Ontem, Dia Internacional do Combate à Violência contra a Mulher, Ligia lançou um convite para que participem da sua pesquisa. Quem é Ligia, e qual é a pesquisa? Ligia Moreiras Sena é bióloga formada pela UNESP, mestre em psicobiologia pela USP, doutora em farmacologia pela UFSC. Depois do nascimento da sua filha (hoje com 1 ano e 4 meses), envolveu-se ativamente na questão do respeito ao parto e nascimento, da maternidade ativa e do empreendedorismo de mulheres profissionais que se tornaram mães. Ficou sabendo que algumas de suas amigas haviam sido extremamente desrespeitadas em seus partos, sendo agredidas verbalmente e vítimas de humilhações. Não conseguiu se conformar. Decidiu abandonar a carreira antiga e fazer um novo doutorado. Agora ela é aluna novamente, no programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da UFSC, estudando a violência sofrida por mulheres em trabalho de parto. Ela é mãe, professora, ativista e feminista (e, por coincidência, mulher do chargista Frank Maia, meu “colega” no jornal A Notícia).
Segue o texto em que Ligia explica o que é sua pesquisa. Ela quer ouvir muitas mulheres. Peço que participem, porque o assunto é muito importante.
Existem formas de violência que vão além da força física e que, ainda assim, podem ser ainda mais agressivas, mais dominadoras, mais opressoras, pela sutileza com que se escondem no contexto institucional, nas relações sociais e nos significados simbólicos. É a ocorrência e a natureza de um desses tipos de violência, ou de práticas desrespeitosas, que ocorrem em instituições de saúde que queremos alcançar com esta pesquisa: a violência e o desrespeito vivido por mulheres em trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Uma forma de violência que não é conscientizada como tal e que representa, de certa forma, um processo de dominação. Muitas vezes, atitudes de violência, desrespeito e maus tratos são observadas contra mulheres em trabalho de parto e parto sem ao menos que os profissionais de saúde percebam que estão agindo assim. São ações e condutas encaradas como “normais” e rotineiras. Essa violência pode ser expressa, de acordo com alguns pesquisadores, desde a negligência na assistência, discriminação social, violência verbal –- tratamento grosseiro, ameaças, reprimendas, gritos, humilhação intencional -– e violência física, até o abuso sexual. Outras pesquisas também incluem como um tipo de violência o uso inadequado de tecnologia, com intervenções e procedimentos muitas vezes sem a real indicação, resultando numa cascata de intervenções com potenciais riscos e sequelas, físicos ou emocionais.
Consideramos como formas de violência ou tratamento desrespeitoso, nesta pesquisa, todo e qualquer processo, de ordem física ou psicológica, que tenha ocorrido sem consentimento da mulher em trabalho de parto, parto e pós-parto imediato; que tenha ocorrido de maneira abusiva; que tenha causado situação de embaraço ou constrangimento para a mulher; que represente intrusão de privacidade; que tenha representado ameaças de qualquer espécie proveniente do profissional da saúde e dirigido à parturiente e/ou seus acompanhantes; uso de relações de poder para impor práticas injustificadas; uso de palavras ofensivas e desrespeitosas ou de ironia e escárnio dirigidas à parturiente e/ou seus acompanhantes; e outras práticas que tenham sido problematizadas pelas mulheres que viveram situações de violência, desrespeito ou maus tratos e interpretadas como tais pelas mesmas.
Uma pesquisa realizada em 2010 revelou que uma em cada quatro brasileiras relata ter vivido situações de violência e desrespeito em seus partos. Nós queremos ouvir essas mulheres, conhecer os contextos desrespeitosos de parto que viveram, saber como isso foi interpretado por elas, sua percepção desta vivência. E vamos usar as ferramentas da internet para isso. As entrevistas serão feitas via comunicadores instantâneos da internet que permitam uma videochamada e se iniciarão no primeiro semestre de 2012. Acreditamos que a amplitude que a internet traz facilitará a participação de muitas mulheres, de diferentes locais, inclusive as que estão comprometidas com seus trabalhos ou filhos, ou os dois, que terão a liberdade de agendar as entrevistas de acordo com sua disponibilidade, sem ter que se deslocar a nenhum outro lugar.
O convite à participação na pesquisa será lançado a partir de 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres, estendendo-se durante todo o desenvolvimento desta pesquisa, que pretende se encerrar em 2015. Nesse convite, mulheres que tenham se sentido desrespeitadas em seus partos poderão inserir seus e-mails de contato e serão contatadas para que maiores informações sobre a pesquisa sejam fornecidas. A pesquisa faz parte do desenvolvimento do meu doutorado em Saúde Coletiva, realizado na UFSC, no Departamento de Saúde Pública.
Portanto, se você conhece uma mulher que tenha se sentido desrespeitada de alguma forma no tratamento recebido em seu parto, por favor divulgue esta pesquisa a ela. Se você for essa mulher, conheça mais a pesquisa.
Existem formas de violência que vão além da força física e que, ainda assim, podem ser ainda mais agressivas, mais dominadoras, mais opressoras, pela sutileza com que se escondem no contexto institucional, nas relações sociais e nos significados simbólicos. É a ocorrência e a natureza de um desses tipos de violência, ou de práticas desrespeitosas, que ocorrem em instituições de saúde que queremos alcançar com esta pesquisa: a violência e o desrespeito vivido por mulheres em trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Uma forma de violência que não é conscientizada como tal e que representa, de certa forma, um processo de dominação. Muitas vezes, atitudes de violência, desrespeito e maus tratos são observadas contra mulheres em trabalho de parto e parto sem ao menos que os profissionais de saúde percebam que estão agindo assim. São ações e condutas encaradas como “normais” e rotineiras. Essa violência pode ser expressa, de acordo com alguns pesquisadores, desde a negligência na assistência, discriminação social, violência verbal –- tratamento grosseiro, ameaças, reprimendas, gritos, humilhação intencional -– e violência física, até o abuso sexual. Outras pesquisas também incluem como um tipo de violência o uso inadequado de tecnologia, com intervenções e procedimentos muitas vezes sem a real indicação, resultando numa cascata de intervenções com potenciais riscos e sequelas, físicos ou emocionais.
Consideramos como formas de violência ou tratamento desrespeitoso, nesta pesquisa, todo e qualquer processo, de ordem física ou psicológica, que tenha ocorrido sem consentimento da mulher em trabalho de parto, parto e pós-parto imediato; que tenha ocorrido de maneira abusiva; que tenha causado situação de embaraço ou constrangimento para a mulher; que represente intrusão de privacidade; que tenha representado ameaças de qualquer espécie proveniente do profissional da saúde e dirigido à parturiente e/ou seus acompanhantes; uso de relações de poder para impor práticas injustificadas; uso de palavras ofensivas e desrespeitosas ou de ironia e escárnio dirigidas à parturiente e/ou seus acompanhantes; e outras práticas que tenham sido problematizadas pelas mulheres que viveram situações de violência, desrespeito ou maus tratos e interpretadas como tais pelas mesmas.
Uma pesquisa realizada em 2010 revelou que uma em cada quatro brasileiras relata ter vivido situações de violência e desrespeito em seus partos. Nós queremos ouvir essas mulheres, conhecer os contextos desrespeitosos de parto que viveram, saber como isso foi interpretado por elas, sua percepção desta vivência. E vamos usar as ferramentas da internet para isso. As entrevistas serão feitas via comunicadores instantâneos da internet que permitam uma videochamada e se iniciarão no primeiro semestre de 2012. Acreditamos que a amplitude que a internet traz facilitará a participação de muitas mulheres, de diferentes locais, inclusive as que estão comprometidas com seus trabalhos ou filhos, ou os dois, que terão a liberdade de agendar as entrevistas de acordo com sua disponibilidade, sem ter que se deslocar a nenhum outro lugar.
O convite à participação na pesquisa será lançado a partir de 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres, estendendo-se durante todo o desenvolvimento desta pesquisa, que pretende se encerrar em 2015. Nesse convite, mulheres que tenham se sentido desrespeitadas em seus partos poderão inserir seus e-mails de contato e serão contatadas para que maiores informações sobre a pesquisa sejam fornecidas. A pesquisa faz parte do desenvolvimento do meu doutorado em Saúde Coletiva, realizado na UFSC, no Departamento de Saúde Pública.
Portanto, se você conhece uma mulher que tenha se sentido desrespeitada de alguma forma no tratamento recebido em seu parto, por favor divulgue esta pesquisa a ela. Se você for essa mulher, conheça mais a pesquisa.
114 comentários:
Pois é, Lola. E o pior é saber que muito dessas agressões parte dos próprios profissionais de saúde, em sua maioria MULHERES, que atuam nos cuidados ao parto (principalmente na equipe de enfermagem). E o que é mais estranho é a ausência de empatia por falta dessas profissionais, que ao invés de se colocarem no lugar do outro, uma vez que já passaram por isso (geralmente), acabam por optar por agressões verbais, falta de paciência e muitas vezes descaso.
Mas isso é um problema que extrapola a questão feminista, atingindo as dimensões da saúde pública, do preparo para o mercado de trabalho, educação, etc.
Eu tive só um parto e foi maravilhoso. Então, felizmente para mim, não posso contribuir. Mas to espalhando!
Pesquisa super relevante! Já ouvi algumas histórias nesse sentido... Bem complicado... O campo da saúde, por incrível que pareça, ainda precisa ser muito humanizado - a própria saúde dos trabalhadores já é bem desassistida, o número de profissionais na área com problemas de depressão e estresse é bem alto, acho que isso também vai deixando as pessoas mais insensíveis e até cruéis com os pacientes. Mas outro problema GIGANTE nisso é a formação. Muitos profissionais recebem treinamento puramente técnico, e não são preparados para atuarem com pessoas - ou melhor, pessoas em situações de vulnerabilidade, de dor, de sofrimento, de grandes expectativas, de esperanças. Não se trabalha com a dimensão emocional dos estudantes. Isso é BEM grave.
Humanização já!
Gente, juro pra vocês que eu NÃO SABIA que isso existia. Sempre achei que era de praxe tratar a mulher com o maior respeito durante o parto, me espantei com o post.
De qualquer forma, já estou divulgando.
Muito bom Lola! Obrigada por divulgar esse post, e ajudar o movimento de Humanização do Parto a mexer mais um grãozinho de areia na direção do respeito às mulheres que estão parindo e aos seus filhos que estão nascendo.
Também escrevi um post à respeito da violência obstétrica: http://adeledoula.blogspot.com/2011/11/o-lado-negro-do-parto-parte-4.html.
Vivemos um momento onde é imperativo agir contra a tendência atual: a violência é tanta que as mulheres optam por escapar dela agendando uma cesária e passando o menos tempo possível nas mãos da equipe médica. Nossas taxas de cesariana já estão atingindo, senão ultrapassando, os 50%, o que significa que já é mais "normal" ter seus filhos por via cirúrgica do que por via vaginal. Isso é um sinal de alerta gravíssimo! por isso sua contribuição, como bloguera de grande visibiliadde, é tão importante. Mais uma vez obrigada!
Ih, se eu for contar tudo, vai ficar enorme, então vai "só" um:
Fui num hospital público, na última ou penúltima semana de gravidez, porque estava com algumas dores e pensei que fosse trabalho de parto. Uma médica foi me examinar e ela já chegou de mau humor. Tinha uma sala que ficava de quina e tinha duas entradas e várias aberturas, sendo que sem porta sem cortina, privacidade nenhuma. Parecia um depósito, mas tinha uma mesa de exame. Ela queria que eu tirasse a roupa e deitasse ali de pernas abertas naquele apoio para o pé, de frente para as portas, com um monte de gente passando pelos corredores e tendo total visão do que acontecia ali dentro, inclusive passando pela sala. Eu pedi para ela providenciar um biombo. Ela respondeu que não precisava, que o exame seria rápido. Eu disse que a questão não era o tempo, mas sim a minha privacidade. Ela olhou pra minha cara como se eu estivesse falando a maior besteira. Ela ficou com raiva, chamou um funcionário que trouxe o biombo e sem maiores cuidados ela me examinou. Chegou a me machucar. Não olhou para a minha cara e disse que foi alarme falso, que eu não estava em trabalho de parto e ainda saiu com cara de quem perdeu um tempo precioso com besteira. Me senti péssima.
Seria infeliz se fosse apenas no momento do parto,mas a mulher está submetida a esse tipo de agressão constante .Eu cresci em uma casa com muito agressão verbal direcionada as mulheres, mas nunca percebi isso, porque não havia abuso nem fisico nem sexual, por tanto não havia nenhum tipo de abuso.Ate hoje parentes me dizem que eu exagero, que dizer isso ou aquilo não é pra tanto, qual o problema ? A mulher não precisa sair na rua para ser agredida,até em comerciais de televisão acontece a agressão.Mas no caso do parto seria necessário uma nova politica de educacao aos profissionais, já seria um bom começo.
Eu fico passada com a presteza com que o ser humano me surpreende negativamente. Que sejam tratados sob o âmbito da Justiça Criminal esses casos e que não resulte um simples processo administrativo. Perda de emprego é pouco!
Não estou surpreso.
A violência na hora do parto tb se extende as mulheres presas, elas fazem o trabalho de parto em situação humilhante.
Algemadas e com policiais a espreita.
Quem vai pensar em fugir entrando em trabalho de parto???
Vergonha.
Daqui há pouco começam a chegar os trolls reacionários, explicando que muitas dessas mulheres dão motivos para serem tratadas dessa maneira. Que os profissionais da saúde vivem sobre pressão e que não é pra tanto esse escândalo todo. Que a psicologia explica. VTNC!!
Pergunta de pesquisadora (chata!) pra Lígia.
Entrevistar as mulheres apenas pela internet não te trará um recorte não intencional de renda? Na minha opinião, é fundamental pra diversidade das tuas entrevistadas que penses em quem são as pessoas que têm acesso à internet, e a uma internet que sustente uma videochamada e de que duração - uma hora?
No mais, pesquisa muito interessante, que tem tudo pra ser daquelas lindas, que nos enchem o coração!
Vou divulgar! Boa sorte!!!
Olá, Lola!
Sou estudante de Jornalismo da UFSM, campus de Frederico Westphalen, e, num trabalho pra uma disciplina da faculdade, eu e um grupo de colegas gravamos um documentário em vídeo na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, de Porto Alegre. Ainda em andamento, não posso postar aqui o material, mas gostaria de fazer algumas considerações importantes acerca do guest post de hoje.
Nosso trabalho se deu na Unidade Materno do presídio, e um de nossos objetivos era o de retratar como se dá a relação mãe e filho nessas situações. Encontramos muitas mulheres, gestantes e mães, e ouvimos muitas histórias. Das que conceberam o filho no cárcere, alguns depoimentos surpreenderam. Relatos de violência, física ou verbal, parecem muito comuns nesses ambientes. Uma das personagens, tendo a bolsa rompida, teve de esperar cerca de uma hora para ser levada ao hospital pois a agente penitenciária "precisava terminar de assistir à novela". Dopada de analgésicos, a caminho do hospital pegou no sono e foi acordada por um tapa de uma agente da escolta, que disse que "quem tinha dor não dormia". O processo de parto foi demorado e sofrido: por ser uma gravidez de risco e pela demora na ajuda o bebê se enrolou no cordão umbilical e nasceu sem o movimento de um braço. Por sorte, recuperou a mobilidade depois de sessões de fisioterapia. Essa mesma detenta teve negado o pedido de familiares acompanharem o parto, nem mesmo a filmagem foi permitida.
Às vezes, o uso de algemas é exigido até para amamentação do bebê. Uma outra detenta relatou que quando foi trocar o seio o bebê escorregou por entre seus braços e ela, por estar algemada, não conseguiu impedir a queda.
