domingo, 27 de dezembro de 2009

CRIANÇAS E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Mais diálogos fofinhos entre o maridão e eu. No primeiro, eu devo ter lido alguma coisa em algum lugar (não me perguntem onde) e fui compartilhar minha nova sabedoria com ele.

Eu: “A inocência é uma invenção dos adultos pras crianças. Sabe por quê?”
Ele: “Pros outros adultos não darem um fim nelas?”
Eu: “Não, amor. É pra aplacar a culpa da utopia perdida”.
Ele: “Prefiro a minha explicação”.

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Eu, muito resfriada e um tantinho trágica: “Se eu morrer você doa todos os meus órgãos, menos o pulmão, que deve estar em condição deplorável por causa da gripe.”
Ele: “Tá, mas o fígado não vai dar pra doar também não”.
Eu: “Não fala assim do meu fígado! Diz alguma coisa boa sobre ele”.
Ele: “Ah, o seu fígado é super legal”.
Eu: “Eu sei que o meu fígado tá mal, mas deve ter gente com fígado pior que o meu, precisando de um transplante”.
Ele: “Gente viva?!”.

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Se tiver alguém viva(o) por aí, não deixe de ler os posts do Terceiro Concurso de Blogueiras e votar na enquete ao lado. Aproveite que a internet tá mesmo um deserto esses dias pra ler posts mais antigos...

29 comentários:

Luciana disse...

Hahahahahahaha! Esses diálogos são impagáveis.

Mas acho que se meu namorado fosse assim eu já o teria matado.

Beijocas

Cynthia disse...

Oi, Lola! sempre venho aqui mas não comento muito...
Vc fez uma série de posts falando da erotização da infância, e como as empresas de brinquedos reforçam isso, aí eu achei uma marca de brinquedos, a American Girl http://www.americangirl.com/index.php que faz bonecas e filmes baseados em heroínas paras as meninas se espelharem... achei a iniciativa muito legal, apesar de ter aquele típico patriotismo dos americanos :)

=draupadi= disse...

eu não ia postar, mas abano o rabinho só pra vc não achar q tá sozinha esses dias, rs

Giovanni Gouveia disse...

Well, duvido que meu fígado ultra flex, e meu pulmão de quase 30 anos sob tabaco sejam melhores que os seus...

Oliveira disse...

É isso que você e seu marido pensam de crianças?

Isso explica muita coisa!

Daniel disse...

Ah Lola, para de fazer drama :P Você não está sozinha. Até o teu troll de estimação, o oliveira, tá por aqui...

Oliveira disse...

Respondendo aos que perguntam por que ataco, sempre, a Lola.

Não gosto de gente que:

- Estupidamente não acredita em Deus.
- Estupidamente acredita no Lula.
- Que se diz DOUTORA, mas não leu um livro bom que possa mencionar.
- Apóia assassinato de crianças com utilizando para isso o eufemismo de aborto.
- É gorda porque só pensa em comida e critica quem faz regime para ser magra e diz que quem é gordo tem que se aceitar e forçar ser aceito.
- Se diz classe média, mas reclama por gastar (pasmem) R$ 50,00 num restaurante.
- Deu a sorte de casar com o único coitado que topou a parada, e que deve ser um santo, e vive insultando o coitado; que agüenta sabe-se lá porque.
- Que acha que ser de esquerda é permitir que vagabundo seja sustentado por quem trabalha.
- E, principalmente, gente desta estirpe que se acha no direto de ficar em blogs (o abrigo do pseudo jornalista) vomitando suas verdades.

lola aronovich disse...

Como o negócio tá meio parado por aqui mesmo, vou permitir o comentário do meu troll pra levantar os ânimos. Se alguém tiver paciência pra responder... Imagino que ele deve ter ofendido todo mundo aqui no bloguinho, não apenas eu (se bem que desta vez, excepcionalmente, ele não falou nada contra gays e nordestinos).
Fica o aviso, gente: esse cara é um legítimo representante da direita. Vota no Serra.

