terça-feira, 22 de outubro de 2019

A TRAGÉDIA DO VAZAMENTO DE ÓLEO NO NORDESTE

Mais uma charge brilhante da Laerte

Sábado no 4o Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, em São Luís, uma jornalista criticou a demora da mídia em noticiar o #OleoNoNordeste (mais de um mês!). Criticou também a falta de entrevistas com gente que vive do mar. Segundo ela, entrevistaram até dermatologista, mas pescadores, não. "O mar tem mais do que banhista e tartaruga", disse ela.
Difícil discordar. Não há muita dúvida que, se o vazamento de óleo estivesse acontecendo no Sudeste (no Rio ou em Santos), haveria uma grande força tarefa para resolver o problema. Como é no Nordeste, região onde fascista não se cria, o pior presidente da história do país já declarou que, se o óleo vem de fora, então não é problema do Brasil. 
Segundo o perfil Ciência USP, sobre a origem do óleo, o que se sabe até agora é muito pouco. Pesquisas da UFBA, UFS e Marinha "apontam que o óleo foi produzido na Venezuela. Porém, o vazamento aconteceu certamente em alto mar, longe do território venezuelano, por embarcações de origens ainda desconhecidas".
"Nossos estudos agroquímicos evidenciam que o óleo vem de uma bacia da Venezuela. Foram diversas análises geoquímicas, a partir da coleta de amostras. Esse trabalho realmente revelou que se trata de um petróleo produzido na Venezuela", disse Olivia Oliveira (UFBA).
"A origem do óleo é venezuelana, o que não significa que é Venezuela o culpado. Tem que ver quem que comprou esse material e fez a logística. Outra coisa que sabemos é que tem barris de óleo da Shell sendo encontrado nos litorais. E que a Shell já informou que estavam sendo transportados por navios da empresas da Libéria e dos Emirados Árabes. 
"Acredita-se que o óleo cru e os barris da Shell estavam no mesmo evento que gerou o desastre ambiental. Também é importante salientar que origem e responsabilidade são coisas diferentes. A gente precisa saber qual era o navio que estava fazendo a logística e qual era a empresa que estava pagando por isso ou comprou o produto", segundo Vanessa Costa.
O que se sabe com certeza é que este é o terceiro enorme desastre ambiental no Brasil só este ano. Depois do maior crime de mineração da história do país, depois dos piores incêndios na Amazônia, agora temos nosso mar cheio de piche. Em todos os casos, o desgoverno tira o corpo fora, expõe todo seu despreparo, e acusa os outros.
Às vezes é impossível determinar o que é mais terrível, se é o óleo no Nordeste causando danos irreversíveis no meio ambiente, ou o desgoverno Bolso que não faz nada para conter o óleo.
Aliás, faz sim: 
o sinistro do meio ambiente, Ricardo Salles (conhecido lobista de mineradoras e, importante registrar, filiado ao Partido -- cof cof -- Novo), decidiu culpar o Greenpeace pelo trabalho que ele e sua equipe deveriam estar fazendo. Quando não estão ocupados acusando ONGs ambientalistas (como Bolso fez nas queimadas da Amazônia), dizem que é uma conspiração venezuelana (do Foro de São Paulo, encomendado por Greta Thunberg!) contra o Brasil. Isso quando o desgoverno não festeja o vazamento de óleo numa região que não quer nada com ele.
Quer saber o que mais o desgoverno Bolso faz pelo meio ambiente? Em abril ele extinguiu por decreto dezenas de conselhos e comissões. Dois desses comitês integravam o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), que existia desde 2013. 
Publico aqui o que o Observatório do Clima chama de "as sete coisas que o 'mentinistro' do meio ambiente poderia fazer antes de disputar narrativa nas redes sociais culpando o Greenpeace pela inação do governo na tragédia do #OleoNoNordeste":
1) Renunciar imediatamente. Afinal, Salles já demonstrou que seu modo de gerenciar crises é negá-las primeiro e depois culpar mais alguém por elas. Deveria ter aprendido com as queimadas que isso não funciona. Como isso é improvável, ele bem poderia:
2) Restituir a governança do Plano Nacional de Contingência para desastres com óleo, de cuja existência ele soube apenas na semana passada e cujo comitê executivo o governo extinguiu no "revogaço" de abril.
3) Acionar o Plano Nacional de Contingência, como demandado pelo MPF. Afinal, uma juíza de primeira instância declarar que o plano foi acionado não torna o acionamento automaticamente real.
4) Explicar o que foi feito pelo governo federal desde 30 de agosto, quando o óleo começou a ser detectado nas praias.
5) Detalhar qual é a estrutura de resposta estabelecida: quantas pessoas no ministério cuidando disso, quais são os recursos envolvidos, qual é a cadeia de comando.
6) Retirar o sigilo das investigações e das ações. É fácil dizer "xá comigo, tô na causa" tendo ZERO transparência sobre o que está sendo feito. Salles não é exatamente conhecido por sua credibilidade.
7) Decretar emergência ambiental no Nordeste.
"A maior ameaça ao nosso planeta é a crença de que alguém irá salvá-lo"
E, para finalizar, transcrevo um vídeo do Mídia Ninja
"O que se sabe até agora? O vazamento de óleo nas praias do Nordeste é o maior acidente ambiental em expansão registrado no Brasil. O desastre começou entre final de agosto e começo de setembro em todos os nove estados nordestinos. Hoje são mais de 2.100 km de manchas da Bahia ao Maranhão. Relatório do Ibama publicado em 16 de outubro aponta 72 cidades e 178 praias afetadas. O petróleo no mar pode demorar até 20 anos para ser eliminado. O óleo ameaça a vida marinha. Dezenas de animais estão sendo encontrados oleados. 486 filhotes de tartarugas estão retidos por prevenção. Ao chegar na Bahia, o óleo iniciou um novo ciclo no sentido contrário, poluindo novamente praias de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Origem ainda é incerta. Pesquisadores da UFRJ apontam uma área a 600 km da costa".
Ah, para finalizar mesmo, é bom saber que as imagens de mutirões de nordestinos tentando limpar as praias são comoventes, e que é claro que a população é corajosa e guerreira. Mas não se pode esquecer que o material é tóxico e pode trazer problemas de saúde. Além do mais, esse trabalho, apesar de valioso, é paliativo. O que se precisa é um grande plano de ação do governo.
E o Brasil sob Bolsonaro é um grande navio sem rumo.