Nos quartos dos hospitais públicos, parece ser perguntado para as outras mães presentes, não-detentas, se elas aceitam dividir o espaço com uma presidiária. No caso de uma negativa, as detentas são colocadas em quartos não preparados para estarem juntos aos filhos (lugares que oferecem risco de contaminação aos bebês, por exemplo). Eles ficam, então, nessas primeiras horas, separados.
Esses são apenas alguns exemplos, de apenas algumas mulheres. A sensação que eu tive ao ouvir essas histórias é como se elas não pudessem reclamar do parto porque foi dele que vieram seus filhos, mas a dor transborda na fala delas.
Talvez não seja do interesse da pesquisadora, mas o trabalho de parto de presidiárias parece ser recheado de casos de maus tratos e violência.
Assim que finalizarmos o vídeo eu mando pra vc.
Abraço do João Marcelo.
Acho que é um assunto que vale a pena ser discutido, mas concordo com o outro comentário... Não sei se se trata realmente de sexismo. Aliás, boa parte dos casos de que ouvi falar a agressão partia de outra mulher, e não de um homem. Não estou dizendo que mulheres não são capazes de ser machista - a realidade é bem diferente... Mas é difícil dizer se é um tratamento diferenciado.
Não sei bem se essa violência é de fato contra a mulher, parece ser um problema agudo de má-formação dos profissionais de saúde.
Digo isso porque não sei se o médico grita com a paciente por ela ser mulher ou por ela estar agitada. Até porque o tratamento da equipe de saúde dispensado aos rapazes no alistamento militar não é exatamente humanizado, e são todos os homens ali.
Mas parabenizo a Ligia Moreira Sena por tentar descobrir a resposta pela via correta, que é a científica, em vez de cuspir aquele velho "achismo" que lemos o tempo todo nos blogs e na internet em geral. Vou repassar a iniciativa também, apesar de não poder ajudar muito, porque as mulheres com quem convivo não têm filhos ainda.
Espero que ela publique os resultados em algum local acessível a todos, mas acho que, mesmo se eu tiver que comprar o livro, darei um jeito de ler.
Thays Mossi
Pergunta de pesquisadora (chata!) pra Lígia.
Entrevistar as mulheres apenas pela internet não te trará um recorte não intencional de renda? Na minha opinião, é fundamental pra diversidade das tuas entrevistadas que penses em quem são as pessoas que têm acesso à internet, e a uma internet que sustente uma videochamada e de que duração - uma hora?
É possível fazer um ajuste estatístico para refletir a realidade brasileira, da mesma forma que o IBOPE faz, por exemplo.
De qualquer forma, a internet brasileira é razoavelmente democrática, já que mais de 30% da população tem acesso à internet por banda larga.
Não sei se compensa fazer estas entrevistas pessoalmente. Para melhorar os valores de confiança e significância de uma forma significativa, ela precisaria percorrer todas as regiões brasileiras, desde grandes metrópoles a municípios rurais, e os recursos disponíveis são muito limitados para isso.
Bom tema para uma pesquisa! Eu mesma não posso ajudar por que não tive filhos, mas vou ver se as pessoas que eu conheço que tiveram gostariam de participar. Entre elas, uma tia que foi muito mal atendida no parto do primeiro filho e a quem ignoraram o seu pedido para que o bebê não fosse retirado a ferro, diante da demora do parto vaginal. Ela ficou com raiva quanto viu o filho pela primeira vez e viu as marcas na sua cabeça. Felizmente ele não teve sequelas.
Mais histórias:
- Sei que muitas mulheres em trabalho de parto e gemendo de dor escutam de médicos e enfermeiras a frase debochada "Na hora de fazer não doeu, né?"
- Faz algum tempo uma jornalista contou que uma maternidade conceituada do Rio de Janeiro só permitia visitas na UTI da mãe e do pai da criança. Mesmo que a criança não tivesse pai e um avô quisesse visitar, não podia. Se fosse o caso da criança ter duas mães, também não. E a mesma maternidade impunha obstáculos para as mães que queriam amamentar. Ao mesmo tempo, tinha escancarado nos corredores o anúncio de um leite industrializado de uma grande empresa. Infelizmente ela não quis levar a denúncia adiante dando o nome da maternidade por que o filho de uma amiga estava internado lá e ela teve medo do que poderia acontecer com ele.
Claro que é sexismo. Não tenho dúvida disso. Qualquer pesquisa mais aprofundada vai nos trazer algumas considerações.
Por exemplo, o parto é resultado óbvio de uma relação sexual, essa coisa suja e pecaminosa, portanto essa mulher que ousou fazer sexo deve ser punida (vide a frase "na hora de fazer gostou, né? agora aguenta"). Eva deve parir em meio às dores, como castigo divino por ter trazido a desgraça a toda a raça humana (uma das violências descritas é a negação de qualquer método pra amenizar a dor). A falta de empatia dos profissionais, homens e mulheres que atendem a parturiente, se externa nos vários procedimentos desnecessários, dolorosos e humilhantes, geralmente feitos sem explicação, o que me leva a perceber uma desconstrução da mulher como sujeito na hora do parto.
Li algumas matérias, em inglês, que fizeram um gancho dessa violência na hora do parto com violência sexual, a percepção que algumas mulheres têm do que lhes acontece e a semelhança disto com casos de abusos sexuais, e as críticas que receberam de outras pessoas que acharam isso exagerado. Tradução macarrônica minha:
Um dos depoimentos de mães: "Ela inseriu a mão em seu útero e sem avisar ou oferecer anestesia, começou a retirar de coágulos de sangue do útero. "Ela chegou até o fundo e começou a raspar para fora enquanto fazia força no meu útero. O residente insistiu em que o que eu estava sentindo era impressão minha e não dor." Ela enfiou a mão de forma bem rude mais algumas vezes. A experiência foi tão dolorosa que ela experimentou flashbacks de uma agressão sexual anterior."
"Estamos tratando mães de maneiras que nem sonharíamos em tratar as vítimas de estupro, embora muitas vezes o trauma e efeitos duradouros sejam bem semelhantes."
"Ninguém sonharia em dizer para uma mulher que está falando de seus sentimentos sobre o estupro que sofreu, 'Pare de reclamar e seja apenas grata por você estar bem.'"
"Introduzir algo na vagina de uma mulher sem o seu consentimento não é direito de ninguém, não importa a sua opinião sobre por que era necessário."
O que falam os que rejeitam a associação entre violência institucional na hora do parto e violência sexual: "A intenção não era maliciosa, você solicitou os serviços do médico de bom grado, mas não é sexual, isto denigre o estupro 'real', você tem um bebê saudável no final das contas, você deveria ter dito 'não' de forma mais clara, você deveria ter sido mais educada; fique feliz por você estar viva - as mulheres morriam no parto o tempo todo, se você não queria mãos ou instrumentos na sua vagina, você não deve ter engravidado, em primeiro lugar, isto era para seu próprio bem."
A resposta: "Talvez esta atitude seja predominante porque parece haver alguma confusão sobre o que constitui este tipo de violação na hora do parto e o que é apenas um parto desagradável ou desconfortável. ... A violação no parto é quando um instrumento ou a mão é inserido na vagina de uma mulher sem permissão, após o qual a mulher se sente agredida. Como todos sabemos, a penetração não consensual não é, na maioria das vezes, a busca pelo prazer sexual, mas na verdade um esforço para controlar, aterrorizar, humilhar, punir ou oprimir a(s) vítima(s)."
Para quem tem dificuldade em associar sexismo-meio médico-violência na hora do parto, tem uma tese, brasileira, com link para pdf em baixo, chamada "Violência institucional em maternidades públicas: Hostilidade ao invés de acolhimento como uma questão de gênero." Tem umas considerações bem interessantes.
Lola, sempre compartilho teus textos sobre mulheres, violência, parto e etc...
Vc como feminista levanta bandeiras que o movimento feminista como um todo não toca e muitas vezes se cegou para esses fatos. Te conheci através do facebook quando alguma blogueira compartilhou teus desabafos sobre o cqc.
imediatamente compartilhei e várias companheiras feministas começaram a ver com outros olhos a questão da maternidade.
Ontem, participei do ato que teve la na praça da cinelândia no centro do rio de janeiro, ato esse organizado pela csp conlutas(camtra,mulheres do pstu e psol) Não sou de partido nenhum, mas fui na época da faculdade.
Hoje sou mãe e sofri violência no meu parto. Eu passei a gestação inteira a procura de um obstétra humanista e não achei. Com 39 semanas o obstétra que me acompanhava mandou eu escolher uma data para a cirurgia. Eu estava ótima e meu bebê tbm. Para que cirurgia??? Eu disse que não ia escolher data nenhuma que esperaria a natureza decidir. Ele me mandou procurar um hospital público que só lá iam ficar a minha disposição. Fui. Desesperada e desamparada sem contar a pressão da família dizendo que se algo acontecesse com o meu filho a culpa seria minha pq o médico sabe o que faz e blablabla.
Meu companheiro foi proibido de me acompanhar. É lei que toda mulher tem direito a acompanhante. Me privaram desse direito. Levei mil foras na hora do parto. Não me deixaram ficar sentada e me obrigaram a ficar deitada e fazer força deitada é impossível. Os estudantes do hospital universitário que eu me internei foram incapazes de segurar a minha mão, eu implorava um pouco de atenção, de carinho, eles apenas observavam a minha vagina dilatando, era muito mais importante naquele momento do que dar um pouco de atenção à parturiente...
Frases do tipo: Na hora de fazer não chorou! Na hora de fazer não chamou a mamãe! Cala a boca minha filha, vc não insistiu no parto normal, agora aguenta... escutei várias vezes. Eu rebati todos os foras que levei, mas eu acabei de sentindo culpada por ter enfrentado o obstétra cesarista e por está ali jogada as traças num hospital universitário desumano. O médico chegou para o início do plantou e 20 minutos depois o meu bebê nasceu. Claro, ele fez uma episiotomia super desnecessária tipo para adiantar o serviço sabe???
E essa é uma realidade que o movimento feminista não luta.
Obrigada por escrever esse texto, já compartilhei no meu facebook e já enviei para um monte de companheiras feministas.
www.mulherquepariu.blogspot.com
Olha, vi a história da minha irmã aí. Infelizmente, ela não tem acesso a internet agora, já que não tem computador em casa e não pode ficar saindo muito pq ela acabou de ter um bebe - o primeiro parto que foi bem tratada, mesmo já tendo dois filhos.
O mais horrível é que nos dois primeiros, ela teve que ouvir coisas como "se tivesse fechado as pernas, isso não teria acontecido". Pq sabe, mulher, solteira - e na primeira gravidez, aos 16 anos - é pq é p*ta e merece se ferrar. É de partir o coração.
Além do mais, meus dois sobrinhos também sofreram. Além do abuso psicologico, das humilhações e da força bruta usada contra minha irmã, meu sobrinho mais velho foi tirado a forceps e veio do hospital com um hematoma na cabeça, e meu outro sobrinho, acreditem, teve a clavicula quebrada no parto - e os médicos não viram, só descobrimos uma semana depois. Dessa vez, felizmente, tudo correu bem e ela foi bem tratada, mas antes do parto ela estava apavorada.
Não sou mãe, não pretendo ser, então parto é um assunto que nunca chamou minha atenção até o começo do ano passado.
Encontrei uma amiga que tinha tido filho há pouco tempo que me contou às gargalhadas que durante o parto, ela tinha se desesperado com a dor, começou a ficar muito nervosa e então amarraram as mãos dela.
Achei aquilo de uma violência extrema e percebi que mesmo tentando fazer a história ficar engraçada, ela tinha ficado chocada e se sentido mal com aquilo. Foi uma violência.
Comentei o assunto com uma amiga enfermeira e ela falou que não é algo incomum de acontecer.
Como assim???? Ficam nessa propaganda toda pra mulheres terem parto normal e é dessa forma que elas são tratadas na hora em que mais precisam?
O que me pareceu é fazendo cesárea a mulher corre vários riscos por estar passando por uma cirurgia, mas por outro lado, ficam muito mais vulneráveis a um tratamento violento e desrespeitoso por parte dos profissionais de saúde quando escolhem passar por um parto normal.
Lola, muito obrigada pela divulgação e apoio a esta pesquisa.
Quero fazer um comentário a respeito da contribuição oferecida por Thays, sobre o possível alcance de uma pesquisa feita utilizando a internet como ferramenta.
Nós discutimos muito isso aqui no grupo de pesquisa, porque o que vc disse é realidade.
No entanto, estamos mais preocupados com a percepção dessas mulheres a respeito dessas violências do que com o aspecto estatístico em termos de amostragem. Vamos começar um braço adicional da pesquisa, com grupos focais presenciais com mulheres atendidas pelo SUS, um trabalho que não tem a pretensão de atingir outras cidades, mas que nos dará um termo de comparação por ser presencial.
Sua contribuição é extremamente pertinente e vou voltar a discutir isso, na tentativa de encontrar outras alternativas. Uma primeira alternativa que vejo é fazer uma parceria com outros alunos de mestrado ou doutorado que topem um terceiro braço de pesquisa: fazer a pesquisa presencial com mulheres que não acessem a internet. Thays, preciso e aceito contribuições. Fique à vontade para entrar em contato comigo caso veja outras alternativas: ligiamsena@yahoo.com.br
Muito obrigada
Ligia Moreiras Sena
Bem, inicialmente que eu nunca tinha comentado aqui apesar de ler o blog há um bom tempo.
Como estudante de medicina passei a analisar bastante a relação médico-paciente, sendo que quando passei a ter contato direto com os pacientes muitos me relatam sobre profissionais que não atendem com o devido cuidado, seguindo a linha de não tratá-los como pessoas, e sim de maneira o mais objetiva possível.
Acho que não é sexismo nesse caso, porque a agressão com pacientes ocorre em todos os setores (especialmente quando o paciente é do SUS), não só na maternidade.
Ah, e realmente, ninguém pode entrar na UTI neonatal, nem médicos que não tenham pacientes lá, nem outros familiares (pelo o risco de infecções).
Oi, Lígia,
Muito obrigada pela tua resposta!
E eu acho ótimo saber como outr@s pesquisador@s resolvem essas questões, pois elas podem se colocar diante de nós mesmos, né? quem sabe?
Abs e boa sorte com o trabalho de campo!
Fer, o fato de ambos os sexos sofrerem algum tipo de violência ou descaso em hospitais não descaracteriza a violência no parto como violência de gênero.
Várias pessoas aqui já citaram exemplo bem característicos. Em especial, essa tradução feita pela Liana é representativa do que estamos falando.
É, realmente, as consequencias de agressão no parto acaba se tornando (mais uma) pressão específica para a mulher. Não tinha pensado nisso.
É que nos dizem que todos os pacientes devem muito bem tratados, e então nunca pensei que fosse possível um profissional, de uma área que atue sobre um gênero específico, ser sexista.
Situação paradoxal, a de ser machista e escolher cuidar da saúde da mulher.
Flasht - caso de polícia. Não de representação.
Flasht,
>>E vida de presidiario é mole por acaso? sei que nestes casos infelizmenet acaba atingindo um inocente, mas não é de se crer que os presidiarios homens tenham tratamento melhor por ser homem
É de se crer, sim. A justiça parece ser muito mais pesada com as mulheres, tanto na distribuição de penas como na vida na prisão. Isso vc mesmo pode comprovar visitando um presídio feminino e um masculino. Será uma boa experiência.
