quinta-feira, 29 de julho de 2010

GUEST POST: TINHA VERGONHA DO MEU CABELO

Num post (do ano passado!) em que respondi a perguntas sobre a minha (falta de) vaidade, uma leitora, a Márcia, deixou um comentário muito instigante. Perguntei pra ela se poderia transformá-lo em guest post, ela deixou... e eu coloquei o troço em algum lugar do meu computador e esqueci dele pra toda a eternidade. Mas agora o encontrei entre alguns arquivos antigos, e taí. Uma bonita história de auto-aceitação.

Minha mãe tem cabelos lisos, não um liso lambido, mas lisos. Meu pai não, mas os dele sempre foram bem curtinhos. Tenho 3 irmãos, dos quais duas meninas, e só eu nasci com cabelos crespos, a la Vanessa da Mata, herança genética da mãe de minha avó paterna...
Agora veja a bronca. Meu pai não deixava de comentar a beleza de uma mulher com cabelos extremamente lisos (lembranças de uma paixão frustrada na adolescência, dizem), e minha mãe reclamava muito quando desembaraçava minhas madeixas. Na minha cabecinha de menina, meu cabelo era um senhor problema.
Vivia numa cidade do interior do nordeste. Pobres, estudamos os filhos num colégio de freiras, nos primeiros anos, bolsistas, claro. O fato é que, até começar a me destacar na escola como “uma aluna inteligente” (uma grande merd... esses rótulos...), minha marca primeira eram cabelos crespos, era o que era pontuado em mim, no universo que me cercou nesses primeiros anos de vida, e nem precisava dizer que a marca era negativa, muito negativa. Sem falar nessa coisa complicada de identificação com familiares e a gente ser tão diferente fisicamente, sem ter um reforço positivo pra essa diferença.
O meu reforço positivo era estudar e não ser bonita, porque na minha pequena cuca eu era feia e ponto, mas fazia coisas bonitas, desenhos, pinturas, e demais lições escolares, e isso era suficiente para ter as pessoas ao meu redor. Não preciso dizer que vaidade com a aparência eu não tinha (porque vaidade não existe apenas em função da aparência, convenhamos).
Na adolescência, eu não tinha grana nem muita paciência pra salões de beleza, mas meu cabelo precisava ter uma forma (pra não chamar tanta atenção), assim relaxava pra baixar o volume, usando-os encaracolados.
Aí, aconteceu de me mudar para Recife. Mundo estranho. Eu estava fora do meu ninho, mas cercada dos mesmos amigos, que buscavam, como eu, um curso superior. Fora da minha turma de amigos era muito difícil não me sentir um peixe fora d’água. Aos poucos, a mudança veio, principalmente quando saí da universidade. Nós, os amigos do interior, fomos nos dispersando aos poucos, seguindo profissões diferentes e consequentemente frequentando diferentes ambientes e pessoas. Perdi mesmo um pouco a referência no meio dessas outras pessoas. Eu não era a Marcinha da turma. Fora desta eu era absurdamente tímida, por motivos que não convém por ora. Entrei na noia de cabelos lisos, maquiagem, pra ser vista em outros núcleos. Mas eu não estava em mim, entende? O-ou, algo errado no ar...
Alguns anos de terapia (por motivos fora de questão) e as coisas começaram a mudar... Sabe aquela praia evitada por eu não resistir ao banho de mar, poderoso, maravilhoso mar, por causa da química nos cabelos? Sabe aquela natação evitada por cabelos cobertos até o talo de tanta química não resistir ao cloro? Ah, a tesoura do desejo! Vou usá-la. Preciso eliminar os fios compridos cobertos de química que irão se estragar... Adoro água! Meu deus, como conseguir evitá-la por tanto tempo? Que absurdo! E não é que descobri que sou bela e maravilhosa? Olho os meus cachos da adolescência e me vejo tão bonita!
Agora, maquiagem, a-d-o-r-e-i, acho que faz parte do processo de me sentir bonita, não por ela em si, mas funciona como uma brincadeira, uma forma de demonstrar que dá pra ser diferente a cada dia se eu quiser, até mesmo quando não tô a fim de usar, sei lá, me sinto numa mudança tão constante, maquiagem e moda são recursos mesmo pra externar isso... e dá pra não abrir mão do conforto que faço questão. “Quanta mudança alcança nosso ser, posso ser assim, daqui a pouco não....” diz uma música. Pois é, é muito difícil sair de um modelo introjetado. Não quer dizer que a gente não perceba esse modelo. Acredito até que a gente consegue fugir de alguns, mas de todos? Não acredito. Melhor não encucar...

30 comentários:

Marissa Rangel-Biddle disse...