Eu nem tô conseguindo usar o computador direito porque meus olhinhos estão minúsculos. Chorei demais revendo Dança com Lobos. Vou escrever comparando Dança com Avatar. Abração, gente! Oliveira, vá embora! Mas antes, responda em nome de todos os trolls de todos os blogs: qual sua intenção ao aparecer constantemente num lugar onde vc não é benvindo? Vc pretende mudar a cabeça de alguém ou só calar a autora do blog?

L. Archilla disse...

Lola, fez bem em deixar os comentários do Oliveira, que hoje estão especialmente engraçados!

"Que se diz DOUTORA" - vc não É doutora, Lola, vc SE DIZ! HAHAHAHAHA

"Deu a sorte de casar com o único coitado que topou a parada, e que deve ser um santo" - O Masegui vai dizer que o Oliveira é um idiota, mas ele concorda nessa parte.

"se acha no direto de ficar em blogs (...) vomitando suas verdades" - SE ACHA NO DIREITO! AHAHAHAHAHHAHAHAHAHA que audácia a nossa, Lola!

Anônimo disse...

E o Oliveira prova cada vez mais q eh realmente um idiota...
E se a mamy dele eh igualmente contra o aborto, a essa altura deve estar refletindo sobre a legitimidade das alternativas...

Rita disse...

Lola, se você lesse meu bloguinho, saberia que estou no Nordeste, né menina?? Ô coisa, viu! (eheh, sorry, não resisti) Tô na casa da mummys, comendo muita manteiga da terra e galinha caipira (não na mesma hora). Vida dura, sabe? Melhoras para sua gripe, viu?

Bjocas,
Rita

Daniel disse...

Lola (e povo que comenta no blog), eu andei lendo um comentário no orkut, e fiquei meio sem saber o que pensar direito. Aí queria saber qual seria a resposta de vocês, se concordam com alguma parte ou não, porque. Para me achar melhor quanto a isso mesmo.

Segue o comentário, se pudessem ler e falar algo sobre eu agradeceria:
"Desculpe-me, Jana. Eu continuo a não acreditar que um movimento que puxe sardinha para as mulheres até em seu nome (afinal, feminismo vem de feminino) seja uma luta anti-sexista.

Na verdade, a luta feminista é por condições de vida melhores às mulheres. Ou seja, pelo direito da mulher a ter um salário igual ao de um homem na mesma função, pelo direito de decidir sua conduta sexual, pelo direito da mulher de viver sem sofrer qualquer tipo de violência, pelo direito das mulheres de obter acesso a serviços básicos (como saúde e educação), e por aí vai.

O feminismo não luta pela igualdade, pois se lutasse, as leis e reinvidicações feministas abrangeriam também aos homens. Em outras palavras, elas lutariam pelo fim do preconceito contra o exercício de ofícios como empregado doméstico, babá e professor primário, uma vez que isso é um efeito do machismo.

Elas lutariam também para que a educação dos garotos tenha uma qualidade melhor (uma vez que os meninos vão pior em todas matérias se comparados às meninas), que hajam campanhas de conscientização sobre doenças cuja incidência seja maior ou exclusivamente masculina, que haja um combate mais eficaz contra a violência contra os homens (uma vez que 92% dos assassinatos cometidos no Brasil tem homens como vítimas).

Porém elas falam em igualdade, mas enxergam tão somente a mulher na sociedade. Quando enxergam o homem, o enxergam como opressor, chegando a demonizá-lo, a desmerecer até mesmo a sua existência, reforçando a já reforçada imagem de ser descartável que os homens já tinham.

E é exatamente por isso que eu duvido que o feminismo pregue realmente a igualdade. "


E aí, o que acham? Discordam? Por que (tem acento?)?

Daniel disse...

Ah, e os comentários do Oliveira estão engraçados, podia deixar eles mais no blog :P

Masegui disse...

Oliveira é um idiota!!

Lolinha, tem jeito de agendar comentários? :)

Elaine Cris disse...

Oi Lola!

