segunda-feira, 14 de outubro de 2019

CORINGA, AGORA ÍDOLOS DOS INCELS, NÃO OS REPRESENTA

Antes de mais nada, quero registrar que adorei Coringa. É um grande filme. Joaquin Phoenix está fantástico (deem logo o Oscar pra ele, por favor!). E concordo com os críticos que andam dizendo que, depois dele, nenhum filme de superherói será mais o mesmo. Coringa é muito sombrio, muito psicológico, quase sem humor, sem explosões, sem duelos climáticos. Tudo que é preciso para uma necessária reconstrução da fórmula. 
Coringa é complexo e pode ser interpretado de inúmeras formas. Um guru jovem da extrema-direita brazuca escreveu num tuíte: “Assisti Joker. É uma demonstração do que a anomia social e o ressentimento esquerdista podem fazer com uma mente perturbada; um retrato desesperador das consequências do mundo sem Deus, sem propósito, sem transcendência e sem redenção que a geração de maio de 1968 tentou criar”.  
Já um brasileiro de esquerda achou Coringa tão esquerdista que intitulou sua crítica "Marx vai às telas", apontando o filme como uma grande luta de classes. E um filósofo marxista disse que é o filme mais anti-esquerda que ele já viu na vida por mostrar movimentos antifascistas como o fim da civilização. Mas o documentarista Michael Moore achou que é um filme sobre “a América que nos deu Trump”. Detalhe: todos amaram o filme. 
Infelizmente, Coringa, que conta as origens do arquirrival de Batman, o palhaço Arthur Fleck, também é amado por homens que aparentemente ainda nem o viram. O filme chega acompanhado de ameaças de atentados. Familiares do massacre de Aurora, Colorado, em 2012 (em que doze pessoas foram mortas e 70 ficaram feridas num cinema que exibia O Cavaleiro das Trevas, por um atirador que hoje cumpre prisão perpétua) pediram a Warner Bros (estúdio que produziu Coringa) que fizesse campanha contra as armas de fogo. 
Sete anos depois de outro Batman ser palco de um massacre, os cinemas americanos ampliaram a segurança para tentar evitar que Coringa inspire um novo ataque. Vários cinemas proibiram que espectadores vão com maquiagem ou máscaras de palhaços. 
Sem dúvida, o filme gera grandes expectativas. Este foi um comentário deixado no meu blog em 1o de outubro: 
"Dois dias pro maior filme de todos os tempos!!! Chora, leitoa maldita, você e todas as malditas feminazis, não adiantou a lacração toda, mesmo com sua militância 24h, eu e meus camaradas seremos representados no cinema, num filme que será Oscar e maior bilheteria da história de filmes baseados em personagens de quadrinhos. O futuro é lindo, é brilhante. Vou estar lá, na estreia do fodendo Coringa!!!"
Pois então, quem são esses bizarros homens anônimos que chamam feministas de feminazis e pensam que um filme de sucesso nos fará chorar? Ora, são os incels (celibatários involuntários, vulgos “virjões”). Incels acham que já já os homens irão se rebelar e, Deus meu, começar a matar mulheres (alguém poderia avisá-los que isso já acontece). 
Incels são um subgrupo de um movimento muito maior, que nos países de língua inglesa se autointitulam Men's Rights Activists (Ativistas pelos Direitos dos Homens), e, aqui no Brasil, se chamavam de masculinistas, até que uma feminista (eu, modéstia à parte) passou a apelidá-los de mascus (uma mera abreviação!), e acabou com o masculinismo, pelo menos no nome, pois ninguém quer ser tachado de mascu. 
Mas eles continuam se chamando de Sanctos, Guerreiros da Real, MGTOWs (Men Going Their Own Way, ou Homens Seguindo seu Próprio Caminho), PUA (pick-up artists, ou artistas da sedução), incels, por aí vai. Esses grupos vivem brigando entre si, mas são todos iguais. Todos são compostos por homens de direita que odeiam mulheres (principalmente feministas), negros, LGBT, e a sociedade de forma geral. Obviamente, ninguém precisa passar mais de dois minutos num fórum ou canal mascu para sacar que o único direito que eles defendem é aquele de ser babaca e de poder atacar impunemente grupos historicamente oprimidos. 
O termo incel ganhou força a partir de maio de 2014, quando um americano de 22 anos chamado Elliot Rodger deixou um manifesto de 140 páginas em que escreveu "Um dia incels vão perceber sua força real e quantidade, e irão derrubar este sistema feminista opressivo. Comece a enxergar um mundo em que as mulheres te temem". Seu passatempo era estacionar o carrão nas ruas da Califórnia e espiar casais interraciais. 
