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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

MAIS PRESENTES NO ANIVERSÁRIO DO BLOGUINHO

Um ano de blog e quem faz a festa é você etc. Não preciso repetir. Mas tenho duas novidades. Uma é que coloquei no sidebar do blog todos os posts sobre as buscas malucas do Google que chegam aqui, como foi feito com os filmes em ordem alfabética. Agora você pode passar uma tarde inteira rindo dessas besteiras. Falta organizar muitos textos ainda (principalmente os feministas), mas pouco a pouco eu chego lá.
O outro presente não é tão nobre. É do tipo “Eu ia jogar fora, mas decidi te dar”, sabe? O quê, você nunca deu pra alguém algo que ia jogar fora? Opa, melhor não falar nisso (vou deixar a oferta de “Leve o maridão e ganhe de brinde um jogo de xadrez” prum momento mais propício). É o seguinte: enquanto eu vivi em Detroit, EUA, entre agosto de 2007 e agosto de 2008, eu vi montes de filmes. Nunca vi tantos na vida. Escrevi sobre a imensa maioria, como você pode conferir pela quantidade absurda de crônicas de cinema. Porém, houve alguns que eu vi e não estrearam no Brasil. Foram lançados direto em dvd, ou nem foram (ou serão) lançados. E eu tenho tudo anotadinho sobre eles. Não parece um desperdício jogar fora?
Em se tratando de cinema, meu processo de criação funciona assim: eu vejo um filme. Procuro não pensar em nada além do filme naquele momento. Já tentei, vários anos atrás, fazer anotações durante a sessão, mas não dá certo. A sala é escura demais, e eu perco a concentração. Quando o filme termina, se eu sinto que ele está se esvaindo da minha mente a passos rápidos, anoto enquanto estou no ônibus, voltando pra casa. Geralmente dá pra esperar chegar em casa - não estou tão gagá assim. Dá até pra anotar uns dois dias depois. Mais que isso, bye bye. Aí eu não lembro mesmo. Claro que não sou como o maridão - que sequer se lembra do nome do filme que viu -, mas vários detalhes desaparecem da minha memória.
Eu vou anotando o que vem à mente, sem ordem. Mas o interessante é que muitas vezes sai na ordem em que vou estruturar o texto. Sinal que tem alguma coisa funcionando na cachola. Com tudo anotado, posso deixar o arquivo no freezer durante meses até escrever a crítica. Certo, isso não é o ideal, mas acontece. Aí é só dar uma olhadinha no trailer, pegar minhas notinhas, e mãos à obra. Desnecessário dizer que o maridão só costuma estar presente no primeiro momento do meu processo de criação, que se restringe à saída do cinema. Se ele tiver alguma frase relevante pra dizer, ele diz (geralmente extraída a fórceps - eu ia escrever extraída a biceps, sinal que a cachola não funciona tão bem assim). Tenho que ser ligeira. Dez minutos depois da sessão ele já não se lembra do que fomos ver. Já aconteceu d'ele olhar pra mim e perguntar: “Quem é você?”. E há ocasiões em que ele não diz absolutamente nada de aproveitável. Nesses casos preciso contar exclusivamente com meu talento inesgotável. Cof.
Enfim, enquanto eu estava em Detroit, vi filmes independentes como The Wackness e The Life Before her Eyes (foto), quase sempre em exibições pra críticos (porque eu tava no clubinho, ueba!). Fazia anotações, pensando que o filme chegaria ao Brasil. É uma pena, mas não chegou, e não tenho tempo pra escrever uma crônica sobre um filme que, com sorte, você verá em dvd. Mas é melhor poder ler as minhas notinhas do que nada, não?
Outros filmes mais comerciais, como Uma Mãe para Meu Bebê, Ressaca de Amor, Sem Vestígios, Diário dos Mortos (foto), e Vivendo e Aprendendo tinham data marcada pro lançamento no Brasil, mas essas datas foram canceladas e os filmes nunca passaram pelo cinema (estão nas locadoras). Acho que Medo da Verdade chegou a ser exibido no cinema, e não lembro por que não escrevi sobre ele. Quanto a Rebobine, Por Favor, é porque eu estava na Argentina, sem tempo nenhum, quando ele estreou.
Ah sim, e The Visitor? Foi um dos melhores filmes que vi ano passado (em abril, em Detroit), e felizmente o Richard Jenkins foi lembrado pro Oscar de melhor ator. Mas não tem previsão de estréia aqui. Acontece que, na época, eu não só vi o filme como também entrevistei dois dos atores principais (não o Richard), que estavam concedendo entrevistas pra imprensa em Detroit. Os atores não são muito conhecidos, o bate-papo foi vapt-vupt e minhas perguntas foram um fracasso, mas juro que foi uma experiência positiva. Você pode ler meu relato aqui.
E, se você clicar no label aí embaixo escrito anotações, verá todos os filmes que eu cheguei a ver e escrever minhas notinhas, mas que, por algum motivo, não viraram críticas. O que é uma perda enorme pra humanidade, eu sei.

domingo, 6 de julho de 2008

VIVENDO E APRENDENDO / Anotações

Smart People - direto pra dvd no Brasil - dezembro 08 . Título: Vivendo e Aprendendo
Minha cena preferida é quando o Dennis Quaid pega um livro da estante, e a capa diz, em letras garrafais, “Collected Poems – William Carlos Williams”. Aí ele lê a primeira linha de um de seus mais famosos poemas, e a Sarah Jessica Parker diz “William Carlos Williams!”. Fiquei feliz que ela sabe ler. Se fosse uma comédia, o Dennis diria: “Não, Manuel Bandeira”.
Perguntei pro maridão quando o filme terminou: “E a gente, é smart people?”. E ele: “Não, a gente viu essa bomba”.
Uma moça reclamou no banheiro da Sarah, e disse que ela é muito velha pro papel, já que a personagem deveria ter uns 30 anos (pois teve um curso com o Dennis no primeiro ano da faculdade, uma década atrás). Olha, não quero criticar a Sarah. Acho que ela é um monumento à femininidade. Se ela é considerada bonita, qualquer mulher pode ser.
As pessoas no filme, além de não muito espertas, tampouco são bonitas. Qual a vantagem de colocar um Dennis com barriguinha postiça (na mesma semana de lançamento do filme montes de fotos do Dennis cinquentão, musculoso e sem camisa, circularam pela mídia) e com uma barba horrenda? O Thomas Church, que é charmoso, tá de bigode enorme. Pelo menos aparece o bumbum dele duas vezes, mas não é suficiente.
Professor universitário não presta. Depois deste e do ótimo The Visitor, não resta dúvida.
Ellen Page faz uma moça repulsiva. Sem um único amigo. Tem foto do Ronald Reagan no quarto! Faz parte de grupos como “Jovens Republicanos”. Mas por que ela tem que cozinhar pra todo mundo? Por ser a única mulher na casa? Tudo bem que ela é republicana, mas ela não deveria ser inteligente também? (uma contradição em termos, eu sei).
O personagem do Church se sai melhor apenas por estar em tão má companhia. Todos são bem insuportáveis. E os atores não ajudam. Ninguém tá bem.
Legal é que que ele está tentando publicar um livro, recusado por todas as editoras. Até que uma aceita. O editor explica que do terceiro ou quarto capítulo pra frente o livro vira um “personal bully” humilhando o leitor. E que esse tipo de literatura vende bem. O título será “You Can't Read”.
Maconha. Decididamente uma das coisas que white people like. O filme tá cheio delas. Aliás, não vi um só ator negro.
Estudar em Stanford custa 40 mil dólares por ano. Glupt.
Não dá pra entender por que a Sarah quer ficar com um sujeito tão detestável quanto o Dennis. E vice-versa.

