Esses dias o Felipe Iszlaji, um aluno de doutorado em Linguística pela Unesp de Araraquara (mas com mestrado em Cinema, sua segunda paixão) me mandou um email para falar do projeto que ele vem desenvolvendo há três anos: a construção de um dicionário criativo, inspirado no Dicionário Analógico do Professor Azevedo. Não é um dicionário só com definições, mas um que traz sinônimos e ideias afins (gostei das rimas!), organizado em campos semânticos. O que Felipe está fazendo é transpondo o dicionário original para a internet, aproveitando todos os recursos da tecnologia para melhorar sua usabilidade e incrementar seu conteúdo.
Eu dei uma olhada no que ele tem pra mostrar até agora, e realmente me parece um projeto de fôlego. E eu sempre achei que a internet carece de bons dicionários gratuitos. Pedi então pra ele escrever um guest post. E acabei de saber que ele me deu uma palavra de presente (ele está vendendo palavras para financiar o projeto, como explica abaixo): feminismo. Se tudo der certo, o dicionário será lançado em setembro. Obrigada e boa sorte, Felipe!
Como resume o poeta italiano Cesare Pavese, "é bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão". Todos os escritores têm suas técnicas e, também, suas ferramentas. Uma delas, das mais importantes, é o dicionário. Chico Buarque já declarou mais de uma vez sua predileção pelo Caldas Aulete e o seu xodó, o Dicionário Analógico do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, herança do pai. Em prefácio para a recente edição do analógico, Chico escreveu: “por um bom tempo aquele livro me ajudou no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das horas em que eu o folheava à toa”. E depois confessa: “então anotava num Moleskine as palavras mais preciosas, a fim de esmerar o vocabulário com que eu embasbacaria as moças e esmagaria meus rivais”. Um dicionário como o do professor Azevedo é uma mina de diamantes para quem quer escrever. Ou, para ficar na metáfora do querido poeta porto-alegrense, é uma paleta de cores com mais 160 mil tons. Dizia Mário Quintana: "Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor." E, de fato, a maioria de nós não sabe!
Contraditoriamente, ‘num mundo com cada vez mais informação’, estamos atulhando em clichês. E não estou aqui defendendo os floreios gratuitos, mas a precisão do pensamento: "as palavras certas no seu lugar certo", como definiu o escritor irlandês Jonathan Swift. Expressar-se sobre temas complexos com um vocabulário indigente é até perigoso. Enfim, um dicionário analógico é o lugar onde o escrevinhador vai para encontrar a palavra que melhor traduza o seu pensamento. Estou com ele sobre o colo neste momento. E estou também com cinco abas do meu navegador abertas com diferentes tipos de ferramentas linguísticas: um dicionário de sinônimos, o Aulete Digital, a wikipédia, um citário e o google. Só para escrever este texto!
E foi em um momento como este, há cerca de três anos, que tive a ideia de construir o Dicionário Criativo, um site que reunisse em uma mesma página diferentes tipos de dicionários e obras de referência, empregando a estrutura conceitual do dicionário analógico como seu “coração” e seu “cérebro”. De maneira que pesquisando por um termo ou ideia no Dicionário Criativo, toda uma nuvem de significados e referências relacionados àquela pesquisa se desenrole de uma só vez em janelas contendo diversos tipos de analogias: sinônimos, antônimos, definições, palavras interligadas, associadas, ideias afins, frases famosas, provérbios e expressões populares. Essa ideia se tornou uma paixão e hoje desenvolvo parte do projeto dentro do programa de pós-graduação em linguística da Unesp, sob orientação do professor Bento, um especialista em Linguística Computacional. Estamos desenvolvendo uma inteligência que relacione as analogias da maneira mais criativa possível. Não sou um entusiasta das novas tecnologias, mas acredito que elas têm essa função de servirem como ferramentas para os mais variados anseios da humanidade. Deixemos as máquinas fazerem o trabalho repetitivo e fiquemos com o que melhor sabemos fazer: criar.