Sempre leio o seu blog, mas nos últimos dois dias não conseguia acessar de jeito nenhum. Também tenho um blog há pouco tempo e estava com dificuldade de acessá-lo... Talvez outras pessoas estavam com o mesmo problema que eu, por isso o número menor de visitantes. Só assim mesmo porque seus posts continuam ótimos...

Bjus

Rachel L. disse...

Oi Lola

Sempre leio o seu blog mas nunca havia comentado. Adoro o que tu escreve, especialmente porque fala de assuntos super variados e de maneira divertida e perspicaz.

Já que estamos nessa entresafra queria aproveitar pra perguntar se você já ouviu falar da síndrome da impostora.
Aparentemente afeta um bom número de mulheres que, apesar de serem bem sucedidas e boas no que fazem, estão sempre achando que são uma farsa e que logo os que estão ao seu redor irão descobrir o quanto elas não merecem estar onde estão. Procurei um pouco no google mas não consegui achar muita coisa, a não ser na Revista Nova (hehe).
Queria saber se vc sabe algo sobre isso, já que aparentemente é um conceito meio novo (não é ainda algo clinicamente comprovado), apesar de muito comum.

Um abraço e Feliz Ano Novo! E pode deixar que eu venho ler o bloguinho nesses dias de calmaria...

lola aronovich disse...

Danut, respondendo bem rapidinho (não sei se consigo), esse tipo de “lógica” parece vir de gente que acha que feminismo é o oposto de machismo (não é!), que é meio como achar que usar uma camiseta de 100% Negro seja igual a usar uma camiseta de 100% Branco. Ou seja, esse pessoal, em primeiro lugar, nega que exista qualquer desigualdade ou discriminação. Começa a apontar exceções (geralmente imaginárias) de que oh, tadinho, o homem também é discriminado, o branco também, o hétero também. Se bobear, depois de um tempinho esse pessoal passa a dizer que hoje em dia, por causa dessa onda politicamente correta que eles detestam, homem, branco e hetero no fundo sofrem MAIS preconceito que mulher, negro, homossexual e demais minorias historicamente discriminadas. Então o primeiro passo é sempre esse: negar a discriminação ou pelo menos ampliá-la. Se mulheres não são discriminadas, o feminismo perde sua razão de ser, certo? Com um só argumento tosco apagam-se milênios de discriminação contra a mulher e invalidam-se alguns poucos séculos de luta. Eficaz, né? O feminismo varia, há um monte de correntes, mas, em geral, o feminismo luta pela igualdade entre os gêneros. Essa palavra, igualdade, é fundamental. Pessoalmente não conheço feministas que queiram que mulheres tenham mais direitos que homens, ou que queiram matar ou (acusação corrente) castrar os homens. É igualdade apenas. Mas isso ainda está longe de acontecer. O feminismo é bom pros homens, porque, com uma redefinição do que é ser mulher e o que é ser homem (dos conceitos de femininidade e masculinidade, que tanto as feministas como os queer theorists discutem), viveremos numa sociedade mais elástica. É esse conceito de masculinidade que faz com que homens matem homens, e que tantas mulheres sejam mortas pelos companheiros. Eliminar um conceito opressor de masculinidade (e de femininidade) é totalmente diferente de querer eliminar os homens.
Também tem uma outra coisa, que é que a enorme maioria das feministas é de esquerda. É muito difícil separar o sistema patriarcal do sistema capitalista de exploração. Eles andam juntos. É por isso que a direita cristã nos EUA odeia tanto as feministas, a quem chamam de “feminazis”. Porque a direita sabe que o feminismo luta por um mundo mais justo e menos desigual. E isso inclui o lado econômico. A maior parte dos pobres no mundo é mulher e criança. Se a renda das mulheres aumentasse, a desigualdade diminuiria de um dia pro outro, simples assim. Portanto, é complicado querer um mundo com melhor distribuição de renda e não ser feminista.

lola aronovich disse...

Mulher Modernex, vc já é a terceira ou quarta que diz que tentou acessar o blog nos últimos dias e não conseguiu. Pode ser que isso que o Mario disse procede, que o blogspot tá com problemas em algumas regiões do país. Tomara que consertem logo...