Ai, que lindo post! Parabens para a Marcia que conseguiu romper com a ditadura dos cabelos lisos. E' incrivel que uma mulher/menina de cabelos cacheados tem de fazer de tudo para disfarcar e se enquadrar no festival de cabelo chapado que domina o BR. Aqui nos EUA as mocas negras e brancas usam chapinha absurdamente. Os cabelos sao na maioria feios e com aspecto sujo. Sao curtos porque a chapinha e a hard water nao deixam os fios crescerem saudaveis. Uma pena. Eu saio com cabelo molhado e o povo me olha tipo 'saiu correndo do banheiro porque recebeu um telefonema urgente do hospital ..'Coisas assim. Eu tenho muito cabelo e e' bem volumoso e nunca apliquei produto para domar o volume. Talvez por ter trabalhado tantos anos a volta com guanidinas e tiglicolato de potassio, eu fugi dos efeitos dessas quimicas.

:)

Patricia disse...

Tenho cabelo cacheado também e fico muito feliz de ver esse post.
Como todas as meninas com a mesma característica, tive uma infância e adolescência conturbada com eles, passando por mil processos químicos e pela dupla escova + chapinha. Fora isso, apesar se estarmos num dos países mais miscigenados do mundo, a quantidade de produtos existentes para cabelos crespos e cacheados era inexistente.

Quando fiquei adulta e a saúde dos meus fios já estava comprometida, resolvi parar o processo agressivo a que me submetia sempre e passei a "estudar" o meu cabelo. Fui cuidando e hoje meu cabelo tá ótimo, do jeito que é e sem eu precisar correr da chuva. Hoje em dia, sou muito mais elogiada do que nos meus tempos de "superlisa".

Mesmo assim, ainda existe a falsa correlação entre cabelo cacheado/ crespo e cabelo sujo, malcuidado e de gente relaxada. Acho muito negativo e muito cruel, principalmente para as novas gerações de mulheres, que só as de cabelos lisos são limpas, arrumadas e bem cuidadas.

Sobre a maquiagem, acho que também é uma forma de autoconhecimento. Se ver de outras formas também ajuda a gente a se gostar mais.

aiaiai disse...

to super correndo, lerei o post depois...por enquanto queria compartilhar com vocês essa notícia
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/07/100728_escolaridade_casamento_pesquisa_rw.shtml

Carla Mazaro disse...

Eu tinha uma amiga de cabelo cacheado, eu SEMPRE tive inveja dela!! meu cabelo não é liso, nem enrolado... é totalmente disforme rsrs... SEMPRE SEMPRE SEMPRE quis cachinhos!! estava até pensando em fazer permanente... mas desisti da ideia de por quimica no meu cabelo... por enquanto

Loy disse...

Lola e Marcia, obrigada!

Em muitos pontos do texto, identifiquei-me bastante contigo (especialmente da infância à adolescência), Márcia. Exceto que sempre fui relaxada o suficiente para não me dedicar tão a fundo a alisar os cabelos, e no mais, vivia com ele preso, o que, dependendo de como é feito, esconde o cabelo e a pessoa sob uma imagem específica.
De vez em quando alguém vem me falar de escova progressiva. Eu respondo qualquer coisa e saio cantando com meus botões, com Chico César "respeite meus cabelos, brancos!"

Juliana disse...

Ai, lola!! ADOREI!

Me identifiquei bastante com a Márcia. Passei a infância usando henê - troço fedido, meu deus!- e ouvindo minha mãe dizer que meu cabelo era feio, que não dava pra pentear, que precisava alisar. eu andava de tranças ou de coque.

Essa ditadura do cabelo preso durou até pouco tempo atrás. Finalmente, encontrei um cabelereiro que sabe cuidar do meu cabelo. Faço relaxamento pra dar uma encorpada nos fios e zrranjei o corte certo. Pronto!!

Durante muito tempo, foi difícil soltar o cabelo. Parecia que todos os olhos estavam voltados para mim, para a feiúra do meu cabelo. Não me lembro de ter ouvido coisas ruins sobre a cor da minha pele, afinal sou a " moreninha". Como detesto esse " moreninha"! Mas meu cabelo era motivo de apelidinhos infames na adolescência.

Acho que hoje estou mais bem resolvida. Dia desses, uma conhecida cheia de boa intenção veio me indicar uma tal de escova marroquina e eu consegui dizer " não, obrigada! Não gosto dos meus cabelos alisados"

Entre os amigos que tenho hoje, meu cabelo é sempre visto como bonito, andam elogiando o fato de eu usá-lo solto.
Soltar o cabelo é meio que uma forma de se libertar tb,né?

há pessoas que ficam bonitas com cabelos alisados, mas eu não sou uma delas. A gente tem que se dar o direito de ser bonita como é!

