terça-feira, 25 de agosto de 2020

GUEST POST: MEU AMOR PELOS ANIMAIS FOI DECISIVO PARA ME TORNAR VEGANA

Publico hoje um excelente texto da musicista Guidi Vieira, colaboradora frequente do blog. 

Sempre fui apaixonada por comida. Dos quatro filhos que minha mãe teve, fui a única da qual ela precisou esconder comida na infância –- principalmente os doces. Todos adoravam comer, mas gula desmedida, mesmo, só eu. Lendo o meu primeiro diário (o único que guardei da infância e adolescência), escrito dos 7 aos 8 anos, vejo que há diversas descrições do que eu comia no café da manhã, dia após dia.
E quando digo que amo comer, não é nada relacionado a restaurantes, comidas refinadas, gastronomia cara, requintes. Nada disso. A comida que se considera mais simples me deixa com água na boca. Comida de almoço caseiro, sabe? É dessa que eu fico lembrando, dias a fio. Chega a ser quase romântico.
Vez ou outra, constranjo os outros com a minha fome: como a panqueca intacta que alguém deixou no café da manhã de um hotel. Como o aipim da mesa ao lado, no bar que oferece refeições. É este o nível de deselegância da minha gulodice. Sempre fico rememorando os sabores que senti em uma festa de aniversário (“e aquele bolo?”), ou o almoço que meu colega fez, despretensiosamente (“e aquele feijão, Jesus!”). Esse é um de meus traços mais marcantes: sou um ótimo garfo.
Esta introdução tem como intuito mostrar o que a comida significa para mim.
E esta explicação sobre o quanto a comida está no topo dos meus prazeres é para mostrar o quanto foi curioso tornar-me vegana. Eu achava que isso seria impossível. Não pela carne, pois já havia ficado dois anos sem comer carne alguma (eu fazia yoga e a coisa foi fluindo, naturalmente –- infelizmente voltei a comer, por pura falta de foco), tempos atrás, e não tinha sido nada difícil
Minha questão, assim como a de tantas outras pessoas, sempre foi em relação ao leite e aos laticínios. Acho que café com leite, queijo e manteiga são alimentos que, se não nos trazem lembranças afetuosas (infância, casa da vó etc), estão arraigados em nossa rotina, nosso dia a dia. Almoços sem carne não são exatamente um mistério (a configuração arroz-feijão-legumes não é incomum em um prato de uma família brasileira, eu diria), mas um café da manhã sem manteiga e sem leite é algo quase “impraticável”.
Esta questão vinha me incomodando há tempos. Eu sentia que estava devendo uma reflexão maior sobre este assunto. Sentia que este era um tópico pendente em minha vida. Por que eu gostava tanto deste universo (vegetarianismo/veganismo) e permanecia fazendo tudo do mesmo jeito? Por que admirava tanto quem estava nessa luta, mas não aderia a ela, fugia do assunto, com medo de descobrir cada vez mais detalhes sobre o que eu consumia? 
Eu me considerava uma verdadeira refém dos alimentos que amava. “Não conseguiria” abrir mão do prazer de provar um bolo de aniversário bem molhado, feito com leite e ovos. “Não conseguiria” abrir mão de um delicioso iogurte com granola. “Não conseguiria” nunca mais comer o pavê que sei fazer tão bem, à base de creme de leite, e que eu como desde a infância (receita de minha mãe).
À época de meu ovolactovegetarianismo (2010-2012), aproveitei para ver os filmes A carne é fraca e Terráqueos, e também para ler alguns livros sobre alimentação sem carne. Tudo ajudava, tudo reforçava o que eu estava fazendo. Mas ainda era muito mais uma questão física. Porém, quando me mudei para onde estou agora (uma rua sem saída, com jeito de roça, onde há muitos cães e gatos de rua vagando), as coisas começaram a mudar, lentamente. Me aproximei mais dos animais. Parece que voltei um pouco à infância, quando eu era louca por cachorro, gato e porco (este último sempre foi meu bicho preferido). 
Fui sentindo novamente aquela proximidade com os bichos, proximidade que a maioria das crianças sente. Fui ficando cada vez mais alegre quando algum gato ou cachorro invadia o quintal. Eles foram se tornando, aos poucos, um assunto frequente em minha cabeça e em minhas conversas com amigos.
Voltei a ver filmes, voltei a ler sobre o assunto. Mas, desta vez, sem fugir dos ovos e laticínios: vegetarianismo estrito. E fui não gostando mais de comer estes alimentos. Não queria mais experimentá-los. Na última vez que fui tentar comer queijo ralado no macarrão, veio à minha mente a imagem de diversas vacas marchando em direção à própria morte, direto das fazendas de leite para os abatedouros. Não tinha mais graça. Era um desprazer. Devo admitir que tive certa sorte por esta relação direta ter vindo de forma tão forte, uma espécie de “bloqueio natural”. 
Facilitou enormemente o processo. E o fato destas imagens virem com tanta nitidez no meu filminho mental fez com que este tipo de comida não tivesse mais o caráter de tentação para mim. São comidas ruins, hoje -– não pelo sabor, mas sim por sua trajetória, sua história, o que estas corroboram.
Fui entendendo que a tal coerência que eu tanto queria finalmente estava sendo alcançada. A coerência de amar os animais e não comer nenhum deles, nem tratar a tortura sofrida por eles como algo que não me dizia respeito. Meu sentimento e minhas ações, finalmente, passaram a conviver em harmonia.
