Faz poucos dias saiu uma ótima matéria da BBC sobre a quarentena mais longa do mundo, que os argentinos já estão chamando de "quarenterna".
O país está fechado há mais de cinco meses, não há voos comerciais, festas e reuniões familiares estão proibidas, o que obviamente causa muito stress, impaciência, e epidemias de doenças mentais.
O país está fechado há mais de cinco meses, não há voos comerciais, festas e reuniões familiares estão proibidas, o que obviamente causa muito stress, impaciência, e epidemias de doenças mentais.
Por outro lado, o confinamento rendeu poucos mortos, se comparado a outros países vizinhos: "apenas" 6 mil. É claro que a economia está sofrendo. Já estava em recessão antes mesmo da pandemia. Macri deixou a Argentina numa situação catastrófica. Se ele ou alguma outra marionete da direita estivesse governando nossos hermanos, o cenário econômico continuaria em frangalhos, mas aposto que o número de óbitos seria no mínimo dez vezes maior.
Tive certeza da minha hipótese ao ler este artigo do professor do King's College London, Alfredo Saad-Filho, sobre "O trio da calamidade" (Trump, Johnson, Bolso). Alguns trechos:
As falhas espetaculares do Brasil, do Reino Unido e dos EUA durante a pandemia da Covid-19 fornecem lições valiosas sobre o que não pode jamais acontecer novamente: esperar o desaparecimento do vírus, minimizar o impacto potencial de uma pandemia na saúde pública e na economia, atrasar inevitáveis confinamentos, numa lista vasta. Tais falhas também lançam forte luz sobre as raízes do desastre. [...]
Resumidamente, é improvável que o desastre humano nos países selecionados por nós seja compensado por uma crise econômica mais branda –- ao contrário, é muito mais provável que tenham um desempenho pior do que a média -– desmontando, assim, o argumento de que a proteção da economia deva ser uma prioridade e “uma pena se isso significar que alguns aposentados morram [como consequência]” [frase atribuída a Dominic Cummings, consultor-chefe do 1o-ministro britânico].
Os casos selecionados por nós (o “Trio da Calamidade”) compartilham características evidentes, relacionadas essencialmente com sua “liderança”: todos são governados por palhaços arrogantes, egoístas, autopromovidos, pedantes, rudes e paternalistas, que demonstram sintomas de transtorno de personalidade histriônica, se não psicopatia, sustentando abertamente ambições autoritárias de quebrar e refazer a Constituição e o aparato do Estado. Surpreendentemente, eles não estão interessados em construir movimentos de apoio em massa, preferindo cultivar fãs bajuladores, mas desorganizados:
Donald Trump sequestrou o Partido Republicano, mas não tem nenhum uso previsto para ele, além da máquina eleitoral e da arrecadação de fundos; Boris Johnson não tem tempo para o Partido Conservador que ele refez com a imagem do Brexit, e Jair Bolsonaro nem sequer pertence a um partido (sua tentativa de criar a Aliança pelo Brasil estagnou miseravelmente). Seguindo: eles mentem descarada e compulsivamente, reivindicam méritos alheios, negam verdades evidentes, proclamam o inexistente e promovem violência contra as pessoas que os questionam, os que checam fatos, os que possuem pontos de vista diferentes, os cientistas e as mulheres.
Eles são arrogantes, impermeáveis ao remorso e rápidos em afirmar que tudo o que fazem é “o melhor do mundo”, mesmo quando tenham falhado ou até quando o tiro sai pela culatra. Apesar de seus instintos autoritários, esses líderes continuam escravos do processo eleitoral: tudo gira ansiosamente em torno da próxima eleição.
E mais: eles travam lutas calculadas com a mídia, o que garante visibilidade mesmo sob a luz pouco lisonjeira da crítica metódica (que, paradoxalmente, tende a consolidar a fidelidade de seus fãs). Os comentaristas têm lutado para explicar a popularidade de tais líderes, que persiste apesar das transgressões diárias contra a política “civilizada”.
E mais: eles travam lutas calculadas com a mídia, o que garante visibilidade mesmo sob a luz pouco lisonjeira da crítica metódica (que, paradoxalmente, tende a consolidar a fidelidade de seus fãs). Os comentaristas têm lutado para explicar a popularidade de tais líderes, que persiste apesar das transgressões diárias contra a política “civilizada”.
Essa combinação de características mostrou-se letal com a pandemia. Os riscos foram minimizados porque a precaução pareceria ruim, sugeriria fraqueza ou prejudicaria as perspectivas eleitorais. Mas se tumultos, negações e mentiras bastaram no passado, o coronavírus foi irredutível a tudo isso. As ações de saúde pública tardaram porque a máquina estatal estagnou quando confrontada por um desafio não relacionado à promoção do Líder. Jogar na defesa não era natural aos nossos espécimes em questão, e eles se atrapalharam.
Apesar de suas proezas telegênicas, eles foram incapazes de fingir simpatia pelo Outro ou expressar piedade, vergonha, remorso, e mostraram-se cruéis; não podiam expor as complexidades da pandemia [o contraexemplo é a explicação precisa de Angela Merkel sobre a pandemia], e mostraram-se ignorantes; não podiam orientar uma resposta institucional propositiva, e mostraram-se perdidos. (continue lendo aqui).
Apesar de suas proezas telegênicas, eles foram incapazes de fingir simpatia pelo Outro ou expressar piedade, vergonha, remorso, e mostraram-se cruéis; não podiam expor as complexidades da pandemia [o contraexemplo é a explicação precisa de Angela Merkel sobre a pandemia], e mostraram-se ignorantes; não podiam orientar uma resposta institucional propositiva, e mostraram-se perdidos. (continue lendo aqui).
4 comentários:
Pedófilos estão usando esse app pra poder se aproximar de crianças!
https://youtu.be/GxgPd7zGogE
A expressão "continue lendo" (leia-se "continue a ler") já foi incluída na língua portuguesa? Que horror!!!
PIB do Brasil cai 9,7% no 2º trimestre. Países que controlaram melhor a pandemia tiveram a economia menos afetada
https://oglobo.globo.com/economia/pibdo-brasil-cai-97-no-2-trimestre-paises-que-controlaram-melhor-pandemia-tiveram-economia-menos-afetada-24616510
PIB do Brasil cai 9,7% no 2º trimestre. Países que controlaram melhor a pandemia tiveram a economia menos afetada
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