Ah, só pra terminar, só agora , depois que a Tais Araújo fez aquela novela das nove, é que a Élseve lançou o produto pra cabelos crespos.

Desculpe o comentário enorme e meio sem nexo,mas fiquei realmente empolgada com o assunto.


P.S.: Patrícia, essa relação entre cabelo liso e cabelo limpo e arrumado é cruel mesmo, né? Minha vó pergunta pra mim o tempo todo quando é que vou ARRUMAR o cabelo, mesmo quando ele está limpo, cheirosinho e lindo!

Tanize disse...

Também tenho os cabelos cacheados e, apesar da minha vaidade, nunca alisei meus cabelos. E é super revoltante como SEMPRE que vou ao salão cortar os cabelos ou fazer relaxamento (o que numa fase mais 'black is beautiful' nem isso) me indicam essas novas escova permanentes! As pessoas ficam incrédulas que eu gosto do meu cabelo cacheado e mais ainda quando digo que meu marido não gosta quando faço escova.

Os especialistas em beleza dizem que o que é ser bonita hoje é ser alta, magra e lisa. Não há mais necessidade de ser branca e loira, como a Zoe Saldana e a Beyonce provam, mas os cabelos tem que ser lisos.
O que eles NÃO dizem é que os traços das negras tem que ser europeus. Ou alguém duvida que o rosto da Thaís Araujo pintado de branco seria uma perfeita bonequinha barbie?!
Ela fez questão de na última novela usar os cabelos crespos (que foram escovados enquanto vivia 'controlada' pelo marido), assim como a Ana Paula Arósio disse que ficou contente de poder mostrar que ricos tb tem cabelos cacheados quando fez uma novela sem usar escova.

Mas para fechar meu comentário enorme o que é ainda mais intragável é que atualmente ser bel@ é uma exigência sobre todos e ser bel@ é ser especificamente de um jeito. Mas ser feia é imperdoável para mulheres!

Anônimo disse...

A-do-rei o post!

Quando eu era criança, meus cabelos eram de cacho. Aqueles cachões, grandes. cabelo longo e cor de mel.

Minha irmã - de cabelo liso - era louca pra ter o meu cabelo. E eu, louca pra ter o cabelo dela. Liso, não tem como negar, é muito mais prático.

Daí, aconteceu que, aos nove anos, peguei piolho da escola. Isso acabou com o meu cabelo. Cortei na altura da orelha e as constantes 'penteadas'destruiram os cachos, a forma... O piolho, felizmente, foi embora logo.

Logo depois, veio a moda da cabeleira lisa. Eu não fiz nada de alisamento porque minha mãe não deixava, mas vontade não me faltava. Ainda mais que eu fazia natação: meu cabelo era ressecado que só.

Aí, só depois que entrei na faculdade e fiquei vaidosinha, decidi cuidar do cabelo. Embora eles ainda não estejam compridos do tamanho que eu quero - estão na altura dos seios - eles melhoraram muito.

Fiz o relaxamento - que aqui em cuiabá tem o nome de escova inteligente - pra domar o volume, mas nunca quis deixá-los lisos.

Meus cabelos são considerados lindos por todo mundo: a cor, o volume, o tamanho (embora eu os queira bem mais compridos), mas ainda tem aquilo de 'ditadura do liso'. Saia a noite e eu desafio qualquer um a encontrar alguém 'não alisado' na noite. As meninas ficam neuróticas: minha amiga, que já tem o cabelo bem liso e natural, também fez escova inetligente só pra tirar a 'onda da chuquinha de cabelo' (a marca).

Acho que cada um tem uma beleza (que pode sim ser melhorada). Acho feio só quando fica forçado demais.

Caio Ricardo disse...

Eu simplesmente amo mulheres com cabeço cacheado/crespo a lá Vanessa da Mata, tem um "miniblackpower" que fica bem em todas mulheres negras. Já em homens prefiro um cabelo liso ou cacheado mesmo, porém curto.

Essa procura do "liso perfeito" além de estragar o cabelo gasta muito dinheiro, seria mais barato cuidar do tipo de cabelo que tem do que tentar mudar.

Mas até que ponto o gostar/querer ter de cabelo liso é um gosto pessoal e passa a ser uma convenção social, algo imposto? Alguém saberia responder?

Patrícia disse...