Rachel, não, nunca tinha ouvido falar nessa síndrome de impostora (é que não leio a Nova!). Muito interessante. Às vezes eu tb me sinto assim, uma impostora, sabe? Legal saber que isso não é incomum entre as mulheres. E eu não sabia que os homens não tinham esse problema! Pensei que quase todo mundo, em um momento ou outro da vida, sentia-se como se tivesse “enganado” as pessoas, e que cedo ou tarde elas descobririam a “fraude” (tudo com muitas aspas, porque é claro que a gente não enganou ninguém e nem é uma fraude. Mas vez por outra dá a impressão que a gente se safou de ser descoberta, de que, por exemplo, no meu caso, alguém descobriria que eu enrolei um monte pra escrever minha tese, como, aliás, TODOS os papers que escrevi no mestrado e doutorado. Sabe, aquele negócio de que dá pra enganar uns poucos por muito tempo, ou muitos por pouco tempo, mas que não dá pra enganar todos por muito tempo. Deve ser essa impressão a tal da síndrome, não?). Muito bom! Me conte o que mais vc descobriu dessa tal síndrome...

Loy disse...

Gostei muito das resposta da Lola ao Danut, e pra ser sincera, eu entendi de maneira algo diferente o comentário que ele citou. Achei interessante porque me ocorreu a seguinte idéia: nada que seja prejudicial a um determinado grupo vai deixar de repercutir nos outros grupos, ou na sociedade como um todo. Em outras palavras: em primeiro lugar sofrem sim as mulheres por causa do preconceito contra elas, por causa do tratamento nesta sociedade cristã patriarcal comercial dos infernos. Elas são o alvo. Mas ora, não estamos interligados? Algo é feito sem que haja efeitos para todos os lados? Se um grupo sofre, há conseqüências para todo mundo. Se as mulheres sofrem, os homens sofrem também. O Alvo do preconceito é o primeiro atingido, sem dúvida, mas quem tem preconceito também tem problemas e sofre. E não é pouco, pois as coisas são proporcionais. É física: nenhuma energia se perde, tudo se transforma. O preconceito será que não faz maiores estragos na sua fonte? A deturpação na mente de alguém não a atinge de alguma forma? O preconceituoso prende, bate, é violento. Ele é guiado por suas idéias, que defende com todas as suas garras. Medo de perder seu espaço, medo de perder o controle, medo do caos. Medo. Quem é que vive feliz sentindo medo? É preciso sim esclarecimento, porque o medo e o preconceito levam a atos, que deixam marcas nele. A mulher pode ser ver presa pelo preconceito de seu marido, mas é uma prisão para ele também. Aliás, ela pode ser livre na mente, e ele? Será que não está muito mais preso do que ela, por achar que as coisas têm que ser assim, e não assado, e temem as mudanças? E em outros níveis, tomando o exemplo do comentario que o Danut postou, sobre as mulheres irem melhor na escola... não sei estatísticas sobre isso, mas tenho a impressão, dadas algumas experiências que tive, que pode ter sentido. Agora, vamos tomar que seja verdade, apenas para efeito de comentários, por que a diferença de desempenho? Seria porque aos meninos é dado mais liberdade de movimento, de forma (exemplos forçados ta?) que um moleque jogando bola ou praticando qualquer atividade física é legítimo, enquanto a menina deveria brincar dentro de casa, sob o olhar atento de seus tutores (pais, irmãos mais velhos, empregadas, governantas) que não só a vigiam mas incentivam e reforçam modelos de "boa menina e boa aluna" na cabeça dela, de maneira que estudar lhe parece algo mais natural? No fim dos casos, essa menina do exemplo pode ter maior facilidade na escola, porque ela recebe o incentivo para isso. Enquanto o moleque está ocupado, sendo um pequeno peralta (bola de meia, bola de gude...). Mas isso não lhe causa uma agitação mental que dificulta se concentrar na escola? E essa agitação não cria raízes que aparecerão em outras coisas no futuro? E se as coisas fossem mais equilibradas? Então, se a percepção errada do machismo causa problemas, sobra pra todo mundo! A percepção errada vai sim recair de alguma forma no mundo dos homens, de maneira que eles igualmente vão ter comportamento que lhes causam dissabores. Mesmo que eles ainda detenham o poder, já que a sociedade é patriarcal, há efeitos e problemas decorrentes do uso indevido deste poder. Exemplo simples: a estatística de assassinatos presente no comentário citado por danut. Não sei de onde é esta estatística, mas convenhamos, em senso comum: a quantos atos violentos os homens se expõem para garantir "a defesa de sua honra", atos voltados contra eles mesmos? Com o ego inflado pela percepção de um tipo de poder disponível, orgulhos se ferem cotidianamente – não é pouca coisa, pois gente morre em decorrências disso. Enfim, o problema é mesmo o preconceito. Achei interessante o comentário, pois coloca algumas coisas em perspectiva: realmente demonizar o homem não ajuda, talvez apenas inverta o sinal da mesma equação que usa as mesmas constantes equivocadas. Tem que fazer outra equação.