Ele não entendia como "aquelas vadias" podiam preferir um negro a ele, um cara tão bonzinho! Tentou as táticas PUA para conquistar mulheres que, surpresa, não funcionaram, e passou a odiar os PUA também. Numa tarde saiu de casa, matou seis pessoas (um massacre frustrado; ele planejava matar muito mais), e se suicidou em confronto com a polícia. Rodger odiava as mulheres por ser virgem, pois se via como um “cavaleiro supremo”.
De um incel num fórum mascu no Brasil em 2014: "Não adianta minha família me dar um celular, quando na verdade me sinto infeliz sem uma mulher pra ter sexo nesse exato momento, o que tem de errado comigo pras mulheres me desprezarem? Como queria agir como o Elliot Rodger agora, sair aniquilando todas aquelas que me desprezam, todas elas caindo no chão, mortas em minhas mãos, isso me faria bem, me faria entrar pra história. Ah, se eu tivesse duas armas, e acesso a todas as vadias que me desprezaram, juro que aniquilava todas com maior prazer. Elas dão sexo pra outros caras, enquanto pra mim tentam me humilhar, não acho justo isso, eu queria fazer alguma coisa contra isso, mas é uma merda não ter dinheiro nem pra armas". 
Rodger influenciou muitos mascus a se vingarem. Afinal, os fóruns mascus que pregam "O mundo te odeia. Devolva este ódio", dizem que, se você é um homem sem destaque entre as mulheres, sem a admiração e inveja de outros homens, o que você prefere ser: "a hero or a zero" (um herói ou um zero)? Pra ser herói, tem que matar “a escória” e, preferencialmente, morrer num confronto. 
Um dos inspirados por Rodger foi Alek Minassian, um canadense que alugou uma van para atropelar e matar dez pessoas (oito delas mulheres) em abril de 2018, em Toronto. Ele sobreviveu e disse que fez o que fez pra incitar uma revolução incel. Ao definir incels, disse que “É um movimento para homens como eu, incapazes de conseguir uma mulher para transar, portanto queremos derrubar os Chads [machos alfa] para forçar as Stacys [mulheres bonitas] a se reproduzirem com os celibatários involuntários". 
Dois meses antes de Missanian, Nikolas Cruz, 22 anos, matou 17 pessoas na escola onde havia estudado na Flórida. Deixou escrito num vídeo: "Elliot Rodger não será esquecido". Há vários outros casos. 
Fica a pergunta: como esses sujeitos podem ser vistos como "lobos solitários" ou "doentes mentais" se fazem parte de um movimento de ódio que diariamente os motiva, recruta e celebra?
De Marcelo Valle, criador de um fórum mascu, em fevereiro de 2018, dois meses antes de ser preso: 
"Estamos indo para o 4o ano do aniversário do Massacre de Isla Vista, uma data simbólica onde o primeiro passo da luta contra o feminismo e a degeneração foi dado. A vida de Elliot [Rodger] não foi em vão, motivou vários outros e abriu os corações para o Uprising Beta [a revolta dos homens que não são alfa]. Porém, peço que vcs não se matem, não AGORA. Esperem o Bolsonaro legalizar o porte da armas. Vivam suas vidas, façam o que vcs querem fazer, rodem o mundo, transem com prostitutas. Quando vc tiver feito tudo o que quer fazer nesta vida, pegue uma arma de fogo e saia atirando contra a escória. E sempre atire em mulheres para MATAR. A vida de um homem não tem valor na sociedade matriarcal. Se a vida de vcs é uma merda a culpa é dos judeus, mas lembre-se que os judeus só conseguem te atingir porque usam as MULHERES. Matar mulheres é como acabar com o instrumento que o JUDEU usa para perverter a sociedade".
Certo, mas o que isso tudo tem a ver com Coringa? Por que incels veem a produção como seu filme de cabeceira, e estão dispostos a matar por ele
Primeiro é preciso explicar que Coringa não se passa nos dias de hoje. Passa-se em Gotham City, que é a cara da Nova York dos anos 70 e 80, uma cidade suja e abandonada. Não é só um universo alternativo por retratar uma história em quadrinhos, mas por ser um filme de época (antes de existir internet. Talvez, hoje, Arthur ficaria o dia todo no computador odiando). 
Aliás, se passa num cenário que parece tirado diretamente de Taxi Driver, clássico de 1976. Todas as cenas de Arthur apontando uma arma pra TV, de seus encontros com a “namorada”, vem de lá. Mas Travis Bickle, personagem de Taxi Driver, apesar de perturbado e paranoico e inadequado com as mulheres (ele leva sua paquera para ver um filme pornô no primeiro encontro), não era um incel. Ele tenta salvar uma menina prostituta, algo que mascus jamais fariam. 