Por um lado tenho claro que o Dicionário Criativo não é uma “calculadora de poeta”, nem um “vitamínico da criatividade” –- como poderiam ironizar alguns puristas. Ele não cria nada, apenas favorece o trabalho de quem cria. Por outro lado, talvez em prejuízo dos mesmos puristas, com esse trabalho reafirmo a minha convicção de que escrever e criar são ofícios, exercícios da nossa mais ampla humanidade, e não resultado de uma inspiração divina, como apregoam por aí. Escrever bem é consequência do trabalho gradual e da entrega apaixonada de cada um. Tanto melhor se as ferramentas que temos nos ajudem a chegar lá.
A internet, pouco a pouco, vem democratizando os meios de comunicação e difusão de ideias. Que tal democratizarmos os meios de produção também? Convido-os a construírem junto comigo o maior dicionário de analogias da internet e a participarem do seu financiamento independente. Para ajudar, bolei uma campanha em que cada pessoa pode adotar uma palavra do Dicionário Criativo, tendo seu nome/link vinculado a ela sempre que ela for pesquisada. Você tem alguma palavra que goste em especial? Entre no site e veja se ela ainda está disponível. Cada palavra só pode ser adotada por uma pessoa! Se estiver, preencha seu nome, seu e-mail e depois entre no site do Catarse para finalizar sua adoção. O maior dicionário da internet, com sua ajuda, será em língua portuguesa!
Como resume o poeta italiano Cesare Pavese, "é bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão". Todos os escritores têm suas técnicas e, também, suas ferramentas. Uma delas, das mais importantes, é o dicionário. Chico Buarque já declarou mais de uma vez sua predileção pelo Caldas Aulete e o seu xodó, o Dicionário Analógico do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, herança do pai. Em prefácio para a recente edição do analógico, Chico escreveu: “por um bom tempo aquele livro me ajudou no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das horas em que eu o folheava à toa”. E depois confessa: “então anotava num Moleskine as palavras mais preciosas, a fim de esmerar o vocabulário com que eu embasbacaria as moças e esmagaria meus rivais”. Um dicionário como o do professor Azevedo é uma mina de diamantes para quem quer escrever. Ou, para ficar na metáfora do querido poeta porto-alegrense, é uma paleta de cores com mais 160 mil tons. Dizia Mário Quintana: "Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor." E, de fato, a maioria de nós não sabe!
Contraditoriamente, ‘num mundo com cada vez mais informação’, estamos atulhando em clichês. E não estou aqui defendendo os floreios gratuitos, mas a precisão do pensamento: "as palavras certas no seu lugar certo", como definiu o escritor irlandês Jonathan Swift. Expressar-se sobre temas complexos com um vocabulário indigente é até perigoso. Enfim, um dicionário analógico é o lugar onde o escrevinhador vai para encontrar a palavra que melhor traduza o seu pensamento. Estou com ele sobre o colo neste momento. E estou também com cinco abas do meu navegador abertas com diferentes tipos de ferramentas linguísticas: um dicionário de sinônimos, o Aulete Digital, a wikipédia, um citário e o google. Só para escrever este texto!
E foi em um momento como este, há cerca de três anos, que tive a ideia de construir o Dicionário Criativo, um site que reunisse em uma mesma página diferentes tipos de dicionários e obras de referência, empregando a estrutura conceitual do dicionário analógico como seu “coração” e seu “cérebro”. De maneira que pesquisando por um termo ou ideia no Dicionário Criativo, toda uma nuvem de significados e referências relacionados àquela pesquisa se desenrole de uma só vez em janelas contendo diversos tipos de analogias: sinônimos, antônimos, definições, palavras interligadas, associadas, ideias afins, frases famosas, provérbios e expressões populares. Essa ideia se tornou uma paixão e hoje desenvolvo parte do projeto dentro do programa de pós-graduação em linguística da Unesp, sob orientação do professor Bento, um especialista em Linguística Computacional. Estamos desenvolvendo uma inteligência que relacione as analogias da maneira mais criativa possível. Não sou um entusiasta das novas tecnologias, mas acredito que elas têm essa função de servirem como ferramentas para os mais variados anseios da humanidade. Deixemos as máquinas fazerem o trabalho repetitivo e fiquemos com o que melhor sabemos fazer: criar.