Homens são legalmente proibidos de trabalhar em alas ou presídios femininos. Não é o que acontece. Lá no Madre Pelletier, p. ex., se as mulheres, no alto do verão, sentem calor e vestem um pijama e são pegas por agentes tem seu trabalho zerado. Ou seja, um pijama é capaz de anular todo o trabalho que serviria pra remissão da pena.
Vida de presidiário pode não ser mole, mas também não pode ser cruel e desumana.
Liana, existe um termo para a violência obstétrica em inglês, birth rape. É um termo chocante, mas é importante para a conscientização.
A maioria das mulheres acha que não há problema em serem tratadas desta maneira, uma vez que @ profissional de saúde está fazendo um favor em salvar sua vida e salvar a vida de seu filho.
Faz parte de toda uma cultura onde a mulher é levada a acreditar que o parto é uma situação de extremo risco, e que ela precisa se entregar completamente ao profissional de saúde que garantirá os melhores resultados.
É importante fazer uma análise comparada da violência nos hospitais com os índices de cesariana, é óbvio que as mulheres preferem uma cesariana a serem tratadas dessa maneira.
Antigamente os partos se davam dentro de casa...uma tia-avó morreu de parto, e minha avó, com igual medo de morrer no parto, deu à luz minha tia, que desmaiava sem parar e não pôde ter filhos, mesmo tendo tudo no lugar.
O parto por si só já é uma violência, ninguém pode negar. Ter filho no meio da rua, no táxi, no ônibus, no banheiro é uma situação indigna, mas acontece, e acontece muito. Ter filho sozinha, escondida, amedrontada também acontece muito.
Se dar à luz passou a ser uma intervenção médica e não um fenômeno assistido, foi porque alguma coisa não estava dando tão certo assim.
Eu pergunto, qual é a forma ideal de dar à luz sem humilhações, sem sequelas, sem dor, sem danos ao bebê ou à parturiente?
Eu raramente comento, principalmente nesses posts sobre parto porque ainda não pari, não sou mãe, apesar de estar nos planos. Ainda assim, sou defensora e entusiasta do parto humanizado, do parto normal e do parto natural (são três coisas distintas, não é mesmo? Se estiver errado, alguém me corrija). E eu gostaria de responder à Moema, porque esse questionamento dela eu já vi muito, inclusive foi muitas vezes levantado no guest post da Nanda sobre o tema.
As pessoas costumam comparar os partos das avós, bisavós, mães, que eram normais e que muitas vezes davam errado, com os partos normais atuais para defenderem a cesárea. O que nós muitas vezes esquecemos é que a medicina evoluiu MUITO de lá pra cá, mas evoluiu não apenas no aspecto cirúrgico, não. Não é só a cesárea que representa a evolução da medicina obstetrícia; o parto humanizado é, também, uma evolução. Ninguém que defende o parto natural acha que deve ocorrer como na época das nossas avós, onde as noções de higiene eram mínimas, onde não existia analgesia/anestesia, onde os hospitais ficavam distantes ou nem existiam, para socorrer parturiente e bebês caso fosse necessário, não existia humanização (ou vocês acham que o tratamento dado à mulher que está parindo era melhor do que o de hoje?), e principalmente não existiam mulheres empoderadas (tá, existiam, mas eram exceção da exceção, mto mais do que hoje em dia), informadas, conscientes do que é aquele processo todo do parto e da melhor forma de conduzi-lo. Taí a grande diferença.
Eu não sou contra a cesárea, mas sou a favor da informação. Se a mulher tiver informação e, agora sim dentro do tema do post, existirem profissionais preparados e preocupados com a humanização do parto/nascimento (lembrando que aquele momento é importante não só pra mulher, mas pra criança que ela traz ao mundo, as consequências afetam os dois), tenho certeza que o parto normal seria a escolha natural de todas, deixando a cesárea apenas para uma situação emergencial.
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Sobre a pesquisa, acho ótimo que exista alguém estudando essa faceta da obstetrícia. Eu fiz um cursinho preparatório para concurso da área de saúde onde a grande maioria dos estudantes era de enfermeiros. Um dia, uma das professoras (que era psicóloga, o que me chocou mto tb) estava falando sobre o Programa de Humanização do SUS ("Humaniza SUS") e tocou no parto humanizado... qual foi o meu choque ao ver a maioria das pessoas zombando o parto humanizado, dizendo que as grávidas "querem demais", que é muita "frescura"... Eu fiquei pasma, de verdade. Fiquei pensando em gravar nome e rosto de cada um deles ali pra ter certeza que não cruzaria com nenhum quando fosse minha vez de dar à luz.
Ontem a Lola comentou sobre o distanciamento do curso de Direito das matérias "humanistas". Pois eu digo que os cursos de saúde também pecam demais, DEMAIS nesse quesito. Se esses profissionais vão lidar com pessoas, e pessoas que se encontram fragilizadas, emocionalmente instáveis, DEVEM possuir formação humanista diversificada nos cursos! E acho que a pesquisa da Lígia vai contribuir e muito para percebermos a situação mais claramente.
Eu, como disse, não tenho filhos, mas sei de pessoas que poderiam participar desse estudo. Vou compartilhar seu texto com elas, Ligia.
Pois é, Fer... tem a questão de, por a gravidez envolver a sexualidade, as agressões acabando tomando uma forma nesse sentido. Então, acho que por isso acaba tomando uma dimensão que também envolve o gênero.
bom, eu não sou mãe, mas a minha mãe e minhas tias (tenho 9) sempre falam de humilhações que sofreram em seus partos... vou comunicá-las sobre a pesquisa.
Oi Lola!
Sou estudante de medicina, não estou nem de longe defendendo a violência sofrida por algumas mulheres na hora do parto. De fato ela existe e é fruto tanto da visão sexista quanto da falta de preparo de muitos profissionais. Gostaria apenas de lembrar que também há um outro lado. diversas vezes observei durante a faculdade mulheres que se negaram a ser examinadas, mas um médico não pode saber o que está acontecendo sem examinar seu paciente! Muitas vezes também presenciei agressões por parte das pacientes com a equipe de saúde, ameaças por parte dos familiares e, inclusive, já tive o braço bastante machucado por uma parturiente que num momento de dor esqueceu que o médico também sente dor. Além disso, muitas pacientes não percebem que estão em quartos coletivos e que as outras mães também estão com dor e assustadas, os profissionais precisam dividir sua atenção entre todas e muitas vezes é solicitado que procurem não gritar em busca de um ambiente mais tranquilo dentro do possível e não por puro capricho. Acredito fortemente que precisamos melhorar a atenção ao parto! Primeiro melhorando o sistema de sauúde, garantindo mais privacidade e atenção as mães e aos bebês e também profissionais mais preparados para enfrentar o pparto ao lado da mulher. Acredito também que o caminho passa por masi educação, pois a mulher precisa conhecer as etapas pelas quais vai passar durante o parto! Parabéns pelo blog!
Moema, perceba que trazer o parto para dentro do hospital foi, em um primeiro momento, para reduzir a mortalidade de mulheres e bebês. Ocorre que com o passar dos anos os profissionais de saúde perceberam que podiam "otimizar" o processo de nascimento, através dos mais diversos métodos. O resultado é exatamente o que uma outra comentarista disse, que o normal hoje é a cesárea. O parto natural, sem intervenções e nem mesmo anestesia é seguro e benéfico à mãe e à criança, exceto em alguns casos muito específicos (como diz minha esposa, são aqueles casos que a equipe médica diz "putz, fudeu, vai ter que ser cesárea").
Eu vi a minha filha nascer como se deve: sem nenhuma intervenção médica. O obstetra (gente boníssima) apenas assistiu o esforço da minha esposa (corajosa e forte que só ela). Tive um pouquinho de medo, claro, mas estávamos bem orientados por um profissional experiente e, principalmente, minha mulher fez uma escolha consciente sobre como seria o parto e o conduziu daquela forma.
O índice de cesareanas em alguns hospitais particulares em Belo Horizonte chega a 85% dos atendimentos. Será que se todas essas cirurgias fossem realmente necessárias a humanidade teria sobrevivido tanto tempo sem hospitais?
Eu sou apoiador do feminismo, mas não sou necessariamente feminista. Em minha opinião a quantidade de intervenções realizadas durante a gestação e o parto estão mais relacionadas com a necessidade de algumas vertentes científicas que entendem que a natureza deve ser domada (e não compreendida).
Post muito esclarecedor. Parabéns à autora!
ANÔNIMO:
É interessante ver também esse outro lado, que quem passa por isso. Eu não sou mãe nem médica nem nada, mas imagino como é um clima muito tenso pra todo mundo. Por isso, acredito que talvez na formação dos profissionais esse processo precise ser melhor abordado, como ordenar a situação sem perder a calma e acabar desrespeitando e maltratando o paciente. Também acho que o suporte em saúde mental para trabalhadores de hospitais precisa melhorar muuuuuuuuuito, porque é uma rotina de muitas situações extremas.
Achei interessante você ter mencionado também essa questão da educação para o paciente. Muitas vezes, as dores do parto acabam se intensificando pela ansiedade da mãe, que não sabe o que está acontecendo, e isso gera um sofrimento muito grande. Um dos hospitais da minha cidade começou um grupo de orientação para gestantes, e eu ouvi que as participantes gostaram muito, que foi um espaço para aprenderem mais sobre o processo de gravidez e parto, e se prepararem psicologicamente para a chegada do bebê, que foi bem tranquilizador. Acredito que é preciso também disseminar experiências como essa por aí.
prisioneiras em trabalho de parto diante de policiais masculinos e ainda algemadas ???!!! isso é violência legalizada contra a mulher, isso é desumano !!! - mais relatos para fazerem parte de uma possível publicação junto com relatos do post anterior.
No parto de minha filha, por cesárea, aconteceu algo que só lendo esse post identifico que foi agressão, e olha q era hospital particular. Fiquei nervosa e chorei achando q estava sentindo dor, mesmo depois da anestesia. O anestesista beliscou forte meu braço e disse: 'isso é dor, menina.' Me senti desacreditada e insegura.
Gabriele:
Sem dúvida! A mulher tem pouquíssima noção sobre seu corpo! Educar para que a mulher saiba oq ue se passa com ela, o que acontece durante a gravidez e, principalmente, como funciona a hora do parto, a dor, as possibilidades de analgesia, o que ela precisa fazer para que o parto seja mais tranquilo é essencial! É frustrante que não haja mais programas como esse. Sem contar a questão da gestação planejada, pois muito dessa consciência corporal vem também da maturidade. Mas é claro que algumas situações de violência extrapolam as questões do sistema e esbarram no pensamento inadmissível de que " a mulher foi feita para sofrer", muitas vezes desumano. Os relatos são realmente chocantes e acredito que algumas situações são sim dignas de denúncia!
Escocês, eu entendi...sei também que as cesárias são mais bem remuneradas que os partos normais, sei que a cesária é uma cirurgia invasiva, que tem risco de infecção hospitalar, e por aí vai.
Porém, torno a repetir o que disse num outro post: trabalho de parto está se alongando, e a criança não nasce em até 20 minutos, pode esquecer...há risco para o bebê e para a mãe. De que adianta uma cesária de emergência, depois que o médico disse 'putz, f****', se o bebê JÁ sofreu uma anóxia cerebral?
Há meios de saber se o bebê está em sofrimento, com antecedência, como foi o caso no meu primeiro parto. Tive sorte, mesmo o obstetra, chefe da equipe de obstetrícia do hospital, tendo demorado a chegar. Mas o bebê foi prá UTI mesmo assim.
O parto normal é seguro e benéfico sim, mas não nos esqueçamos que também deixa sequelas, como o prolapso genital, que pede por cirurgia reparadora e as temíveis hemorragias pós-parto, 'causa mortis' de muitos óbitos, devido aos esforços corajosos e fortes de nossas parturientes.
Gravidez e parto não são brincadeira...e se não houvesse
hospitais ou cesárias, talvez a população mundial não estivesse em 7 bilhões. Acontece que à Biologia não interessa que todos se salvem, apenas uma parte significante para a espécie não se extinguir, mas quem quer fazer parte dos que não se salvam? Pois é...:))
Abç
Em um parto cesariana os médicos ganham MENOS do que em um parto normal. Mas uma cesariana dura menos tempo.
Vejo as mulheres reclamando que não encontram um médico que tope fazer um parto normal. É claro que não vão achar um médico que tope ficar até 12h à disposição da mulher para ganhar 300 reais. Ou até menos. As mulheres reclamam porque querem escolher um médico bom, usar o convênio e que o médico fique à disposição. Minha sugestão: faça o pré-natal com um médico de confiança e na hora do trabalho de parto, vá para o hospital e seja atendido pel plantonista. Ele está no hospital para isso mesmo e pode muito bem conduzir um parto normal. Ele não tem pressa, pois sairá de lá no fim do plantão, tendo o bebê nascido ou não (nesse caso o próximo plantonista termina o parto).
Sobre analgesia no parto, alguns hospitais públicos simplesmente não permitem isso. Fiz estágio em um hospital e assisti vários partos. NENHUM parto normal foi feito com anestesia, por mais que a mulher pedisse. Havia poucos anestesistas de plantão e eles não poderiam ser usados para um caso onde a anestesia não é obrigatória e correr o risco de chegar alguém precisando de cirurgia de emergência e não ter anestesista disponível.
E vi algumas pessoas falando de forceps, como se ele tivesse sido usado por maldade do médico. Só se usa fórceps em último caso, é um procedimento difícil de fazer e muito arriscado. Se seu filho nasceu com o uso de fórceps, ao invés de reclamar das marcas na cabecinha da criança, agradeça muito ao médico, pois ele foi competente o bastante para usar o forceps com destreza e retirar a criança viva.
E falar que dor no toque vaginal é agressão? Em muitas vezes há dor no toque sim. E não anestesia ou outra coisa que se possa fazer.
Conheço uma história que extrapola a questao da falta de preparo dos profissionais de saúde (para um atendimento mais humanizado) e da sobrecarga de trabalho (que obviamente leva ao estresse), que creio serem questoes fundamentais para entender a agressividade e pressa em inúmeros procedimentos médicos, nao apenas o parto.
Mas quando acompanhados de xingamentos específicos quanto a sexualidade da parturiente é puro sexismo( e mesmo que seja "só" o xingamento)!! Assim como ele sao amplamente repetidos às mulheres que recorrem ao SUS após procedimento abortivos.
Quanto a história que conheço, nao é minha (pois nao tenho filhos), mas de uma conhecida. Ela, simplesmente, foi estuprada enquanto ainda estava sob efeito da anestesia. E como ela nao se recordava perfeitamente do ocorrido e o estupro havia ocorrido dentro do hospital (particular, por sinal) ela foi desacreditada. Envergonhada ela nao seguiu com os procedimentos legais e fez que esqueceu o fato.
Por isso, acho pouco provável que ela queira contribuir. Mas vou comunicá-la sobre a importante pesquisa.
"E falar que dor no toque vaginal é agressão? Em muitas vezes há dor no toque sim."
Tá de brincadeira, né. Que coisa mais descabida de se dizer. NÃO, toque vaginal NÃO tem porque doer. A menos que a mulher tenha algum problema, vai ser no máximo desconfortável. Infelizmente, tem "profissionais" que não estão nem aí e tem este mesmo pensamento "em muitas vezes há dor sim" e não percebem que são eles mesmos causando a tal dor e não por ser algo "normal" do procedimento. Muito estranho em se tratando de pessoas que supostamente estudaram e deveriam entender algo bem simples: dor NÃO é obrigatória em cada uma das etapas deste processo. Além de não caber a eles inflingir mais sofrimento a paciente, mas no geral, as pessoas lá esquecem disso.
Taí um absurdo que eu nunca sequer imaginei que existisse.
