O vazamento ou derramamento de #ÓleoNoNordeste continua nos deixando revoltados e perplexos.
Mas ela é apenas uma amostra do que estamos preparando para toda a água do planeta. Aqui uma análise assustadora (e infelizmente muito realista) do cientista do clima e professor da Universidade Estadual do Ceará Alexandre Costa.
O óleo continua chegando ao litoral do meu Nordeste. Fauna marinha, pesca artesanal, turismo comunitário, o impacto -- especialmente a longo prazo -- é difícil de avaliar. Nos remete aos impactos do vazamento de petróleo da plataforma Deepwater Horizon, da BP, no Golfo do México.
A alta toxicidade de diversos compostos do petróleo é algo comumente negligenciado. Lá no Golfo do México, alguns impactos assustadores só vieram a aparecer vários meses depois.
Eu já alertava há anos sobre os riscos de contaminação de nosso exuberante litoral. Minha preocupação era principalmente com os leilões do petróleo em nossa costa. Por exemplo, a 11ª rodada, sob Dilma, era um convite para o desastre. Ficando só nas Bacias Ceará e Potiguar, como é que alguém insiste em exploração de petróleo próximo a algumas das praias mais lindas do planeta?
Pior, colocando-a nas mãos de criminosos como a Exxon e a Chevron e de aventureiros como Eike Batista e sua finada OGX?
Mas nem precisou esperar esse desastre encomendado para o pesadelo que antecipei começar. É um misto de tristeza, desespero, revolta... O cenário é diferente. Provavelmente algum navio, sabe-se lá de onde, com petróleo venezuelano adquirido às escondidas do bloqueio dos EUA...
O cenário é diferente no arranjo institucional, mas não do ponto de vista químico e biológico. A indústria do petróleo é a maior inimiga dos oceanos em todo aspecto que se possa imaginar, senão vejamos.
A simples prospecção já é uma violência. A sísmica é uma perturbação brutal de um ambiente em que não é a luz que domina, mas o som. Particularmente cetáceos são vítimas. A poluição sonora continuada de equipamentos e navios prolonga a agressão.
Segundo, nenhuma operação de extração de petróleo no mar é de fato segura. Pesquisem. A Chevron/Texaco produziu um verdadeiro Chernobyl na Amazônia equatoriana. Vejam o que a Shell fez na Nigéria, no Delta do Rio Níger... e a Exxon com o Exxon-Valdez e a BP no Golfo do México.
Pior: o horror que estamos vendo agora, com golfinhos, tartarugas e tantos seres vivos em agonia é só uma amostra do que poderia acontecer com um acidente em uma plataforma de uma dessas empresas criminosas que venham a operar aqui. Esses leilões tinham de ser ANULADOS!
Mas o pior é que mesmo que seja extraído "com segurança" e depois processado, o petróleo continua sendo inimigo número 1 do maior bioma desta nossa Terra, planeta Água. Antes de mais nada porque uma fração minoritária do petróleo é usada para produzir... plástico.
Nos últimos 50 anos a produção de plástico aumentou mais de 20 vezes e hoje globalmente são gerados mais de 320 milhões de toneladas por ano. Mais de um terço dos objetos de plástico são usados apenas uma vez e imediatamente descartados. Mundialmente só 14% são coletados para reciclagem.
Do total de plástico produzido anualmente, pelo menos 8 milhões de toneladas vão parar nos oceanos, equivalente a um caminhão de lixo cheio de plástico a cada minuto. Se a tendência atual prosseguir esse valor duplicará em 2030 e quadruplicará em 2050. E aí, sabe o que acontece?
Teremos uma tonelada de plástico para cada tonelada de peixe. Hoje a proporção já é um absurdo: uma para cinco. É o que avalia estudo da Fundação Ellen MacArthur. É devastador para toda a fauna marinha.
Mas a maior parte do petróleo é mesmo queimado. Vai encher a atmosfera, tratada como esgoto gasoso, de CO2. E aí duas coisas acontecem: aquecimento global e acidificação oceânica.
Em águas mais quentes, é comum os corais perderem as algas que vivem em simbiose com eles, provocando o fenômeno do branqueamento, que pode produzir a mortandade de corais em grande escala.
Boa parte dos corais de água quente não aguentará nem 1,5°C de aquecimento global, humanidade entorpecida! É uma das conclusões mais pesadas do SR15, relatório especial do IPCC do ano passado. Imagine 2°C ou mais! Pensem na extinção em cadeia que virá daí!