REBOBINE, POR FAVOR / Anotações

Do diretor Michael Gondry, de quem o Stuff White People Like tira sarro. O Stuff diz que qualquer coisa que o Michael lança é cultuada pelas pessoas brancas, que aguardam ansiosamente por Rebobine - “é o acontecimento cinematográfico mais importante desde Os Tenebrosos Tenembauns” (que não é do Michael, mas as pessoas brancas também adoram).
Gosto de como o Mos Def fala “What the duck?!”, ao invés de usar o palavrão que começa com f, e que qualquer um que já viu mais de um filme americano sabe muito bem qual é. Tô pensando em adotar o duck. Até porque patos são fofinhos.
Eu já estrelei um vídeo caseiro chamado Lola, A Estranha. Era um terror, e no final eu e meus amigos dançávamos ao som de Thriller, imitando zumbis. Só não gostei quando meus aluninhos adolescentes perguntaram se era um filme pornô, e passaram a me chamar de “nossa teacher porn star”.
Algumas cenas são bonitinhas. Mas são esquetes, não o filme inteiro, que não se sustenta. O tom suave e sem maldade ajuda, e os personagens têm um brilho nos olhos que os faz parecer quase lunáticos (tipo a Mia Farrow).
A mensagem de “Como assim, você não consegue fazer dinheiro? Esta é a América!” prevalece.
É antagônico e doce que ainda exista uma loja que trabalhe exclusivamente com vídeo VHS. E que tanta gente não tenha aparelho de dvd. Eu ainda tenho meu vídeocassete, mas faz uns três anos, no mínimo, que não coloco uma só fita lá. Se estiver quebrado, eu não vou saber.
Também uma homenagem ao cinema, principalmente o dos anos 80. O primeiro filme que eles fazem é Os Caça-Fantasmas (que pra mim de marcante só tem a música).
Mas primeiro que nada é tão barato. Até pra conseguir fantasia de Robocop eu teria problema. E você consegue fazer quantos minutos engraçados de alguém vestido de Robocop? Mais de dois até que canse? Uma moça tem a brilhante idéia de fazer os filmes mais curtos ainda, pra aumentar o ritmo de produção. Mas os clientes não vão se sentir enganados que os filmes não tenham nem vinte minutos?
Participação da comunidade em refazer o passado, contar uma história. E tudo é uma ficção.
Mas o filme fica fantasioso demais depois de um tempo. Como se uma onda de fofura radioativa tivesse tomado o set, sabe? Primeiro, posso entender completamente que as pessoas achem graça de vídeos caseiros parodiando grandes sucessos do cinema, como Conduzindo Miss Daisy e O Rei Leão. Mas elas realmente vão querer ver dois carinhas sem nenhum talento fazendo filmes “originais”? Ok, o sucesso do YouTube me diz que sim. Mas o YouTube é grátis. Se você tivesse que pagar vinte dólares por filme, será que rolava?
Filmes “sweded”, assuecados.
Jack Black, do seu jeito maníaco de ser, está bem durante a primeira metade. Mos Def não é ator. E até o Danny Glover fala de um jeito estranho às vezes.
Sigourney Weaver aparece, numa ponta bastante malvada que não acrescenta muito.
Poderia haver, mas não há, uma discussão sobre direitos autorais. Por que não poderia ser permitido pegar um filme ou livro de vinte anos atrás e refilmá-lo ou reescrevê-lo? Tem coisas que estão tão presentes na nossa memória coletiva que parecem pertencer a todos.
2001, Uma Odisséia no Espaço. Cena da aeromoça girando.
E o problema maior, claro, é que tanta coisa no YouTube parece superior.