:/
A irmã da minha cunhada mora no interior de Minas e teve um parto super violento. O médico (que também era o vice prefeito) se recusou a deixar que a ambulância a levasse até uma cidade próxima e forçou um parto normal, já que o hospital não estava preparado para uma cesariana. Usou forceps sem qualquer anestesia, ela e o bebê ficaram muito machucados e a enfermeira quis impedir a mãe dela de visita-la no hospital. O bebê teve que se tratar em Belo Horizonte pq corria o risco de ficar cego e ela foi sutilmente ameaçada pelo médico e pela família do marido para que não tomasse nenhuma providência...
A irmã da minha cunhada mora no interior de Minas e teve um parto super violento. O médico (que também era o vice prefeito) se recusou a deixar que a ambulância a levasse até uma cidade próxima e forçou um parto normal, já que o hospital não estava preparado para uma cesariana. Usou forceps sem qualquer anestesia, ela e o bebê ficaram muito machucados e a enfermeira quis impedir a mãe dela de visita-la no hospital. O bebê teve que se tratar em Belo Horizonte pq corria o risco de ficar cego e ela foi sutilmente ameaçada pelo médico e pela família do marido para que não tomasse nenhuma providência...
esse "na hora de fazer" (a.k.a. "na hora de virar os olhinhos") é uma coisa tããão machista. condenando a mulher por fazer sexo, deus do céu. minha mãe e duas amigas minhas me relataram ter ouvido isso, parece q é praxe.
minha mãe foi muito maltratada pela obstetra, que ficava dizendo que ela ia morrer ou ter eclampsia, que não sabia se ia conseguir fazer o parto, q eu ia nascer retardada, tudo pq ela era "velha" (tinha 35 anos, era considerada, "mãe-avó" na época). conclusão: ela ficou tão deprimida e angustiada que engordou 30 kg. aí a mulher massacrou tanto por engordar q ela abandonou. ela ja tinha pensando em mudar antes, mas morria de medo, achava q o medico tinha q ser o mesmo a acompanhar a gravidez toda e tal.
mudou no 7º mês e dali em diante parou de engordar. não teve o melhor parto do mundo, como eu disse la em cima, mas não foi tão ruim quanto o pre-natal.
por essas e tantas outras q eu tenho medo de profissionais de saúde. são carreiras tão importantes q precisam ser mais humanizadas. nas grades desses cursos tem q ser obrigatório aulas sobre ética, com basta ênfase, cobrança mesmo. e testes práticos de atendimento, avaliação rigorosa no estágio e tal. pq aí quem entra só pelo prestígio vai ser obrigado a enxergar além do próprio umbigo, atender pobres, negros, nordestinos, gordos, velhos com dignidade, sem nojo. não ficarem achando q vão ser dr. house (a maioria é arrogante e vaidoso da mesma forma, mas não competente como ele, para o nosso azar)
Anônimo, não endosso sua sugestão não, rs
Minha sugestão, comece pela escolha de um bom hospital/maternidade (com baixo índice de infecção hospitalar), selecione o obstetra que opere no hospital escolhido (se for chefe da equipe, melhor ainda), faça o pré-natal inteirinho com ele (nunca vá sozinha) e diga que quer que ele faça o parto...quando a bolsa romper (o obstetra já deve saber quando o parto deve ocorrer), se interne calmamente, o hospital contatará o obstetra, e se este não estiver disponível por algum motivo, aí sim, seja atendida por outro obstetra de plantão ou não QUE SAIBA SER VC UMA PACIENTE DO DR. TAL DO HOSPITAL.
Atenção: tem ginecologista que não é obstetra. Não sejam acompanhadas por ginecologistas e sim por médicos obstetras.
Infelizmente, a profissão de obstetriz (curso superior em obstetrícia) vai mal das pernas, por enquanto, no Brasil.
Não sabia que o parto normal já está custando mais caro que a cesária...rsrs
É difícil dizer se foi uma violência ou se o que eu passei é comum, mas no meu primeiro parto, minha bolsa estourou as 3,30hs de uma manhã, fui para o hospital, após ser examinada me disseram que eu não tinha dilatação, fiquei numa sala de espera com varias mulheres em trabalho de parto, parecia uma sala de malucos, porque algumas tinham contrações em intervalos, e depois de gritarem muito, de repente as dores passavam e a mulher voltava a se acalmar, mas comigo as contrações não vinham, fiquei nesse lugar o dia inteiro, já eram 6 hrs da tarde quando resolveram provocar minhas contrações com medicamentos, ai sim vivi a pior que dor que já senti na minha vida, só que não era uma dor espaçada, era continua, eu já estava desesperada com tanta dor, e o médico que vinha me examinar dizia que eu teria que fazer um parto normal, e que deveria ficar esperando até dilatar o suficiente, só que eu não dilatava o que eu entendi como violência foi o fato de me deixarem com uma dor tão forte por tanto tempo, só quando eu já estava perdendo as forças e desmaiando que me levaram para fazer uma cesárea, fiquei com dores terríveis das 6 hrs da tarde até 11,20 que foi o horário do nascimento de minha filha, só que não posso dizer se isso é um procedimento normal dos hospitais, também não sei se a reação que eu tive após esse parto foi normal, pq tive depressão pós parto, não queria nem ver a criança, tive tanta dor que até desejei que a criança morresse.
Consegui superar tudo, mas não posso dizer que tenha sido fácil.
Não sei quais são os critérios para se indicar uma cesárea, se realmente é necessário passar tanto tempo com aquelas dores que eu tive.
Sobre esse assunto abordado no post de hj, também me lembrei de minha irmã, ela diferente de mim teve contrações e foi para o hospital, inclusive um hospital muito conhecido e particular, ao ser examinada disseram que ela não estava pronta para o parto, o médico particular que a estava atendendo estava viajando com a família, quando ela ligou para ele, este a aconselhou a voltar para casa dela, ela voltou, mas as contrações continuaram, quando ela não aguentando mais retornou ao hospital, foi encaminhada para a emergência fazer uma cesárea, só que infelizmente o bebe estava morto, era uma criança perfeita, não foi constatado nenhuma doença que pudesse ter provocado a morte desse bebe, nossa família sempre achou que foi um erro bem grave do hospital que atendeu minha irmã.
O comentario do Anonimo que diz que um medico ganha 300 reais por parto normal esta um pouco equivocado. Isto e o que o convenio paga aos medicos. No entanto, aqui em BH, se a mulher quiser que o medico obstetra a acompanhe no parto (normal ou cesaria) deve ser pago o equivalente a 10 salarios minimos. Neste caso claro que os medicos fazem cesaria, em no maximo uma hora eles estao de volta em casa. Recentemente uma amiga fez uma cesaria totalmente desnecessaria. Sua medica (que a acompanharia no parto e ja tinha recebido seus 5000 reais) inventou uma historia de diabetes gestacional e disse que teria que retirar o bebe logo para que ele nao ficasse diabetico. Depois de alguns exames comprovaram que nao existia tal risco.
Lya
Eu nunca entendi esse "Na hora de fazer não doeu, né?" Eles querem mesmo comparar uma criança saindo pela vagina com um pênisinho entrando? Alguém devia pegar uma melancia e &¨$*`*&(% vg9 y\ o
>.<´ desculpem minha exaltação.
A questão aqui não é se a mulher deve ou não fazer cesárea. É outra. É o respeito a mulher. Um médico não tem o direito de empurrar uma ou outra intervenção médica à mulher. Se o parto demora demais, ele(a) deveria ter pensado nisso antes de se tornar médico obstetra. Parto demora sim, é a natureza do parto. Parto não tem hora marcada. Não é a mulher e a criança que se adequam à agenda do médico. Vou falar médico no masculino pela simplicidade, mas incluam as médicas também, pois não são muito melhores que os homens neste caso. É ele que se adequa a agenda da mulher e da criança e na realidade tanto o médico quanto a mulher devem se adequar à agenda da criança. Fazer o contrário é pura falta de ética médica.
O dever do médico é o de aconselhar o melhor método, na opinião dele, e deixar a mulher tomar a decisão dela. E à mulher cabe ler e se educar, pois os médicos não sabem tudo e muitos deles tem sua própria agenda e preconceitos.
O campo da obstetrícia é um dos campos da medicina onde as práticas são as menos baseadas em fatos e estudos científicos. Na obstetrícia vale mais o que o médico quer, quando ele quer e o que aprendeu com os seus pares. É nojento.
Não há nenhuma justificativa científica para várias das práticas durante o parto. A cesárea em mais de 10% a 15% dos partos é prejudicial pois carrega mais riscos; o uso da oxitocina é desaconselhado na maioria dos partos; o uso do soro é também desaconselhado pois perturba o decorrer hormonal do parto normal; a posição deitada é uma das piores posições e só beneficia o médico; a episiotomia é prejudicial na maioria dos casos; a separaç~o da mãe e da criança logo após o parto é desnecessário e prejudicial às duas; a separação das pessoas de apoio (comapanheiro, mãe, doula, amiga, filhos) é desnecessário e prejudicial em muitos (senão a maioria) dos casos, e tem mais ainda.
Todas essas intervenções têm como único objetivo beneficiar a equipe médica e o hospital. O parto hoje em dia é uma das atividades mais lucrativas nos hospitais e por isso para a equipe médica e para o hospital, o melhor é que seja rápido e num sistema de produção. Sai uma entra outra. A mulher e a criança não são pessoas, são apenas objetos a serem usados para o lucro do setor médico.
Muitas mulheres vão dizer: "ah meu médico é (foi) maravilhoso! Não posso reclamar!" Na realidade a maioria dessas mulheres simplesmente decidiram se enganar e fechar os olhos à violência que foi cometida. Em um país onde a taxa de cesárea é de 85% é estatisticamente impossível que a maioria dos médicos sejam maravilhosos. A maioria deles se corrompeu ao sistema e não dá o menor valor a saúde nem da mulher e nem do bebê.
Isso tem que mudar.
E uma paródia mostrando o que é o parto hoje em dia...
Monty Python - Parto
Lola, esses dados sobre violência contra mulheres grávidas em maternidades (e que muita gente nem imagina que aconteça) se somam às informações do post anterior sobre violência doméstica:
"São duas as situações em que a mulher espancada passa maior perigo. Uma, bastante óbvia, é quando ela decide se separar. ... A outra situação (pra mim surpreendente) é quando a mulher está grávida."
Uma mulher quando engravida corre riscos de sofrer violência tanto em casa quanto no hospital.
A isso se soma o risco de depressão pos parto (que é pouco falado e entendido), assédio e críticas ao amamentar em público e por aí vai. O quadro geral é preocupante, apesar não chamar atenção da sociedade. Não é a toa que muitas largam tudo de mão e deixam o médico fazer o que quiser, é mais fácil do que lutar contra esses absurdos tão corriqueiros num momento delicado como a gravidez e o pos parto.
Esse quadro só vai mudar quando a sociedade começar a comprar essa briga. Deixar a mulher grávida se virar sozinha é covardia. O cumprimento da lei do acompanhante é um passo importante. O hospital sendo um meio machista, fico me perguntando se a equipe médica teria "coragem" de fazer essas coisas todas bem na frente do marido. Sei que em alguns casos isso acontece, mas tenho certeza que seria uma mudança importante para a grávida se sentir mais segura.
Já contei essa história aqui Lola, e pq não acredito que a cesária seja uma forma de "impedir o direito da mãe e do bebê".
Minha mãe quase morreu ao me ter!Ela não tinha condições de ter um parto normal, todos viam!Ela não tinha dilatação! E sempre as mesmas gosserias do tipo "Na hora devfazer tava gostoso, neh?Agora aguenta!" cm se fosse um castigo pela mulher ter feito sexo o parto!Ridículo! Após meu nascimento, minha mãe ficou muito doente, teve anemia profunda, sangrou dias e dias.
O outro caso é da minha vizinha de 15 anos, dá muita dó só de pensar! Ela estava já a 2 dias em trabalho de parto, sentindo as contrações, mas ia ao hospital e simplesmente diziam "Não há dilatação!", mas a bolsa já havia estourado, tudo! Ela começou a sentir dores terríveis, vomitava de dor, a mãe dela começou a chorara de desespero e a levou ao hospital,sendo que a olharam com dewprezo e disseram "Não há vaga!Só pela manhã!", a mãe dela disse "vou tirara minha filha daqui" e na maior frieza "Se ela morrer no caminho ou o bebê, a responsabilidade será sua1". A levaram a outro hospital, conseguiram a vaga mas mesmo vendo que ela não tinha estrutura pra ter um parto normal e dilatação alguma, a forçaram por 10 horas!!!A garota estava quase morrendo!Depois dela ter sofrido por praticamente 3 dias, "resolveram" fazer uma cesária de "emergência!". Quando a beb~e nasceu, estava totalmente passada da hora! Nasceu cheia de coco, xixi, roxa, não chorou, ficou na uti por 5 dias com risco de morrer!A mãe ficou bem, mas precisava de tanto sofrimento?
Eu fico boba em como tratam a mãe com tamanho desrespeito!Zombam dela, são grosseiros, falam com grosseria "se quiser que espere!", e na hora da dor, em uma situação praticamente de humilhação (com muita dor, as penras abertas, nua, algumas até defecam no parto) ainda tem coragem de dizer "Na hora virara o zóinho foi bom, neh?!". Vom que direito eles falam isso! Com que direito um médico faz uma mulher sofrer por horas, dias, quando sabe que há métodos que podem aliviar o sofrimento? ter um filho é consequencia da vida, não é um castigo por ter transado!Será que até na hora de ser mãe, até sendo mãe, a mulher é vista sempre cm lixo?
Ah, e quanto a questão da cesária, não estou dizendo que sopu a favor deliberadamente, mas que há casos (me refiro a hospitais públicos) que é mais que nítido que a mulher não está em condições de ter um parto normal e a forçam mesmo assim. Penso que assim cm os médicos são instruídos, e com toda razão, que o parto normal é melhor para mãe e para o beb~e, eles tbm devem ter o discernimento em ver exceções. Uma mãe que está para dar a luz a 3 dias e não tem dilatação deve fazer uma cesária!E não ficar matando a mulher (pq sim, é muito importante a saúde da crinaça, mas a da mãe tbm!principalmentre a saúde psicológica!)
Seria isso da preferência pela cesárea um reflexo da nossa sociedade imediatista, já que trabalho de parto demora?
Não sei, as vezes penso que a questão da saúde hoje é toda essa. Transformaram hospital em fábrica, com turnos e sistema de produção em série.
Com relação a violência, nada mais obvio que é sexismo. Mesmo que as agressões sejam em grande parte perpetradas por mulheres (Gente existe mulher machista também, machismo é doença endêmica que não respeita genero, classe social, idade, grau de instrução...). É como muitas de vocês disseram, tudo ligado ao conceito religioso de que sexo é pecado e se fez tem de pagar com dor e sacrifício. Afinal, nossa cultura criou raizes no cristianismo fundamentalista da contra reforma né? Onde sexo é coisa suja e mundana. Deviamos todas fazer voto de castidade e extinguir a raça humana...
Pois é, como se pode ver pelo comentário do Anônimo (estudante de medicina) muitos profissionais de saúde não entendem o que é um parto normal. Além de exposta e com medo a mulher passa por uma dor excruciante. Saber que doí não diminui a dor,e muito menos educação diminui a dor,e não cabe ao profissional de saúde julgar essa dor.