Por um lado tenho claro que o Dicionário Criativo não é uma “calculadora de poeta”, nem um “vitamínico da criatividade” –- como poderiam ironizar alguns puristas. Ele não cria nada, apenas favorece o trabalho de quem cria. Por outro lado, talvez em prejuízo dos mesmos puristas, com esse trabalho reafirmo a minha convicção de que escrever e criar são ofícios, exercícios da nossa mais ampla humanidade, e não resultado de uma inspiração divina, como apregoam por aí. Escrever bem é consequência do trabalho gradual e da entrega apaixonada de cada um. Tanto melhor se as ferramentas que temos nos ajudem a chegar lá.
A internet, pouco a pouco, vem democratizando os meios de comunicação e difusão de ideias. Que tal democratizarmos os meios de produção também? Convido-os a construírem junto comigo o maior dicionário de analogias da internet e a participarem do seu financiamento independente. Para ajudar, bolei uma campanha em que cada pessoa pode adotar uma palavra do Dicionário Criativo, tendo seu nome/link vinculado a ela sempre que ela for pesquisada. Você tem alguma palavra que goste em especial? Entre no site e veja se ela ainda está disponível. Cada palavra só pode ser adotada por uma pessoa! Se estiver, preencha seu nome, seu e-mail e depois entre no site do Catarse para finalizar sua adoção. O maior dicionário da internet, com sua ajuda, será em língua portuguesa!
21 comentários:
Ah, adorei a idéia! Eu sempre gostei muito de dicionários quando criança. Lá em casa não tinha muitos livros pra ler, e como eu virei uma traça desde que aprendi a ler, ficava folheando, descobrindo novas palavras e a língua portuguesa.
Tinha até uma brincadeira que gostávamos muito. Munidos de dicionário, uma pessoa escolhia uma palavra e todos tinham que "inventar" um significado pra ela. A pessoa que escolheu também inventava e escrevia o significado correto. Depois ela lia todos sem identificar qual era o verdadeiro, e cada um tinha que eleger o que achava ser o correto (menos quem tinha escolhido). Se você tivesse seu significado escolhido, ganhava 5 pontos. Se acertasse o correto, ganhava 10. Hoje eu penso que éramos meio nerds, crianças de 8, 10, 12 anos adorando esse tipo de brincadeira, haha! Mas era muito divertido!
Desculpe pela viajada, foi uma lembrança gostosa!
Achei a idéia genial e espero ansiosa pelo lançamento do projeto. Vou divulgar!
[s]s
Adorei e já adotei. Escolhi uma palavra e já fiz a doação ao projeto. Torço muito para q dê certo e estou divulgando.
Felipe, eu apoiei como aiaiai e coloquei link para minha conta no tuiter, mas para fazer a doação coloquei meu nome verdadeiro...que só a lolinha sabe. Favor manter segredo!!!
Adorei a idéia. Adotei a palavra "azul".
Gostei do projeto.
Vou entrar nos links e olhar com mais calma mais tarde, em casa.
Esqueceu de citar o Priberam, acho que é o maior dicionário da língua portuguesa disponível online. Boa sorte com o projeto.
Muito legal, muito legal mesmo! Parabéns :)
Deem uma olhada no www.wolframalpha.com e pesquisem por "love", o Wolfram já implementou tal idéia. Ter algo semelhante na língua portuguesa me alegra bastante.
Experimenta o Caldas Aulete, Lola. Você pode baixar o programa gratuitamente em http://www.auletedigital.com.br/. O banco de dados fica na net.
O dicionário é português, mas é farto em expressões brasileiras. Tem dicionário reverso, pode usar máscaras, muito bom.
Lola, só pra passar uma dica que vai fazer vc rolar de rir assim como eu:
30 manobras sexuais extra hot
(sem usar as mãos!)da Revista Nova! É quase mais legal que aquela matéria das dicas de sedução fail....