Mais uma referência de Coringa é outro excelente filme de Martin Scorsese com Robert De Niro, O Rei da Comédia, em que um inapto social que mora com a mãe e que quer muito se tornar comediante (em parte para impressionar seu interesse romântico, também uma mulher negra, como em Coringa) sequestra o apresentador de um programa de TV para poder participar. 
Devo confessar que recentemente ouvi um podcast de um mascu que imitava O Rei da Comédia. Suponho que ele não saiba da existência do filme de 1983, mas era parecido. Ele fazia sua própria claque para se sentir o sujeito mais engraçado do mundo enquanto despejava solitariamente seu ódio pelas mulheres.
No começo de Coringa Arthur é espancado por um grupo de jovens pobres e negros. Em seguida uma mãe negra manda que ele pare de perturbar seu filho no ônibus (tudo isso está no trailer). 
Toda a vida de Arthur é uma miséria, mas em nenhum momento ele culpa as mulheres. “Tudo que tenho são pensamentos negativos”, conta ele à assistente social, que mais tarde lhe dirá: “Eles não dão uma f*da por pessoas como você”, ao explicar que o programa social acabou (e Arthur não receberá mais os sete medicamentos que toma para controlar suas emoções). “Eles não dão uma f*da por pessoas como eu”, acrescenta ela, que é negra. Arthur não tem empatia por ela. 
Nem pela moça que três rapazes assediam no metrô. Meio sem querer, meio querendo, Arthur (spoiler) mata jovens investidores no metrô (se eles fossem realmente ricos, andariam de metrô?). Duas dessas mortes quase podem ser vistas como auto-defesa. 
Isso faz com que a plebe o encare como um justiceiro e passe a gritar “Matem os ricos!” Claro que apenas a ação de Arthur não é suficiente para iniciar o "movimento". O discurso preconceituoso do magnata Thomas Wayne, que quer ser prefeito, ajuda a acirrar os ânimos. Num momento, conhecemos Bruce quando criança. O filme sobreviveria bem sem essas cenas, mas aí não teria ligação com Batman. 
Na vida real, incels não querem matar ricos (talvez ricas). Eles querem ser ricos e transar com as ricas. E, curiosamente, vários incels são ricos, embora não por mérito próprio. Por exemplo, Elliot Rodger era filho de produtor de cinema de Hollywood. Marcelo Valle, quando foi preso em 2012, tinha R$ 440 mil na sua conta. Nada mal para um rapaz de 27 anos que não trabalhava nem estudava (é filho único de mãe funcionária pública de alto escalão). O fascínio que tantos incels têm com finanças pessoais é um indicador do quanto eles idolatram dinheiro. Com grana, eles acham que podem comprar mulheres e causar inveja em todos os homens. 
De um mascu que tinha um bem-sucedido blog de misoginia, racismo e misoginia uns anos atrás: 
“Vejo no supermercado algumas loirinhas gostosinhas fazendo compras. Otárias vadias de merda nem me olhar olham. Porque? O que eu fiz pra ser tão lixo geneticamente que eu causo repulsa nas mulheres? Porque elas não podem me desejar como eu desejo elas? Vou pra sessão de bebidas, compro minha bebida que estou afim, vou pro caixa, as caixas são estúpidas comigo devido feiúra, fico irritado e vou embora pra casa. […] Que tipo de vida é essa? Eu nasci pra isso? Elas (mulheres) e os alfas me oprimem pra isso? Pra ser um merda? […] Qual o sentido da vida afinal se nascemos geneticamente inferiores, betas, pobres e trabalhamos 12 horas por dia por um salário de merda, sem amor de ninguém, sem sexo de ninguém, sem admiração, respeito de ninguém? Estamos no mundo pra ser a chacota da elite e do sexo feminino? Até quando? Até quando?”
Pela fala desse mascu, que não era incel, já que pagava prostitutas para transar com ele (e fazia listas e as compartilhava com seus leitores), o ódio maior é contra as mulheres que o ignoram ou o olham com repulsa, mas também há o rancor de ser “a chacota da elite”. Arthur, se não fosse invisível, poderia ser essa chacota. No metrô, ele é. Mas um mascu jamais se vingaria da elite. Pelo contrário, tudo que ele quer é fazer parte da elite.  
Ao que me leva à outra questão: o que quer Arthur? Ser aceito? Por quem? Ele quer que não riam dele ou que riam dele? Quer ter uma namorada? Liderar um movimento? (não mesmo). Oferecer uma vida melhor para a mãe, antes de descobrir a verdade sobre ela? (aliás, qual é a verdade?).
Algo que fica claro no filme é que Arthur quer uma figura paterna. E, isso sim, o aproxima bastante dos mascus. 
