Reproduzo hoje este lindo texto que Ana Luiza Marques, que mora em Lisboa, publicou no Medium.
Desde que me entendo por gente ouço aquela máxima que o ódio não é um sentimento para se cultivar, muito menos desejar ao próximo. E que faz mal, demasiado mal. Portanto, devemos evitar. Há quem diga, inclusive, que pode até matar. Seja como for, a notícia de que alcançamos a marca de 100 mil mortos por Covid-19 no Brasil, muito pela ausência de políticas emergenciais e de uma ação planejada da parte do governo federal, nesse momento me estremece — do que eu fatalmente pontuo — de ódio.
O sociólogo alemão Nobert Elias (1897–1990), referência nos estudos sobre o processo civilizador e a história dos costumes na Europa, a partir da formação do Estado Moderno, analisa como determinados comportamentos e atitudes foram (e são) reprimidos por serem considerados incivilizados, sobretudo os sentimentos ligados à sua “natureza não-humana”. Logo, as pulsões agressivas são civilizadas a fim de apaziguar os instintos violentos, em nome da cultura, da segurança e da integração social. Assim como outras emoções, o ódio é impelido para não ofender os semelhantes como um imperativo social, um autocontrole em que as forças são contidas e firmadas no conceito de individualização em função das ditas regulações sociais.
Reprimido ou não, convenhamos que o ódio é um sentimento muitas vezes inevitável. Talvez seja aquilo que chamamos — para amenizar situações — de “um mal necessário”, se constituído à revelia ou à resistência, quando mudanças precisam sobrepor à imposição das permanências. Não cabe fazer aqui uma apologia ao ódio, mas a percepção que esse sentimento tão subjugado pela sociedade é também um recurso de força, reação e, principalmente, de sobrevivência, efeito colateral na superdosagem entre as dores e as frustrações mundanas.
A questão é a forma como demandamos essa “energia” para lidar com nossos monstros internos (que todos nós temos, sem exceção), mediante ao pouco de racionalidade que faz de nós diferentes de outras espécies. O que permite, se o instinto não nos nocautear primeiro, pensarmos estrategicamente antes de nos lançarmos à fúria.
Afinal de contas, a historiografia recorda que acordos de paz não foram assinados sem antes travarem guerras. Os judeus não mandaram flores a Hitler ao serem capturados para os campos de concentração. Os soviéticos não fizeram uma ciranda com os americanos quando eclodiu a Guerra Fria. As lutas pela descolonização e independência política da África não se deram soltando pombas e fazendo mantras com países europeus. Do mesmo modo que governos fascistas também não são destituídos com abraço grátis.
"A paz é mais barata", cartaz hippie dos anos 1970 |
Para que o amor vença o ódio, como costumam pregar, o ódio precisou coexistir. Gostemos ou não, essa palpitação indubitavelmente vai continuar servindo de mote para a escrita das nossas trajetórias (individuais e coletivas), uma vez que somos vítimas das nossas emoções, mesmo com todas as ferramentas de autocontrole para lapidar e domesticar o ser humano como um sujeito (moralmente) civilizado.
8 comentários:
Concordo que sentimentos de raiva mobilizam e podem lançar as pessoas na direção de seus bons objetivos, embora também possa levar aos mais objetivos, já que os nazistas tinham um sentimento de ódio nutrido pelos judeus para resolverem colocá-los em campos de concentração, a questão é só quanto do ódio não é só ego. Algo sempre nos abate por causa da nossa vaidade desnecessária, tipo alguém reclamar da forma como você trabalha e daí você começa a nutri uma certa raiva da pessoa por te criticar em vez de você analisar para ter certeza se o que disseram faz ou não sentido. Se fizer, não tem que ser uma ofensa pessoal, todo mundo erra, com alguns erros você aprende, o que importa é que você pode mudar e tem a consciência limpa para pensar: Bom, será diferente agora. E, caso a pessoa esteja errada em sua crítica, você saber que algo que não é verdade sobre você não teria sentido em te afetar. Não estou dizendo que a autora não concorde que isto faça sentido, apenas achei bom comentar isso porque este texto só falou sobre um dos aspectos do ódio, e também se fosse falar de mais de um aspecto o texto seria um livro. De qualquer jeito, não devemos, como a autora disse, negar que a raiva também tem seus aspectos positivos, pois ela permite a comoção com a injustiça, entre outras coisas, e revoltas pacifistas também nascem deste sentimento sem que com isso se comece uma guerra, mas aí o sentimento de uma união com relação a uma causa tem que ser bem forte. Parece que sempre falta união e sobra vaidade/ego. E o que sobra se passamos nossas intenções na peneira das vaidades?