Loy disse...

(isso que dá ler as coisas pela metade: falei a mesma coisa que a Lola, sem querer; foi mal querida, achei que vc ia dizer outra coisa...)

lola aronovich disse...

Não foi a mesma coisa não, Loy. Vc, mais uma vez, escreveu um ótimo comentário, muito elucidativo. E aí, Danut? Já se sente mais confiante pra debater nessas comunidades do orkut?

Daniel disse...

Bem, depois de receber duas respostas desse tamanho, não posso deixar de agradecer ^^
Como meu cérebro é meio lento, ainda mais nas férias, eu salvei as duas respostas aqui no computador, e vou dar uma olhada com mais calma nelas depois. Já agora me deram o que pensar, mas quero organizar melhor minhas idéias. Aí depois eu coloco a minha opinião sobre a história.

Obrigado de novo por gastarem seu tempo respondendo essa questão pra mim :)

Rachel disse...

Então, não leio a Nova também, mas encontrei a referência pelo Google. Aí fui procurar a tal da síndrome em inglês, e aparentemente é super comum, e é bem a sensação que você descreveu. O interessante é que em alguns sites em inglês diz também que não há distinção entre homens e mulheres, todos são afetados de maneira similar (claro que a nova tinha que transformar em algum problema exclusivamente feminino). O que mais me chamou a atenção foi o fato de ser super comum entre "graduate students" - me senti representada.

Daniel disse...