Por algum motivo, muitos mascus são filhos de mães solo, não têm figura paterna e se ressentem disso. Vários foram largados pelo pai quando criança ou não sabem quem é o pai. Porém, em vez de culparem os homens que os abandonaram, eles culpam a mãe. Por sinal, essa é uma diferença clássica entre machistas genéricos e mascus. 
Os primeiros acham que nenhuma mulher presta, exceto a mãe, que é uma santa. Já os segundos acham que nenhuma mulher presta, ponto. Isso inclui suas próprias mães, que eles chamam de vadias. “Não existe mulher exceção”, repetem eles. 
De um incel: "Antes de conhecer a Real [um movimento mascu] eu tinha pena de mães solteiras e as via como 'guerreiras', depois percebi que não passam de vadias que estão colhendo o que plantaram rebolando em picas de cafas”. 
De um mascu contando num fórum seus conselhos para um menino de 8 anos que não é seu filho: "Falamos de desenho animado e eu sempre aproveitava para dar alguma lição para ele. Falar como um homem deveria se comportar diante dos fatos. Falei que ele tinha que falar outro idioma, pois ele seria alguém mais preparado para ser alguém de sucesso, ai ele disse, humm, eu quero ser alguém de sucesso, tipo o Batman da Liga da Justiça e aí eu disse que eu era o Flash."
Há duas palavras-chave quando falamos de mascus. Uma é ressentimento, que pode também ser compreendida como ódio. Eles se ressentem por não serem levados a sério (não à toa, esta é também uma palavra fundamental para descrever Bolsonaro, seus ministros e gurus). 
A outra é entitlement, que pode-se traduzir como um sentimento de merecimento. Mascus em geral creem que, por terem nascido homens, a grande maioria homens brancos e héteros, merecem vagas nas escolas e faculdades, ótimos empregos, as “melhores” mulheres. Muito da sua revolta é porque tantas vezes esses privilégios não são imediatos nem chegam tão fácil. Mas Arthur não se acha merecedor de nada disso, e tampouco parece ressentido. 
Permitam-me um spoiler. Quase no final do filme, vemos um motim que ocorre diante de um outdoor de uma mulher nua de quatro, numa propaganda de algum filme pornô chamado Ace in the Hole (que também é o título de um clássico de 1951 conhecido no Brasil como A Montanha dos Sete Abutres, que critica o sensacionalismo da mídia). A mulher de quatro no outdoor é praticamente a única mulher presente no meio daquela multidão. 
Ainda assim, a cena não parece ter muito a ver com o tão sonhado “beta uprising” dos incels, “o dia da retribuição” que pedia Rodger. E no entanto esta deve ser a parte mais perigosa do filme, talvez a que fale mais alto aos incels. Mas não há ódio às mulheres. Há ódio ao sistema, ódio de classes. Mascus nunca embarcariam nessa, já que são de direita.
Comentário deixado no meu blog em 8 de outubro: "Eu, assim como Arthur, sofri por toda a minha vida, fui rejeitado e desprezado, nunca perdi a virgindade, trabalho em um emprego de bosta pra ganhar um salário mínimo de merda que não dá nem pra suprir a maioria das minhas necessidades. Arthur Fleck é alguém falido, tendo de sobreviver com uma merreca como palhaço fracassado, é despedido, e o único relacionamento amoroso dele, beirando os 40 anos, é fruto ilusório da mente dele. SE ISSO NÃO É NOS REPRESENTAR, EU NÃO SEI O QUE É. Vadia mau caráter, desgraçada".
Sim, certeza que a DC se juntou com a Warner para fazer um filme pra representar terroristas misóginos, floquinho de neve especial. 
Um leitor meu arriscou um outro palpite para a identificação incel com Coringa: "Tem um motivo meta também que é o fato de considerarem uma resposta a DC que tem tentado investir em um público mais progressivo, com personagens mulheres e LGBT. O que reaças chamam de 'SJW' (social justice warriors, ou justiceiros da justiça social). Assim, Coringa seria filme para homem de verdade, diferente do 'lixo SJW' da Marvel e DC".
Pode ser, mas tudo indica que incels acreditaram que Coringa foi feito pra eles antes de ver o filme. São tão carentes que precisam ter uma superprodução pra chamar de sua. Há algo menos representativo dos “jorges de quarto” que o fato que Arthur sequer se masturba –- ele prefere dançar? Ou será que incels brasileiros ainda se lembram de uma dica de um guru do masculinismo que, quase duas décadas atrás, sugeriu aos seus discípulos um jeito infalível de atrair mulheres: gargalhar de jeito estranho? Isso Arthur faz. Não se pode dizer que funciona. 