Hoje, meu pão com azeite me satisfaz totalmente no café da manhã. Ou só mesmo um belo suco verde, não coado. Meu lanche da tarde pode ser uma deliciosa tapioca com tomate e cheiro verde. Tudo mudou. Quase todas as minhas referências antigas ficaram lá no passado. Me delicio com outros sabores, antes desprezados, ou experimentados muito raramente. De quebra, tudo bem mais saudável. E também mais fácil e barato, incondicionalmente. Porque nada disso faria o menor sentido se fosse para ser elitista. A luta vegana, para mim, é essencialmente anticapitalista. Uma luta contra uma visão que percebe os animais (inclusive os animais humanos) como produtos.
Outra coisa que corroborou a questão da coerência foi: se admiro tanto a ideia de boicote (sempre lembro de Rosa Parks e o boicote aos ônibus de Montgomery); se vejo tanto sentido nas sanções a países genocidas; em suma, se acho que fissurar o capitalismo é uma das formas mais eficazes de se fazer entender uma questão importante, ser vegana era um caminho óbvio para mim. Boicote total à indústria do sofrimento e à escravização dos animais. Não financiar o horror. Demorei a entender que esta era mais uma forma de fazer aquilo que Günter Eich recomendou: “Sede incômodos; sede areia, não óleo, nas engrenagens do mundo”. 
Meu boicote também é ao couro, a empresas eticamente incorretas (estou sendo educada) e tudo aquilo que reforça a exploração animal. E tudo na medida do possível, é claro: me mantenho atualizada sobre as empresas livres de crueldade -– estas informações não são nada difíceis de se obter -–, mas também não me martirizo por não conseguir comprar o macarrão mais adequado, que não está disponível para venda aqui, onde moro. A sociedade ainda é extremamente antivegana, ainda há muitos percalços neste caminho. Mas sigo (seguimos) em frente. E já vejo muitos avanços no mundo, ao mesmo tempo.
Há diversas razões para que alguém queira se tornar vegano. No meu caso, foram os animais. Quando me conectei de vez com eles, vi que o que eles me proporcionavam era muito mais profundo do que qualquer momento fugaz em uma mesa -– mas, principalmente, entendi que o que eles sofrem é muito, muito mais grave e sério do que qualquer sabor que eu queira sentir. (E penso que mesmo aqueles que nem gostam de animais deveriam ter um olhar crítico e honesto sobre o horror que eles sofrem em nossas mãos. O amor é um bônus, um extra: procurar ser justo já é o suficiente para não querer compactuar com a objetificação de seres vivos.)
Continuo amando comer. Só que como outros alimentos, hoje. Minha paixão continua a mesma, ainda mais maravilhada, pois agora não há um sentimento subterrâneo, ali, estragando o barato.
A ideia, com este texto, era falar da minha experiência, dar um breve relato pessoal, apenas. Contar como o processo acabou sendo natural, e não forçado, nem movido por uma culpa que alguém quis introjetar em mim. Considero que foi uma conscientização extrema e irreversível exatamente porque foi de mim para mim mesma. Foi um processo silencioso, e também longo. E o que eu quero, ao falar dessa minha experiência, não é atacar a pessoa não vegana: o que eu quero é atacar essa ideia incrustada, que prega que os animais estão aqui para nos servir. 
Não tenho a intenção de fazer um jogo judaico-cristão de culpa com indivíduos, porque considero isso não só pouco criativo (lugar-comum total: a gente cresce cheia de culpas e isso só serve para que fiquemos mais cheios de raiva, depressivos, sexualmente reprimidos, suicidas, o escambau -– eu realmente odeio a culpa como método), como também pouquíssimo efetivo. Mas vou sempre reiterar: os animais têm tanta vontade de viver quanto nós. E o mesmo medo de morrer.
Entendo perfeitamente os veganos que se impacientam, que são incisivos, que brigam. Querem mudança, exigem uma atitude adulta de nós, seres humanos, que poderíamos, ainda hoje (agora!), acabar com o sofrimento dos animais não humanos, tirando-os do prato. Acham inadmissível que a crueldade continue acontecendo, normalizada. E entendo perfeitamente os veganos que procuram um diálogo, que tentam ter uma abordagem mais suave. 
Querem tornar o veganismo menos assustador, querem atrair mais pessoas -– diminuindo, assim, o número de mortes de animais. Entendo e respeito estas duas formas de lutar. Estou do lado de ambos os grupos, pois os dois estão lutando pelos animais, que não têm voz.
Daqui, fico na esperança de que alguém que leia isso e que esteja com medo de fazer esta importante transição consiga ter força e coragem para seguir em frente com a ideia. Sei que este texto só pode tocar quem já cogitou, quem tem uma mínima abertura para esta possibilidade. Não é uma tentativa de falar para quem odeia o assunto. Eu não sou ingênua a ponto de achar que posso “convencer” pessoas que se irritam só de ouvir falar neste tema.
Para quem está há tempos considerando o veganismo, mas se acha incapaz, digo que o esforço é recompensador e delicioso. E que é totalmente possível virar a chave, mudar a lógica, o gosto. Como consequência deste esforço, a conexão com os animais cresce, fica mais intensa. Eles passam a nos fascinar ainda mais. E, curiosamente, nosso respeito por nós mesmos também cresce. Sejamos veganos.