Alguém explcia isso? É Datafolha, não dá nem pra duzer que é o Instituto do Guedes inventando dados:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/08/13/bolsonaro-tem-aprovacao-de-37percent-e-reprovacao-de-34percent-diz-datafolha.ghtml
Que droga, a aprovação do bozo não para de subir. Vai ter gado assim lá na casa do chapéu.
O ódio é um meio de dividir para governar e manter o 'status quo", garantindo a manutenção da ordem social injusta. Por isso os poderosos milionários sempre recorrem ao divisionismo do "nós contra eles", criando inimigos imaginários, os moinhos de vento que são transformados em gigantes do Dom Quixote. E sempre funciona! Deu certo no nazismo e deu mais que certo no Brasil!! O "nós contra eles", permitiu conquistar o estado e enriquecer mais ainda com milhares de cargos públicos muito bem remunerados para os colegas de profissão e suas esposas e filhos e aumento dos lucros para as grandes corporações que apoiam este governo.
Lara: o aumento da aprovação se deve aos 70 milhões de pessoas que estão recebendo desde abril um pagamento mensal de 600 reais ou 1200 (as mães solteiras). Isto é bem maior que o Bolsa-família que paga apenas de 70 a 350 reais mensais e somente para cerca de 15 milhões de pessoas. Mas este pagamento mensal generoso não será eterno, pois o governo não tem como mantê-lo em definitivo, já que o seu custo anual seria de mais de 700 bilhões de reais, ou seja, 15 vezes maior que o do Bolsa família( cerca de 45 bilhões anuais).
E com esses valores altos, o governo, aí sim, estaria estimulando as pessoas a não trabalharem, pois no caso das mães solteiras, o valor é muito maior que o líquido ganho em um emprego de salário mínimo que desconta INSS,vale transporte e vale refeição, o que dá cerca de 800 reais somente.
Popularidade do governo Bolsonaro tem aumentado ultimamente de alguma forma.
É por causa do auxílio emergencial. Transferência de renda pros mais pobres rende votos. O PT e Lula experimentaram a mesma coisa com o Bolsa Família. Mas como o auxílio emergencial é num valor bem mais alto que o do Bolsa Família, a popularidade do Bozo entre os mais pobres vai cair nos próximos meses. Mas dessa alta na aprovação dele, observada agora, ficou a lição de que neoliberalismo demais, ou seja, arrocho demais no bolso, não reelege Bozo. Neoliberalismo em excesso só é possível por muito tempo numa ditadura. Num lugar onde haja ao menos liberdade de voto e onde exista fiscalização sobre fraudes eleitorais, e que essa fiscalização funcione (isto é, num lugar onde o básico da democracia não seja só fachada), o governante que empobrece demais as pessoas não se reelege nem faz sucessor. A maior lição da pandemia pro Bozo é de que o teto de gastos do Temer e o neoliberalismo exagerado do Guedes vão de encontro à pretensão dele de ser reeleito. Conclusão disso: Paulo Guedes não chega a 2022. Mas essa popularidade do Bozo é momentânea. O auxílio emergencial vai durar mais alguns meses, o tal renda brasil vai ser num valor bem inferior que o do auxílio, e a disposição do governo dele de transferir renda do 1% mais rico da população (os 200 bilionários da Forbes e outros menos ricos, porém muito ricos) é zero. Quem vai bancar o renda brasil seremos nós da classe média, que não estamos nadando em dinheiro há muito tempo. Eu pelo menos nunca estive. As propostas de reforma tributária que tramitam no legislativo todas poupam os mais ricos e oneram ainda mais os não ricos, claro, a grande maioria da população. Tudo concebido pra beneficiar o mercado financeiro, pois os empresários vão ser mais desonerados pra poder aplicar mais ainda no mercado de capitais. Dessas pesquisas de agora, as conclusões que ficam - a alta na popularidade do genocida vai passar- são: Guedes vai cair fora, e Bozo tem chance de ser reeleito. Desde que imite Lula na façanha de ser mãezona pros ricos e pai pros pobres. Vai conseguir? Como diria dona Milu de Tieta: é mistério. A crise econômica causada pela pandemia nem chegou ao pico ainda. O coronavírus mostrou que se em 05 meses tanta coisa acontece, prever como estaremos daqui a 26 meses é impossível.
Lola,
Olha só o que a falta de cérebro não faz…
https://www.queerty.com/trump-supporter-shoots-groin-attempt-trigger-liberals-20200819
(Acho que a ideia original era fazer roleta russa, mas para isso era preciso ter um cérebro, ainda que funcionando apenas precariamente.)
Ahahahahhauahauha, obrigada por esse link. Rindo muito aqui!
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