Pessoalmente, não achei o filme tóxico. A parte mais "perigosa" é no final, quando Coringa é visto como um herói, um mártir, um modelo, pelos manifestantes. Como estamos falando de incels, rapazes que acham que não têm nada a perder, muitos com tendências suicidas, que passam o dia em fóruns online em que são incitados a "devolver o ódio" que a sociedade supostamente despeja contra eles, o final de redenção através do sacrifício é instigante para eles. Mas isso é como eles enxergam o filme, não necessariamente como o filme é. Coringa só é uma inspiração a ser seguida para mentes perturbadas como as dos mascus. 
Na noite de 7 de outubro recebi este comentário no meu blog: "Eu pensava que a minha vida era uma tragédia, hoje percebo que é uma comédia. Lola, depois de assistir Coringa, minha visão sobre o mundo e sociedade mudou completamente. Antes eu me odiava por te odiar tanto, agora eu odeio todo mundo e não estou nem aí. Foda-se a sociedade. Obrigado, Coringa! Eu ainda estou vivo, Lola, eu ainda estou aqui, eu sou o verdadeiro marginalizado, o fantasma, a sombra que ninguém enxerga. E agora, mais do que nunca, eu te odeio. E eu amo te odiar! Não viveria sem odiar, e não mais me culpo por isso. Esse é o meu destino na vida, não vou mais tentar mudar minha natureza, JAMAIS. Ao invés disso, vou pôr um sorriso no meu rosto". 
Que coisa. Eu sou o Batman dele.
Vejam meu vídeo sobre Coringa no Fala Lola Fala, com spoilers. É bem diferente deste texto.