Adorei o post.
Tenho o cabelo cacheado e até uns 9 anos de idade eu era louca para ter cabelo liso. Minha mãe era quem me controlava, o máximo que eu fazia era um relaxamento pra soltar os cachos. Fui crescendo e fui aceitando melhor meu cabelo, embora eu continuasse com relaxamentos.
Hoje eu tenho 15 (cheiro de leite no ar. Espero que ninguém aqui seja do tipo "leitura de adolescente é Capricho") e decidi: não faço mais relaxamento. Cansei de ficar dependente da química, de ter que voltar no salão a cada quatro ou cinco meses para aplicar o produto. Vai demorar para que meu cabelo esteja ao natural de novo, mas acho que a sensação de liberdade compensará.

Débora Lima disse...

É complicado né! Na infância e pré-adolescência eu queria ter os cachinhos das minhas amigas cacheadas, e elas queria um cabelo liso! O meu cabelo é um ondulado marcado temperamental...

Felizmente não me lembro de ter esses problemas, sempre me dizem como meu cabelo é bonito! E me perguntam o que eu faço para ele ficar assim, não faço nada, minha sorte é a genética. Oo

Mas para ir a festas a família me perturba, mandando fazer escova e alisar "para ficar mais arrumado" e tal tal, mas geralmente eu venço e vou natural mesmo! Arrumado, mas natural.

Sempre pensei que se eu tivesse cabelos crespos viveria daquelas tranças que pegam o cabelo todo desde a raiz, e saem desenhando pela cabeça! Acho bonito demais!

Umrae disse...

Argh... Época de colégio é dose, sempre vão arranjar uma maneira de fazer com que as pessoas se sintam mal com a própria aparência.

Manter essa ditadura do liso é muito lucrativo para as empresas de cosméticos e de "cuidados pessoais"(vide a quantidade de produtos de que uma pessoa que não tem cabelo naturalmente liso precisa para alisá-lo), ainda por cima, então vai ser difícil que ela suma tão cedo.

Eu nasci com cabelo liso escorrido. Quando eu menstruei, aos 13 anos, ele mudou completamente de uma hora para outra. Ficou um crespo esquisito que não era cacheado, era meio frizado, com cada onda para um lado, cada uma de um tamanho, e muito, muito armado. Enchia a paciência porque embaraçava muito e dava uma impressão de cabelo ressecado (apesar de, ao toque, não ter textura de ressecado). Eu também fui bastante zoada no colégio por causa dele.
Lá pelos 17, 18 anos, ele começou a voltar a ser como era antes e ficou liso de novo (não escorrido, mas ele só forma umas ondinhas em baixo).
Engraçado que aconteceu exatamente a mesma coisa com minhas duas primas mais novas. Não sei se isso é bem comum ou se é coisa da minha família...

Luma Perrete disse...

Aqui em casa a filha da empregada mora com a gente. É como se fosse minha irmãzinha mesmo. Só não é adotada no papel.
Ela tem 7 anos, é negra com o cabelo cheio de cachinhos. Sempre senti que ela tinha vergonha em relação aos cabelos e à cor da pele dela, já que só ela é assim aqiu em casa. A gente sempre tenta mostrar pra ela que ela também é bonita.
Acho que a opinião que ela tinha dela mesma mudou depois da novela Viver a Vida. Acho que foi um choque pra ela que a personagem principal fosse bonita, famosa e negra. Ela falava "eu sou a Helena, porque ela é igual a mim".

Umrae, isso aconteceu com a minha irmã também. Teve uma época que o cabelo dela, que antes era liso, ficou meio crespo. Hoje ele é meio ondulado/chacheado.

Patricia disse...

Juliana, sempre achei isso um absurdo. No orkut, há histórias de meninas que já foram preteridas em entrevistas de emprego por causa dos cabelos cacheados/ crespos. E o mais horrível é que um homem nunca seria preterido por ter cabelo crespo. Na rua, o meu cabelo faz o maior sucesso, mas dentro de casa, pfff. É um tal de dizerem que meu cabelo tá "feio" e "desarrumado" que eu vou te contar. Quando eu decidi parar com a química, minha mãe quase teve um AVC. E até hoje ela tenta me convencer a fazer uma progressiva. Ainda é muito difícil pra algumas pessoas perceberem que a felicidade também existe fora dos padrões.

Mariana, acho que o liso só é prático quando você já nasce com ele. Hoje acho que eu me submetia a verdadeiras torturas por conta de um cabelo que não é o meu. Fora ter que correr de chuva, tomar cuidado pra não suar, etc.

Patrícia, se serve de consolo, passei pelo mesmo processo que você está passando agora e não me arrependo, meu cabelo é feliz hoje. Tem cara de saudável. Não desista que vai valer a pena, com certeza.

Ághata disse...