32 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde, Lola. Sugiro um artigo. Ou não. Você não tem idade para tê-la visto. E há poucas fontes de pesquisa. Mas morreu ontem Xênia Bier.
Lerá que essa apresentadora de TV se dizia feminista. E o era. Mas não é difícil imaginar que entraria em choque com algumas feministas de hoje. Já naquela época falava de um excesso de reclamismo de certas moças "liberadas".
Peguei um feminismo dos anos 70, bem diferente do de hoje. No suplemento feminista "As cariocas" li que era melhor no poder um homem chamado Ernesto (Geisel), que transferira o pagamento da licença-maternidade para o então INPS, que uma mulher como Indira Gandhi.
Um feminismo mais iluminista, mais igualitário e menos identitário.
Veja as notícias sobre ela.
Boa tarde.

Anônimo disse...

Pessoas que se importam com animais são maravilhosas. Parabéns! ❤️🌻

Para os desinformados, existem vitaminas veganas para suplementação. E também, para variar o cardápio uma vez perdida com industrializados, existem bons queijos veganos e ótimas carnes veganas também.

Anônimo disse...

Sinceramente, quer ser vegana, ótimo para você. Mas achar que ser vegano é lutar contra o capitalismo é uma ingenuidade. Não foi o capitalismo que inventou o consumo de carne. Antes do capitalismo já se consumia carne, mesmo os povos originários que bravamente resistem com seus estilos de vida - é que estão muito mais conectados com a natureza - consomem carne. E o capitalismo vai incorporar o seu veganismo, não tenha dúvida. E vai aplicar a mesma lógica para a produção de vegetais. Aliás, já aplica. É só ver o problema do abacate e da água no Chile. Vai pesquisar e você vai ver o que a explosão do consumo milenial do abacate (pra ficar em um exemplo) fez em comunidades que sempre produziram e consumiram esse produto.

Anônimo disse...

Eu conhecia esse nome, Xênia, das colunas de revistas ditas "femininas", mais popularescas, tipo Contigo, AnaMaria. Na minha cabeça e ignorância, tratava-se de um personagem, não de uma mulher real, por causa do tom e humor peculiar. Foi lendo ontem a coluna da Luciana Bugni do UOL Universa, que descobri que era uma mulher real, que foi apresentadora, jornalista, feminista e tudo mais. Uma figura importante na TV dos anos 1970, 1980.