Lola, há milênios que não posto nada. Comecei a ler os comentários, mas como são muito não cheguei ao final. Apesar do descrito no guest post ser chocante não é uma surpresa para mim. porém o que igualmente é chocante é as pessoas atrelarem a vilência ao parto normal. Houve uma pessoa (Moema se não me engano) que afirmou ser o parto violento por si só...Como assim? O parto bem assistido e empoderado é maravilhoso, gentil, natural. Quem diz que é violento é porque só conheceu sobre os partos mal assistidos. Histórias de dar à luz de maneira consciente, sem intervenções desnecessárias, sem estranhos fazendo exame de toque não são tão divulgadas quanto a manejos errados com resultados desastrosos (fórceps, quebra de clavícula, analgesia que gera cesarea, episiotomia, et, etc...)
Algo também que me chamou a atenção foi não ter percebido ninguém dizer ( de novo afirmo não ter lido todos os comentários) que a cesarea é de uma violência extrema.
Já falei muito disso quando do nascimento do meu filho, mas para fazer o resumo do resumo, eis o que vivenciei:
- tentativa frustrada de parto domiciliar - ida ao hospital para tomar ocitocina;
- médico dizendo que eu estava com infecção;
- eu dizendo que não estava porque não tinha febre;
- médico dizendo que 6 horas de bolsa rota = infecção;
-médico me mandando ficar deitada;
-médico não sabendo ouvir o coração do bebê (ou se fazendo de burro) e fazendo cara de "Meus pêsames";
- Eu apontando para o local onde ele poderia ouvir ;
- médico dizendo que não lera meu plano de parto;
- médico perguntando: "E todos os planos não são iguais?
- médico me mandando para cesárea de emergência;
- cesárea de emergência acontecendo 2 horas depois(!);
- médico perguntando se não foi bom fazer;
-médico dizendo que iria resolver o meu problema;
-médico dizendo que o pai não podia acompanhar a cirurgia;
- eu dizendo que ninguém encostaria em mim sem meu marido;
-médico perguntando qual era meu tipo de plano;
-médico aceitando;
- eu deitada e amarrada (praxe);
- bebê puxado, afastado de mim, limpo, examinado,aspirado, recebendo colírio, enrolado em panos verdes duros e ásperos;
- Bebê mostrado a alguns centímetros do meu rosto;
- mãos ainda amarradas;
- médico sugerindo tirar foto dos testículos do meu filho;
E o pior:
- Medico dizendo "Não entendo nada de natureza. Eu só sei de abrir a barriga e tirar o menino"
Cris, uma professora de ginástica ritmica que tive anos e anos atrás tinha filho tomando café com leite.
Parto empoderado é isso?
Ou seria um parto ao som de
um coro angelical descendo do céu?
como relatado nos Evangelhos?
Nem o parto de Jesus Cristo foi esse empoderamento todo, e se foi, o certo então é parir num estábulo, com a presença só do marido e dos animais, enrolar o bebê com faixas, depois de uma viagem no lombo de um burro o dia inteiro...
Eita mundo dos pôneis, hein?
Eu desmaiei de dor durante as contrações, já estava avisando a todos que eu me conhecia e sabia que eu ia desmaiar. Pedi ajuda ou auxílio e os enfermeiros estavam fazendo pouco caso e chegaram a debochar.. Era um show de piadinhas e sarcasmo desagradável. Mas o parto em si foi rapidíssimo, não deu tempo de nada.
Acho mesmo que essa equipe precisava de uma preparação melhor para lidar com uma pessoa que além de estar sobrecarregada fisicamente, está emotiva pra caramba e - no meu caso - ansiosa ao ponto de querer matar quem estivesse me irritando.
O parto é um momento importante por muitos motivos, ver que as pessoas em quem você vai depender, agirem de uma maneira tão antipática é revoltante.
E mudando um pouco de assunto, uma amiga minha sofreu um aborto espontâneo no Maranhão, quando foi atendida no hospital todos ridicularizaram ela depois de deixarem ela bem desconfortável dizendo que ELA devia ter feito alguma besteira para matar o 'filho' dela.. jogaram os restos fetais na maca onde ela estava.
Não sei o que essa gente tem na cabeça mas obviamente essa é uma questão que precisa sim de mais atenção. A falta de preparo e consideração dessas equipes é lamentável.
Estou adorando os comentários, e tuitando links para os que considero mais marcantes. Muito obrigada por me informarem mais sobre este tema da violência no parto! Quem não é mãe nem quer ser mãe não imagina até onde vai essa insensibilidade médica na hora do parto. Claro, conhecia pesquisas sobre isso. E a frase "Na hora de fazer tava gostoso, né" já é clássica de tão repetida. Mas é outra coisa ler tantos depoimentos revoltantes. Por favor, peço para que não deixem de colaborar com a Ligia. É importante que tenhamos pesquisas acadêmicas sobre o assunto. Porque essas pesquisas vão acabar chegando nas faculdades de medicina. Há muitos médicos, muitos professores de medicina, que não concordam com a falta de ética e de respeito com que os profissionais tratam as pacientes. Pesquisas servem de munição pra mudar esse quadro.
Algo que conheço melhor (e creio que há ligação) é o péssimo atendimento que médic@s e enfermeir@s dispensam às gordas. Claro, os gordos tb sofrem, mas menos, porque homens são valorizados por outras qualidades que não sua aparência física. Há pesquisas mostrando que quase 30% desses profissionais de saúde ASSUMEM ter NOJO de gordas. Nojo, já pensaram? Como tratar bem uma paciente por quem vc sente não empatia, não respeito, não admiração, não vontade de ajudar, mas nojo?! O resultado é que gordas recebem muito menos atendimento médico que outras mulheres. Elas já sabem que serão agredidas, então nem vão mais.
É esse o tratamento "humanizado" que queremos?
Moema, vc está trollando ou só está sendo desagradável?
Fiz questão de ler todos os comentários.
Que discussão tão rica!
E que bacana ver a postura dos homens nestes comentários.
Tenho alguns a fazer.
- João Marcelo: será que você poderia me enviar um link ou uma cópia desse documentário quando ele estiver pronto? Infelizmente, não poderei incluir o universo dos cárceres na minha pesquisa. Acho que os reduziria demais, e esse é um assunto que merece um trabalho só pra ele, pois é muito sério, muito importante. Meu e-mail é ligiamsena@yahoo.com.br
- Ramon Melo: concordo com você, essa questão de violência e desrespeitos no parto passa COM CERTEZA pela questão da má formação atual dos profissionais de medicina. Em função disso, tenho como um dos objetivos da pesquisa montar, ao final dela, aulas e palestras voltadas aos estudantes de graduação nas áreas da saúde, onde eu possa mostrar a visão das mulheres que passaram por isso, numa tentativa de sensibilizá-los. Não é muito, mas é algo a ser feito. Quanto à divulgação dos resultados: como minha ferramenta de pesquisa será a internet, que é por onde eu pretendo entrevistar essas mulheres, pretendo defender essa tese com transmissão em tempo real também pela internet, para que todos os interessados e envolvidos possam assistir. Assim como deixarei um link da tese à disposição de todos. Sou bolsista CAPES, estou sendo remunerada com dinheiro público, é meu dever fazer isso.
- Lorena: belíssima a sua resposta! Salvei aqui pra mim.
- Elídia: um dos meus objetivos com esse convite é exatamente isso que vc mencionou. Que mulheres que nunca pensaram na qualidade da assistência ao parto que receberam pudessem parar e pensar nisso. Você será muito bem vinda na pesquisa (se não me engano, vc já se inscreveu, ou não?)
- Escocês Voador: isso que vc escreveu foi excelente. Tenho tido a alegria de conviver com homens que pensam assim também.
- Cris Prates: concordo totalmente com você. Estou muito surpresa por terem associado o parto normal, por si só, a uma situação de violência.
- Moema: vc disse que passou de 20 minutos de trabalho de parto, há risco sim para mãe e bebê. Surepreenda-se e atualize-se: meu trabalho de parto durou 29 horas. EStamos ótimas e sempre estivemos. Empoderamento: tente pesquisar mais sobre isso que você vai entender o que é e, quiçá, irá querer também. E só um adendo: Maria, mãe de Jesus (sem qualquer conceito religioso nisso, apenas lidando com o que é dito sobre essa história) sim, foi uma mulher extremamente empoderada: fugiu grávida, abdicou do conforto do seu lar pela segurança de seu filho, que seria morto, entrou em trabalho de parto na viagem, teve um parto num estábulo, com a ajuda apenas do marido (que sabia que o filho nem era dele e ainda assim ajudou), e pariu sem assistência alguma, sem ocitocina, sem analgesia, sem episiotomia, simnplesmente o filho do Homem, aquele que, de acordo com a religião católica (que não é a minha) veio pra salvar o mundo. Se isso não é empoderamento, não sei o que é. kkkkkkkkkkkk
Grata mais uma vez por tantas contribuições.
Ligia Moreiras Sena
Olá Lola!
Acompanho seu blog há um tempo e adoro. Adoro os assuntos tratados e forma maravilhosa como você escreve! Você realemnte tem o "dom da palavra"! =)
Apesar de nao ser mae e nao querer ter filhos eu sempre ouvi falar sobre a violência obstétrica. Eu nem consigo expressar minha revolta sem usar palavras de baixo calao! É abjeto, é grotesco!
Eu estou no primeiro ano do curso de medicina veterinária e posso dizer que o tratamento que algumas parturientes recebem nos hospitais é pior do que as vacas em trabalho de parto!
Uma conhecida teve a vagina retalhada por um acogueiro (desculpa, nao consigo chamar alguém assim de médico)e precisou levar 20 pontos. Detalhe - parto difícil SEM anestesia, nem na hora do nascimento, nem na hora do retalhamento, nem na hora dos 20 pontos!
A frase "na hora de fazer foi bom" é de praxe! Afinal, de acordo com o "código de moral e conduta" desse tipo de "gente" mulher que faz sexo deve ser punida! Punida por um parto horroroso, traumatizante e humilhante.
Nao é irônico? Nao é irônico que em uma sociedade em que as mulheres sofrem lavagem cerebral e até mesmo coercao psicológica para que se tornem maes recebem tal tratamento? Nao é uma hipocrisia imensa e deslavada o fato de as mulheres passarem a vida inteira ouvindo "você só será completa e feliz quanto tiver filhos" mas no instante do parto esses mesmos filhos sao usados como objetos de culpa, dor e punicao???
Nao é uma contradicao imensa que mulheres que nao querem filhos sao execradas, mas caso decidam ter vao ser humilhadas do mesmo jeito?
Por fim, eu gostaria de postar aqui um link de um outro blog que sempre acompanho que fala justamente sobre a violência das maternidade - http://uterovazio.blogspot.com/2011/11/qual-o-sentido-da-maternidade-para-as.html
Fran
Eu sou uma das leitoras assíduas da Lígia e já me coloquei na filinha pra falar.
O fato é que pela minha experiência, uns 95% das mulheres com quem tive algum contato que passam pelo parto normal passam por procedimentos dolorosos, incômodos, sem necessidade alguma (inclui aí os hospitais negarem o DIREITO POR LEI das gestantes de ter acompanhante de qualquer sexo).
A maior parte delas considera isso normal. Então, 1/4 das mulheres consideraram violência, mas o número deve ser muito maior.
Ligia, seu conceito de empoderamento não confere com o meu. As condições periclitantes do parto de Maria, mãe de Jesus, não foram diferentes de muitas mulheres das classes baixas hoje em dia. Sem um leito, sem assistência especializada, sem família (muitas vezes abandonadas pelo pai da criança) e por aí vai.
Não sabemos se o parto de Maria foi difícil ou não. Ela era nova, deve ter sacolejado um bocado em cima do burrinho, isso deve ter ajudado a relaxar, a virar o bebê, e a expeli-lo rapidamente, não sei. No quesito limpeza e assepsia, também tenho cá minhas dúvidas de como Maria se virou naquele estábulo. Não queria estar na pele dela. Se alguém achou legal, então o que algumas aqui contaram sobre suas 'boas horas' é pinto, em comparação. Se querem um parto empoderado como o de Maria, vão à luta, não deve ser difícil...
Não sei em que circunstâncias vc consentiu em ficar 29 horas em trabalho de parto. Acho muito temerário prá qualquer mulher...
Uma amiga de minha mãe, espanhola, foi deixada abandonada num quarto do hospital, sozinha, ad infinitum...
gritando, até chegar a hora. Naquele tempo, era assim...foi o seu caso?
Minha mãe também passou por um esticamento do trabalho de parto ao me dar à luz, porque alguém teve a brilhante ideia de lhe dar uma cibalena prá dor; dormiu ela, dormi eu, dormiu a enfermeira até o dia seguinte, quando o médico entrou no quarto e levou um baita susto ao ver minha mãe ainda grávida, rsrs. Foi direto prá mesa de operação fazer uma cesária. Estamos as duas muito bem, obrigada. Casos são casos. Estatísticas são estatísticas.
Seu parto não foi o ideal nem o de minha mãe. Se o de Maria foi, bom...vamos pensar em uma concepção virginal, prá começar, que tal?
Digo e repito, qualquer parto é violento. Cesária ou natural (seja lá o que natural signifique)...
Tava assistindo a uma série americana (eles adoram programa de partos) em que a parturiente gritava a plenos pulmões a cada contração, o rosto desesperado de dor, todo mundo acompanhando, achando lindo...só fico pensando no bebê ouvindo os gritos da mãe...será que ele também tem uma experiência agradável? saberemos...
Parto é bonito no cinema, com trilha sonora, maquiagem, efeitos especiais...mas fora do set de filmagem, minha cara, reina o IMPONDERÁVEL...
Lola, o que é mais desagradável? os relatos que estamos lendo aqui ou alguma coisa verificável e factível que eu disse? Pode refutar, viu?
"Gravidez e parto não são brincadeira...e se não houvesse
hospitais ou cesárias, talvez a população mundial não estivesse em 7 bilhões. Acontece que à Biologia não interessa que todos se salvem, apenas uma parte significante para a espécie não se extinguir, mas quem quer fazer parte dos que não se salvam? Pois é...:))"
Moema acho que essa frase dita por vc é bem verdadeira, e eu tb não queria fazer parte dos que não se salvariam, acho que ninguém quer.
Mas também concordo que deveria haver meios de se tornar os partos menos traumáticos, para nós mulheres, não é possível tolerar tantos desrespeitos a mulher em uma hora que certamente é a fase onde estamos mais fragilizadas.
Parto empoderado não é parto de cinema, é parto onde a mulher está consciente do que se passa e ativa. Parto empoderado não é parto limpinho, sem esforço, com cada fio do cabelo ainda no lugar, sem sangue, sem algumas possíveis lágrimas, sem alguns possíveis gritos. É preciso aceitar que há um ônus em cada ação que tomamos, sem ingenuidades, sem ressentimentos e sem hipersensibilidades. A vida não é limpinha e cheirosinha. Aceitar isso é manter os pés no chão, não é preciso que haja trauma. Associar isso a uma violência é uma questão psicológica, pessoal e cultural também, mas não é inerente ao parto em si. Seja natural, normal ou cesarea, é perfeitamente possível que a mulher tenha uma boa experiência e se sinta bem com as decisões tomadas. O parto é uma experiência poderosa, para algumas será uma experiência aterrozirante, para outras será maravilhosa, mas ainda assim poderosa. Fatores psicológicos ou externos, morais, de saúde, práticos, vão empurrar cada mulher para uma percepção diferente do que se passa ela nesse momento, e cada parto pode ser bem diferente do outro para a mesma mulher. Tem umas que vão para a sala de parto como vão na loja comprar uma blusa, bloqueiam tudo e não levam nada em forma de aprendizado, mas essas são meras exceções. Procedimentos estéticos invasivos podem doer bastante e não vejo mulheres dizendo que isso é uma violência. Elas entendem que a dor e o desconforto fazem parte e os benefícios superam tudo isso. Assim como é com esportistas que treinam duro, assim como é com qualquer um que se coloque num projeto que exija grande doação pessoal. Então, justo com o parto seria diferente? A noção de violência envolve desrespeito, envolve dizer que um direito foi violado, um espaço foi invadido, sentimentos foram desconsiderados. De que forma isso se envolve com a noção que cada mulher tem ou terá do parto, com sua cultura, com suas vivências?