Meu depoimento é um pouco diferente da maioria. Meus cabelos sempre foram cacheados. Quando eu era criança muita gente elogiava meus cachos - apesar de minha mãe me aplicar um método de tortura chamado "touca" que envolve grampos, puxadas de cabelo, um horror, para ele ficar mais para ondulado com poucos cachos no final às vezes.

Na pré adolescência, meu cabelo ressecou e ficou muito arrepiado e yo teimava em penteá-los porque minha família e minhas amigas aconselhavam a agir assim, aquela história do tal do cabelo arrumado e tal. Só que isso impedia que a formação dos cachos, o cabelo só ondulava e ficava com muito volume e quebrava todo, claro.

Lembro que eu detestava meu cabelo, mas não pensava em alisar, escovar nada, e fazia isso porque queria aceitar o meu cabelo do jeito que era e eu não queria me instigar a ser vaidosa e mudar meu cabelo.
Não acho e nunca achei que Vaidade fosse algo bom e não creio que seja sinônimo de auto estima.

Acho que só na faculdade deixei mesmo de penteá-lo e fazer cortes nele - deixei ele cachear à vontade e gosto mais dele assim. Mas tem muitas amiguinhas minhas que ainda tem problemas com meu cabelo e sempre me aconselham a escovar ajeitar e tudo mais.

Faz dois meses, minha irmã fez um treco no cabelo que deixou ele bem hidratado e os cachos bem definidos - apesar deles terem alongado um pouco. Gostei e fui inventar de fazer para variar pelo menos e talz.
Detestei o resultado: acabou com meus cachos e deixou meu cabelo muito ressecado. Acho que o nome do processo é anti frizz, algo assim.

Atualmente, fiz um corte repicado para retirar as partes mais ressecadas e meu cabelo voltou a cachear, graças a dios.

Meu cabelo não me incomoda mais há muito tempo. Chato é ter de lidar com as amigas cheias de boas intenções que não os aceitam de jeito nenhum.

Ághata disse...

Ah, é, maquiagem.
Uso muito pouco e só em algumas ocasiões.

Não gosto, acho que deve fazer mal a pele colocar aqueles produtos todos.
Nem gosto da sensação de olhar no espelho e ver um outro rosto ali - um rosto que acaba ficando parecido com outros, aquela coisa padronizada.

Não me sinto bem maquiada, me uma palhaça. Acho que maquiagem é o tipo de coisa cara e supérflua que se transforma em algo essencial no convívio social por causa do consumismo e da exploração econômia da insegurança, da baixa auto estima e da vaidade da mulheres.

Já ganhei muita maquiagem e sempre me estimularam a usá-la, até gente que não conheço.

Nas raras vezes que uso, as amigas reparam e me estimulam a tornar isso um hábito - que não quero desenvolver de jeito algum.

Não quero correr o risco de só ter coragem de sair de casa com maquiagem - nem que seja algo simples como lápis de olho.

Ághata disse...

Talvez eu tenha falado de um jeito que dê a entender que eu desprezo mulheres que alisam os cabelos e usam maquiagem o tempo todo.
Não é isso.

O que tenho é aversão a essa exigência social de ter cabelos lisos e só sair de casa maquiada. Tem muita gente que acha feio cabelos cacheados e crespos (acho este termo Crespos preconceituoso, mas não tem outro melhor) e acha desleixo sair de casa sem estar maquiada.

Não acho que ng deva ser obrigado a achar cabelos cacheados e crespos lindos ou gostar de rostos sem maquiagem, mas gostaria que nos deixassem em paz para sermos 'desleixadas' o quanto quisermos. Liberdade para ser 'feia' e sair do jeito que eu quiser na rua, por favor.

Débora Lima disse...

Assino em baixo Ághata! o/

Garota Enxaqueca disse...

Olha, eu tenho tanta coisa pra dizer esse post, mas não consigo! Escrevi umas 5 vezes e apaguei tudo...

Só vou dizer, então, que adorei e achei o máximo que a dona do cabelo se aceitou e deixou de lado a opinão alheia...

Comentário absurdamente bobo, eu sei. Mas saiba que eu tinha muita coisa pra falar e faltaram as palavras certas...

Besos, guapa...

Koppe disse...

Agora que falaram em maquiagem, lembrei dessa história: http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=327273.

"Uma jovem, de 13 anos, acusa duas professoras e a diretora de uma escola por agressão física. A adolescente afirma que as mulheres usaram álcool para retirar a maquiagem, estilo gótico, que ela usava. No rosto da menina é possível ver marcas de queimadura devido ao produto usado indevidamente. A jovem perdeu parte da visão do olho direito. A direção da escola não quis falar sobre o assunto. "

Nadia disse...