27 comentários:

titia disse...

Assisti Coringa e qualquer pessoa que tenha o hábito de usar o cérebro nunca acharia que é uma homenagem aos mascus e incels. O filme é uma crítica severa e pesada a como nós, enquanto sociedade, somos cruéis e fracassados, excluindo e desamparando pessoas que não se encaixam no padrãozinho estabelecido e precisam de ajuda. Arthur Fleck não é um incel virjão, é um DOENTE MENTAL QUE PRECISA DE AMPARO MÉDICO SOCIAL E NÃO O ENCONTRA EM LUGAR ALGUM. Arthur Fleck não é um menininho mimado sustentado pelos pais que acha que merece tudo por ter um pinto; é uma pessoa doente que desde a infância sofre abuso e violência até da própria família, e que não recebe a ajuda de que precisa.

Se você for consultar fontes próprias, o Coringa é o caso clássico do portador de transtorno de personalidade que cresceu em um ambiente tóxico, sem qualquer amparo ou tratamento adequado, o que resultou nele se tornar um criminoso. O Coringa passa MUITO longe de ser um virjãozinho mimado que quer tudo caindo do céu na mão dele só porque é o hominho da mamãe/do papai. Quando você assiste o filme sente até uma tristeza pela situação do Arthur Fleck, porque se a sociedade não fosse tão escrota ele poderia ter tido a ajuda de que precisava e nada daquilo aconteceria. Quando você lê os mimimis dos incels, só o que sente é nojo e desprezo - e um pouco de hilariedade, eles escrevem umas merdas muito engraçadas de vez em quando. Mas o fato é: Coringa não representa os incels virjões. O Coringa não é um fracassado; é alguém que precisava desesperadamente de amparo e foi abandonado. Incels são mimadinhos chorões que correm atrás do fracasso por vontade própria pra se fazerem de vítimas depois.

Rafael disse...

Tem uma questão que me incomoda QUE ESSE CORINGA SEM UMA ARMA É UM NINGUÉM.Os incels não seriam exatamente assim?

Anônimo disse...

Assista um Coringa hoje mesmo.

Anônimo disse...

Tomara que não ganhe o Oscar😏

Pra poder ficar marcado como os clássicos injustiçados pelo lixo lacrador do Oscar"
Entrar pra lista de Laranja mecânica, clube da luta, o sexto sentido, Matrix,resgate do soldado Ryan, Birdman táxi drive, e Stalone como Rock em Creed

Anônimo disse...

Eu gostei do final , o arco dele misturado com o arco da origem do Batman...muito show...
No Arkan
Psiquiatra
" Do que vc está rindo"

"Acabo de lembrar de uma piada"


Bruce Wayne ao lado dos pais mortos na imagem

Anônimo disse...

Coringa é um psicopata perigoso, não sei porque alguém iria querer ser representado por ele, ou porque você iria querer negar essa associação com seus inimigos.

Fernando Taveira disse...

As pessoas vão interpretar uma obra de arte como bem entenderem. Um monte de psicopatas disseram que se "inspiraram" no livro "O apanhador no campo de centeio" pra fazer as monstruosidades que fizeram. Acho que o mesmo vale pra esse bando de escrotos, misóginos e de extrema direita. São oprimidos (pelas elites e o sistema capitalista), mas preferem criar uma realidade paralela e odiar outros oprimidos e minorias, do que ter senso crítico e apoiar a luta por um mundo mais justo e humano. É irônico que homens tão vis e repulsivos se vejam como pobres bonzinhos e injustiçados. Não conseguem sexo ou afeto por que têm uma essência monstruosa.

renato disse...

> E um filósofo marxista disse que é o filme mais anti-esquerda que ele já viu na vida por mostrar movimentos antifascistas como o fim da civilização.

Tyler Cowen não é marxista, mas sim liberal/libertário.

Jesus disse...

Olá Lola.
Vi o filme e não tem absolutamente nada a ver com a conversa mole dos punheteiros. O cara é um doente mental, pura e simplesmente, como milhões mundo afora e como os milhões, sem assistência adequada.
Creio que tudo que sucede no filme é falta de remédio.

Felipe Roberto Martins disse...

Parabéns ao ator principal, direção e roteiro. O filme é lotado de reflexões p/ um mundo de debates.

Anônimo disse...

Lola, a questão toda é que essa gente dá seu próprio significado as obras de onde tiram o simbolismo desses movimentos. Foi assim com Matrix, e no caso do Brasil, foi assim com Tropa de Elite. E com certeza será assim com Coringa também.

Julia disse...

Eu acho que tem duas questões sobre raça que tem que entrar no debate. Uma crítica que sobre o filme apontava como ele faz referência a dos crimes famosos da história dos EUA,o Central Park Five, em que cinco adolescentes negros foram acusados sem provas (baseou a cena em que ele apanha no início do filme, em que os adolescentes SÃO culpados) e um crime que aconteceu no metrô de Los Angeles, em que um cara matou três homens hispânicos dizendo que eles tinham cara de que iam assaltá-lo (no filme eles são todos brancos, o coringa tá sendo atacado, e é claramente auto defesa, pelo menos no início). Então é muito complicado que eles pegaram dois crimes muito reconhecíveis como inspiração, mas os colocaram no filme de uma forma que coloca um homem branco como a verdadeira vítima.
E também tem a questão de se ele matou a assistente social e a vizinha. Eu vi seus argumentos de que ele não as matou, mas é uma questão controversa, e, se ele as matou, em meio a toda a violência, as mortes de mulheres negras foram as únicas que não foram importantes nem para mostrar.
Eu achei um filme bem complicado, e na verdade bem chato, além da atuação do Joaquim Phoenix, não vi nada demais, e o filme se leva a sério demais. Também não gostei de o coringa ser contraposto a mulheres negras, nem das piadas sobre seu colega com nanismo, que foram completamente desnecessárias. Também vi algumas críticas falando que até o entitlement dele é branco, e como o filme seria diferente se ele não fosse. Realmente não curti.