"25. Na transa, quando estiver por cima, fique de costas para o gato e chupe os dedos do pé dele. A visão do seu derrière vai fazê-lo gemer." hauhuahuahuahauha
http://nova.abril.com.br/edicoes/452/amor_sexo/30-manobras-sexuais-sem-usar-as-maos.shtml?pagina3
Idéia genial...já conheço dicionários em inglês que têm algumas ferramentas que este terá, mas nada tão completo quanto. Boa sorte e sucesso!!!
Adorei! Muito legal MESMO!
Lola, será que eu poderia imprimir o seu texto que fala dos privilégios do homem hetero, branco, classe média e cristão, para distribuir pro pessoal da minha faculdade?
Na aula passada fiquei indignada, quando levantaram o assunto que "quem sofre é o hetero branco, ninguém o proteje, não existem leis para ele!"... nem consegui argumentar! =(
Obrigada
Meo! difícil é não se deixar levar totalmente pela catarse...
adorei o projeto!
divulguei num post!
e adotei a palavra que ronda, ronda meu dia a dia, minha realidade e minha fantasia...
memória!
Ai, amo dicionários! Muito legal o projeto!
Muito bacana o projeto. Vou divulgar.
Quando eu era criança, antes de dormir, eu fechava os olhos, abria o dicionário e com a palavra que eu visse primeiro eu inventava uma história cheia de mistérios, reviravoltas, esquisitices.. coisa meio louca. Adormecia pensando no engraçado que era a história sempre terminar de um jeito que eu não previa. Eu tenho esse minidicionário até hoje, da Melhoramentos. Tá velhinho, todo amarelado, escrito 1401, minha turma da escola na época em que foi comprado.
Quem diria que a coisa ia evoluir tanto.
Muito obrigado a todos pelo apoio, os elogios e as palavras adotadas! Estou em viagem para um evento do doutorado em lingüística e escrevendo do quarto do hotel. Amanhã, quando voltar, escrevo mais sobre os dicionários hoje disponíveis que o pessoal comentou, inclusive os Thesaurus em inglês, e respondo com mais calma qq dúvida que tenha ficado. Amanhã vou tuitar as novas palavras adotadas e os comentários de quem me permitir divulgar. Mais uma vez meus sinceros agradecimentos a todos e um especial para a Lola pelo espaço tão nobre que concedeu ao projeto. Estaremos sempre juntos na luta pela democratização da língua, da cultura, dos meios de comunicação de ideias e pelas bandeiras que nos levarão a uma sociedade mais justa, livre e igualitária.
AMEI a idéia. Eu tenho uma dificuldade enorme com palavras - pode ser problema de memória, ou falta de exercitar os neurônios (não ando lendo muito ultimamente), mas eu nunca consigo explicar as coisas de maneira tão clara quanto eu gostaria. Embora já tenham me dito que eu me expresso melhor do que eu penso... sempre sinto que falta algo. E esqueço muito as palavras, muito mesmo, no meio de sentenças, quero dizer uma coisa e fica aquela lacuna.
Expressividade tem a ver com isso: palavras + criatividade. Não é só decorar as palavras, é saber ordená-las, encaixá-las, orquestrá-las. Transformar pensamentos e idéias em algo comunicável! É quase uma alquimia. Transmitir idéias abstratas de uma mente a outra: quanto mais perfeito o meio, o veículo - a comunicação - mais perfeitamente a idéia chegará na outra mente intacta e poderá florescer.
Realmente, maravilhoso projeto, até dei uma viajada aqui. Tem meu apoio!
Lola, parabéns pelo teu blog. Há tempos que sou teu leitor diário.
Escrevo para convidá-la a conhecer o meu. O endereço é www.gurimedonho.com
Um grande beijo.
Lola, parabéns pelo teu blog. Há tempos que sou teu leitor diário.
Escrevo para convidá-la a conhecer o meu. O endereço é www.gurimedonho.com
Um grande beijo.
Vou fazer então um dicionário do homem atual: mangina, paspalho, iludido, matrixiano, rola bosta, otário, corno, punheteiro.
E da mulher: vadia, rodada, promíscua, interesseira, hipergâmica.
misogino feito os outros
significado homem=humanidade
Queria um dicionario inclusivo,nao misogino,cacando ate hj.
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