Me identifiquei muito.
Eu, caçula de 6 irmãos (5 mulheres e 1 homem), fui a única que nasceu com os cabelos tóin-óin-óin. E seguiram muitos outros apelidos. Bem, não ajudava muito o fato de também ser dentuça... Quando criança, dava para pentear sem ficar muito volumoso, mas depois que fui crescendo... "seu cabelo é igual bandido: quando não tá preso, tá armado", mesmo porque o pente desfazia os cachinhos e aí... E para piorar, na década de 80, a moda eram os cabelos repicados. Depois é que começou a valorizar o cabelo "fio reto" e nos anos 90 vimos algumas atrizes e cantoras tipo Daniela Mercury, com cabelões cacheados, o que influenciou na aceitação, acredito que de muita gente. E te digo que a família não ajudou muito... Ninguém tinha o cabelo totalmente liso, mas as observações sobre o meu eram de longe as piores. E eles ainda diziam que eu não deveria molhar o cabelo para pentear que isso pioraria mais ainda, não entendiam que sem molhar ele não cacheava. Bem, quando fiz 17 e comecei a trabalhar, aí fiz de tudo no cabelo, mas nunca alisei totalmente. Relaxamento, mais para soltar os cachos e tirar o volume. Mas é uma química forte, e aí vieram as progressivas! Eu fazia o relaxamento na raiz, pra tirar o volume e mergulhava nas escovas: com formol, proíbe o formol, de chocolate, marroquina, inteligente (as outras eram burras?), etc... e todo mundo chapado!!!
Bem, o tempo passa, e os cabelos começaram a ficar brancos...
Daí eu disse: chega!
Há poucos meses, com 33 anos, cortei os cabelos curtos (na altura do pescoço), e assumi os cachos! Sabe que eu "tô me sentindo"? Tô ótima, meu cabelo tá liiiindo (pra mim, claro. E pro meu marido, que adorou. No trabalho sou totalmente alienígena. Engraçado, recebi muitos elogios masculinos, já as mulheres olham com aquela cara de quem tá pensando "meu Deus, quando ela vai cair na real???").
E ainda hoje, quando estou na casa de minha mãe, ela ainda me faz a pergunta básica: "vai sair sem pentear os cabelos?". Sim, mãe, vou sim!

Flávia Simas disse...

Nossa eu também tenho tanta coisa pra dizer que fiquei igual a Garota Enxaqueca. Mas aproveitando o que a Ágatha disse, eu queria contar aqui que virei refém absoluta da maquiagem. Pode não ter sido a melhor solução, mas no meu caso foi a mais fácil.

Tenho olheiras bem marcadas. Sou uma mulher panda. Só que, até me mudar pra Índia, eu não ligava muito pra maquiagem, não. Aliás, nos meus primeiros dias no escritório, eu nem usava a bendita. Foi só o pessoal do escritório criar um pouco de intimidade comigo, que começaram a me bombardear tanto, mas taaaaaaaanto, mas taaaaaaaaaaaanto, que eu cansei.

Era um tal de dizer que eu tinha o aspecto doente, que eu tava horrível, que meu rosto era assustador, que eu parecia cansada sempre. Além das perguntas 'vc não dorme bem?', 'vc quer que eu te indique um dermatologista?' e das mil receitinhas práticas para acabar com olheiras.

No início eu argumentava e tals. Dizia que não estava cansada, que minhas olheiras eram assim mesmo, que já tentei todo tipo de tratamento e não deu certo, que não gosto de maquiagem e blábláblá. Quando vi que meus argumentos de nada adiantavam, pois as pessoas (homens e mulheres) continuavam a me perguntar insistentemente o que houve, eu resolvi apelar para a cara feia. Fechava a cara quando eles vinham me perguntar o que aconteceu, DIARIAMENTE. Começaram a falar que eu devia estar com algum problema, que isso se refletia na minha cara cansada e tudo mais. Ou seja, eu devia ser a problemática, não eles. E o pior é que as abordagens sem-noção continuavam. As pessoas aqui não tem nem o bom-senso de parar com os comentários estúpidos e deixar os outros em paz. Nem mediante cara feia.

Daí que eu, precisando do emprego, apelei pra maquiagem. Comprei um corretivo e uma base com um tom mais claro que o da minha pele, e vou parecendo uma gueixa pro escritório todos os dias. E as pessoas acham lindo. Já perdi as contas de quantas vezes recebi elogios dizendo que minha pele está perfeita, que nossa, como melhorou, que minha beleza apareceu depois da maquiagem (como se a base fosse a solução mágica para todos os meus problemas). Quando tiro fotos, a minha cara sempre sai branca e o corpo moreno. Mas percebi que é disso que os indianos gostam. Eles acham normal sair com a cara branca, tanto que muitas mulheres usam talco no rosto, incluindo aí minha sogra que é a cópia da atriz Whoopi Goldberg, só que de cabelos lisos. Quando elas vão sair, passam tanto talco no rosto que eu fico com a impressão de estar em meio a várias Chicas da Silva.