terça-feira, 3 de junho de 2008

THE WACKNESS / Anotações

Passa-se em NY, em 1994. Falam muito do Giuliani, que ele está combatendo às drogas, mas fica por isso mesmo. Não devia ser um combate muito acirrado, já que o traficante teen consegue fazer 26 mil dólares de lucro em alguns dias. Vendendo maconha num carrinho de sorvete caindo aos pedaços.
Passa um ônibus com um cartaz de Forrest Gump. Kurt Cobain acabou de se suicidar. Eles usam pager, não celulares. E o mais incrível: é pré-internet. Aliás, é basicamente pré-computadores. E isso apenas 14 anos atrás.
Essa é a única utilidade do filme: nos lembrar como nossas vidas eram esquisitas antes da internet.
Não gostei nada do filme. Achei sem graça, forçado, desestruturado.
A moça é Olivia Thirlby, que faz a melhor amiga da adolescente grávida em Juno. Inclusive, a música que fecha o filme é a mesma de Juno, justamente a que fez mais sucesso.
Por exemplo, o personagem do Ben Kingsley conhece uma mulher que é cliente do traficante. Assim que se vêem, os dois pombinhos não conseguem desgrudar o olho do outro. A gente precisa de meia hora pra saber que os dois vão se ver de novo?
Josh Peck, que não sei quem é, mas parece que ele tá no Drake & Josh do Nickelodeon, seja lá o que for isso, tem uma única expressão, que é ficar de boca aberta. Dá-lhe um tom não muito inteligente, pra ser educada.
O cara não tem amigos. Hoje teria um blog, ou seria um troll deixando comentários em todo o lugar. Ele usa um joguinho portátil de videogame. Hoje jogaria online. É virgem e pensa muito em sexo. Hoje contaria com a ajuda da internet. Sem falar, claro, do empurrão que a internet daria a sua linha de trabalho (traficante).
Não tenho muita paciência com gente de classe média ou rica que tem tudo na vida e vive deprê, procurando o sentido da vida.
O filme quer fazer crer que o Josh é um carinha legal, sensível, carinhoso. Lá pelas tantas o Ben diz pra ele que a mocinha que o desprezou perdeu a sorte grande. Mas, sinceramente, não sei se eu iria querer ser amiga de um carinha tão vazio, quanto mais transar com ele.
A Olivia transa. Ele perde a virgindade com ela. Os críticos no press screening riram bastante com a inexperiência do rapaz, ejaculação precoce e tal. Achei tão batido.
Um psicólogo com muitos problemas. Certamente não é essa a intenção, mas, pra mim, pareceu um comercial contra os efeitos da maconha. Ninguém é feliz.
Filme independente também segue fórmulas. E bem chatinhas. Sempre tem alguém vomitando em filme independente, e o vômito deve ser mostrado. Não vale só fazer barulhinho, tem que participar. Montes de videoclips.
E, se não fosse um filme independente, poderia ser facilmente confundido com uma comédia romântica. Há muita diferença entre isso e um American Pie da vida? Crises existenciais de filhinhos de papai.
Machista, sem espaço pra perspectiva feminina. Sabemos mais dos sentimentos do traficante-fornecedor que ouve rap misógino do que de qualquer uma das mulheres.
E sorry, a parte em que eles estão na cadeia e um sujeito conta que apunhalou a esposa na vagina não é engraçada.
Demorei pra entender a piada, mas gostei do dono do bar dizendo que o pessoal nem tem idade pra beber, e um Ben defasado respondendo que todos têm 18 anos (a idade pra beber nos EUA é 21 anos, como confirmamos com Superbad).

sexta-feira, 25 de abril de 2008

UMA MÃE PARA MEU BEBÊ / Anotações

Antiga tradição japonesa: karaokê? Merchandising um pouco exagerado de American Idol. Mas eu joguei na casa de uns amigos e é bem legalzinho.
Entrada no hospital também é divertida. Derrubando gente, perguntando se aquele lá tá morto.
Vi na The Advocate que alguns gays referem-se aos heteros como “breeders”, reprodutores. Não gostei.
No começo a mãe da protagonista diz algo racista, como não adote um negro. No final ela abraça o único negro da história. Forçação de barra, anyone?
Mundinho branco: comida orgânica, suquinhos de vitaminas, reprodução assistida.
Custa 100 mil dólares.
Adota, pô! Leva cinco anos pra uma mulher solteira? Sim, se você quiser um bebê recém-nascido bem branquinho.
Saída fácil no final.
Narcisismo de querer fazer uma cópia de você.
Você só tem valor como mulher se engravidar/ser mãe. Quem não é fértil é inferior? Perdão? A maioria pode engravidar até sem querer.
Steve Martin sussurra que o segredo do sucesso é ter um pênis.
Vegans, reclamem. Vão a um restaurante vegan e a comida é intragável. Certamente deve ter coisa melhor.
Endless Love no começo é uma trilha sonora irônica pra revelar o “amor” entre as duas. Mas faz pensar que Hollywood nunca fez uma produção mainstream em que um casal de lésbicas tenta engravidar. A Renata disse que aguardava este filme porque tem todo um subtexto lésbico e, na falta de uma produção própria sobre isso, ela fica com as migalhas que o cinemão oferece.
Trilha sonora boa. “Be my / be my baby”.
Vilanizam a Sigourney Weaver. E fica a impressão que tinha mais, e tiraram. O que permanece é todo mundo achando estranho, suspeito e nojento que uma mulher mais velha possa ter filhos.
Presente de Grego, em 1987, Diane Keaton.
E claro que ela vai encontrar o grande amor. Porque isso de mulher criar filho sozinha não tá com nada pra Hollywood.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

RESSACA DE AMOR / Anotações

Transar com peças de xadrez gigantes ao som de “Água de Beber”. O que poderia ofender mais o maridão, que adora xadrez e bossa nova?
Mais uma produção dos mesmos de Ligeiramente Grávidos e Superbad. Bocejos...
Suíte presidencial a 6 mil reais a diária.
Duas concorrentes pelo mesmo mala.
Uma faz filmes Z, a outra trabalha num hotel no Havaí.
Uma hora elas se confrontam. A atriz, Kristen Bell, diz que o Havaí é legal pra passar uns dias, mas pra morar? A outra (Mila Kunis) diz que, apesar de lá não ter personal shoppers e psiquiatra de cãozinho, é um ótimo lugar. Mas no final vence a tradição de largar tudo pra ir se viver com o homem. Ele que manda.
Paul Rudd como surfista decadente. Vi o cara, não parecia ele, aí parecia, não parecia de novo. Ele realmente tem uma ponta camaleônica.
E se eu disser que acho o gordinho Jonah Hill bonito?
O próprio protagonista (Jason Segel, de How I Met your Mother) não é feio, embora às vezes ele seja a cara do Stallone, muito mais jovem. Tá, os olhos nem tanto, mas e a boca? Quando ele tá com chapéu cobrindo seus cabelos mais pra loiros e olhar de peixe morto, vira uma cópia do brutamontes.
Roqueiro. No começo um personagem meio insuportável, depois acaba ganhando nossa afeição por ser mais real que os outros.
Musiquinha “Inside You”, com toda uma coreografia explícita. O que eles exageram nos EUA existe de fato no Brasil!
É o épico do pênis. Começa e termina com ele. Pros americanos, ultra-conservadores (tipo, em que outro lugar no mundo, tirando as ditaduras muçulmanas, ainda se discute se um casal deve morar junto antes de casar?), funciona. Pênis em repouso vale um R rating. Apareceu uma vez, levou um R. Compare com a violência suprema que vemos em filmes pra adolescentes mais novos. Mas violência pode. Nudez e sexo é que são tabus. É como encher uma peça de teatro com montes de palavrões, pra platéia rir do incômodo.
Religião – sexo pré-marital. Ao mesmo tempo que goza um tiquinho da cara da direita cristã, por mostrar um carinha (o meio nerd de 30 Rock) que casa virgem e tem dificuldades pra entender o que se faz na lua de mel (daí o treinamento com as peças de xadrez gigantes), revela também que o amor pode conquistar tudo.
Matar um porco pra se enturmar. Matem uns aos outros, pô!
Show de marionetes medonho. Odeio quando aplaudem o protagonista de pé no fim de um filme.