Anônimo disse...

A desvantagem dessas carnes vegetais é que estas são bem mais caras que as de origem animal. um simples bife de castanha ou soja custa 10 pilas uma unidade de 100 g. Mais caro que carne bovina!! Como eu sou da terra do churrasco fica difícil! Mas adoro restaurantes vegetarianos, com a fartura de pratos para comer à vontade. Também adoro doces e vinhos, e aí novamente o problema do custo, visto que os leites vegetais igualmente são bem mais caríssimos que os leites animais. Portanto para quem é pobre não tem escolha, é comer frango no almoço e jantar e usar leite de vaca ou cabra na hora de preparar as sobremesas!!!!

Juliana disse...

Olá Guidi, hahaha. Adorei seu texto. Pessoas comilonas me encantam. Pessoas comilonas e veganas então... Nem se fala. Beijos grandes.

Anônimo disse...

Estou tentando reduzir até eliminar o consumo de carne, qualquer uma (exceção para peixe, talvez). Continuo consumindo Leite, ovo, queijos, iogurte, essas coisas. Quase zerando os ultraprocessados, na medida do possível. É verdade, esses alimentos veganos, vegetais orgânicos, são muito caros, mesmo para mim que moro sozinha. Um pé de alface orgânica a 10 reais, leite de castanha ou amêndoa a quase 15, os de soja já custam no mínimo cinco conto.... Uma família pobre, numerosa, não tem a menor condição :(

Anônimo disse...

Paola Carosella prova burger vegetal que 'imita' carne e dá o veredito: 'Uma b*sta ultraprocessada"

“Gorduroso, pastoso, desagradável", desabafou a chef argentina.


https://www.google.com/amp/s/www.huffpostbrasil.com/amp/entry/paola-carosella-carne-vegetal_br_5d8d191de4b0019647a5ab4e/

Denise disse...

Adorei o texto! Já tem um tempo em que penso em fazer a transição pelo menos pro vegetarianismo. Mas me falta apoio (meu marido é ferrenho carnívoro e nossa filha menor idem) e o cansaço do dia a dia segue adiando essa decisão. Meu filho mais velho desde bebe nunca gostou de carne, come raramente, então eu tento diminuir o consumo junto com ele. Mas a transição para o veganismo eu ainda não contemplo, pelos motivos que o texto falou, pela dependência do leite e derivados.

Guidi disse...

Eba, Lola! Grata demais pelo espaço. Um grande beijo

avasconsil disse...

Até queria sentir um bloqueio natural por carne e outros alimentos de origem animal. Mas não sinto. É que nem o barato da atividade física. Já tentei, mas nunca aconteceu comigo. Em 2018 paguei um personal trainer durante 06 meses. Depois do treino nunca senti sequer um baratinho. Nem a mais minúscula gotícula da famosa sensação de bem-estar, com disposição aumentada depois da ginástica, correndo pelo meu sangue e fazendo alguma diferença no meu humor. Nada. Só sentia o cansaço mesmo. Emagreci, é verdade. E meu fôlego deu uma melhorada. Mas não foi suficiente pra eu engrenar. Desisti do personal e desde agosto 2018 não ponho os pés numa academia. Ia voltar agora em 2020. Mas veio a covid... Com relação à carne, principalmente a vermelha, venho aplicando o entre o 8 e o 80 tem o 40. Tenho comido menos. Como tenho muita facilidade pra gostar de comida, consigo ficar longos períodos sem comer carne em geral. Mas quando dá vontade de comer vou e como. Acho que se eu tivesse mais proximidade com animais que na nossa cultura servem de alimento, ver nascer, cuidar, alimentar, ver crescer, como acontece ou já aconteceu com cachorros e gatos, seria mais fácil desenvolver o bloqueio. Como, porém, nunca tive proximidade com bois, vacas, porcos e galinhas, tem valido pra mim o longe dos olhos distante do coração. Tem uns veganos que são chatinhos que só. Se acham moralmente superiores a quem não é vegano.Igual ateu. Tem uns que são um porre, se acham mais inteligentes do que os teístas, só por causa dessa diferença em particular... Quando a coisa vira seita é um saco, seja ela qual for.

Jane Doe disse...

