junto com as crianças e aí notar que, na real, vc só tem duas horinhas por dia acordado(a) com os filhos. Mas acho bom ter uma ocupação, pintura, ter um blog, escrever... Pra poder pensar em outras coisas. E também não dá pra ser dona de casa pra vida toda, porque as crianças crescem. Quer dizer, dá, dá, um monte de mulher faz isso, mas aí acho que chega uma hora que dá um certo desânimo, uma falta de perspectivas. Não sei.

lola aronovich disse...

Claudia, difícil, né? O que eu gosto das nossas complicações (nossas eternas insatisfações, pelo que parece) é que nada é pra sempre. Dá pra experimentar, como vc fez. Ficar um pouquinho num emprego com muito tempo livre e pouco dinheiro, e ser workaholic um pouquinho. E também, a gente muda, né? A gente não quer as mesmas coisas sempre.


Paloma, bom, sem dúvida, o que o Jacob faz é exagerado. Por isso que seu blog chama-se Extreme. Mas ele não sente que está se privando de alguma coisa. Ele simplesmente não quer muitas das coisas que muita gente quer. Eu odeio salto alto, então não vou comprar. Não estou me privando de salto alto! E talvez ele tenha se privado de algumas coisas, mas pôde parar de trabalhar com 35 anos... Tem vantagens e desvantagens. Bem, ainda vamos falar mais nisso, sua perdulária!

lola aronovich disse...

Merinha, o pessoal fala bem de Guarapuava! Do PR, eu só conheço Curitiba, parte do litoral, e Campo Mourão, a da terra vermelha (muito bonita). Mas isso de morar no lugar certo pra gente é tão importante, né? Tem quem gosta de agito, então viver numa cidade pequena ou média não será legal. Mas tem quem goste de algo mais calmo, então... Qualidade de vida é justamente isso, pra mim. Viver onde eu me sinta bem. Obrigada por me dar tantas ideias pra quando eu me aposentar!


Gio, dezembro é o mês mais improdutivo do ano?! Não é o mês em que a gente tem que acabar de fazer um monte de coisas? Fechamentos e tal? Pra mim dezembro é sempre um alto desespero, porque não sou organizada a ponto de fazer as coisas no prazo certo. Posso contar nos dedos os dezembros da minha vida que foram tranquilos... E me diga, o que Masi diz sobre o ócio?

Fabiana disse...

O engraçado é que eu assisti por esses dias o Café Filosófico, da TV Cultura, com a Maria Rita Kehl, nesse programa ela argumentava que o número de depressivos aumenta em função da inexistência do tempo, que o relógio o substituiu. E que a gente trabalha, mesmo gostando de trabalhar, mas exigimos demais de nossas funções mentais, temos que estar sempre atentos, sempre ávidos por novidade. Temos sempre que demonstrar felicidade, em qualquer contexto, uma euforia coletiva em busca do sucesso e da aceitação. E a depressão seria um sintoma do tempo, porque o depressivo é o oposto do que o capitalismo exige, porque ele não é produtivo, não é feliz.

E dos livros que li do Nick Hornby (Alta Fidelidade e Como Ser Legal), percebo essa mesma crítica ao nosso modo contemporâneo de existir, os protagonistas dos dois livros, de certo modo, contrariavam o senso comum da pessoa bem sucedida - pelo visto no Abaut A Boy também é assim.

Gostei muito desses posts de hoje, porque eles completam essas idéias, de que esse excesso de atividades a que somos submetidos nos tiram a nossa individualidade, nos roubam de nós mesmos. Porque não temos tempo de entendermos, temos a obrigação de estar sempre alerta.

Fer disse...

Pois é, é um previlégio burguês poder discutir pra quê serve um trabalho. Sou designer recém-formada, larguei o "emprego" em fevereiro para abrir minha empresa (dava um dinherinhoinho, mas zero satisfação). Desde então, por ter o previlégio de poder ficar na casa dos meus pais sem gastar nenhum centavo, estou me dedicando ao meu negócio e ganhando muito pouco fazendo jóias sob encomenda. E sabe, sou muito feliz assim. Talvez porque eu tenha quem arque com minhas despesas quando eu não puder. Mas principalmente, por fazer o que gosto e ter a flexibilidade de fazer o que quiser, na hora que eu quiser, desde que eu entregue a encomenda no prazo. Mas isso tem seu preço, que é não ter muito dinheiro. Vejo muitas pessoas que tratam o emprego como tratavam a escola/faculdade: gostam das pessoas que estão lá mas não de estudar/trabalhar. Isso é legal, além de ganhar dinheiro, fazer amizades. Acaba não sendo tão chato assim.