domingo, 16 de março de 2008

THE VISITOR / Anotações

Um dos melhores filmes que vi este ano. Comovente.
Richard Jenkins dá um show. Por que uma interpretação dessas, discreta e bonita, não é lembrada pro Oscar? FOI!
A música une as pessoas.
Preconceito. Deportação. Posters irônicos.
Guardas treinados pra revelarem o mínimo de informação possível. Eles tentam ser educados, com “Sir” a cada frase, mas na realidade são ameaçadores. E incompetentes. Que é o que se vê com todo o atendimento aqui.
O visitante do título nem é tanto o imigrante ilegal, mas o personagem do Richard.
Estranho que em inglês a palavra “alien” sirva tanto pra alienígena como para “imigrante" (legal ou ilegal). Ou talvez nem tão estranho.
Este filme, e também Under the Same Moon (La Misma Luna), servem para diminuir um pouco a tremenda raiva que os americanos sentem em relação aos imigrantes ilegais. No fundo é preconceito racial também.
Muçulmanos.
Quem fica mal na fita é professor universitário. Dá a mesma aula faz 20 anos. Nem se incomoda em imprimir um novo programa. Ele só corrige o ano com liquid paper.
Pensei que talvez ele estivesse nessa fase vazia, de apenas passar pela vida, após a mulher ter morrido. Mas não, é muito antes. E é interessante como a gente fica sem saber como ele se dava com a mulher. É verdade que ele tenta aprender piano (depois que ela morre), mas isso não quer dizer muito.
Gosto de como o diretor demora um pouco pra compor totalmente suas cenas, criando um mínimo de suspense. Por exemplo, a gente não sabe de imediato o que a senhora vai fazer na casa do Richard, bem no começo. Ou quando surge a cabeça de um outro homem, e só depois aparece a cabeça de quem procuramos.
Envolvente do começo ao fim.
Passear de barca até Staten Island só porque é de graça. É, sei como é.

ENTREVISTA COM O ELENCO
Em Detroit, em março de 2008, entrevistei dois dos principais atores do filme: Haaz Sleiman, que faz o imigrante ilegal que inusitadamente vira amigo do professor (Haaz esteve em séries de TV como 24 Horas, Veronica Mars e Plantão Médico), e Hiam Abbass, que faz sua mãe (a atriz árabe-israelense já atuou em Munique, Paradise Now e Jesus - A História do Nascimento).
Portões abertos, sem fronteiras, para que todos possam entrar e sair de onde quiserem. Mas, já que existem países, que o imigrante só seja deportado se cometer um crime. Porque é terrível viver num lugar, construir uma família e uma vida lá, e ser mandado embora.
Fiz uma pergunta um pouco cretina. O filme tem um final aberto. Quis saber como eles imaginavam que seus personagens continuavam, o que poderia acontecer depois. Eles não quiseram ser roteiristas, acham que o final do filme deve ser respeitado, que é a visão do diretor e tal. Claro, mas assim como o público muitas vezes formula sequências pra vida de cada personagem, eu só queria ouvir a opinião deles acerca daquelas vidas. Só que não pode. Ator e personagem estão muito próximos.
Religião é um ponto importante no filme? Eles acham que não, e que esse é um dos méritos da produção. As diferenças são muito mais culturais que relgiosas. Mas há uma fala em que o rapaz se refere à namorada como ela sendo uma “boa muçulmana”, porque não bebe, e ele sendo um “mau muçulmano”. Aqui nos EUA, onde o preconceito contra islâmicos é enorme, é bom que o filme não seja sobre isso. Eles acham que o precoceito vem diminuído porque as pessoas estão cansadas da guerra do Iraque.
Typecast, preso num só papel: pra eles, a pior coisa que pode ocorrer com um ator é ter sempre que fazer o mesmo papel. Ele disse que faz árabes e latinos (?) também, mas que não deseja ficar restrito a um só tipo. Ele faz teste pro que puder. Viveu em Dearborn, subúrbio de Detroit. Agora vive em Los Angeles.
E é só falar que a gente é do Brasil que eles amam o país, querem ir lá um dia, essas coisas.