Eu sou vegetariana. De origem animal ainda só como queijo, ovos e muito raramente peixe. No Brasil esse estilo de alimentação está começando a engatinhar. Nossas leis de proteção animal são vagas, e mesmo se existissem, quem iria fiscalizar?
Moro na Europa e fica a um pouco mais fácil de saber a origem dos alimentos e tentar escolher produtos de fazendas "mais humanizadas"...
Mas não se enganem, aqu também está muuuuuuuito longe de ser o paraíso do bem.estar animal que eles costumam vender na mídia. Ja fez muito progresso Mas está loooonge do ideal.
Tento sempre fazer o melhor possível, da maneira mais sustentável possível. Também estou muito longe de ser exemplo pra alguém. Mas eu tento fazer minha parte.

E concordo - seja qual for seu ideal sair gritando e insultando pessoas, chamado-as de assassinas, torturadoras etc. ser inconsistentes, abrir o olho para uma coisa e fechar para outra quando convém nunca fez e nem nunca vai fazer pessoas pararem pra pensar no problema...

Anônimo disse...

Que texto ótimo! Inspirador. Só faltou avisar que o consumo de carne também faz mal para o planeta.
Meu filho tem alergia a leite e por isso cozinhamos sem laticínios. Comemos relativamente pouca carne, umas 2x na semana mais 1x peixe, as vezes nem isso. A questao nao é substituir o leite e a carne por versoes vegetais e sim simplesmente deixar de fora. É cozinhar por exemplo uma polenta mole com vegetais cozidos, um macarrao com molho vermelho (meu filho gosta de polvilhar com farinha de mandioca) e salada, uma abóbora assada Como prato principal, uma sopa cremosa de ervilha com leite de coco, um risoto só com vegetais, alem, claro do bom arroz com feijao.
Nao dá para querer fazer um fricasse de frango no creme de leite gratinado com queijo versao vegana, vai ficar caro e nao vai ter o mesmo gosto. Também precisa sempre ter sobremesa? E ainda quase sempre com leite (condensado)?! Frutas sao ótimas sobremesas. Sorvete de banana é delicioso.
Outra coisa que fazemos é cozinhar usando carne com parcimônia botando muito legume junto, melhor para a nossa saúde e pro planeta. Um molho de carne lá em casa tem pelo menos 3 vezes mais legume que carne. Um hamburger vai ter metade carne e metade lentilha (a vermelha é ótima para isso).
Pelo bem do planeta tenho substituido a carne de vaca pela de porco ou ovelha (nao gosto muito de frango). A pegada de carbono que um bife de vaca deixa é bem maior que de outros animais.
Agora bolo sem ovo nunca consegui fazer um que ficasse bom. Pelo menos compro orgânico na feira direto do produtor e faco pouco bolo.
No café da manha e lanches é onde mais consumimos laticínios, salami, presunto, mel, as vezes rola um ovo cozido ou omelete. Temos muito a melhorar nesse quesito.

Guidi disse...

Sim, se fossemos todos como os povos originários, este problema nem estaria em pauta: a natureza estaria em equilíbrio, os animais teriam uma vida digna (até a morte deles seria muito menos dolorida: não envolveria tortura). No Brasil, os povos da floresta são os verdadeiros guardiões das matas e dos rios, um grande lar também para os animais (pena que temos desprezo por estes povos, e só os mencionamos neste tipo de caso -- para defender o consumo de carne, por exemplo). Mas o capitalismo, ele mesmo, começou a utilizar os animais em escala industrial. São estuprados e inseminados artificialmente, nascem em quantidade muito maior do que se estivessem na natureza (caso dos bois e vacas ou dos galos e galinhas). Nada parecido com a vida em uma aldeia. Nada mais distante, na verdade.
E o tal do capitalismo não vai incorporar o "meu" veganismo, não. Vai incorporar o veganismo dos Dados Dolabellas da vida (putz), ou até das musas fit, sabe? Gente que chama de "baratinho" um produto de 30 reais. Para quem não tem grana e mora em um lugar periférico, como eu, a solução é maravilhosa e barata: não sair da seção de vegetais do mercadinho do bairro + cozinhar muito. Como é bom ser vegana e anticapitalista! 

Anônimo disse...

Anônimo de 18:21, grato pela resposta.
A quem se interessar, publiquei hoje artigo no jornal "Diário do Nordeste" sobre Xênia.

Guidi disse...