A Rita falou sobre ter 19 anos e se recusar a fazer algo que não se ame incondicionalmente. Eu tenho 23 e ainda me recuso, assim como me recuso a mudar essa opinião. Mas é porque eu tenho escolha, se não tivesse ia ter que amar qualquer coisa que me desse dinheiro para viver.


Beijos Lola!

lola aronovich disse...

Oi, Barb! Eu revi O Show de Truman semana passada, acredita? Adoro esse filme! É, tem tudo a ver sobre a gente seguir uma outra vida pra não precisar pensar na nossa.
Olha, sei que esse papo de “me escute porque sou mais velha” é um pé no saco, mas... A gente não vê as coisas quando passa por elas. E o que eu quero dizer é que, quando a gente é tão novinha assim como vc, 20 aninhos, trabalho é bem diferente. Ninguém nos emprega pra nos dar um trabalho “de verdade”, um que ganhe bem e que tenha muita responsabilidade. Até existe, mas é exceção. É realmente o começo da nossa vida profissional, e aí a gente tem que pegar o que aparece. Mas, com o tempo, o salário aumenta, aleluia, e acho que passamos a ter mais opções. Meu primeiro emprego de carteira assinada foi numa locadora de video, sabia? E eu gostava pacas! Mas só fiquei 3 meses. Naquela época (dos 18 aos 26) eu ficava bem pouquinho em cada emprego. Só numa agência é que fiquei uma eternidade — um ano inteiro! Mas é isso aí, acho que muitas vezes dá pra ganhar mais como freela que como assalariado. As desvantagens, claro, é que quando aparecem aquelas matérias de “O que vc vai fazer com seu 13o?”, a gente pensa, “QUAL 13o, cara pálida?!”. Mas sabe, nessa idade em que vc tá agora a prioridade tem que ser mesmo o estudo. Porque, pra vc conseguir um emprego e um salário melhores, numa profissão que vc “quer seguir”, hoje em dia só com faculdade mesmo (ou curso técnico). Não tem jeito: escolaridade tá mesmo ligada a aumento de renda. Eu me arrependo de não ter concluído meu curso de Propaganda quando tinha 20 anos. Era mais fácil na época: eu morava com meus pais, tinha muito menos gastos, e ainda por cima morava perto da faculdade!
Agora, não se preocupe com o que as pessoas ficam te cobrando! What do they know? Se vc está bem neste emprego, se dá pra conciliar numa boa com a faculdade, por que ter um emprego fixo? Nada a ver! E o que tem de errado em poder ficar em casa na terça? É uma droga ser tão cobrada. Mas, acredite, isso também diminui com o tempo.

Rita disse...

Oi, gente.

Estou adorando esse papo. Os comentários estão tão bons quanto o post. :-) Lolinha, pretendo, sim, esticar o assunto lá o estrada. Depois te dou um toque. E aí a gente conversa mais também, fernandadbpm.

Bjs!
Rita

Bárbara disse...

Lola, você já viu isso?

"Robin Williams faz piada da vitória do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016 no programa de David Letterman"

http://www.atarde.com.br/cultura/noticia.jsf?id=1297455

Eduardo disse...

Oi Lola... Olha, obrigado por escrever esse blog. Sério, às vezes vc me ajuda muito, e nem fica sabendo disso. Beijos

Marcos Vinicius Gomes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcos Vinicius Gomes disse...

Puxa vida, esse papo sobre otimização do tempo, ócios e tédio no 'homem-pós moderno'me dá um pouco de...tédio!E lendo o post e os comentários não posso deixar de citar um aluno que me perguntou (muito seriamente, diga-se) um dia: "Professor, além de dar aula você trabalha?"
PS Ele não era neto / parente de FHC ou Serra!