quinta-feira, 6 de março de 2008

THE LIFE BEFORE HER EYES / Anotações

Uma Thurman, Rachel Evan Wood
Interessante, prende a atenção. Mas falha, fica repetitivo, e é muito moralista.
Odeio quando ficam repetindo a mesma cena. Quando uma novela passa o replay de uma cena no mesmo capítulo, é enrolação. Num filme, acho que é subestimar a inteligência do público. Um jeito de dizer: “Você não tava prestando atenção? Então toma”.
Aqui acho que é pra criar clima. Não funciona.
Duas amigas bem diferentes. Uma religiosa, a outra mais saidinha.
Hollywood tem duas opções pras moças saidinhas: se endireitar e ter uma família, ou morrer.
Em Beleza Americana o protagonista via sua vida inteira em flashes, segundos antes de morrer. Aqui é parecido. Só que ficamos discutindo se dá pra imaginar uma vida nesses momentos.
Quando ela diz “Você não é meu marido”, e fecha a porta, tem-se um instante desta realidade alternativa.
Mas o filme sofre por achar que somos burros. Na cena em que a Uma foi atropelada e vai parar num hospital, lá está ela numa maca, dentro de um elevador. Como o flashback que vemos refere-se a um aborto que ela fez quando jovem, Uma imagina um monte de sangue vindo dela. Daí ela vê melhor e constata que não há sangue algum. Essa “reiteração” é mesmo necessária? Eu entendi que ela tava imaginando!
O tema mais interessante é se uma filha rebelde ficará igual a sua mãe quando tiver os seus próprios filhos pra criar (discussão de Clube dos Cinco). Mas não é bem desenvolvido, já que há pouquíssimas cenas entre Rachel e sua mãe. Só uma, quando ela vai parar na delegacia, e sua mãe lhe diz: “Você tem dois segundos pra tirar esse sorrisinho do rosto”. Depois Uma diz isso pra sua filha.
A filhinha é rebelde, mas não está relacionado à sexualidade, então fica vago.
Pussy – covarde. Cuidado com as palavras. Elas foram feitas pra refletir uma ordem social. Se a gente deseja subverter essa ordem, deve começar a mudar o vocabulário.
Numa cena, Rachel briga com sua melhor amiga. A amiga diz que, se ela se sente mal quando alguém a chama de “slut”, vadia, vagabunda, ela deveria deixar de agir como uma. Isso é impressionante porque nessas horas a gente vê como age o preconceito, e como todos os preconceitos são parecidos. É querer culpar a vítima. Não é o cretino que chama uma moça que transa que precisa mudar, é a moça. Assim como não é o homofóbico que está errado, é o homossexual. Se o gay quiser parar de ser atormentado por um homofóbico, é muito simples: só tem que deixar de ser gay, ué. O mesmo com gordas que são azucrinadas nas ruas por não estarem dentro de um padrão de beleza, ou por não caberem nos minúsculos assentos de avião. Emagreçam! Porque o sistema não vai mudar. Vocês é que devem se ajustar ao status-quo.
O filme valida o argumento da amiga, ao mostrar que o namorado não dá a mínima pra Rachel. E Rachel se importa com isso. Pelo seu olhar machucado, vemos que ela se sentiu usada. Isso é o que a direita cristã prega: que moças que “aceitam” transar (porque não há a menor chance de uma mulher ter desejo e querer transar) antes do casamento estão sendo usadas pelos carinhas. Pra concordar com essa idéia de uso, só achando que mulher é mesmo objeto, sem autonomia, sem consciência. Por essa ótica, eu fui bastante usada na minha juventude. Alguma chance que a mulher esteja usando o homem pra ter prazer? Ou que ambos estejam felizes e de comum acordo e, portanto, ninguém está usando ninguém? Essa terminologia raramente é empregada no casamento. Mulher se casa e pára de ser usada.
Garoto que brinca de matar coleguinhas e professores na escola. Existe algum outro país no mundo em que isso aconteça tanto quanto aqui? Por quê? Foi o que Michael Moore tentou pesquisar em Tiros em Columbine. Acho que tem a ver com o acesso fácil às armas, mas é mais que isso. É um fascínio pelas armas. É aprender a atirar desde pequeniniho, se você for homem e quiser ter laços fortes com o papai. É uma cultura individualista e competitiva, que separa pessoas em duas categorias antagônicas, losers e winners. É a hierarquia das castas nas escolas. O bullying violento. É ter tantas guerras que a violência perde o sentido. E é também ser um povo passivo, que se conforma, que não reclama.
Podia ser um Sexto Sentido sem o suspense. Bom, talvez não.
Se é pra matar aula, mate aula fora da escola.
Escolha de Sofia no banheiro. Culpa.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

SEM VESTÍGIOS / Anotações

Um filme que não tem esperança nenhuma na humanidade.
É verdade que todo mundo pára pra ver um acidente, e que, quando tem alguém ameaçando pular de um prédio, sempre tem um coro de “Pula! Pula!”. E não resta dúvida que a gente é atraída pela violência. Mas, se aparecesse um psicopata desses na vida real e fizesse um site com vítimas que morrerão de acordo com o número de cliques, o site dele teria mais acessos que o meu? Opa, pergunta errada. Acho que teria sim. A pergunta que não quer calar é: as pessoas acessariam, mesmo sabendo que estariam colaborando com a morte de alguém? O pior é que eu acho que sim. Eu não clicaria, assim como não assistiria a um snuff movie. Mas eu desvio o olhar num acidente, não sou fã de “Jogos Mortais”, “Albergue” e “Faces da Morte”, não fico vendo fotos de gente desfigurada na internet. Não posso falar o mesmo de vários adolescentes que conheço.
É só andar pelos sites pra ver como tem menino perturbado por aí. Se há site onde pessoas expõe seus problemas, vai ter sempre comentários cruéis de gente que não tem mais o que fazer. Não acho que o filme viaja muito ao incluir comentários do tipo “Já foi um gatinho e três homens. Que tal umas garotas agora?” ou “Como posso fazer um download dessa imagem?”. Mas 25 milhões de acessos? Isso não sei se acredito. Há tanto americano sem noção?
E aí fico com outra dúvida: será que nessas horas o patriotismo entra na jogada? Por exemplo, se a vítima fosse americana e o acesso ao site estivesse permitido em outros países (não tá no filme, o que não fica explicado), os adolescentes iranianos clicariam mais vezes? Ou se a vítima fosse negra, os grupos nazistas colocariam um link pra página “Kill With Me”? Por sinal, não existem negros no filme. Nem estrangeiros. É pra fugir de controvérsias, suponho.
Diane Lane é linda. Fico feliz que ela ainda consiga papéis, mesmo depois dos 40.
Lembro dela em “Vidas sem Rumo”.
Gosto do Billy Burke. Ele pode não ser o melhor ator do mundo, mas é uma gracinha. Em Banquete de Amor (“Feast of Love”) tava sexy.
O pessoal vive tentando imitar “Silêncio dos Inocentes”, mas o máximo que consegue alcançar é “Colecionador de Ossos”.
Esses filmes aumentam o número de mulheres no FBI? Parece que “Silêncio” fez um monte de menina tentar ser recrutada.
Pelo menos o filme parece deixar bem claro quem são os maiores responsáveis pela violência: os homens. Uma hora o serial killer fala do mal que os homens fazem às mulheres para que outros homens assistam. Ou logo no começo, vão atrás de um ladrão da internet, que pega senhas dos usuários. Descobrem uma mulher que mora sozinha, e meio que imediatamente a descartam.
O maridão ficou muito do nervosinho com o meu papo de “mulher não é serial killer, mulher não estupra, mulher não é pedófila, nas guerras mulher é só vítima. Vocês homens são o câncer do planeta”. Ele levou pelo lado pessoal.
Claro que o filme é tão sensacionalista como um site que fizesse isso. Não é muito diferente de “Jogos Mortais” e outros exemplares do “torture porn” - várias maneiras criativas de inflingir dor. Mas claro que se concentra mais nos mocinhos. Ou, neste caso, na mocinha.
Ficção? Espero que sim, e que ninguém tente imitar. Acho que não dá pra fazer um site que não possa ser tirado do ar. E precisa ter muito equipamento e lugar vazio pra tentar isso.
O diretor Gregory Hoblit já cometeu atrocidades piores contra a humanidade.
Não achei ruim. Nem bom. Já vi piores.
O carinha que faz o colega dela no FBI é filho do Tom Hanks!
Matar gatinhos pra mim deveria ser crime inafiançável.
É como o personagem do Billy dizer que não gosta de cinema, mas ele tá aí num filme. Mesmo tipo de hipocrisia. E aquilo é merchandising do FBI? Quando os caras quase prendem um cara por copiar filmes, e o Billy olha o aviso do FBI e diz “Você não pode negar que foi avisado”.