18:23 e 22:10 --> foi crucial, fundamental, saber da existência de pessoas pobres fazendo culinária vegana. Se não, eu continuaria convicta de que o veganismo era para poucos, jamais para mim. Há muita gente batendo insistentemente nessa tecla, de que o povo tem que fazer parte disso -- a galera do afroveganismo, então, é a mais assertiva. Foram eles que conseguiram me mostrar, de vez, que eu conseguiria. Em especial a Carla Candace (no instagram: @vegana.semgrana ). Para quem estiver reticente por esta razão (financeira), sugiro dar uma olhada nela, só para curtir os pratos que ela faz, sem pressão, sem receio. Só ver. É inspirador.
Aqui em casa eu não utilizo carne de soja ou algo parecido. Apenas coloco os vegetais como prato principal (couve gratinada, quibe de forno de abóbora etc.). Fiz três vezes carne de casca de banana e ficou bem gostoso, mas prefiro continuar como estou fazendo. Não sinto essa vontade de "substituir" a carne, pessoalmente.
E o leite que mais uso é o de amendoim. Se eu for até o Centro da cidade e comprar no empório, economizo muito (isso para todos os temperos, para aveia etc. -- empórios são amigos do nosso bolso). Na verdade, uso amendoim para quase tudo (sorvete de banana e amendoim, pasta de amendoim na tapioca, leite de amendoim, granola). É curioso como no veganismo a gente vai redescobrindo os alimentos e criando verdadeira devoção por eles... As perspectivas mudam muito, e as vontades também.

Anônimo disse...

Cozinhar muito: puxado para quem passa o dia todo trabalhando, leva duas horas dentro de transporte público para chegar ao trabalho e as vezes mais de três horas para voltar do trabalho para casa. O cansaço dessa rotina diária nos engole e a disposição para cozinhar e fazer outras coisas vai para o ralo. Aí a gente acaba partindo pros sanduíches, pizzas, milho, biscoitos, enfim coisas rápidas que não dão muito trabalho :(

Anônimo disse...

Lola, meu último comentário foi com meu email acidentalmente. Peço por favor, se puder, para remover meu endereço de email. Não foi nada agressivo ou desrespeito mas prefiro comentar como anônima. Obrigada

Anônimo disse...

https://m.youtube.com/watch?v=5j5bKbvD6lg

Lola Aronovich disse...

Oi, anon das 12:42, não foi com seu email não. Pelo menos eu não consegui decifrar de qual comentário vc está falando.

Anônimo disse...

Oi Lola!!
Tudo resolvido, não se preocupe. Obrigada!!

Meggasaber Blog disse...

interessante, gostei do artigo.. Nos faz pensar,neste maneira como vemos os animais!!

Kasturba disse...

Me tornei ovo-lacto em 2014. Foi de repente, de um minuto pro outro. Eu estava lendo sobre aquele festival de carne de cães que ocorre na China, pensei na minha cachorrinha, achei um absurdo alguém achar que tem direito a dispor e tirar a vida de um cão, aí pensei em uma vaca e entendi que não havia diferença entre um e outro. Naquele momento virei pro amigo que estava ao meu lado e falei: decidi parar de comer carne. E parei.
Fiquei assim até 2016, quando decidi parar de comer os demais derivados, e parar com qualquer outro tipo de exploração. Também foi uma decisão repentina: vou virar vegana, e virei.
Fiquei assim até 2018, quando, no último mês de gestação, tudo começou a desmoronar...

Eu estava muito sensível com a minha gravidez e chorava o tempo todo. Também, minha família estava vivendo uma briga muito chata, além de questões relacionadas ao trabalho e à própria gravidez, e foi meu marido que me convenceu que se eu abrisse uma exceção e comesse a minha "confort food" uma vez só, isso não iria tornar a minha luta menos legítima (não estou culpando ele não, quem decidiu comer fui eu, ele apenas quis fazer algo para que eu parasse de chorar sem parar). Comi a tal "confort food" (que é big mac), e no dia seguinte quis outro, e depois outro... Aí pensei "só até o bebê nascer, depois paro". Aí o bebê nasceu, e eu pensei "só até o puerpério acabar, depois paro"... e passou o puerpério, e eu: "só até a introdução alimentar do bebê, aí vou ter que parar porque o bebê vai ser vegano, eu tenho que ser também"... E assim fui, até hoje... Meu bebê está prestes a completar 2 anos de idade, e eu ainda estou dando "escapulidas" aqui e ali...