9 comentários:

Anônimo disse...

O descaso do gov. federal é evidente e cúmplice desse crime ambiental, pois o bozo perdeu no Nordeste.

Pelo menos uma boa notícia internacional, o aborto foi finalmente legalizado na Irlanda do Norte e tb o casamento homo afetivo.

Futureless disse...

Para que o óleo venha da Venezuela, ele tem que passar, obrigatoriamente, por Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Amapá e Pará. Gostaria de saber se essas regiões receberam óleo em seu litoral...

Anônimo disse...

Nossa esquerda, apesar de defender o combate a desigualdade, não faz a menor ideia do que é a distribuição de renda do pais porque vive em bolhas de classe média alta em círculos universitários. Também não faz ideia de como funciona o gasto público e o que são restrições orçamentárias porque ainda lê os mesmos livros empoeirados que já foram a muito abandonados pelo debate acadêmico de ponta. Nossa esquerda é incapaz de contribuir com um debate honesto da política pública porque é refém das bolhas de atraso da academia brasileira, porque não tem qualquer contato com o que é o debate acadêmico internacional.

titia disse...

Procurem por um vídeo chamado "Assassino Econômico" no YT. Existe também um livro, Confissões de Um Assassino Econômico, difícil de encontrar mas que explica direitinho o que está acontecendo hoje no Brasil e na América Latina como um todo - aliás, no Oriente Médio também. Se procurar no YT, tem vários outros vídeos sobre o tema, detalhando inclusive o que está sendo feito contra o Brasil e contra a Venezuela. O fato de que é literalmente algo que já foi feito milhares de vezes antes infelizmente não fez as pessoas acordarem.

Anônimo disse...

Futureless tem razão, como que o petróleo veio da Venezuela, se não há nenhuma gota sequer de óleo nos litorais das Guianas, Suriname, Amapá e Pará? E porquê navios estrangeiros transportando petróleo venezuelano iriam derramar sua carga valiosa exatamente no nordeste brasileiro? Isto não faria nenhum sentido, a não ser que haja objetivos militares por trás desta decisão!! Em todo o caso, o mantra Venezuela já foi longe demais, é idêntico ao dos nazistas na Alemanha, ao demonizarem os judeus como culpados por todos os problemas do país. bodes expiatórios só servem para enganar o povo e manter tiranos extremistas no poder!!

Anônimo disse...

O texto não diz que o óleo veio da Venezuela. Fala claramente que o óleo vazou de navio que continha petróleo da Venezuela. A origem do óleo é venezuelana porque o petróleo extraído nas mais diferentes partes do mundo possuem características distintas entre si. E as características deste óleo, especificamente, são de petróleo proveniente de extrações venezuelanas. Precisa desenhar?

Anônimo disse...

Já pesquisou sobre correntes marítimas?

Anônimo disse...

O texto não diz que o óleo veio da Venezuela. Fala claramente que o óleo vazou de navio que continha petróleo da Venezuela. A origem do óleo é venezuelana porque o petróleo extraído nas mais diferentes partes do mundo possuem características distintas entre si. E as características deste óleo, especificamente, são de petróleo proveniente de extrações venezuelanas. Precisa desenhar (2×)?

Anônimo disse...

Que nojo essa desgraça desse óleo. Muito pior que as queimadas e só não pior que Brumadinho. É algo que dá agonia de ver. As Regiões das queimadas passaram a receber mais chuvas e pronto, acabou o problema! Já esse óleo desgraçado ele pode ser retirado, mas o rastro dele fica nas águas das praias pronto pra transmitir doenças pra quem entrar no mar pensando que tá tudo bem. Nojo dessa situação. Nojo da indiferença desse desgoverno. Esse imbecil merece um Impeachment. O Nordeste não merecia isso.