domingo, 11 de novembro de 2007

MEDO DA VERDADE / Anotações

O maridão acha que é uma conspiração dos críticos. Eles elogiam a estréia do Ben Affleck na direção e, em troca, ficamos livres do seu talento como ator. Tadinho do Ben. Primeiro que ele nem é tão ruim assim. Certo, não há discussão que ele esteve horrível em “Demolidor” e várias comédias românticas. Mas em “Procura-se Amy” ele foi bem. Em “Hollywoodland”, idem.
Isso posto, é quase irrefutável que seu irmão Casey é muito melhor ator que ele. Não que a gente tenha prestado atenção no Casey em pontinhas como “Gênio Indomável” e “13 Homens e um Segredo”. Mas 2007 é o ano de sua revelação. Ele dá show em “Jesse James”, tanto que merece ser indicado ao Oscar. E está perfeito também em “Medo”.
Ele tem um problema com a boca. Não sei se ele tenta falar através dos dentes, mas olha, desde o Marlon Brando em “O Poderoso Chefão” eu não ouço um ator resmungar tanto (bom, o caso famoso é o do Benicio Del Toro em “Os Suspeitos”). É até difícil entender o que ele fala em algumas cenas. Mesmo assim, ele é intenso.
Gosto muito do Ed Harris também. E a Michelle Monaghan vai bem num papel que desaparece da história lá pelo meio. O Morgan Freeman faz apenas uma figuração de luxo. E tem a Amy Ryan como a mãe viciada, que anda sendo elogiadíssima.
Mas o filme só me envolveu até a metade. Depois disso, acontece uma série de coincidências e confusões que não colaram.
E o final pode ser polêmico e tudo (dá pra ter longas discussões com os amigos sobre se o personagem do Casey faz a escolha certa), mas eu já não tava mais prestando muita atenção.
A mãe é o que se chama de “white trash” por aqui. Claramente não é uma boa mãe. Pelo contrário, parece que ela tava frequentando bares e cheirando na noite em que sua filhinha desapareceu.
Agora, Boston é uma cidade próspera. É impressionante que haja tanta miséria. Realmente é um lado de Boston (e dos EUA) que poucos conhecem.
Interessante contratar alguém só porque ele conhece todo mundo no bairro. E como o casalzinho não é levado a sério apenas por ser jovem demais.
Tem uma subtrama noir, mas é barulhento e complicado demais pra ser noir de verdade. Noir é mais sutil. A cena final é noir, com certeza.
Baseado no romance de Dennis Lehane, que escreveu também “Mystic River”.
Sobre o que é ser uma boa mãe, mais que um bom pai.
O casal de detetives indo parar num bar barra-pesada me lembrou o James Garner em “Vitor e Vitória” entrando num bar cheio de homens mal-encarados e pedindo leite.
Mais do que o suspense terrível do que está acontecendo com a garotinha desaparecida é o que pode acontecer com a Michelle. Todo lugar que ela vai ela é confrontada por algum vilão, e o Casey, frágil e bem-educado, não parece que pode protegê-la.
“Infiltrados” e “Mystic River” também se passam em Boston.
Como diretor de cenas de ação, o Ben ainda tem muito que aprender. Aprecio se alguém me explicar o que ocorre na escuridão de duas sequências inteiras.
A gente tem o Casey engolindo as palavras e uma fotografia escura nas cenas chaves. É um exercício de imaginação descobrir o que está acontecendo. Aproveite as legendas.
Se um cara lindinho desses morasse na minha vizinhança em Joinville, eu o chamaria pra tentar pôr algum juízo na cachola dos meus vizinhos barulhentos.
Eu me sinto melhor lendo que até os americanos nativos gostariam que legendas acompanhassem os diálogos.

sábado, 6 de outubro de 2007

DIÁRIO DOS MORTOS / Anotações

Vale a pena salvar a gente? Realmente, é uma boa pergunta.
Como quem tá segurando a câmera de mão é um estudante de cinema, a filmagem é muito superior à de “Cloverfield”. Não é mais o maridão, entende? É quase um profissional. Ele tem até que recarregar a bateria de vez em quando!
Agora, como pode um estudante de cinema conhecer filmes de terror, criticar os clichês em que uma moça bonita é sempre perseguida por um maníaco e vai perdendo peças de roupa pelo caminho, e não pronunciar a palavra “zumbi” uma única vez? Tá tendo uma epidemia, um morde o outro, os mortos não morrem e andam daquele jeito molenga, e ninguém da turma de cinema olha pra tela e diz: “Olha, igualzinho aos filmes de zumbi que a gente vê toda semana!”. A gente começa a entender por que eles se identificam com as múmias.
Falta coordenação motora aos zumbis. E eles voltam a ser lerdos, como todos do George Romero (não mais os papaléguas de “Extermínio”). Como eu disse em uma crítica, “dá pro candidato à refeição dar uma volta no quarteirão antes do morto-vivo chegar perto”.
O começo é bastante racista, porque toda a equipe é branca, e os primeiros zumbis são negros e imigrantes!
Interessante que as emissoras consagradas acabam, e proliferam-se os blogs, vídeos caseiros, filmagens de câmera de celular. Quer dizer que pro meu bloguinho fazer sucesso, só com o fim do mundo? E eu já disse isso em outra crítica, mas se o mundo acabar, eu ainda preciso escrever minha tese de doutorado?
Não tem vários dos clichês. As mulheres (duas) têm muito mais recursos que o normal. E um dos personagens não vai sacrificar sua existência inútil pra salvar o grupo.
Também não põe medo, não. Parece quase um documentário.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

A RAINHA / Anotações

Eu anotei algumas das minhas observações mas acabei não escrevendo uma crítica sobre o filme. Pro leitor, ler isso é melhor do que nada, né?