Bem, vamos lá... Eu não acho que o argumento do cara seja o daquele pessoal que diz que o feminismo é o contrário do machismo. Não. O que ele diz é que feminismo e anti-sexismo são diferentes.
Tem uma diferença entre os dois. Quem diz o primeiro acha que as feministas querem que a mulher seja mais do que o homem. Ele acha que as feministas querem que as mulheres tenham os mesmo direitos dos homens. O que não é ser anti-sexista. É apenas melhorar parte da condição de um dos sexos. Porque eu acredito (e acho que o cara também) que para que a situação do homem e da mulher realmente mude é necessário que se acabe com o gênero socialmente construído. É essa construção social de gênero, que existe tanto para mulheres quanto para homens, que define grande parte das atitudes machistas de hoje em dia. Só que eu não vejo o feminismo combatendo isso.
Nem por isso acho que o feminismo deva acabar, que seja ruim. Só acho o anti-sexismo seria mais eficiente no combate àquilo que o feminismo (pelo menos de classe média urbana brasileira, que é o mundo que eu conheço) luta contra.
Deixando um pouco o comentário dele de lado e colocando o que eu penso (porque eu sei lá o que ele pensa). Concordo com a afirmativa de que feminismo não é anti-sexismo. Conheço feministas (pessoalmente e no mundo da internet) que são anti-sexistas (e o são também na prática, porque tem muitas que o são apenas na teoria). Só que algumas feministas serem anti-sexistas não faz o feminismo anti-sexista.
Bem, sobre existir descriminação ou não. Eu acho que as mulheres sofrem sim descriminação. E muita. Não vou ficar dando exemplos porque bem, vocês sabem disso muito melhor que eu né? O que eu vejo é que existe sim uma limitação a comportamentos e atitudes que o homem branco de classe média (e católico, mas aí não sou eu) pode ter. Não sei se descriminação é a palavra certa. Mas é só contar quantas vezes eu sou chamado de gay em uma semana para perceber que sim, existe algo que eu não deveria fazer. E não quero competir com as mulheres para saber quem sofre mais (vocês ganhariam longe, provavelmente). Não quero me fazer de coitadinho, sei que sou privilegiado. Só que eu acredito que se realmente se quer mudar a maneira como estão dispostas as coisas para as mulheres no mundo, precisa se mudar a maneira como são enxergados os gêneros. E aí precisa se compreender que o homem também tem um papel socialmente definido que o limita. E esse papel precisa ser combatido juntamente com o papel que foi delegado as mulheres. Isso é anti-sexismo. O combate aos papeis limitadores de mulheres e homens.
Acontece que o que eu vejo da maioria das feministas é que elas se limitam a tentar mudar as coisas para as mulheres, sem nunca tentar mexer no papel do homem. E aí é que está o problema. (nota: eu nunca li nada de teoria feminista, pode ser que na teoria o anti-sexismo apareça. Só que não vejo ele na prática da maioria, que é o que pode mudar as coisas)
Um exemplo: Sabe aquele negócio de uma mulher passar por um grupo de homens e um deles (ou mais de um) chamar de gostosa? Bem, eu vejo muita feminista reclamando dos homens, xingando eles, dizendo que a mulher tem que responder, pra que o homem pare com isso. Não acho que isso, de a mulher responder, esteja errado (ou ao menos, se estiver errado não é por motivos que importam para o caso aqui, já que nunca pensei se isso realmente seria eficaz ou não, vamos assumir que seria as vezes). O problema é que não se para para pensar o motivo disso acontecer. Os caras fazem isso normalmente quando estão em grupos. Qual o motivo disso?

Daniel disse...

Provavelmente porque eles
precisam afirmar perante a sociedade o tempo todo que gostam de mulher. Precisam afirmar que estão afim de fazer sexo com elas e não estão nem aí para elas em si.
Aí que entra a questão do gênero socialmente definido. O homem faz aquilo porque é o que a sociedade espera dele. Então se o objetivo é mudar o comportamento desse grupo de homens, afim de que a mulher possa caminhar em paz como um ser humano, é mais eficiente combater o sexismo do que xingar os homens que o fazem. Não que não se possa xingar os homens que o façam também. Que eles não são coitadinhos e merecem mesmo uns xingões. Só que não é xingando ou mesmo conversando e dizendo para os homens que a mulher não gosta disso que se muda a atitude. Isso é focar na mulher, isso é o que vejo o feminismo fazer. Só que a mulher não é o foco. O foco é o sexismo, por ser quem coloca a mulher na situação que coloca. A mulher merece atenção também, por sofrer mais, e por isso o feminismo é válido e bom. Só que melhor e mais efetivo seria um movimento verdadeiramente anti-sexista.

Bem, falei, falei, falei (até estourei o limite de caracteres) e ainda não cheguei no que vocês falaram... Aguenta aí que vem mais :P

Daniel disse...