Me sinto tão mal, porque na realidade quando me tornei vegana, foi sim por achar um absurdo, antiético e criminoso tudo o que fazemos com os animais... e ainda acredito em tudo isso, mas depois dessa minha primeira "recaída", tem sido tão difícil conseguir voltar... Há quem me critique por eu não ser mais vegana (fico muito triste em admitir que não sou mais vegana) e "forçar" meu bebê a ser, mas a verdade é que eu me considero uma viciada em derivados animais, e não quero ensinar esse vício pro meu filho. Se eu fosse alcoólatra, certamente faria de tudo pra manter meu bebê longe do álcool, e é assim que me sinto em relação a derivados de animais. Eu adoraria nunca ter comido nada disso, assim seria muito mais fácil, pois eu não sentiria falta.
Na frente do meu filho não consumo alimentos de origem animal, só escondida dele, como se fosse um crime (e é). Mas estou conseguindo diminuir, e acredito que vou conseguir.

Só um desabafo mesmo...

Kasturba disse...

Ah, sobre quem disse que ser vegano é caro: Isso é absolutamente uma mentira.

A comparação feita é sempre de modo desonesto: compara-se uma alimentação onívora simples (macarrão e salsicha) com uma refeição vegana requintada (cogumelos frescos e castanhas importadas). Mas a verdade é que, assim como um onívoro pode consumir de frango a lagosta, um vegano também pode consumir de couve a trufas.
Uma refeição vegana simples é composta por arroz, feijão e legumes. É mais barato do que o mesmo prato acrescido de algum tipo de carne.

E leites vegetais também variam o preço demais. Leite industrializado de avelã é realmente caro, mas leite caseiro de inhame ou de amendoim é mais barato que leite de vaca, e é bem simples de fazer...

O maior elitismo do veganismo não é no preço da comida, e sim na informação que muitas vezes não chega nos locais mais simples, de que é possível ser saudável sem explorar vidas animais.

Guidi disse...

Ah, sim, vai ficar difícil para quem já não cozinha por pura falta de tempo. Para quem já consegue cozinhar, se ajeitando como dá e fazendo a marmita para a semana, só vai mudar o tipo de comida que cozinha. A Carla Candace (@vegana.semgrana) fala sobre isso em um post. Ela tem dois trabalhos: instagram.com/p/B7v4di8FCYh/

Guidi disse...

Força, Kasturba -- passamos uma vida inteira comendo alimentos de origem animal, é quase uma covardia a força desta memória frente à nova vida com os vegetais. O afetivo é muito forte (confort food, como você mencionou). É muita memória, são momentos demais ligados à carne, ao leite, aos ovos e ao mel.
Uma coisa que alguns veganos fazem é sempre ler sobre o assunto, ver filmes. Para lembrar do que os motivou a esta transição. Senão a gente se perde, mesmo, e a razão inicial fica lá, distante. Eu mesma me mantenho sempre ligada neste universo, para que a força das coisas que vejo (palestras, vídeos, livros) seja maior do que a avalanche de informações normalizando a morte dos animais.
Concordo totalmente em relação a seu filho. Para o bem dele, você o está protegendo desses alimentos que viciam e fazem mal à saúde. E quem sabe não será ele um grande estímulo para ti, pelo simples exemplo?
Beijos

Anônimo disse...

Esse último parágrafo é o ponto. A informação chegar até às pessoas mais simples. Como vc disse, arroz, feijão, legumes e salada sai bem mais em conta do que o mesmo prato com carne. Vegetais comprados em qualquer feira ou sacolão. Sendo assim, sou quase vegana já.

Anônimo disse...