Infelizmente sei muito mais sobre a família real britânica do que gostaria de saber. Foram décadas de informação e fofocas, capas da “Manchete” sobre o casamento do século, transcrições de conversas telefônicas em que o Charles diz pra Camilla que queria ser seu O.B., a Diana jogando veneno pra Rainha e vice versa, essas coisas. E a cada vez que lia ou ouvia essas asneiras, eu pensava: e eu com isso, ou como disse um aluno meu, and I with that? E eu quico? O que essa gente tem em comum comigo? Pelo menos a família real de Mônaco tava cheia de tragédias e princesas filhas da Grace Kelly. Na britânica, eu podia simpatizar com quem? Com a Fergie? (tudo bem, você nunca ouviu falar dela. Não perdeu muito, juro).

Antes do Tony Blair ser o poodle do Bush, ele já era o Corgi da Rainha.

Eu gosto dos cachorros Welsh Corgi que ela tem (fofinhos; a melhor imagem do filme é quando, no final, vemos um Corgi levantar a patinha e fazer xixi no jardim real) e dos palácios vistos por fora. Acabou. Acho que eles nem devem se alimentar muito bem, apesar de ter tantos serventes, sendo britânicos, porque não tem vários lugares no mundo onde a comida seja tão ruim quanto lá. Ah gente, sabe qual o prato principal deles? Fish and chips. Peixe com batata. Outro famoso é kidney pie. Torta de rim. Não tô inventando!

Príncipe Phillip.

Helen Mirren, Stephen Frears

Além de tudo eles adoram caçar. Eu tô me lixando pra tradição! Quero que os alces e servos tenham polegar opositor por alguns dias só pra poderem caçar outros seres imperiais que habitam as florestas reais.

Eu tava espumando.

A CONQUISTA DA HONRA / Anotações

Acabei não escrevendo uma crítica sobre o filme. Mas, se você quiser, pode acompanhar minhas anotações. Faço isso com quase todos os filmes, logo depois de vê-los, e só depois dou forma à crônica.

O título em português não tem muito a ver. Tudo bem, o original, “Bandeiras dos nossos pais”, tem todo o peso da palavra “pais”, uma coisa patriarcal, antiquada, quase tanto quanto honra. O original pelo menos indica quem faz a guerra, os homens. Já a tradução assume que guerra envolve alguma honra a ser conquistada.

Se os EUA não tivessem entrado na guerra, todos estaríamos falando alemão, e não inglês, como se deve.

No final senti minha bunda ficar quadrada. O filme deveria ter no mínimo quarenta minutos a menos.

Imagino que “Cartas de Iwo Jima” seja superior, mas não posso afirmar estar morrendo de vontade em vê-lo.

Não se define. É crítico não necessariamente à guerra, mas à propaganda feita em cima da guerra feita pra ganhar dinheiro. Mesmo assim, se fosse crítico mesmo, não teria os acordezinhos musicais quando os soldados levantam a bandeira. A trilha, por sinal, é do próprio Clint. Tava tudo silencioso até então, mais sóbrio, como deve ser. Eis que um soldado põe a mão no mastro e vem a musiquinha: tim. Outro soldado, e tim tim. Ué, mas quer nos comover pra quê, cara pálida? Não passou o filme inteiro mostrando que a foto é uma farsa?

A história épica de uma foto que, realmente, pode ganhar ou perder uma guerra. Eles citam o exemplo da foto do vietnamita sendo assassinado a sangue frio. Mas pra mim a foto mais marcante da Guerra do Vietnã é a da menininha correndo nua, desesperada, ardendo em napalm.

Preconceito contra o índio. Isso tá bem explorado. Mas o ator que faz o índio é um pouco fraco, ou talvez o papel é mal escrito.

A crítica à propaganda faz parecer que é errado tentar ganhar dinheiro (e fica mal uma mensagem desta vindo do supra-sumo do capitalismo). Pior, tenta passar a impressão de guerra como algo puro, acima do mercantilismo, como se toda guerra não fosse lutada por motivos econômicos.

Fotografia excelente, imagens fortes. Mas “Resgate do Soldado Ryan” continua imbatível nesse quesito. E “Glória Feita de Sangue”, do Kubrick, segue como o melhor e mais poderoso libelo anti-guerra. Aqui o título é irônico, porque o drama de 1957 mostra claramente como não existe glória nenhuma numa guerra, só sangue.

E por falar em Kubrick, eu fiquei me lembrando de “Nascido para Matar”. Difícil ver os fuzileiros navais americanos sendo pintados como heróis depois do treinamento brutal do filme do Kubrick (pra mim, o melhor sobre a Guerra do Vietnã. Sim, melhor que “Apocalipse”).

Conquista” não é ruim. É interessante até o terço final, e não justifica que algumas pessoas tenham deixado a sessão. Só não sei se a gente precisa de mais um filme sobre a Segunda Guerra.

Soldado japonês precisa gritar ao atacar o inimigo? Não pareceu muito eficaz.

Guerra é tudo igual. Desde os primórdios da humanidade que os homens encontram motivos pra se matarem uns aos outros em cerimônias tribais. Lógico que com a invenção da metralhadora houve uma mudança de escala, mas o maridão lembrou bem da loucura. É assim: há centenas de soldados de cada lado. E eles correm pra digladiarem. “É como se houvesse alguém com metralhadora atirando em todo mundo que desce a escada rolante”, ele disse, na saída do shopping. “E o pessoal corre pra baixo, na direção do cara. Não faz sentido”.

O Ryan Phillippe até que tá bem. Se bem que demorei uma hora pra saber quem era quem.

Questiona o conceito do herói, mas faz isso muito meiabocamente.

Na realidade, como revi “Fahrenheit 11 de Setembro” recentemente, fiquei pensando nos soldados americanos invadindo o Iraque e ouvindo “Burn Motherfucker Burn” no capacete.

Chocante é quando eles participam de um jantar e servem uma sobremesa no formato da estátua, com calda de morango por cima.

Estive lá em Washington e vi a estátua, que fica bem ao lado de um monumento muito mais sóbrio e polêmico, as listas de nomes de soldados americanos mortos na Guerra do Vietnã.

A Segunda Guerra certamente é a guerra mais filmada por Hollywood porque ela é a que mais carrega a fama de legitimidade, de guerra necessária, e também porque por causa dela os americanos podem se sentir os salvadores do mundo.

Alguém me explica a honra de colocar uma bandeira em cima de um morro. Quando eu era criança, eu brincava de “pega bandeira”. Mas era uma brincadeira. Parece que guerra é brinquedinho pros homens, que foram treinados desde a infância pra lutar.