Anônimo disse...

No filme, o Coringa age sem influência de nenhuma ideologia. Ele é violento tanto com ricos, pobres, homens, mulheres, brancos, negros. Também não age motivado por ressentimento contra o mundo, não aparenta acreditar ser um floquinho de neve especial que não teve o reconhecimento merecido ou estar "devolvendo" o ódio que recebeu da sociedade.

Ele é apenas uma mente perturbada pela doença mental sem tratamento que reage contra aqueles que acredita que o prejudicaram. Estão incluídos nesse categoria sua mãe, seu ex colega de trabalho, o apresentador de TV, os policiais que o perseguem, a profissional que o avalia no manicômio (não ficou claro se é uma psiquiatra ou psicóloga). Ou seja, não há um padrão para que se possa atribuir qualquer motivação ideológica.

Anônimo disse...

Um dos pontos do filme que considero relevante mas pouco abordado é a crítica sobre o porte de armas por pessoas comuns.

Tudo começa quando Arthur Fleck passa a andar armado sob a justificativa de se defender (esta é a justificativa principal dos favoráveis ao porte de arma de pessoas comuns). E realmente usa essa arma numa situação de defesa. Mas a partir daí, a situação foge de controle e levanta o questionamento se esse direito pode trazer mais riscos que benefícios para a população. Além disso, levanta a possibilidade de que as armas podem estar nas mãos de pessoas desajustadas e com problemas mentais graves.

Anônimo disse...

....assiste de novo.

Anônimo disse...

Era uma arma ilegal. Ele não tinha porte.

M disse...

Eu adorei o filme. Tb não achei que o Coringa representa os Incels, Arthur não odeia mulheres, nem tem qualquer viés (passei a odiar essa palavra)político. Ele tem sérios transtornos e sem um tratamento adequado explode em violência. No fim, ele e a sociedade de Gothan estão doentes...
E só pra lembrar: A DC foi a primeira a lançar um filme solo de uma heroína (Mulher Maravilha)e a colocar um negro no seu grupo principal (ciborgue em Liga da Justiça)e quem sabe não vem um Flash gay por ae... seria interessante.

E sobre a Lola ser o Batman deles (morri de rir) acho que tem a ver. O Batman é muito inteligente, preparado,sabe que vingança n é justiça (por isso nunca mata seus oponentes, mas os entrega as autoridades)... Não é a toa que O Coringa sempre perde!

Anônimo disse...

Você não é cruel titia, é apenas enfática em excesso...hahah

Anônimo disse...

Já oprimiu seu incel hoje?

Anônimo disse...

Verdade.

Anônimo disse...

rindo muito da última frase. se eu fosse a lolinha, faria uma montagem com a mascara do batman sobre uma foto minha e usaria nas redes sociais em datas comemorativas, tipo halloween (que tá quase aí), só pra dar aquela alfinetada gostosa nos mascus.

Cão do Mato disse...

Por que esses incels não poderiam ser vitimas da sociedade? Me parecem que também são mentes perturbadas...

Anônimo disse...

https://rollingstone.uol.com.br/noticia/neuro-criminalista-famoso-considera-coringa-uma-otima-ferramenta-educacional/

Anônimo disse...

segredo para namorar uma mulher: não seja um babaca.ponto.

Anônimo disse...

Todo mundo é vitima da sociedade, logo todo mundo é vitima e todo mundo é opressor, logo ninguém e todos são culpados, logo..

Anônimo disse...

Acho qie ele é Bolsonarista...

Anônimo disse...

Discordo da parte " rapazes que acham que não têm nada a perder... " . Na minha opinião eles realmente não tem nada a perder.