Bem, agora sendo mais direto na resposta a vocês duas...
Olha Lola, eu não acho que sou mais descriminado que vocês, pode ter certeza. E dou autorização a me baterem se me pegarem usando o "argumento" (entre aspas, porque uma besteira dessas não é argumento) da onda politicamente correta alguma vez na vida. Eu acredito que as mulheres são, e muito, descriminadas. Só que eu acho que grande parte dessa descriminação é mais relacionada ao papel social de cada gênero do que a um ódio coletivo às mulheres pelos homens. Eu acho que é esse papel que deve ser combatido. E ele só pode ser destruído se atacado nos dois lados. Enquanto o homem tiver que ser o provedor de uma família (mulheres trabalham, mas tenta colocar um homem como dono de casa para ver o que acontece...), tiver que estar disposto a comer e falar que come mulher o tempo todo (e é comer mesmo, porque se o cara fizer sexo com é gay, só pode), enfim, tiver que fazer (ou não puder fazer) um monte de coisas porque a sociedade diz que ser homem não é isso, então a mulher também vai sofrer. Porque o problema vem justo disso. De dizer que homem é/faz assim, mulher é/faz assado. Se mulher faz X, homem não pode fazer X.
Eu não vejo o feminismo como um movimento que combata isso. Eu vejo ele como defensor das mulheres, o que é louvável, é bom e tudo o mais, mas não é a busca da igualdade plena.
Note que o comentário não fala em lugar algum que o feminismo não tem razão de ser. Ele fala que o feminismo não é uma luta pela igualdade.
E aí entramos na questão do feminismo de várias correntes que tu coloca na tua resposta. Novamente lembro que não tenho experiência com literatura feminista nem mesmo com grupos feministas organizados. Somente com pessoas que se dizem feministas, gente como a gente, sabe? Como eu acho que são esses que acabam fazendo a diferença no final das contas, muito mais que a mulher do livro tal, acho que posso falar do feminismo que "existe" no mundo (tá, existe foi uma palavra horrível... o feminismo que se vê por aí, que pode vir a mexer com as coisas). Tu parte do princípio de que ao dizer que o feminismo não busca a igualdade o cara tá dizendo que ele quer que as mulheres sejam mais que os homens. Não é isso. Isso é uma afirmação idiota e preconceituosa. O que o cara diz é que o feminismo busca melhorar a situação das mulheres sem mudar em nada a situação do homem quando ele é limitado por algum motivo. Não é a busca da igualdade, é a busca de melhorar a condição das mulheres no que está pior para elas. É algo mais ou menos como aquela pessoa que reclama e tenta mudar o fato que gurias não podem usar outra cor que não seja rosa, mas não pensa nem faz nada sobre o fato de homens não poderem usar essa cor. É isso que o feminismo faz, sabe? Ele olha para isso e diz: "Mulheres podem usar outras cores também. Porque é que estão nos subjugando e deixando usar apenas uma delas?" E aí luta para igualar a mulher ao homem. Só que esquece de mexer na parte que diz que o homem não pode usar rosa. E com isso o sexismo continua a existir. O que mudou foi o papel que cabia a mulher, só. Modifica-se um pouco o papel socialmente construído de um gênero. Mas não se fez nada contra a construção social de um papel para cada gênero.
Note-se que isso não tem nada a ver com colocar a mulher acima do homem. E mesmo assim não é a igualdade, nem enfrenta o problema em si, apenas o seu efeito.

(continua, ainda XD)

Daniel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel disse...

Nota a parte: Um outro problema que eu vejo muito no Orkut (e antes que me digam para não levar orkut a sério, eu levo ele a sério sim, porque não é nada mais que uma janela do que é a população em geral) é de feministas que colocam as mulheres com comportamentos machistas como coitadinhas, vítimas do sistema social que as ensinou a serem assim. Já os homens são colocados como os criadores desse sistema. Os homens, como eu e o vizinho do lado que toca piano a meia-noite, somos uns monstros machistas que fazemos de tudo para manter esse sistema. E que não sofremos porra nenhuma com ele. Afinal, se sofrêssemos era só pegar e sair dele. Já as mulheres sofrem, mas não conseguem sair dele porque tadinhas, nem se dão conta que sofrem. Obviamente que o homem iria se dar conta se o sistema fosse prejudicial a ele, e obviamente que ele sempre se dá conta desse sistema, mas os homens são todos uns merdas que querem se manter acima de todos.
Eu escrevi sobre isso no meu caderninho de anotações virtual (também chamado de blog o/). É em parte o que eu disse acima, mas só me lembrei de pegar agora. Segue abaixo então. É o que eu vejo acontecendo, principalmente no orkut (mas não só nele):
As mulheres são apenas vítimas do sistema. A sociedade as criou para serem de determinada maneira. São seres quase que dignos de pena, porque tem que arcar com toda uma pressão da sociedade para serem da maneira que essa sociedade machista quer.
Já os homens, esses são os merdas que criaram esse sistema. Os homens tem plena consciência do sistema, e fazem de tudo para manterem as mulheres abaixo deles, já que o sistema os beneficia. E obviamente eles não perdem nada nisso. São machistas porque querem, os homens. Todos eles. Não sofrem nada com esse sistema. Afinal, se sofressem, era só sair e se juntar as mulheres.
Ignore-se que homens e mulheres são criados na mesma sociedade e, portanto, se um é condicionado a determinado comportamente pela sociedade, o outro também é tão condicionado quanto (embora a comportamentos diferentes).
Ignore-se o fato de que se 99% das mulheres tá em condição quase que totalmente inferior e mesmo assim não se dá conta do machismo existente, faria algum sentido supor que aqueles que tem menos desvantagens também não perceberiam isso.
Ignore-se que qualquer homem que pisar fora da linha de machão é massacrado pela sociedade de maneira igual ou pior a da mulher que pisa fora de sua linha. Ignore-se que aí ele perde o apoio da sociedade como um todo e
continua a ser esmagado por aquelas que se dizem feministas.
Ignore-se o mundo. Homens são machistas porque querem. Sempre.