Enfim, me deixaram em paz. Mas não é nada legal saber que eu não fui aceita e que os comentários só pararam porque eu cedi às sugestões dessas pessoas. Tem horas que eu me sinto realmente mal, daí eu tento não pensar muito porque a minha sobrevivência aqui é o mais importante no momento. Tem dias que eu estou de saco cheio e vou sem maquiagem. Quando chego na porta as pessoas já começam a me perguntar o que houve e eu digo 'aaahh, tô doente hoje'. Mas é um saco ter que ficar dando tanta explicação. Daí eu evito ao máximo sair sem meu corretivo. Posso até não usar blush, sombra, lápis, rímel, batom, mas do corretivo eu não abro mão.

Geovana Gambalonga disse...

Ola Lola, ótimo post! Sou mais uma do time das meninas cacheadas, mas diferente das demais não sofri com quimicas e alisamentos, porque nunca me sujeitei a fazer nenhum quando adolescente. Eu era uma menina sapeca que adorava jogar bola, ou qualquer outro esporte de grupo, entao nao ligava para maquiagem e cabelos. Fui usar um make descente só na minha formatura de ensino médio...eheh Mas com a ida pro mundo do trabalho, faculdade, comecei a usar maquiagem e tratar os cabelos, mas sem nada de quimica, sempre ao natural. Mas o engraçado disso tudo que só a cuidar dos meus cabelos nessa epoca, e depois comecei a aprender as manhas da maquiagem e tudo isso graça aos mtos blog de beleza e comunidades do orkut. O mais importante disso, foi que aprendi a manter o meu cabelo saudavel, bonito e cacheado como ele é naturalmente. Eu já gostava dele, agora amo e uso solto, acho ate um desperdicio prender. E sabe ele faz parte da minha personalidade, nas raras vezes que fis escova, me senti estranha.. hehe Quanta a maquiagem, sou bem natureba, e so uso maquiagem nas saidas a noite, no resto me preocupo sempre com a saude da pele e tratamento da acne. Então Lola, eu vejo que eu não pertenço a maioria quando relato minha postura sobre isso, procurar o saudavel, o natural, esteticamente, não é muito bem visto. Mas já vi vários sinais de mudança, o movimento viva os cachos mesmo, hoje é gigantesco.
bjs

Paloma Peruna disse...

Tb passei por experiências parecidas... Na verdade, não faço a menor idéia de como meu cabelo é. Eu faço procedimentos químicos desde sempre, desde muito criancinha. Lembro q quase sempre eu era uma das poucas (quando não a única) menina negra da sala (estudava em colégios caros). Foram tantos apelidos, tantas "brincadeiras" de mau gosto. Este é um assunto mutio doído pra mim. Meu marido vive pedindo pra eu deixar meu cabelo natural, e elogia muito nas pouquíssimas vezes em que não estou com os cabelos escovados e de chapinha. Mas tdo o q passei na infãncia e adolescência (qdo passava a manhã inteira olhando os cabelos lisos das minhas amigas e tendo vergonha dos meus) deixaram marcas q não consegui superar. AINDA!!! bjos

Jackson disse...

Quando li o comentário de Loy, ri muito. Foi inusitado, o trocadilho de Chico César. Mas depois parei: não é hilário, é sério. Tudo bem, é um trocadilho; mas o respeito não é menos devido aos cabelos crespos do que aos cabelos brancos.

Mariana disse...

Lola, eu tb tenho meus problemas com cabelo, problemas que me perseguem desde criança. Queria ser igual à Marcia, mas cadê coragem?

Um dia eu conto minha história. E peço ajuda...

CherryBlossomGirl disse...

quando eu tinha, sei lá, 12 anos, ouvi do menino mais bonito da sala que ele gostava de meninas de cabelo liso. a retardada aqui foi perguntar pq - ah, é porque dá um aspecto mais saudável!
talvez o problema do cabelo seja que existe maneira de 'consertar'. se você é baixa, gorda, negra, esquisita, sei lá, não tem o que fazer, ou é complicado e demora. mas tem cabelo 'ruim'? faz uma escova que 'resolve' na hora! se você não tem cabelo liso é porque 'não se cuida' ou 'não se arruma'. arg!