Cansa ouvir cada um repetir que não é herói. E não é mesmo, não pra mim. Heroísmo é não lutar. Qual o heroísmo em fazer uma coisa que você foi ensinado a fazer desde criancinha?

segunda-feira, 29 de novembro de 2004

ESCOLA DO ROCK / Anotações

Só anotei, mas acabei não escrevendo a crítica...


Ultra-trash e violentíssimo “Os Donos do Amanhã” (Class of 1984)

Pra quem gosta e entende de rock, um prato mais cheio ainda.

Jack Black tem o olhar maníaco do outro Jack, o Nicholson, quando ele arromba a porta a machadadas em “O Iluminado”. Mas Nicholson tem essa mirada perigosa durante alguns minutos do filme. Black tem o tempo toda. Energia que dá gosto.

Ri quando ele mergulha na platéia e dá de cara no chão.

Expulso da própria banda que fundou.

Grupo de nerds.

No começo, Jack não quer nem conversa com a turma. Eu já vi aulas assim, com professoras de verdade, em que os alunos devem fazer as tarefas em silêncio sepulcral. A aula inteira. Mais pra frente descobre que os moleques já sabem tocar instrumentos, e decide fundar uma nova banda de rock com eles. Mas como aproveitar mais que meia dúzia de pupilos? Fácil, ele distribui várias funções, incluindo a equipe técnica e as groupies. A menina mais CDF da sala não se contenta em ser groupie e vira uma empresária de primeira, uma espécie de Brian Epstein da banda.

Não gostei de “O Amor é Cego”, acho que nem o Jack se salva ali.

Em “Alta Fidelidade” ele tem o melhor papel.

Aqui o personagem é sob medida.

Geralmente os filmes mostram como um professor vai mudar a vida de seus alunos. Mas aqui são os alunos que vão mudar a vida do professor. O professor é um rebelde.

Bem sessão da tarde mesmo, mas irresistível.

Só rock n’roll, sem sexo ou drogas. Sem palavrões. Censura livre.

Joan Cusak cria uma dupla divertida com Jack.

O que a escola ensina?”

Rasga todo o sistema de estrelinhas, abole as notas. E acusa o sistema doente.

Claro, não se pode levar o personagem a sério. Ele é um bobalhão, imaturo, preguiçoso, e não tem muito a dizer. Isso é puro entretenimento, gente.

Previsível, pero fofinho.

Sessão da madrugada em Buenos Aires.

A QUEDA / Anotações

Eu anotei meus comentários sobre o filme mas acabei não escrevendo uma crítica. Tente decifrá-los.


Dir: Oliver Hirschbiegel

Com Bruno Ganz (“Asas do Desejo”), Juliane Kohler

Estou quase um mês enrolando pra ver o filme. Uma voz na minha cabeça dizia, “Eca! Mais um produto sobre e a Segunda Guerra?!”. Outra dizia “Você vive reclamando que aqui só passa cinemão americano. Agora que tem um filme alemão, você não vai ver?!”. Quando eu absorvi a estréia desta semana (“Sahara”), venceu a voz do bem. Fui ouvir alemão durante duas horas e meia.

Meio confuso, porém interessante. Sim, a guerra é confusa. A guerra foi longa. Mas um filme sobre a guerra não tem que ser.

Quem não sabe muito de história não vai ficar sabendo. A vantagem é que a gente sabe de cara quem são os vilões.

Eva Braun, personagem instigante.

E também a mulher de Goebbels, Magda, que mata todos os seus filhos, que parecem vindos de “A Noviça Rebelde”.

Hitler devia ser dono de um enorme magnetismo pessoal antes de seus últimos dias, porque o que a gente vê, o que o filme mostra, é um homem histérico e mentiroso. Ele não tem muitas falas, mas todas elas são dizendo os piores ultrajes, como “os fracos merecem morrer”, “estou feliz de ter eliminado o veneno judeu da Alemanha”, “o povo alemão que se dane”, coisas assim. Só fazer com que ele goste de cachorros – um cachorro, pra ser mais exata, e logo um pastor alemão, sendo bem provável que ele não gostasse de poodles – e de comida vegetariana não faz dele uma boa pessoa, nem um personagem complexo.

As cenas que eu vou me lembrar são da mãe matando os filhos e do Hitler matando seu pastor alemão.

Há civis, mas há inocentes?

Numa guerra, qualquer guerra, o homem mostra seu lado mais animal.

Praticamente não tem americanos. Mostra os russos derrotando sozinhos os nazistas. Bem diferente da última cena de “A Vida é Bela”.

De repente parece que a gente tem que agradecer aos comunistas que hoje em dia não estamos todos falando alemão (só inglês).

50 milhões mortos.

60 anos atrás. É bem recente.

Filmado em São Petersburgo.

Humanidade. Bom, quase sempre, quando se enfoca um personagem, a gente o humaniza. Tem gente que prefere que nunca se fizesse um filme, um livro sobre o Fuhrer. Mas isso é estranho (e, além do mais, cheira à censura). Como que a gente vai se lembrar da Segunda Guerra? Ou que versão da guerra querem que a gente guarde? Por exemplo, uma das coisas que aprendi muito rapidinho, que na escola nunca me contaram, é que nos Estados Unidos havia campos de concentração para prisioneiros japoneses. Nada que se assemelhasse a Auchwitz, mas ainda assim bem condenável, não? E por que eu tive que ler o romance do Kurt Vonnegut pra ouvir falar de Dresden, uma cidade alemã dedicada à arte, não a fins bélicos, que foi bombardeada pelos Aliados depois que a guerra acabou?

Acho que os neonazistas não vão encontrar muito que se inspirar no filme.

Não há muitos filmes alemães sobre a Segunda Guerra.

Acho que eu preferiria ver aquele um sobre como seria o mundo se o Terceiro Reich tivesse vencido, Fatherland.

Cenas de batalha não são diferentes de todas que a gente já viu. Mas vamos comparar com quando os americanos bombardeiam os japoneses em “Pearl Harbor”. Lá no Japão só são destruídos prédios, parece uma cidade fantasma. E tem muitas tomadas de aviões jogando as bombas. Aqui só há tomadas das bombas caindo no chão. Faz uma diferença enorme, né?

Teve uma hora que eu comecei a pensar: eles vão precisar de muita gasolina pra queimar todos os corpos de nazistas importantes. E também: a secretária vai digitar os testamentos de todos eles?!