Bem, o que a nota a parte tem a ver com o teu post? É que as teorias podem até discutir a questão do gênero, do papel da mulher e do homem. Algumas feministas até podem levar isso em consideração, até na prática (não te conheço além do blog, mas acho que tu seria uma dessas). Só que não é o que vejo na prática em geral, sabe? É mais ou menos como as idéias de Marx. Dizem que elas são muito melhores que o que foram os governos socialistas. Mas de que adianta a teoria e uma pequena minoria das pessoas dizerem uma coisa se a prática diz outra?
Feminismo para mim não é a teoria, é a prática. A teoria é apenas um meio de se chegar a uma prática. Pode até ser que a teoria feminista busque a igualdade, mas o feminismo eu não vejo buscando isso.
O conceito de masculinidade e feminilidade que tu fala é a chave de tudo para mim. E é eliminando ele que se melhoram as coisas. Acredito que com tanta gente inteligente escrevendo teoria feminista, já se deve ter percebido isso, é claro. Só que isso se perdeu em algum lugar na transição da teoria para a prática. O feminismo prático foca demais na mulher e acaba por se esquecer dos conceitos que são a razão de tudo.

Daniel disse...

Agora dirigindo minha resposta a Loy... (como acho que já me repeti umas tantas vezes, vou tentar ser bem mais breve).
Olha, essa idéia de que o autor da ação preconceituosa também sofre em todos os casos realmente me deixou pensando.
Porque eu poderia listar uns mil motivos pelos quais eu sofro, em maior ou menor grau, na questão de gênero, mesmo sendo parte do grupo opressor (por exemplo, sou chamado de gay por 357 mil motivos, como por ter me recusado a fazer sexo com a guria que namorava porque ainda não me sentia preparado). Agora, eu nunca parei para pensar no opressor em si, na real. Porque eu sou do grupo opressor. Sou homem. Mas eu não me considero um opressor (tenho atitudes machistas, mas até onde minha consciência atinge eu mudo isso). Então não sei como fica o opressor em si.
Mas acho que o opressor também sofre. O cara que oprime a mulher a ser sexualmente comportada, por exemplo, acaba por sofrer com a pressão para que ele seja sexualmente ativo (afinal, se não for se iguala ao grupo oprimido). E assim vai... No final a opressão é ruim a todos, só que o opressor nota isso ainda menos que o oprimido, e por isso continua a oprimir.
Sobre a escola, acho que tem mais a ver com a idéia de que menino que é macho não pode estudar do que com a sua liberação para fazer outras atividades. É aquela coisa, se mulher faz X (estuda), então homem que é homem não pode fazer X. A liberação para outras atividades até pode ajudar, mas eu vejo mais como algo que é desencorajado porque é algo que as mulheres fazem.