Há uma tendência cultural de se transformar qualquer experiência intrisecamente feminina em algo traumatizante, catastrófico. É preciso mudar esses paradigmas.
E a propósito, não foi o ambiente de um hospital que mais salvou vidas, chega a ser um absurdo supor isso já que a maioria da população do planeta ainda vive a margem disso (apesar de, obviamente, ser mais um passo importante). Foram as melhorias nas condições de vida e higiene da população que realmente mudaram este quadro. Acesso a água potável, sistema de esgoto e um mínimo de conhecimento sobre profilaxia salvam mais vidas que um hospital inteiro.
Denise, você chegou a ler minha sugestão quanto às providências durante a gravidez e o parto, a começar pela escolha do hospital? Podemos ir um pouquinho mais longe. Comecemos pela escolha do PAI do bebê e da hora em que escolhemos engravidar.
Um argumento a nosso favor, ao nos defendermos nessa hora difícil, é
invocar a LEI.
Não faz muito tempo, levamos minha filha ao hospital prá tratar uma infecçãozinha urinária (ela fica logo apavorada) e o enfermeiro me barrou quando ela foi chamada a entrar numa sala de espera. Eu estrilei. Por que eu não podia entrar? O atendente veio dizendo que era regulamento do hospital e eu logo perguntei se o procedimento era legal e onde estava a lei que me impedia de entrar na sala de espera com minha filha, mesmo maior de idade. Aí ele foi amansando e me deixou entrar. Fiquei com ela durante a consulta, fiquei esperando ela colher material de olhos bem abertos, atenta a tudo o que estava se passando ali, como eu sempre faço em qualquer situação. O pai, lá fora, esperando. Correu tudo tranquilo, mesmo o médico dizendo umas coisas que não aceitamos, os exames ficaram prontos em 3 horas, ela foi medicada e fim da história.
Prá saber qual o índice de infecção hospitalar (o maior perigo durante qq procedimento médico) de um hospital, procure na Internet. Bons hospitais divulgam essas taxas na net. Certifique-se de que nome do médico e CRM estão corretos (olha na primeira receita ou pedido de exame). Também dá prá ver via internet. Tratou mal, fez chacota, demonstrou ignorância sobre algum detalhe médico, menciona, como quem não quer nada, algo sobre seu advogado ou se consulte com outro profissional. Não vá ao médico sozinha, é lógico. Faça corpo mole. Nós, mulheres, temos a mania de mostrar que somos fortes, que fazemos tudo sozinhas, que somos de ferro...rs
Na esfera mental, não deixemos passar pela nossa cabeça que algo vai dar errado. Se vier algum pensamento ruim, podemos perguntar prá nós mesmas: 'é isso que você quer prá você?'
Não é uma receita de bolo infalível, mas cada uma pode incrementar ainda mais...
bjs
Liana, concordo com você. Mas menos mulheres e bebês morrem na hora do parto devido aos avanços médicos e hospitalares. Aliás, até prá tirar uma verruga, tive de ir ao hospital (poderia ter tirado no consultório, mas o que é um ambulatório particular senão um mini-hospital?
Estou na torcida prá que os partos caseiros passem a ser seguros. Uma sobrinha do meu marido, espiritualista, peitou seu parto dentro de casa e deu tudo certo.
Se condições sanitárias fossem suficientes para prescindir de hospitalizações e inexistissem MORTES DE PARTURIENTES E FETOS nas classes abastadas e higienizadas, estas não procurariam serviços médicos, vc não acha?
Não sou mãe. Na verdade, nem sei se pretendo ser. Mas acho estranho na nossa discussão sobre violência no parto essa disputa entre quem defende o parto natural e quem prefere a cesárea.
O mais importante é que cada uma tenha a liberdade de fazer sua própria escolha e opte pelo que julgar melhor, porque nesse caso ninguém é dona da verdade para impor o modo "certo" pelo qual toda mulher deve ter filhos. Escolher o que julga ser o melhor é um direito. Querer impor essa escolha a todas as outras é um abuso.
O tipo de abuso que ocorre nos SUS, onde já vi mulheres gritarem como se estivessem sendo estripadas durante o parto normal, mas toda a equipe impunha que ela deveria ter o filho assim, independente dos rogos dela para que eles fizessem uma cesárea.
Ora, o corpo da mulher é dela e nenhuma deveria ser obrigada a fazer um parto de um jeito, só porque dessa forma é mais barato. É claro que os médicos dizem que essa também é a melhor forma, embora no sistema privado eles muitas vezes digam exatamente o contrário para convencer suas pacientes a fazerem uma cesárea. Se bem que, nesse caso, são muitas das próprias pacientes que exigem essa opção.
Moema, eu escolhi passar por um trabalho de parto absolutamente natural do ponto de vista biológico. Eu passei mais de 20 horas, que é um tempo considerado absolutamente normal para paturientes de primeira gestação, em trabalho de parto, com a assistência de 4 enfermeiras obstétricas muito carinhosas, com meu marido me apoiando, me segurando, incluso no processo e não relegado a uma sala de espera, no conforto da minha casa, podendo caminhar, me alimentar, ouvir música e tudo mais, em busca de um parto domiciliar. Eu e mais de 150 mulheres na cidade de Florianópolis que foram atendidas pela equipe de parto domiciliar que muito carinhosa e respeitosamente nos atendeu. Mas, muito infelizmente, a acentuada medicalização da vida faz com que algumas pessoas aceitem que o salvamento vem do hospital, do atendimento médico. E assim, os corpos são separados de seus donos, observados como mercadoria, apoderados pelos falsos detentores do conhecimento sobre seu funcionamento. Essa questão de "passar pela cabeça que algo vai dar errado" faz parte da imposição de medos e perigos que a medicalização cria para essa sociedade de riscos. A medicalização da vida transforma a saúde em mercadoria, o que é um mercado altamente lucrativo. Essa dependência que se criou entre a parturiente e o médico, altamente desnecessária, reduz as possibilidades da mulher, a subjuga e empobrece. Infelizmente é isso o que vivemos: a medicalização da concepção, da gravidez, do parto, da amamentação, da alimentação, da educação, dos afetos, das personalidades, da longevidade, da beleza, na sociabilidade, do trabalho, das funções vegetativas. E, mais infelizmente ainda, com o aval de grande parte da população. Gente que prefere entregar a responsabilidade de suas próprias vidas e de suas escolhas a terceiros, ou que nem se deram conta disso ainda... Principalmente os sujeitos mais frágeis sócio-economicamente e dos sujeitos mais empobrecidos de informação - e empobrecimento de informação é algo a despeito de possibilidades econômicas. Quanto mais frágil a sociedade, nesses quesitos, e maior a legitimação da medicina, pior é o quadro.
É compreensível que as mulheres escolham obstetras antes mesmo de escolher o nome do filho. Vive-se na sociedade do medo, achando-se que, longe da presença divina dos médicos, as coisas darão errado. "A antecipação de fatos imaginários tem grande potencial para gerar na sociedade sentimentos de medo/paranoia" (Castiel).Temerário, mesmo, para uma mulher, é colocar-se subjugada nas mãos de uma equipe de saúde que conseguiu convencê-la de que muitas horas em trabalho de parto é anormal, apenas baseado no fato de que, quanto mais partos se fizer num dia, melhor, na fila de produção em série que trata mulheres e seus bebês como mercadorias. Onde elas são números e não pessoas. Com o "sorinho" recheado de ocitocina aumentando a velocidade desses trabalhos de parto e as indicações de cesáreas sendo feitas como quem indica uma retirada de dente.
Esse é o mundo real.
É fácil condenar a cesárea nessas situações absurdas e mal indicadas. Não vamos esquecer que muitas mulheres não conseguiriam ter filhos atrvés do parto norma, por diversos motivos, incluindo o alguns formatos da pelve e desproporção ente o tamanho do bebê e o tamanho da bacia. Há casos, Sim, em que a cesárea é bem indicada, o uso de fórcipe é necessário e o uso de ocitocina também. O parto em casa é muito bom para a mulher, o bebê e tudo mais, desde que não haja complicações!!!! É por isso que hije as mães ganham seus bebês no hospital,mporque podem haver mudanças durante o trabalho de parto que necessitem intervenção RÁPIDA! E o Sus não disponibiliza anestesista para acompanhar todos nos trabalhos de parto. A luta é por aí: foramação profissional mais humana e um sistema de saúde que permita isso, o que está longe da realidade. E só quem é obrigado a ver isso entende que muitas situações independem da vontade do médico, como a questão da falta de anestesia!
Moema, essa questão das classes abastadas não se resume a parte sanitária e possibilidades das mesmas em realizar o parto domiciliar com segurança. Por terem acesso fácil aos médicos e hospitais, eu imagino que sejam até mais facilmente seduzidos por esta cultura de intervenções médicas que coloca o Brasil numa posição bem peculiar. O fato de alguém ser rico não o torna menos influenciável do que qualquer outro ser humano. Já li e ouvi comentários de mulheres de classe média alta sobre "parto vaginal ser coisa de mulher pobre e ignorante". Muitas ali acham que quanto mais intervenção melhor, mais "civilizado" é, sem que façam uma análise sobre a real necessidade dessas coisas. São as mesmas pessoas que tomam um remédio para acordar, outro para aguentar o dia, outro para o intestino funcionar, um para emagrecer, outro para dormir. Pra que repensar hábitos quando se tem remédios?
Note que eu não estou polarizando a questão, tipo A versus B, nem falando mal dos hospitais, que são importantes obviamente. Não acho que exista uma opção "certa" de parto. Certo é o que cada mulher decidir para si, tendo sido corretamente orientada e acolhida.
Não toco na questão individual, mas no aspecto cultural e da excessiva valorização médica em total detrimento das escolhas da paciente. Pois na prática o que se vê é que a mulher não tem realmente escolha sobre o que acontece com o seu corpo e nem tem acesso o suficiente às informações tão específicas (inclusive as classes mais abastadas, por incrível que pareça).
Tem um estudo sobre o poder de escolha da mulher sobre o parto que vai ter.
"Isso sugere, em primeiro lugar, que a maioria dos partos cesáreos não foi feita "a pedido". A maioria das mulheres que sofreram cesárea não o solicitaram. Ao mesmo tempo, 19% das que tiveram parto vaginal reportaram que haviam pedido cesárea. Isso revela o poder limitado das mulheres em determinar o tipo de parto que vão fazer, seja ele vaginal ou cesárea, nas maternidades estudadas."
Para mim, a questão principal é essa: a mulher poder escolher com tranquilidade, sem que isso precise virar uma "batalha contra o sistema".
É um absurdo achar que o ambiente hospitalar não influenciou na melhoria das condições sanitárias em que os partos são feitos.
Inclusive porque ainda hoje existem muitas pessoas que tem menos acesso a essas condições sanitárias básicas que a um atendimento hospitalar.
Isso sem falar que, mesmo durante um parto normal, a mãe e o bebê estão sujeitos a complicações médicas que imponham intervenções cirúrgicas ou o uso da UTI. Se existe uma probabilidade de algo dar errado, o médico não pode negligenciá-la e é claro que num hospital esses cuidados podem ser tomados com mais urgência. Isso não é uma invenção, uma paranóia criada para afastar as pessoas de si mesmas. É um fato. Essas complicações não previstas podem ocorrer mesmo com o melhor pré-natal, porque esse pré-natal, que é um procedimento das ciências médicas, não é infalível. Assim como o hospital, que não faz mágicas, mas oferece o melhor para tratar situações críticas.
Muitas pessoas fazem o procedimento de endoscopia em simples clínicas, mas o recomendado é fazê-lo num hospital, porque, embora mínima, existe possibilidade do médico ter que realizar uma cirurgia para salvar o paciente.
Para o sistema público, é inviável disponibilizar uma ambulância do lado de fora para que toda mulher faça parto em casa, então a solução mais adequada é mesmo levá-las ao hospital. Agora, mesmo que ela possa dispor por contra própria de algo assim, eu recomendaria a ela que não o fizesse. Bons hospitais podem ser ambientes não traumáticos, onde uma mulher pode ter uma parto humano e, em alguns casos, a intervenção cirúrgica para salvar a mãe e o bebê deve se dar em questão de segundos. A não ser, é claro, que ela também ache melhor fazer uma cirurgia na própria casa!
Enfim, cada um pode escolher correr os riscos que quiser, mas isso deve ser uma escolha consciente, que não se baseie na fantasia de que a medicina do pré-natal é infalível!
Bom, não sei se o que eu passei pode ser caracterizado como violência, mas para mim foi assustador.
Escolhi fazer parto normal e, com exceção do meu marido (namorado na época), todos diziam que era melhor a cesárea, inclusive os médicos que consultei. A família dizia que eu era muito magrinha e não daria conta do parto normal. Mas insisti. Morava em uma cidade, e teria o bebê em outra. Como meu plano era recente ele não cobriria o parto, mas, por sorte, meu médico tb atendia no hospital público da cidade (uma cidade pequena).
O trabalho de parto foi demorado,com ocitocina, muita dor, fiquei sozinha, me sentia mal pq além de estar longe da minha família (que era de outra cidade) ninguém da família do meu marido podia ficar comigo.
Mas tudo isso eu encarei como "normal", o pior para mim foi que depois que o bebê nasceu a enfermeira me disse que eu poderia registrar o bebê no hospital mesmo, eu disse que não seria possível pois meu marido não estava na cidade e só chegaria dali alguns dias. Ela me informou que eu seria obrigada a registrar meu filho só meu nome pq eu não poderia sair do hospital com ele sem registrá-lo. Eu fiquei apavorada, veja bem, eu não tenho o nome do meu pai, e não queria isso p/ o meu filho, mesmo que fosse provisório. Me senti humilhada. Minha sogra procurou uma prima que era enfermeira e ela foi até o hospital me acalmar, dizendo que isso não era verdade, que eu poderia ter alta normalmente e levar os papéis p/ registrar o bebê no cartório. Pq a enfermeira precisava me assustar? É claro que ela sabia que a informação que estava me dando não era verdade.
Isso é um absurdo!!! É mais uma prova da falta de ética de alguns profissionais de saúde que não têm a mínima noção (e porque não formação) de como lidar com seus pacientes.
Parto dói. Dói pra burro pelo que dizem. Eu nunca tive um filho, mas já tive apendicite e pedra nos rins, dores que segundo pesquisas apontam, são similares à dor do parto em intensidade. Se isso for verdade, putz, é pesado.
Então dizer pra uma mulher pra ela parar de gritar é uma ofensa.
Por isso pretendo ter um parto humanizado quando tiver um filho. Não quero ser tratada que nem uma vaca reprodutora.
Acho que muitas pessoas simplesmente não aceitam que muitas mulheres, não por desinformação e ignorância, escolhem a cesárea.
Insistem em afirmar que elas escolhem essa opção por imposição de uma cultura medicalizada, ruim, contrária ao que é natural. Isso é apenas uma forma pouco sutil de dizer que essa opção é errada e que escolhê-la é coisa de gente estranha, sem informação, que gosta de viver num mundo ruim e artificial.
Ah, poupem-me! Que a pessoa escolha o parto normal se quiser, mas não queira dizer que os outros são ignorantes só porque não querem o mesmo!