Tenho tentado eliminar ou reduzir muito o consumo de carne e ter uma alimentação mais saudável. Devido a uma situação de perda e luto, e também a pandemia, estou temporariamente na casa da minha mãe. Entre as inúmeras dificuldades da convivência após muitos anos ambas vivendo sozinhas cada uma com sua vida, está a questão da comida. Ela prepara refeição mais que eu, eu nunca fui de cozinha. Por mais que eu peça, explique, implore, ela sempre faz muita carne, paneladas de carne, comida (estamos só nos duas mas ela cozinha como se ainda fosse para seis pessoas). Sempre com muito óleo, cheio de óleo. Não adianta fazer no forno, porque mesmo assim tava óleo. A boca chega a ficar ensebada. Não adianta falar, ela continua fazendo do mesmo jeito. Ela diz que não liga porque tem 76 anos e não se preocupa com ganho de peso. Mas eu me preocupo, não cheguei aos 50 mas não tenho mais 18, 22, 25 anos, não quero ganhar peso. E tenho problema de fígado e gastrites, como ela sabe, passo muito mal. Tem dia que como porque odeio jogar comida fora mas tem dia que me irrito com tanta teimosia e me recuso a passar mal e não como. Odeio desperdício de qualquer tipo. Sempre tem muita comida sobrando. Toda vez que tento preparar algo, sem carne, com pouca gordura, ela reclama, ou quando vou ver ela já está mexendo com comida. Complicado.

Anônimo disse...

Complicado convencer pessoa mais idosa a adotar novos hábitos. Pior é que minha mãe por recomendação médica também não deveria comer tanta carne, tanto óleo, tomar tanto leite, pois tem problemas no intestino. Mas teima, depois fica com a barriga inchada e cheia de gases, fica com dor de barriga.

Ana disse...

Gostei muito do texto e da reflexão proposta. Sou vegana há uns 2 anos e meio, depois de ter passado uns 5 anos ovolacto, e 2 anos comendo apenas peixe (entre as carnes).
Eu sempre soube que existiam vegetarianos, mas nunca refleti sobre o porquê de ser assim. Via artistas na TV, e tinha uma colega da escola, mas nunca falamos sobre o assunto. Na faculdade, fiz um trabalho sobre direito dos animais, baseado no livro Vida Ética (Peter Singer), e também assisti ao documentário Terráqueos, e isso foi um "clique" na minha cabeça.
Eu era daquelas pessoas que amavam carne, pra mim, não era refeição se não tivesse carne (ou ao menos queijo). Mas entendi que minhas ações precisavam estar alinhadas ao que eu acreditava, e por isso decidi fazer essa transição.
Inicialmente, fiz pela compaixão e respeito aos animais, e só depois tive contato maior sobre o impacto ambiental da indústria da carne. No meu caso, eu precisei pesquisar e ler muito sobre a produção de leite e ovos pra conseguir me tornar vegana, pois gostava muito de comê-los (especialmente o queijo - depois soube que ele possui componentes considerados opioides, que causam dependência). Ainda assim, tive que marcar uma data pra mudar, pois percebi que se eu continuasse apenas tentando evitar os produtos, mas comendo de vez em quando (o que às vezes significava uns 5 dias na semana), nunca daria o próximo passo.
Enfim, posso dizer que o veganismo me abriu pra inúmeras outras reflexões sobre o mundo, e sou muito grata por ter conseguido pensar fora da caixa, e agir de acordo com meus valores éticos. Espero que mais discussões sobre o assunto surjam dentro da esquerda (acho que a vertente que mais aborda o vegetarianismo é o ecossocialismo - aliás, seria ótimo se a Sabrina Fernandes do @teseonze fizesse uma participação aqui no blog).

Analice disse...

Olá, Lola...tudo bem! Obrigada por esse lindo relato. É faz tempo que venho analisando a possibilidade de transição. Engraçado, que no meu caso, eu desde criança não suportava comer carnes, nenhuma. sempre tentavam me forçavam a comer, muitas vezes jogava no lixo ou dava aos meus irmãos. Contudo quando entrei na universidade e precisava viajar, trabalhar e pousa em casa de amigos para estudos ou trabalho. Eles demonstravam um certo descontentamento e aborrecimento, como se eu estivesse esnobando ou nojo de quem estivesse fazendo a carne. E me faziam constrangimento sobre não comer carne. Eu era a fresquinha da turma. Eu sentia nojo mesmo. contudo com o tempo comecei a comer, mas hoje como muito pouco e amo criações domesticas, mas não consigo comer minha criações. E lendo esse relato, comecei a entender o que me acontece. Vou começar a pensar com mais atenção e ir começar a fazer sempre muitas neuras e cobranças.

Anônimo disse...

Faça o que é melhor para você e deixe os outros para lá. Se te encherem a paciência, mande-os para aquele lugar, ninguém paga as tuas contas, estamos no século 21, as pessoas tem o direito de escolher o melhor para suas vidas (desde que assumam as dores e delícias das escolhas e não prejudiquem os outros). Sucesso e grande abraço!