O aquecimento muda as correntes, pode desequilibrar fluxos de nutrientes. O aquecimento também força criaturas do mar a migrar, e elas passam a invadir o habitat de outras com quem não conviviam. Essas interações entre espécies podem ter consequências imprevisíveis.
Tem mais. Como o CO2 aquece os oceanos a partir de cima e a água quente é menos densa, isso inibe a mistura vertical entre as massas de água do oceano superior e inferior, dificultando a oxigenação nas camadas mais profundas.
Estimativas são de que o teor de oxigênio dissolvido nos oceanos caiu 2% em 50 anos (leia o artigo aqui). E cairá ainda mais, exceto em algumas poucas áreas (mapa).
O aquecimento global também eleva o nível dos mares, podendo vir a literalmente emparedar manguezais -- com toda a importância que eles têm nos estuários -- contra estruturas naturais ou construções humanas.
Os manguezais são os berçários de muitas espécies de animais. Sim, isso inclui essa fofura aqui (corrijam-me os/as biólogos/as se estiver errado). É outro estrago no qual nem gosto de pensar.
Mas se tem algo que me parece ainda mais terrível é a acidificação oceânica. Como se não bastasse tudo que mostrei até aqui, o CO2, ao se dissolver na água, produz ácido carbônico (a reação química é H2O+CO2→ H2CO3).
Por isso, o pH dos oceanos está baixando e estima-se que eles estão em média 30% mais ácidos do que no período pré-industrial. Tal mudança é 3 a 7 vezes maior e 70 vezes mais rápida do que na última grande mudança climática natural, a saída do glacial mais recente, há 12 mil anos.
Isso tem um potencial dizimador sobre as estruturas duras de inúmeros seres vivos: conchas, exoesqueletos, tudo que tiver carbonato (aragonita especialmente). Ameaça moluscos, corais, boa parte do plâncton. Vai ter local dos oceanos cuja água DISSOLVERÁ esses bichos.
Na verdade, há indícios de que um ritmo de acidificação tão acelerado seja inédito em 250 milhões de anos, quando supervulcões lançaram enormes quantidades de gases no ar, dizimando 95% das espécies marinhas ao fim do Permiano, na maior extinção da história geológica terrestre.
É esse o destino que vocês querem para nossos mares? Sujos de óleo, poluídos por plástico, superaquecidos, acidificados, asfixiados (quem vai sentir primeiro são nadadores rápidos, que usam mais oxigênio... vai ser uma tortura ser um agulhão ou um merlim!).
Na boa, teu passeio de SUV, tua viagem da Disney, teu consumo alucinado (com produção demandando energia de térmicas a carvão ou gás e transporte demandando querosene de aviação e diesel) é mais importante que tudo isso?
Que cada CEO da indústria petroquímica e de combustíveis fósseis em geral seja enforcado nas tripas dos governantes que lhes concedem favores e subsídios e fazem guerra para lhes garantir o lucro.
E a emoção atrapalha. O correto seria: "Que cada governante que concede favores e subsídios à indústria petroquímica/ fóssil em geral e faz guerra para lhes garantir o lucro seja enforcado com as tripas dos CEOs dessa mesma indústria."
Agora sim, tá certo.
Bela charge da Mulher Listrada (@domitilaan) publicada hoje no Povo |
5 comentários:
A gente olha as fotos e chora, tenho pena dos animais, eles são as maiores vítimas de tudo isto.
O PT disse que o petróleo era a oitava maravilha do mundo quando descobriram o pré sal.
O PDVSA era a Meca do financiamento revolucionário antes da Venezuela quebrar.
Onde estavam estes críticos ambientalistas nesta época?
É, é esse o destino que eles querempros mares, sim. Os barões do peróleo não se importam. Para todos os efeitos, já terão morrido quando o pior acontecer e não estão nem aí pras futuras gerações. Para os animais e a natureza então cagam e andam. Não se desculpe por propor um enforcamento desses lixos nas suas próprias tripas, autor; é a única coisa que fará as coisas mudarem.
09:46 falando o mesmo que estão falando hoje. A diferença é que como o brasileiro medio é burro, medíocre, acomodado e acredita em raciocínio mágico depois dos 10 anos, só começou a dar ouvidos agora que a merda atingiu o ventilador.
O problema não é o CEO (na maioria das vezes), o problema é quem manda nele. Sabermos pra quem apontar é essencial.
Do mais: Ecossocialismo ou extinção!
..9:46
boa essa foi boa gostei da sua resposta..
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