Uma amiga da minha mãe já me contou que, quando foi ter seu filho, ouviu um médico falar pra outra paciente algo como "na hora de fazer o bebê, aposto que você não estava gritando, né?". Triste é que ela contou isso como se fosse um acontecimento inusitado, quase engraçado. E eu lembro de ter ouvido essa história pela primeira vez bem nova, talvez criança ou pré-adolescente, e ter ficado revoltada. Acho que ficaria furiosa mesmo se o médico não me tratasse daquela maneira: só de ouvir o escárnio direcionado a outra mulher eu já diria poucas e boas.
O mais triste é que isso aconteceu na Santa Casa do Rio de Janeiro, ou seja, a probabilidade de a gestante em questão ser uma mulher pobre é bem grande. Triste pensar que nem num momento tão importante quanto no parto as mulheres com baixo poder aquisitivo merecem um tratamento empático e humanizado por parte dos profissionais de saúde.
Olívia
sua opinião não se sustenta quando o Brasil tem o vergonhoso título de país com o maior percentual de cesarianas feitas. Alguma coisa acontece aqui e a questão é bem mais profunda que dizer "muitas mulheres, não por desinformação e ignorância, escolhem a cesárea" ou "Isso é apenas uma forma pouco sutil de dizer que essa opção é errada e que escolhê-la é coisa de gente estranha".
Se você estiver interessada em deixar de lado essa idéia de perseguição e ler alguma coisa a respeito eu sugiro começar por aqui e aqui.
Janaína
"É um absurdo achar que o ambiente hospitalar não influenciou na melhoria das condições sanitárias em que os partos são feitos."
Ninguém aqui renegou as benesses que a medicina trouxe. O que eu disse é que a melhoria das condições sanitárias e o acesso, ainda que parco, aos serviços mais básicos tiveram um efeito MAIOR (e não único, há uma escala e uma comparação aqui) do que o acesso a um hospital, medicamentos e exames.
Vou destacar isto aqui:
"A coleta, o tratamento e a disposição ambientalmente adequada do esgoto sanitário são fundamentais para a melhoria do quadro de saúde da população do município.
Para cada R$ 1,00 (um real) investido no setor de saneamento economiza-se R$ 4,00 (quatro reais) na área de medicina curativa.
65% das internações hospitalares de crianças menores de 10 anos estão associadas à falta de saneamento básico (BNDES, 1998)
as doenças decorrentes da falta de saneamento básico mataram, em 1998, mais gente do que a AIDS (FSP, 16/jul/00);
a utilização do soro caseiro, uma das principais armas para evitar a diarréia, só faz o efeito desejado se a água utilizada no preparo for limpa (FSP, 17/dez/99)"
Além dos efeitos sanitários e médicos nas taxas de mortalidade de mulheres e crianças, há ainda a questão do sexismo e da violência doméstica influindo nesses dados.
Eu não posso reclamar do meu parto... Fui super bem atendida e todos foram muito atenciosos. Entretanto, morei por alguns meses em uma cidade no interior de Pernambuco e, uma vez fui ao hospital municipal para conversar com o profissional que trabalhava no setor de radiologia. Enquanto aguardava, havia outras mulheres na sala de espera conversavam sobre os respectivos partos. E todas relatavam histórias de desrespeito, inclusive com a famosa frase de "não chorou para fazer e agora vai chorar para ter?". Uma delas contou que estava com muita dor no trabalho de parto, mas não chorou e nem se manifestou, porque a outra paciente que estava com bebê ao lado de sua cama disse que se chorasse ou gritasse, os médicos demoravam mais a atender! Incrível, não?!
No parto não, mas no ginecologista, uma conhecida, evangélica, já se sentia desconfortável com o exame e quase morreu de vergonha quando o médico tocou suas partes pudendas e disse "gordinha, hem"!
Um anônimo disse: "É fácil condenar a cesárea nessas situações absurdas e mal indicadas. Não vamos esquecer que muitas mulheres não conseguiriam ter filhos atrvés do parto norma, por diversos motivos, incluindo o alguns formatos da pelve e desproporção ente o tamanho do bebê e o tamanho da bacia. Há casos, Sim, em que a cesárea é bem indicada".
Não condeno a cesárea.
Eu nunca condenarei a cesárea.
Foi ela que salvou minha vida e a vida de minha filha, após as 29 horas de trabalho de parto, exatamente pelo motivo que você falou: desproporção céfalo pélvica, um bebê com um perímetro cefálico maior que 37.
O que eu condeno é um obstetra decidir por cesárea por motivos comodistas.
Mas quero deixar claro que minha pesquisa não se trata de parto normal ou de cesariana. Esse não é o meu foco. O meu foco
e saber quais são os desrespeitos que as mulheres estão sofrendo em seus processos de parto, seja ele cesárea ou normal, e, principalmente, como elas percebem isso. E isso passa exatamente pelo que o mesmo anônimo comentou: a questão da formação de recursos humanos.
Acredito que eu seja uma pessoa sem viés para realizar essa pesquisa, justamente pelo fato de que sou uma ativista do respeito ao parto e nascimento que precisou viver um parto cesáreo muito bem indicado, me incluindo no processo de decisã, fui muito bem acolhida pela equipe médica, tive meus desejos e anseios respeitados e meus valores respeitados. Eu conheço o outro lado da moeda. Posso falar sobre ele.
E justamente por isso sei como é importante ser bem acolhida. Porque num momento em que o imprevisto acontece, ser bem amparada pode mudar o rumo das coisas e, quiçá, da própria vida.
Imagine se, além de ter precisado viver uma cesárea imprevista - mas não urgente, pois pude me deslocar até o hospital tranquilamente e, estando no hospital, ainda fui incentivada pela equipe a dar continuidade ao trabalho de parto - eu tivesse sido mal amparada...
Para mim, tem sido muito rico ler esses comentários. Mesmo os com os quais eu não concordo muito são importantes, pois posso ter mais contato com todas as facetas de opiniões.
Abraços a todos!
Não sei se alguém nos comentários já mencionou, mas outra questão é a dos procedimentos desnecessários a que muitas mulheres são submetidas. Ainda não sou mãe, mas estou planejando e pesquisando muito a respeito e uma coisa que me assustou muito foi o alto índice de episiotomias. Se quiserem saber mais, encontrei esse post que pra mim, que quero parto normal, é aterrorizante:
http://partonaturaljundiai.blogspot.com/2011/11/episiotomia-aquele-cortinho-do-lado-no.html
Copiando um trechinho do post:
"Submeter indivíduos a procedimentos médicos invasivos SEM REAL NECESSIDADE é uma forma de violência. A Episiotomia é a forma de violência contra a mulher mais comum no Brasil."
Oi Lígia, oi Lola,
Super importante essa discussão e essa pesquisa. Li os comentários e dá pra ver o quanto procede realizar esse estudo.
Não tenho filhos, mas acabei de acompanhar uma amiga que decidiu ter parto normal. Sem grana para contratar profissionais particulares que fizessem o trabalho (uma doula, equipe de enfermeiros e um médico que acompanharia o parto), ela precisou desistir na última semana do obstetra do plano, porque ele "resolveu", a despeito dos pais, que seria feita uma cesárea - mesmo que mãe e bebê estivessem super bem.
Ela conseguiu encontrar um médico maravilhoso, do plano, na última semana, q apenas a auxiliou no parto normal. Foi super bonito, mas ela viu de perto todas as resistências/preconceitos médicos para isso...
Quando eu mais tive contato com a violência a que a gestante está submetida foi quando fiz um trabalho de promoção da saúde (sou psicóloga) numa favela no Rio. As coisas que as mulheres me contavam nos grupos de discussão, que passaram quando iam ter bebê nos hospitais públicos eram de arrepiar. Ameaças de médicas/os e enfermeiras/os que não iam dar anestesia - e não davam; negligência (abandono da gestante em trabalho de parto por horas); crítica à idade das jovens grávidas, com piadinhas sobre Bolsa Família e promiscuidade das mesmas; ameaças de que não iam fazer a costura do períneo depois do parto porque no ano seguinte "vc está de novo aqui!", cada coisa chocante. Chorei várias vezes quando chegava em casa.
Por fim, fiquei sabendo ontem desse documentário que acabou de estrear, e acho que pode interessar a tod@s aqui: http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/noticias/2160-leite-e-ferro-estreia-documentario-sobre-maternidade-na-prisao
Volte para dar notícias de sua pesquisa, Ligia!
beijos
Eu falo do q conheço, q foi o nascimento do meu filho.
Comecei a ter contrações +fortes 2h e pouco antes de ir ao hospital. Ao descer do carro eu olhei no relógio e eram 9:45 da noite. Ao entrar na area de atendimento n queriam deixar meu marido passar, eu me lembro de surtar (n me lembro de muito disso pq eu realmente tenho fobia de médico e só me lembro de estar agarrada a uma maca ouvindo uma enfermeira me dizer que meu filho iria nascer ali e que eu n estava ajudando em nada me recusando a ver a médica, me puxando pelo braço enquanto eu chorava pedindo pelo meu marido.) até que permitiram que ele estivesse comigo. Fizemos o exame e estava com dilatação boa, a médica disse que em alguns minutos meu filho nasceria. As contrações estavam fortes, a dilatação estava praticamente ideal e mesmo assim me deram ocitocina (que eu havia pesquisado previamente e sabia que era perfeitamente dispensável em casos como o meu) sem nem sequer me perguntar se queria ou fazer qualquer exame que determinasse sua necessidade.
Me disseram que era glicose já que eu não havia comido nada o dia todo, e quando as contrações aumentaram insuportavelmente me avisaram que tinham me dado um remédio pra acelerar o trabalho de parto. Me colocaram em uma maca e levaram meu marido pra preencher papéis da internação (e mesmo apavorada eu não pude reclamar, já que estava agarrada à maca com dor e gemendo, sem conseguir respirar direito. Não tinha força nem pra falar direito...) Alguns minutos depois a enfermeira veio me dizer pra virar pra poder fazer o exame cardio, e eu disse que não conseguia. Ela bufou, revirou os olhos e disse com todo desprezo e ironia que aquilo era o melhor pro bebê "Não é isso q você quer mãezinha?".
Eu não estava gritando, nem xingando ninguém, mal conseguia gemer... Sério... E ela me tratava como se estivesse fazendo um escandalo exagerado. Ao ver o papel do cardio ela falou pra outra enfermeira "nossa, as contrações estão fortes mesmo..." e eu ouvi e respondi "Eu disse!!!" Com vontade de matar aquela mulher, mas sem poder levantar um dedo. Ela ficou visivelmente sem graça, mas pra disfarçar disse "é... se a mãezinha apertasse o botão a gente poderia saber quando o bebê mexesse" com uma ironia irritante. Ao que eu respondi "se pelo menos eu pudesse sentir ele mexendo eu apertaria, mas tá doendo tanto que não consigo saber nada do que acontece!" Ela ficou aidna mais sem graça, arranjou uma desculpa e saiu, sendo seguida pela outra enfermeira, me deixando sozinha na sala.
Alguns minutos (eu acredito q foram minutos) depois eu senti a expulsão. Tive sorte de saber que era meu filho querendo nascer, pq já ouvi muitas mulheres (inclusive minha irmã) dizendo que nesse momento acreditavam só estar com muita vontade de ir ao banheiro. Sim, era meu primeiro filho...
Eu me vi sozinha, com meu filho querendo nascer e não tive duvidas. Pedi a ajuda de Maria (sim, a mãe de Jesus, de quem sou muito devota mesmo não sendo católica) e com todas as minhas forças comecei a gritar pela enfermeira, chegando a pedir pelo amor de Deus que alguém aparecesse. Quando elas vieram eu não conseguia explicar o que sentia, e elas ficaram com aquelas caras de nojo pra mim. O médico veio, fez o exame de toque e disse "Alguém viu quando a bolsa dela estourou?" e as duas baixaram as cabeças e disseram "não..." Ele falou algo como "o bebê já está vindo" ou sei lá, pq realmente n me lembro, sentia que ia desmaiar, e me levantou pra ir pra sala de parto.
cont. Mesmo falando que não conseguia andar eles me fizeram caminhar até lá, pelo menos o médico me amparou o caminho todo. Perguntei pelo meu marido e o médico mandou fazer ele subir rápido seão não veria o nascimento. Chegamos quase ao mesmo tempo na sala de parto. Ele ficou ao meu lado o tempo todo, e quando me fizeram deitar o médico me disse "quando eu mandar você senta pro anestesista aplicar a Raqui" e eu pensei "Pra que Raqui se é parto normal?" e disse que não queria... e ele disse q ia aliviar a dor e n sei mais o que e eu insisti que não, q a dor ia passar logo. Claro q isso td foi pq tenho um medo horrendo de agulhas rs mas não só, foi tb pq acredito que um parto normal não precisa de uma anestesia que te deixe paralisada da cintura pra baixo... Se fosse uma cesária td bem, mas normal???
Enfim, eu já não tinha força pra empurrar e enquanto ouvia a enfermeira dizendo q se n empurrasse meu filho ia ficar preso o médico praticamente subiu encima de mim pra forçar minha barriga pra baixo, ajudando o pqno a nascer... Procuro pensar q ele fez isso por ver que eu estava a ponto de desmaiar e n simplesmente por pressa de sair dali (como muita gente me falou). Meu filho nasceu, estava bem, colocaram ele ao meu lado por alguns segundos pra que eu pudesse "Vê-lo" e levaram pra limpar e td mais. O Parto em si durou 20 min... ele nasceu às 10:44 (ou seja, menos de 1h depois de eu entrar no hospital, já que às 9:45 eu estava descendo do carro ainda). Fiquei 1:30 (contados no relógio) recebendo pontos, pq houve lacerações e também a enfermeira estava fazendo um ponto e o médico disse que ela fizesse outro, ao que ela respondeu "mas esse eu n sei" e ele disse "td bem, eu te ensino agora" tomei umas 6 anestesias locais (ou mais), mais de 20 pontos (cerca de 26... isso só os que consegui contar, e externos... pq por conta das lacerações tive que tomar uns tantos internos tb) e às 12:15 eu fui deixada em uma sala pra monitorarem os batimentos... quase 1h depois apareceu uma enfermeira pra ver como estava tudo (sim estava sozinha ali com uma mulher que tinha feito uma cirurgia... Se alguma morresse n iam saber)
Depois de 2h nessa sala (por volta das 2:30 da manhã eu acho) levaram meu filho pra mamar... Isso num hospital que tinha cartazes gigantes distribuidos pelas paredes que falavam da importancia de uma criança mamar pela primeira vez nos primeiros 30min do nascimento...Meu filho foi mamar pela primeira vez às 2:30 da manhã...(Lembrem-se que ele nasceu às 10:44)
Isso tudo fora a médica que levou umas 3 ou 4 estudantes junto com ela pra (sem perguntar se estava tudo bem por mim) ver como estavam meus pontos pela manhã.
Pra mim foi algo bem ruim, e procuro sempre apagar essas dificuldades ao lembrar do nascimento do meu filho, tentando lembrar só do fato de que graças a Deus ele nasceu forte e saudável (50cm, e ainda o mediram errado... e 3.100kg) e que dentro de alguns dias fará 2 anos com a mesma saúde de ferro...
Minha cunhada passou por dificuldades aqui na Espanha também (meu filho nasceu aí, mas atualmente moro fora do Brasil) e uma amiga que fez pré natal comigo (ambas tinhamos gravidez de alto risco) quase morreu pq teve pré eclampsia e se recusaram a fazer cesária... dizendo que 19 por 15 n era pressão alta suficiente pra deixarem de tentar o parto normal...
Acho que cesária por fazer n é algo indicável (embora cada uma saiba de si), mas existem casos que não há outra solução...