Marcos Vinicius Gomes disse...

Eu vi sim sobre o Robin Willians. Foi grosso e anti ético, mas numa coisa precisamos concordar...nós ainda não aprendemos o significado da frase rodriguenamente antropológica "O Brasil precisa deixar o complexo de vira-latas". Parece que só damos bola quando os gringos falam mal da gente! E haja dodói...

Bárbara Reis disse...

Obrigada, Mami. HAHAHA...

Realmente, dá até um aperto no coração quando as pessoas falam em férias e 13º. Tipo - Que isso?
hahaha...

Então, eu pretendo começar a procurar emprego lá pra janeiro/fevereiro... eu queria receber todo o meu seguro desemprego, mas não dá pra ser feliz com pessoas te cobrando all the time.

Quanto a faculdade, eu já estou terminando a minha [Publicidade], tenho só mais uma semana. E também sou técnica [Design Gráfico], mas eu me sinto TÃO insegura... nunca trabalhei na área... eu fiquei 10 meses na agência, também foi o emprego que fiquei mais tempo, mas eu era recepcionista.
Eu gosto da locadora, porque eu descobri o quanto eu gosto de filmes, e o ambiente é legal, as pessoas são legais, os clientes, vai cachorro, criança, eu sou louca por crianças *-*. Eu gosto de tantas coisas diferentes.Já fiz uns cursos nada a ver, de rádio por exemplo. Tem vários cursos nada a ver que eu gostaria de fazer, como enfermagem. Resumindo, eu não sei o que eu quero da vida. hahaha... mas a vida nos direciona, no momento certo.
Eu acho um disperdicio na verdade, porque eu tenho um curriculo bonito, com vários cursos, faculdade, técnico... e? nada...
Talvez seja por isso que sou tão cobrada.
Acho que você tbm seria Lolinha, agora com Doutorado e você resolvesse trabalhar numa locadora como indicadora de filmes. Concorda?

Thanks for your advice!

Beijão!

Bárbara Reis disse...

Lolinha, fiz um post só com fotos do Nando, como lhe prometi.

Beijo! :]

Veruska disse...

Lola, eu entendo que olhar a questão apenas do ponto de vista particular (de quanto eu preciso para viver, se eu preciso do trabalho apenas para gastar tempo, etc.)é olhar a questão de forma incompleta. O trabalho também serve para o bem comum. Quem se forma médico, advogado, engenheiro, professor, tem uma dívida social também, tem que pensar em como melhor servir à sociedade e não apenas em quanto precisa ganhar para viver. Bjo

Haline disse...

Eu acho que tem duas coisas diferentes com relação ao trabalho, uma é o salário pra satisfazer outros prazeres. Então se vc não quer viver de uma maneira miseravel, como a do cara do post anterior, precisa trabalhar. Mas deixo claro que eu acho miseravel e, pelo jeito, ele não.

Outra coisa é a necessidade de realização/aprovação/sucesso. Então mesmo que não precise trabalhar para consumir tudo que se quer, de repente trabalha-se pra "ser" alguém admirado e tals. É o caso do dilema que se arma pro carinha do filme, que alias, eu achei muito fofo e me fez pensar muito nisso.

Uma vez eu tava com uns amigos num bloco de carnaval e uma das minhas amigas ficou com um cara super fofo. Dai fomos num restaurante japonês relativamente caro e tudo ok. Papo vai, papo vem, cada um diz o que faz, pq faz, se gosta, se não gosta, os blocos, a vida e "fulano, o que vc faz??" e ele: nada. Um sonoro nada. Ele tem uma pensão e com ela paga tudo que ele acha legal de fazer (veja bem que a satisfação dele, pode não ser a dos outros) e pronto. Minha amiga obviamente desanimou (igual ao filme), como assim não faz nada??

Então as pessoas se sentem pressionadas também a fazer. Na teoria, não tem nada demais ele não fazer nada, se ele pode e não está te pedindo nada. Mas a gente acha ruim. Todo mundo na mesa fez cara de "hummmmmm, sei não". É complicado isso ai do trabalho.