Anônimo disse...

Otimo post, linda história mas infelizmente a realidade de muitas mulheres não é essa e a porcaria de um cabelo pode destruir a vida e auto-estima de uma mulher.

Eu sou exemplo claro e vivo disso. Meu cabelo sempre foi horrível. Horrível de nascença pela herança negra da família. E parece que eu fui a "sorteada" pra herdar o cabelinho ruim de um avô/bisavô sabe-se lá distante. Explico: meus pais, ambos, tem cabelos "bons". sedosos, macios e lisos. Minhas irmãs tb. Eu, a única que herdou essa porcaria de cabelo, que me impediu de ser eu mesma na vida, me impediu de ser cantora, me impediu de ser modelo fotográfica, e me obrigou a uma vida reclusa escondida tendo que conviver com essa porcaria de cabelo. Odeio esse cabelo. Queria ser loira, ter cabelos lisos, mas nãoooo... Deus, na sua infinita bondade me agraciou com um cabelo que representa simplesmente TUDO que eu odeio nessa vida. Parabéns pra mim. Quem sabe na próxima encarnação eu volte com cabelinho diferente, e bem bonitinha e então farei discursos de auto-estima pra todo mundo se aceitar e ser feliz.

Anônimo disse...

Eu sou a revoltada do comentário anterior acima. Talvez não tenha ficado claro para as leitoras o motivo da minha revolta com meu cabelo e minha aparência em geral.

Meu cabelo não é cacheado - e eu acho lindos os cabelos naturalmente cacheados. Meu cabelo seria o que se pode chamar de tecnicamente liso visto que ele não dá voltas como em cachos mas ele ondula, tem muitas ondas e é muito, muito cheio.

Descrevendo assim dá pra imaginar um lindo cabelão como da cantora Lana Del Rey, certo? Quase isso, com um porém. Ele é seco, os fios tem textura grossa, que por mais chapinha ou progressiva que se faça nele continua seco. É impossível mantê-los longos e tratados sem MUITO INVESTIMENTO, muito dinheiro. Não é qualquer produto que se encontra nos mercados ou farmácias que resolvem e nem qualquer salão meia-boca que dá conta. É coisa mesmo que tem necessidade de ter grana pra manter ao menos minimamente arrumado, agradável de ver, pq do contrário fico parecendo um leão descabelado. É a coisa mais estressante e angustiante da minha vida.

Me impediu de ser e fazer muitas coisas ao longo da minha existência.

Eu não sou feia, horrorosa, aquela coisa que diga, "oh coitada, desprovida de beleza". Não, sou até bonitinha, creiam-me. Só que esse detalhe infernizou toda minha vida.

Deixei de ser modelo por causa do cabelo! Deixei de ser convidada a gravar um cd como cantora e compositora pq o empresário não me achou bonita o suficiente pra isso. Em compensação ele não pensou duas vezes antes de convidar uma amiga de cabelos loiros, longos, lisos e macios mas que nem bonita realmente era...

Conseguem entender a revolta que eu tenho? Toda minha vida foi assim.

Hoje em dia não desejo mais nada pra mim. Já era minha auto-estima. Fazer discurso feminista acho muito válido mas infelizmente o mundo em que vivemos não é assim. O resultado é que vemos a ditadura da beleza, da magreza, da feminilidade, dos padrões impostos e negamos isso, mas muitas de nós queríamos sim fazer parte. Entrar para o clubinho das beldades seletas; Seja para melhorar nossa auto-estima - pq somos mulheres, seja para impressionar o ser amado/amada.

Enfim, é complexo o assunto. Muita gente que ler ficará revoltada com o que escrevi, vão me dar lição de moral, fazer discursos e no final não vai resolver nada na minha vida. É só um mero desabafo.

Tamires disse...

Estava fazendo uma pesquisa e caí aqui incrível como o post é atemporal, eu tenho o cabelo ondulado, aquele liso esquisito ou disforme que várias falaram aqui e todo mundo falava pra tacar química. Prontamente coloquei ai foram surgindo várias químicas de quebra surgiu a progressiva com formol, que de cara na primeira aplicação eu já achei um veneno e depois disso resolvi parar de fazer qualquer química na minha jubinha. E cá estamos em 2019, todo mundo ciente dos males da progressiva e um aumento da busca pelos cuidados com cachos e surgindo então a ditadura do cacho perfeito sem friz comprido definido e com brilho com muito creme masssss sem efeito molhado (praticamente impossível), espero que possamos chegar num meio termo e que as meninas onduladas, cacheadas e crespas tenham conseguido se encontrar e que fiquem longe das escovas de carbocisteína, ácido carboxílico e formol