Liana,
As condições sanitárias são importantes. Óbvio! Mas aqui você colocou o que foi mais importante na questão do parto e, nesse caso, foi o parto no hospital, porque na maioria das vezes é mais higiênico que o feito em casa. Principalmente para mulheres pobres, que não têm acesso a boas condições sanitárias em suas casas.
não sei se alguém já colocou isto, mas na Venezuela violência obstétrica é crime.
Definição de violência obstétrica, segundo a lei venezuelana:
1 - Não atender oportuna e eficazmente as emergências obstétricas;
2 - Obrigar a mulher a parir em posição supina e com as pernas levantadas, existindo os meios necessários para a realização do parto vertical;
3 - Impedir o contato pele-a-pele precoce do bebê com sua mãe, sem causa médica justificada, negando-lhe a possibilidade de segurá-lo ou amamentá-lo imediatamente ao nascer;
4 - Alterar o processo natural do parto de baixo risco, mediante o uso de técnicas de aceleração, sem obter o consentimento voluntário, expresso e esclarecido da mulher;
5 - Practicar o parto por via de cesárea, existindo condições para o parto natural, sem obter o consentimento voluntário
Gostaria de saber sobre quem, na Venezuela, cai a responsabilidade civil e penal quando o consentimento voluntário acaba em óbito ou em danos irreversíveis para o bebê...
Fiquei mais do que chocada, pois já havia ouvido relatos semelhantes, mas indignada com a frequência (relativa à pesquisa) desses.
Acho muito importante a pesquisa que essa mulher faz, toda a força e apoio ela merece!
O cúmulo do absurdo!
Moema,
Acho que você ainda não entendeu o tema do post. Sugiro que leia de novo.
Ninguém aqui está falando contra a cesárea necessária. Está se falando contra a violência que as mulheres sofrem durante o parto. A cesárea desnecessária e contra a vontade da mulher é apenas uma das violências.
Deu para entender?
Liana,
Você só acha que o Brasil tem um número absurdo de cesáreas porque é a favor do parto normal. Porém, quem, como eu, fez cesárea, não acha nada absurdo que milhões de mulheres brasileiras queiram fazer o mesmo.
Não entendo esse escandâlo em torno da cesárea. Eu acho algo ótimo, que não faz mal nem à mãe nem ao bebê. É uma questão de opinião. Se você não concorda, não faça. Mas não existe nada de absoluto nesses argumentos contrários à cesárea e, pra mim, quem quer deve fazer, mesmo que seja só para evitar o sofrimento de horas em trabalho de parto!
Ah, e por favor, não me diga que há graves complicações no pos-operatório. Já tive normal e cesárea. Na segunda, minha recuperação foi bem melhor! Toda mulher que conheço diz o mesmo, mas não vou dizer que é assim com todo mundo porque cada pessoa sente as coisas de uma forma.
Agora, se você quer protestar, existem outras coisas contra as quais lutar. Que tal brandar contra o fato do SUS não aplicar a anestesia epidural nos partos normais.
Não vou dizer para você lutar contra o fato do SUS muitas vezes obrigar a mulher ao parto normal, mesmo quando ela não quer e muitas vezes até quando ela não deveria, porque já sei que você acha que ela não deve fazer essa escolha, porque (oh, my god!) é antinatural!
O SUS agora faz campanha pelo parto normal, mas não diz que faz isso principalmente porque o normal sai mais barato. Ele também se recusa a comprar aquele esparadrapo especial que não gruda na pele. Deve ser porque aquele outro, que gruda, é melhor para o doente. Haha!
Olívia, você realmente não lê e o que lê não entende. Não vi escândalo nenhum. Você cismou com uma situação que só existe na sua cabeça. Vou repetir um trecho de uma das TESES (que não é opinião de qualquer um, é um estudo sério e embasado):
"Isso sugere, em primeiro lugar, que a maioria dos partos cesáreos não foi feita "a pedido". A maioria das mulheres que sofreram cesárea não o solicitaram. Ao mesmo tempo, 19% das que tiveram parto vaginal reportaram que haviam pedido cesárea. Isso revela o poder limitado das mulheres em determinar o tipo de parto que vão fazer, SEJA ELE VAGINAL OU CESAREA, nas maternidades estudadas."
Se você ler com atenção (sugiro ler as duas teses por completo), vai ver que não é só na escolha do parto vaginal que a mulher tem seus direitos violados, é também na hora de escolher a cesarea, assim como é para escolher qualquer outra coisa. A rotina médica é muito engessada e não foi feita para ser questionada pelos pacientes. O que foi denunciado é que, INDEPENDENTE do tipo de parto e dos procedimentos adotados, a mulher está em franca desvantagem.
"Agora, se você quer protestar, existem outras coisas contra as quais lutar."
Quem escolhe com o que EU devo me importar e pelo o que lutar, sou eu.
Você está adotando uma postura egocêntrica e individualista, e a questão debatida aqui não é VOCÊ, nunca foi. Seu texto está muito umbiguista. Minha opinião é embasada por muitas pesquisas de especialistas da área, brasileiros e estrangeiros, mas enquanto isso você só fala de...você. Está tentando passar uma imagem racional e ponderada, mas ignorar estudos sérios e estatísticas para falar de si, vai em direção contrária a isso. E francamente, é insensato.
Em momento algum eu falei de "A versus B", foi você quem veio com essa conversa sem sentido e tá se achando perseguida. Isso pode ser um caso de projeção. Se quiser continuar você mesma a polarizar o assunto, é uma decisão que só compete a você.
Nós esquecemos de salientar que a cesária é o pré-requisito da laqueadura. Então, vamos aventar a hipótese de que os 85% de cesárias no Brasil expliquem, em certa medida, a razão por que nossa população gira em torno de 200 milhões SÓ, graças a Deus.
Adorei o ponto de vista, muitas mulheres não tem aparato teórico para debater sobre seu próprio parto por desinformação, muitas já sofreram violência institucional e nem sabem disso. É um assunto que por sua complexidade e importância deveria ser mais debatido. Li alguns comentários e relatos de violência durante o parto aqui que, infelizmente, é uma triste realidade recorrente no Brasil inteiro.
Sou discente do curso de obstetrícia pela Universidade de São Paulo, já participei de congressos, seminários, palestras, com médicos, enfermeiras, antropólogos, psicólogos do Brasil e de outros países e segundo as melhores evidências que se tem hoje, o parto normal, quando possível é mais seguro para o binômio (mãe-bebê) isso é um fato, para quem tiver interesse o site amigas do parto ( http://www.amigasdoparto.com.br/evidencias.html ), fala um pouco sobre o que é medicina baseada em evidências, OMS (Organização Mundial de Saúde), Cochrane...
Mas a discussão que mais me intriga atualmente não é o “tipo de parto” e sim o empoderamento das mulheres para essa “escolha” (que na realidade não é bem uma escolha, mas deveria). O que vejo é um caos em meio desinformação, um critica a cesárea por que o parto normal é mais seguro, o outro retruca que a cesárea é melhor por isso e por aquilo, mas qual o melhor parto? Concordam que é onde a mãe e o bebê estejam seguros e dentro de um atendimento humanizado?
O problema é saber o que é o atendimento humanizado e romper paradigmas que estão impregnados no modelo assistencial. A implementação do MHD (Materialismo Histórico-Dialético) para muitos é utopia, eu vejo como uma saída consciente.
Enquanto nós mulheres formos reféns do modelo biomédico, que na minha opinião reflete o sistema de saúde capitalista, seremos coadjuvantes onde deveríamos ser protagonistas e continuaremos a perder “uma experiência nossa, por um procedimento deles”.
Moema
Na realidade é contraindicado e ilegal realizar laqueadura durante a cesárea, salve alguns casos como no risco de vida para a mulher ou futuro concepto. É eu sei não é assim que acontece no Brasil (tem jeitinho brasileiro para tudo)... :D
O deputado João Batista criou um projeto de lei em 2005 que permitiria laqueadura tubaria em cesarianas nos casos que ainda se enquadram no planejamento familiar anterior (risco), mas ainda assim se mantém a “penalidade” (Brasil rules), no caso de cesarianas indicadas exclusivamente com essa finalidade.
Pois é, julie, temos uma série de obstáculos a vencer quanto a não querer ter filhos ou mais filhos, pp as pobres. Aí é que eu vejo todo o empoderamento que nós ainda não temos.
A Lei do Planejamento Familiar nº 9.263 de 1996 reza que maior de 25 anos ou com mais de dois filhos tem o direito à esterilização voluntária.
Aí, a própria lei vem com essa bobagem de que durante a cesária não pode esterilizar,
salvo comprovada necessidade ou sucessivas cesárias anteriores...é de chorar, né?
O que acontece se a mulher teve dois partos normais e quer fazer laqueadura ou tem mais de 25 anos? Um alto e em bom som VIRE-SE, é o que a lei lhe diz, porque ninguém quer pagar ou fazer uma laparoscopia prá esterilizar viva alma, pior ainda, uma cirurgia do porte de uma cesária só prá clipar as trompas.
Por conta disso, uma prima reteve o bebê na barriga, já querendo coroar, esperando ficar tudo pronto prá cesária e laqueadura. Esse é o Brasil!!
A esposa do porteiro da minha irmã engravidou novamente só prá fazer a laqueadura. Caiu do cavalo, o SUS não vai fazer...
E eu, estava tão preocupada se o médico ia ligar minhas trompas que depois do parto o lembrei de fazê-lo... Depois o anestesista veio me cobrar pelo adicional...
Os planos de saúde já estão cobrindo laqueadura?
Minha mãe passou por esta situação quando foi ter o meu irmão, em 1993, no Hospital do Servidor Público de São Paulo.
Ela chegou ao local em trabalho de parto, foi atendida e informou que já tinha uma filha e que no primeiro parto pelo qual passou não pôde ter um parto normal porque sua bacia era muito estreita para o procedimento, segundo os profissionais que a atenderam naquela ocasião.
Os médicos do Hospital do Servidor a trataram mal, fizeram pouco caso dela e a deixaram sem atendimento em trabalho de parto por mais de oito horas. Minha mãe tinha 23 anos.
Só quando meu irmão entrou em sofrimento resolveram fazer algo e, neste momento, ainda disseram para ela "Agora você vai ter o que queria", como se fosse um capricho ou algo assim.
Meu irmão nasceu por parto cesárea por volta das 9 da manhã (minha mãe chegou ao hospital antes das 23hs) e aspirou mecônio por ter ficado tempo demais esperando o parto. Ele ficou na UTI por alguns dias e teve a saúde muito frágil nos primeiros anos de vida.
Revoltante e absurdo. Mais uma esfera de onde você espera proteção e recebe humilhação.
Lola,
Deixo um artigo que considero muito pertinete a essa discussão:
O “corte por cima” e o “corte por baixo”: o abuso de cesáreas e episiotomias em São Paulo.
Simone G. Diniz e Alessandra S. Chacham
http://goo.gl/sXfFf
Resumo: Nos últimos cinqüenta anos, o rápido aumento da utilização de tecnologia para iniciar,
intensificar, acelerar, regular e monitorar o processo de nascimento tem levado à adoção de
procedimentos inadequados, desnecessários e por vezes perigosos. Embora as pesquisas tenham
demonstrado que o paradigma a ser adotado é o do mínimo de interferência dentro dos limites da
segurança, no Brasil o parto vaginal continua sendo tratado como um alto risco à saúde e à vida sexual
da mulher. O presente trabalho descreve o impacto desse modelo de intervenção na experiência do
parto, e discute como a organização dos serviços públicos e privados de assistência ao parto influencia
a qualidade dos cuidados obstétricos no país. O Brasil é conhecido por altos índices de cesáreas
desnecessárias (“o corte por cima”), praticadas em dois terços dos partos no setor privado, onde
30% das mulheres dão à luz. Recebe menos atenção o índice de 94,2% de episiotomias (“o corte por
baixo”) praticadas em partos vaginais, afetando 70% das mulheres de baixa renda, que recorrem ao
setor público. É necessária uma mudança na compreensão do corpo da mulher para que possa ocorrer
uma mudança nos procedimentos mencionados. Desde 1993, e inspirado em campanhas contra a
mutilação genital feminina, um movimento nacional de profissionais de saúde, feministas e grupos de
consumidores vem promovendo serviços de saúde baseados em evidências e a humanização do parto
no Brasil, reduzindo assim procedimentos cirúrgicos desnecessários.
Lola, li esse post há um tempo mas só ontem vi um documentário sobre o parto humanizado e pensei em te mostrar imediatamente. Sou fotógrafa, vou fotografar um parto humanizado e tenho refletido bastante sobre o assunto. Vale muito a pena ver esse documentário.
http://debubuianabubuia.wordpress.com/2011/12/01/hanami/
Beijos, adoro o seu blog. Continue espalhando reflexões por aí, um dia a gente muda o mundo!
E está pra sair outro documentário sobre parto humanizado:
http://www.youtube.com/watch?v=3B33_hNha_8&feature=youtu.be
Site ótimo para quem quer conhecer mais sobre parto humanizado:
http://www.partodomiciliar.com/index.php
Lola, minha mãe fala muito sobre isso (com a maior naturalidade do mundo).
Morro de medo de quando estiver grávida isso acontecer comigo. Vou guardar todo dinheiro possível pra ter um parto num hospital particular. Infelizmente. Mas acho que pagando as pessoas vão me tratar melhor. Morro de medo dum destrato desses acontecer comigo.
Minha mãe e irmã dizem que os médicos sempre tratam assim mulheres que gritam muito. Minha irmã ouviu a frase: "Na hora de fazer você não chorou, né?" quando foi ter meu sobrinho.
Eu fico horrorizada com essa situação.
Isso precisa mudar!
Pela primeira vez vejo alguém falando sobre esse assunto... Já presenciei várias cenas de grávidas sendo maltratadas e era exatamente as mesmas frases descritas acima que os médicos e enfermeiros falavam (parecem até que eles fazem curso de grosseria)e na minha família houve o caso, do médico realizar a cesariana sem a anestesia fazer totalmente efeito e quando ela avisou que estava sentido dor o médico disse que era frescura....
Quando será que esses profissionais terão respeito pela vida humana...
Boa tarde LOLA.. sou academica de enfermagem estou no ultimo periodo e minha monografia vai ser sobre este tema...apesar de muito dificl a realização eu não desistir, pois não consigo ficar vendo estas situações de violencia e não poder fazer nada, então resolvi fazer a minha pesquisa... estou começa a coleta de dados hoje, e com fé e perseverança, colherei 'bons" resultados...bibliografias estou com muita dificuldade para achar, então gostei muito da sua iniciativa, pois assim poderemos relatar casos, e assim criaremos uma maior preocupação aos profissionais e instituições sobre essas práticas de negligencia, desrespeito e desumanização...precisando de mim para contribuir, estarei a disposição...quando terminar a pesquisa posso ate publica-la aqui..se for possivel...
esse endereço é do meu namorado, mas eu uso tbm. pois não fiz um pra mim ainda...obrigada querida...qualquer coisa pode entrar em contato por aki...bju
Bom eu vi esta matéria achei muito bom ....a pior coisa for ter ouvido de uma pessoa que os profissionais de saude vivi sobre pressão....mas independente disso mulher nenhuma pode ouvir de um profissional essas besteiras...aff...eu ainda não acredito que tem gente assim ainda
CADEIA P/MÉDICOS E ENFERMEIROS QUE COMETEREM VIOLÊNCIA OBSTETRICA E CASSAÇÃO DO DIPLOMA E AMBOS OS "PROFISSIONAIS"QUE EXERCEM A PROFISSÃO...PRQ SE ISSO ACONTECESSE COM SUAS FILHAS,NAMORADAS, SOBRINHAS,TIAS... CERTAMENTE NÃO DEIXARIAM BARATO....
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